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A tradução comentada de três contos de Lourenço Cazarré · interessam muito por literatura.2...

Date post: 12-Jan-2019
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Filozofická fakulta Univerzity Palackého v Olomouci Katedra romanistiky A tradução comentada de três contos de Lourenço Cazarré Diplomová práce Jolana Hanušová studentka 2. ročníku navazujícího magisterského studia, obor portugalská a anglická filologie Akademický rok 2011/2012 Vedoucí práce: PhDr. Zuzana Burianová, Ph.D. Olomouc 2012
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Filozofická fakulta Univerzity Palackého v Olomouci

Katedra romanistiky

A tradução comentada

de três contos de Lourenço Cazarré

Diplomová práce

Jolana Hanušová

studentka 2. ročníku navazujícího magisterského studia,

obor portugalská a anglická filologie

Akademický rok 2011/2012

Vedoucí práce: PhDr. Zuzana Burianová, Ph.D.

Olomouc 2012

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2

Prohlašuji, že jsem tuto diplomovou práci vypracovala samostatně pod

vedením PhDr. Zuzany Burianové, Ph.D. a s použitím uvedených pramenů a

literatury.

V Leedsu, 5. 8. 2012

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Moje poděkování patří PhDr. Zuzaně Burianové Ph.D. za odborné

vedení mé diplomové práce, Iurimu Müllerovi za poskytnutí osobní

korespondence s autorem a dále samotnému Lourençovi Cazarrému za laskavé

zodpovězení mých dotazů.

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Índice

1. Introdução 6

2. Sobre o autor 8

3. Análises literárias 11

3.1 “Meia encarnada dura de sangue” 12

3.2 “O inferno traz em si” 14

3.3 “O tranqüilo senhor Braga” 15

4. Tradução dos contos para o tcheco 17

4.1 “Rudá ponožka ztuhlá krví” 17

4.2 “Peklo v sobě nosí” 25

4.3 “Klidný pan Braga” 33

5. Análise da tradução dos contos 40

5.1 Análises da linguagem das personagens 40

5.1.1 “Meia encarnada dura de sangue” 40

5.1.1.1 O Poeta 40

5.1.1.2 O avô 43

5.1.1.3 A mãe do mulato 44

5.1.1.4 O mulato 45

5.1.1.5 O menino 45

5.1.2 “O inferno traz em si” 46

5.1.2.1 O Poeta 46

5.1.2.2 Olyntho 47

5.1.2.3 Diabo Loiro 48

5.1.2.4 O português 49

5.1.3 “O tranqüilo senhor Braga” 49

5.1.3.1 O narrador 49

5.1.3.2 Braga 49

5.1.3.3 O Chefão 50

5.1.3.4 Mônica 50

5.2 Tradução de nomes próprios 51

5.2.1 Topónimos 52

5.2.2 Nomes de organizações e instituições 56

5.2.3 Realidade brasileira 58

5.2.4. Antropónimos 60

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5.2.4.1 Nomes 60

5.2.4.2 Alcunhas 61

5.3 Outros fenómenos de tradução 62

5.3.1 Gíria 62

5.3.1.1 Futebol 62

5.3.1.2 Processamento de carne 63

5.3.2 Citação do poema Paraíso Perdido 64

6. Conclusão 66

7. Resumo 67

8. Bibliografia 68

9. Anexos – os textos originais 69

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1. Introdução

O tema do nosso trabalho é a tradução comentada de três contos de Lourenço

Cazarré, um escritor gaúcho que atualmente vive e trabalha em Brasília. É o

escritor brasiliense mais premiado,1 e o seu mérito é reconhecido tanto na área da

literatura adulta como na literatura infantil e juvenil. Apesar deste fato ele continua

um autor relativamente desconhecido fora da capital brasileira, o que pode ser

explicado pelo fato que, segundo o próprio autor, os brasileiros em geral não se

interessam muito por literatura.2 Da obra do autor só o livro infantil A espada do

general foi traduzida para outra língua, neste caso para o espanhol.

Cazarré é um autor muito prolífico, ele publicou mais de 30 livros, a

maioria deles destinada ao público juvenil. Tanto como na sua obra destinada aos

adultos como aos jovens, Cazarré não evita questões sociais graves: o seu livro

juvenil Nadando contra a Morte, por exemplo, trata de gravidez na adolescência,

estupro e preconceito. Há, porém, outra linha dos seus livros para jovens, que são

livros de humor. Na sua obra adulta, as questões sociais tinham uma presença forte

sobretudo nos livros da fase inicial da sua obra, os mais recentes estão cada vez

mais marcados por ironia e humor.

Para a nossa tradução escolhemos três contos da obra adulta do autor.

Os primeiros dois estão situados em Pelotas e narram sobre as vidas trágicas de

personagens marginalizadas, seja pela sua raça, como no conto “Meia encarnada

dura de sangue”, seja pelas peculiaridades dos seus caráteres, que os fazem inaptos

para o mundo em que vivem, como no conto “O inferno traz em si”. O terceiro

conto, “O tranqüilo senhor Braga” já está situado em Brasília, e a sua ação se

desenvolve em torno do protagonista da classe média-alta.

O nosso trabalho tem três partes principais. Na primeira analisamos os

contos do ponto de vista literário, já que a análise literária é uma condição

indispensável para a interpretação e a tradução de um texto literário. A segunda

parte é a própria tradução dos três contos de português para o tcheco. O processo

de tradução dos contos é analisado na terceira parte do nosso trabalho. Neste ponto

1 http://content.yudu.com/Library/A1hnht/Satellite061Braslias/resources/46.htm 2 Prêmios literários no Brasil podem dar uma certa visibilidade, mas ela acaba logo adiante. Esta é

uma nação ágrafa. Poucos lêem. Aqui os prêmios literários não têm a dimensão que alcançam em

outros países.

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nos vamos concentrar na análise estilística da linguagem das personagens, para

podermos encontrar um equivalente desta linguagem em tcheco. Também nos

vamos focar em outros problemas de tradução, como a tradução de nomes

geográficos e objetos da cultura da origem.

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2. Sobre o autor

Lourenço Paulo da Silva Cazarré nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 29

de julho de 1953. Passou a infância em Bagé, perto da fronteira com Uruguai, onde

morava com a família da sua mãe. Com dez anos, porém, a sua mãe morreu e ele

mudou novamente para Pelotas para morar com os avós paternos. Enquanto a

família da sua mãe era de uma origem portuguesa, a sua família paterna eram

descendentes de bascos franceses. O seu avô Leovegildo Cazarré era um sargento

aposentado da Brigada Militar e um grande contador de causos, e foi dele e

também do seu pai que Lourenço herdou essa paixão3.

Em Pelotas, Lourenço entrou na Escola Técnica Federal, mas não tinha

muita vocação para eletrônica. Mesmo assim, em 1968 formou-se radiotécnico.

Paralelamente aos estudos, aos catrorze anos Lourenço começou a trabalhar como

contínuo de um banco, entregando de bicicleta a correspondência do banco.

Depois da sua formatura, ele entrou no Colégio Municipal Pelotense, no

curso Clássico, com a intenção de ser professor de História, mas em 1972 decidiu

fazer o curso de Comunicação Social na Universidade Católica de Pelotas. Ele

também começou a estudar paralelamente o Direito na Universidade Federal de

Pelotas, mas desistiu depois de um ano e meio. Graduou em Jornalismo em 1975.

Cazarré passou um ano trabalhando como repórter em Pelotas, e depois

se mudou para Florianópolis para trabalhar na sucursal local do mesmo jornal. O

tempo que passou trabalhando duramente na capital catarinense o tempo em que

verdadeiramente aprendeu o jornalismo. Foi nesta época que também começou a

escrever contos.

Em 1977 casou com a pelotense Maria Luísa Cunha, e no mesmo ano

mudaram para Brasília, onde ele começou a trabalhar como redator do Jornal de

Brasília.Três anos mais tarde Cazarré ganhou o seu primeiro concurso literário – o

Prêmio Adonias Filho, com o conto “A Enchente”. No mesmo ano nasceu o seu

primeiro filho, Juliano Agosto. Em 1982 ele venceu a Bienal Nestlé, o maior

prémio literário dos anos 80, com o romance O Calidoscópio e a Ampulheta. No

final do mesmo ano, ele mudou de novo para Pelotas, onde nasceu o seu segundo

3 http://www.amigosdepelotas.com/2009/04/alem-da-literatura-pouca-coisa-me.html (22.5.2012)

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filho Érico Luís. Durante este ano que a família passou em Pelotas, Cazarré

escreveu o livro de contos Enfeitiçados Todos Nós, que lhe ganhou a segunda

Bienal Nestlé.

Em 1985, de volta em Brasília, nasceu a sua filha Marieta, e no ano

seguinte Lourenço começou a trabalhar como assessor de imprensa do PMDB

(Partido do Movimento Democrático Brasileiro). No ano seguinte passou a

trabalhar como chefe de editoração da Editora Universidade de Brasília. Desde

1988, além de ser escritor, Cazarré trabalha na Consultoria Legislativa do Senado

Federal e paralelamente também como cronista, resenhista, editor e repórter de

diversos meios de comunicação, entre outros Jornal de Brasília, Correio

Brasiliense e UnB revista.

Em total, Lourenço Cazarré é o autor de 2 romances, 5 novelas adultas,

5 livros de contos, 22 novelas juvenis, 1 livro infantil, 2 livros de reportagem, 23

participações em coletâneas de contos, 1 em antologia de textos de teatro e 1 num

livro de ensaios sobre jornalismo. As vertentes principais da obra de Lourenço

Cazarré são, porém, a literatura para adultos e litaratura juvenil, que representa a

maior parte do seu trabalho. Ele começou a escrever para jovens em 1985, na

altura em que “já andava meio desiludido com a literatura adulta.”4 O seu primeiro

livro juvenil, O Mistério da Obra-Prima, foi um sucesso e incentivou Cazarré a se

dedicar a este género. Durante a sua carreira, ele escreveu mais de 20 novelas

juvenis que tinham muito êxito tanto com o público como com a crítica - Nadando

contra a Morte recebeu em 1998 o prestigioso Prêmio Jabuti e o selo de

“Altamente Recomendável para Jovens” da Fundação Nacional do Livro Infantil e

Juvenil (FNLIJ).

Nos livros para os jóvens, assim como nos para adultos, Cazarré

trabalha tanto com humor como com temas sérios. Nadando contra a morte, por

exemplo, narra a história de uma gravidez que leva a personagem a uma tentativa

de suicídio. Sobre este fato Cazarré diz: “Em algumas obras, claro, acabei tratando

de violência e questões sociais delicadas porque elas são inevitáveis quando se

escreve um texto realista, um texto que trata da nossa realidade. Basta assistirmos

a um telejornal para se ter noção da gravidade dos nossos problemas sociais:

desemprego, drogas, corrupção, violência e falta de bons hospitais e escolas

4 Id., Ibid.

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públicas. Os jovens, ao lerem um livro em que esses problemas são abordados,

acabam conhecendo diferentes visões, defendidas pelos diversos personagens. Isso

é enriquecedor. Nos meus livros não há apenas mocinhos. Há bandidos também.”5

Outros títulos da literatura juvenil incluem O Clube dos Leitores de

Histórias Tristes (2005), Um Velho Velhaco e Seu Neto Bundão (1992), Quem

Matou o Mestre de Matemática? (1995) e Isso não é um Filme Americano (2002),

entre outros.

Da literatura adulta, ele próprio prefere os 5 livros de contos que

escreveu6 - Enfeitiçados Todos Nós (1984), Histórias Suburbanas (1986),

Noturnos do Amor e da Morte (1989), Ilhados (2001) e A Arte Excêntrica dos

Goleiros (2004). O cenário da maioria das histórias destes livros é a cidade de

Pelotas com os seus bares decadentes e ruas cobertas de neblina, e os seus

protagonistas são seres solitários e marginalizados. Só na última coleção

encontramos um pouco mais de optimismo. O seu livro mais recente é Estava

Nascendo o Dia em que Conheceriam o Mar, publicado em 2011 pela editora

Saraiva.7

Lourenço Cazarré também tem uma notável participação em antologias,

os seus contos fazem parte de coletâneas como Todas as Gerações – o Conto

Brasiliense Contemporâneo, Contos de Mistério e Suspense ou Crime Feito em

Casa – Contos Policiais Brasileiros.

5 http://www.editorasaraiva.com.br/nossosAutoresDetalhes.aspx?autor=354 (24.5.2012) 6 http://www.amigosdepelotas.com/2009/04/alem-da-literatura-pouca-coisa-me.html (22.5.2012) 7 Correspondência eletrônica entre Jolana Hanušová e Lourenço Cazarré de 16.7.2012

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3. Análises literárias

Os contos “Meia encarnada dura de sangue” e “O inferno traz em si” foram

publicados no mesmo livro de contos, Noturnos do Amor e da Morte (1989)8. Os

contos incluídos neste livro são situados em Pelotas, uma cidade no estado do Rio

Grande do Sul, e os seus protagonistas são geralmente pessoas excêntricas que

vivem na margem da sociedade e que sofrem por repressões sexuais, racismo ou

pobreza. A cidade de Pelotas tem um papel importante e é retratada como um lugar

misterioso e lúgubre. Muitas vezes, a ação dos contos está situada em locais

concretos e existentes – no conto “O inferno traz em si”, por exemplo, aparecem

numerosas referências a ruas do centro da cidade.

Todos os contos deste livro têm o mesmo narrador, o Poeta, e têm a

forma de um diálogo, ou melhor, um diálogo falso, já que as reações do

interlocutor não são reproduzidas. Sobre o narrador, o próprio o autor diz: “O

poeta é uma figura de ficção, um narrador – um advogado de classe média,

bêbado, cínico, desencantado, sensual – que me serviu de cavalo para escrever

meia dúzia de contos.”9 Às vezes o Poeta narra histórias que lhe foram contadas

pelo seu avô, como no caso do conto “Meia encarnada dura de sangue”. Nestes

casos há então dois narradores, o que se reflete também nas diferenças da

linguagem deles devido à época em que vivem. Nos dois contos há uma forte

presença da tradição oral.

Do ponto de vista estilístico, o autor recorre a técnicas caraterísticas

para a prosa moderna: ele aproveita os discursos mistos e diretos e indiretos livres,

o que resulta no enfraquecimento da oposição entre o plano das personagens e o

plano do narrador,10

aumentando assim a complexidade e a expressividade dos

contos. Nestes dois contos aparecem frases longas com ligação polissindética ou

então assindética, mas também encontramos sucessões de frases curtas.

O conto “O tranqüilo senhor Braga” foi escrito mais tarde,

provavelmente no decorrer dos anos anos 90 ou no início do século XX, e foi

8 Lourenço Cazarré, Noturnos do Amor e da Morte (Porto Alegre: Instituto Estadual do Livro,

1989). 9 Correspondência eletrônica entre Iuri Müller e Lourenço Cazarré de 17.11.2011. 10 Lubomír Doležel, O stylu moderní české prózy (Praha: Nakladatelství československé akademie

věd, 1960).

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publicado exclusivamente na antologia de contos brasilienses Todas as Gerações

de Ronaldo Cagiano.11

Este conto já está situado em Brasília, e o seu protagonista

é um homem de classe média-alta. Em comparação aos contos do livro Noturnos

do Amor e da Morte, o tom da narrativa é mais leve, e o autor se aproveita de

humor e ironia.

O narrador deste conto é onisciente, mas mesmo assim encontramos

vestígios da tradição oral, já que ele ocasionalmente faz alusões metaliterárias. As

frases são menos complexas e mais transparentes. Também neste conto

encontramos exemplos de ligações assindéticas e polissindéticas e outros tipos de

discursos além dos tradicionais, mas estes não são tão frequentes como nos dois

contos anteriores. A forma deste último conto é então menos experimental, e o

foco do conto está na psicologia das personagens.

3.1 “Meia encarnada dura de sangue”

Sobre a origem deste conto, o autor diz: „O conto nasceu de uma história que me

foi contada pelo meu avô. Era uma historinha curta que eu recheei de detalhes.”12

É possível que a história, que Leovegildo Cazarré contou ao seu neto, tenha sido a

de Nestor Pedroso conhecido como Fruto, o primeiro jogador negro do time

gaúcho Sport Club Rio Grande. Segundo a história, durante um jogo importante

Fruto se feriu na cabeça, mas apesar da sua ferida continuou a jogar, deixando

marcas vermelhas na bola. Até hoje, a sua atitude heroica é o orgulho do clube.13

A ação do conto desenvolve-se em Pelotas pelo meio ou pelo final dos

anos 30, época em que ainda persistia a segregação racial nos clubes de futebol.

Apesar do fato de que o primeiro jogador negro da 1ª divisão fosse aceito no Rio

de Janeiro já em 1905, isso não era uma prática comum na época. Nos centros

desenvolvidos de futebol como Porto Alegre e Pelotas, os negros tinham as suas

próprias ligas. No Rio Grande do Sul, o preconceito foi quebrado por alguns dos

clubes principais em 1928, mas a presença de jogadores negros ainda era bastante

rara nos anos 30. Os jogadores negros começaram a ser admitidos em grande

número somente a partir dos anos 40. O conto está então situado no tempo quando

o público ainda não estava acostumado à presença de negros no campo.

11 Ronaldo Cagiano, Todas as Gerações (Brasília: LGE Editora, 2006). 12 Correspondência eletrônica entre Iuri Müller e Lourenço Cazarré de 17.11.2011. 13 http://www.sportclubriogrande.com.br/~memorial/curiosidades.htm (7.4.2012).

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O futebol serve neste conto para expor questões mais profundas, como

a pobreza e o racismo. Este tema é, porém, abordado de uma perspectiva

individual, com o foco no protagonista, um mulato jovem que sonha com viver

uma vida digna apesar da sua cor e da sua pobreza. O mulato, que passa anônimo

no conto, é um jogador exímio de futebol e joga pelo Grêmio Esportivo do Brasil,

um time de negros. Um dia, ele é contatado por um dos clubes de elite da cidade

com a oferta de jogar por eles. O mulato então enfrenta um dilema difícil: ou ficar

no seu time de coração, ou aceitar a proposta de jogar num time branco de elite

que ele despreza. Os dois narradores, o Poeta e o avô, são heterodiegéticos, mas o

avô adota uma focalização onisciente, já que parece ter acesso ao mundo interior

do protagonista.

A decisão final do mulato de jogar no clube de elite não é motivada só

pela ambição e dinheiro, como pensam os seus antigos companheiros e amigos

negros. O salário e a casa que lhe foram oferecidos lhe permitiriam cumprir o seu

sonho de uma vida confortável e feliz para ele e a sua família. Para um mulato

pobre como ele, aceitar a proposta é a única maneira de escapar ao mundo onde ele

não tem a chance de viver uma vida digna. A sua comunidade, porém, interpreta a

sua aceitação como uma traição, não só do seu time, mas também da sua raça.

Os mundos dos brancos e dos negros são descritos no conto como duas

comunidades exclusivas e fechadas. A relação entre estes dois grupos é a de

subordinação e superioridade. O protagonista enfrenta as restrições racistas todos

os dias – desde as mais óbvias, como a divisão racial de times de futebol, até as

regras e convenções sociais que o condenam a um trabalho mal-remunerado e a

vida num casebre. No momento em que ele entra no estádio antes do seu primeiro

jogo pelo novo clube, ele está dolorosamente consciente de que é diferente dos

seus novos companheiros brancos, mas ao mesmo tempo ele sente que tem uma

chance única.

O jogo é então uma prova – ou ele ganhará o respeito dos brancos e dos

negros, ou será derrotado. Um dia antes, ele se fere gravemente no pé, mas resolve

jogar apesar da dor física. O seu sacrifício, a força da sua resolução e a sua vitória

são simbolizadas pela meia empapada de sangue, que ele entrega à sua namorada –

“uma espécie de dote, penhor, hipoteca”.14

14 Lourenço Cazarré, “Meia encarnada dura de sangue,” Noturnos do Amor e da Morte, Porto

Alegre (Instituto Estadual do Livro, 1989) 20.

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O conto “Meia encarnada dura de sangue” deu nome a uma coletânea

de contos de escritores gaúchos de Ruy Carlos Ostermann15

e também inspirou um

filme de curta-metragem homônimo do diretor Jorge Furtado. O filme apareceu

como um episódio da série “Brava Gente” da Globo TV em 2000.16

Há, porém,

algumas diferenças entre o filme e a história original – o filme situa a história nos

anos 50, e também introduz a personagem de Vicente, um amigo do jogador. O

jogador, que aparece no filme sob o nome Bonifácio, é apresentado pelo ator

popular Sérgio Menezes, e a noiva dele por Camila Pitanga.17

3.2. “O inferno traz em si”

O conto “O inferno traz em si” tem o mesmo quadro narrativo como “Meia

encarnada dura de sangue” – o Poeta narra a história a um amigo. Neste caso,

porém, se trata de uma história de primeira mão, já que que o narrador estava

presente durante alguns momentos da história. No início do conto, o Poeta

introduz e ao mesmo tempo antecipa por meio da prolepse a história que está por

contar: “Há sujeitos que nascem para apanhar da vida, que trazem desde o berço o

sinete da tragédia, do fracasso e da impossibilidade. Mas o que eu me pergunto é

como os deuses podem, às vezes, trançar dois destinos assim, tecendo com fios

rotos um insólito tapete arruinado.”18

Neste caso, os dois destinos que se unirão e

terão um fim trágico são os do Camelo Branco e do Diabo Loiro.

A aparência externa do Camelo Branco – ele era muito alto e corcunda

– assim como a sua passividade fizeram dele no ginásio o alvo predileto das

provocações das crianças. O menino corcunda que apanhava na escola cresceu

num homem forte e passou a trabalhar como um leão-de-chácara numa boate. O

que não mudou, porém, foi o seu caráter pacífico: apesar de que o seu trabalho

exigisse a força física, ele sempre usava a mínima violência possível. As

humilhações e os abusos que sofreu na infância então não deixaram marcas nele.

O Camelo Branco e o Diabo Loiro faziam parte do mesmo submundo

de existências marginais, e um dia eles se encontraram – o Camelo estava

defendendo a ordem da boate, onde o Diabo Loiro tentava entrar à força. O

15 Ruy Carlos Ostermann, Meia encarnada, dura de sangue – literatura e esporte (Porto Alegre:

Artes e Ofícios, 2001). 16 http://pt.wikipedia.org/wiki/Brava_Gente_(2000) (15.6.2012) 17 http://portacurtas.org.br/filme/?name=meia_encarnada_dura_de_sangue (15.6.2012) 18 Lourenço Cazarré, “O inferno traz em si,” Noturnos do Amor e da Morte (Porto Alegre: Instituto

Estadual do Livro, 1989) 85.

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encontro teve consequências trágicas, o Diabo Loiro não superou a humilhação de

ser expulso e uns dias mais tarde matou o Camelo para se vingar.

O Poeta é um narrador homodiegético, mas o seu papel é antes o de um

observador. Ele estava presente durante alguns acontecimentos durante a infância e

a juventude do Camelo, mas os seus conhecimentos sobre o Diabo Loiro são

limitados a informações que ele obteve quando assistia ao promotor na defesa do

Camelo. Quem estava presente no momento da morte do Camelo era o padeiro

português, uma das testemunhas no tribunal.

A história ganha uma dimensão simbólica durante o julgamento, no

momento em que o Velho Olyntho, o promotor, apoia a sua defesa de Camelo

Branco num trecho de Paraíso Perdido do escritor inglês John Milton. O promotor

cria uma comparação entre o Diabo Loiro e o Satanás do poema, sugerindo que os

dois são predestinados a destruição.

Também os apelidos dos protagonistas podem ser interpretados

simbolicamente. O camelo representa pacifismo, mas também lentidão e

desajeitamento. A cor branca é um símbolo de pureza e inocência. O branco,

porém, não é a cor normal de camelos. Os animais albinos são uma raridade, já

que esta cor os faz mais visíveis e vulneráveis.

O apelido do Diabo Loiro faz uma referência direta ao Diabo, a

representação do mal na tradição cristã. Diabo Loiro também era o apelido de

Corisco, um cangaceiro famoso que pertencia ao bando de Lampião, conhecido

pela sua crueldade e valentia, mas também pela sua beleza física.

Apesar das suas caraterísticas pessoais opostas, o Camelo Branco e o

Diabo Loiro tiveram a mesma sina, os dois eram predestinados ao mesmo fim

trágico, que se começou a cumprir no momento em que se encontraram. Este

vínculo é representado também pelas suas caraterísticas externas semelhantes –

Branco e Loiro.

3.3 “O tranqüilo senhor Braga”

O conto “O tranqüilo senhor Braga” foi publicado na antologia Todas as Gerações

em 2006, porém, a data quando ele foi escrito não está certa:

„O conto “O tranqüilo senhor Braga” só foi publicado na antologia

Todas as Gerações. Infelizmente, eu não saberia dizer com certeza o ano em que

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ele foi escrito. Só sei que ele foi escrito muitos anos antes da publicação do

livro.”19

O conto está situado em Brasília e o seu protagonista, João Braga, é um

homem de meia-idade que sucedeu bem tanto na vida profissional como na

pessoal. Braga é um protagonista indiscutivelmente positivo, um homem de

qualidades excepcionais – gentil, honesto, enérgico e inteligente. Através de um

narrador onisciente, o leitor tem acesso aos pensamentos do protagonista do conto,

cuja caraterística mais proeminente é a sua tranquilidade.

A narrativa está situada no momento quando Braga tem 47 anos e

trabalha numa agência de publicidade. Numa retrospetiva, o conto narra sobre os

motivos que levaram Braga a deixar a sua antiga profissão de jornalista uns cinco

anos atrás e como ele foi contratado pelo Chefão, o dono da agência.

Braga e o Chefão são personagens em muitos sentidos opostas:

enquanto Braga é um homem sério e conservador, o Chefão é excêntrico e

travesso. Braga é um homem de família, fiel à sua mulher, enquanto o Chefão só

lamenta o fato de que haja “mulheres em demasia no mundo” e que não poderá

“conhecê-las, biblicamente, a todas elas, antes que se acabem os [seus] dias”.20

O

Chefão gosta de zombar da seriedade e tranquilidade de Braga, mas durante o

episódio quando finge estar viciado em cocaína ele descobre que Braga se

preocupa sinceramente com ele.

Através do seu chefe, Braga conhece a Mônica, a ex-namorada

rejeitada do Chefão. Também a Mônica é uma personagem muito diferente de

Braga. Ela é uma rebelde que desdenha as convenções sociais, os seus valores

estão então em contraste com os de Braga. Durante uma conversa, Mônica põe em

dúvida a vida inteira dele – desde a doméstica até a profissional. Segundo ela,

Braga, apesar de ser um homem excepcional, vive uma vida convencional e vazia.

Mônica então sugere algo que o narrador insinua ocasionalmente por uma leve

ironia: Braga é demasiado conservador e quadrado e não aproveita o seu potencial.

Pouco a pouco, porém, Mônica começa a perder a sua agressividade inicial, e um

dia confronta Braga diretamente com uma proposta amorosa. O conto termina com

um final aberto.

19 Correspondência eletrônica entre Jolana Hanušová e Lourenço Cazarré de 16.7.2012 20 Lourenço Cazarré, “O tranqüilo senhor Braga,” Todas as Gerações, Ronaldo Cagiano (Brasília:

LGE Editora, 2006) 326.

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A dinâmica do conto é baseada sobretudo na interação de personagens

com caráteres contrastantes. Um dos recurso para a sua caraterização é a

linguagem, e é nos diálogos onde está concentrada a maior parte da expressividade

linguística do conto.

4. Tradução dos contos para o tcheco

4.1 Rudá ponožka ztuhlá krví

– No a tenhle můj děda – řekl Básník, by si dal pro kus řeči palec

useknout. Jako bych ho před sebou viděl, byl malej, měřil sotva metr a půl, jak

sedí před svým domem v ulici Corredor das Tropas, to je ta, co vede dolů od

starýho kostelíka Panny Marie, tykev s maté v levý ruce, začouzenou konvici

v pravý, a loví pozdě odpoledne mezi uspěchanýma kolemjdoucíma někoho, kdo

by měl chuť si trochu poklábosit.

My, kluci s nohama po kolena od bláta, jsme si vždycky hrávali opodál,

buď na plácku na schovávanou, anebo na malým hřišti, který jsme si vyznačili na

opuštěným pozemku, a užívali si posledních zbytků světla. Jakmile se ale kolem

mýho dědy sešli dva, tři starci, nechali jsme hraní. A utíkali jsme poslouchat.

Byl to on, kdo mě naučil vážit si konverzace. Nejdřív takový to tlachání

o počasí, jestli bude pršet, nebo bude zima, potom přišly na řadu otřepaný fráze

typu jakpak se má rodina? Nakonec, když se měl kolemjdoucí k odchodu, začal

děda vyprávět jednu ze svých historek.

Nevím, jestli jsem ti to už říkal, ale děda býval strážníkem. Spoustu let

trávil noci pod širým nebem, sám, ať už v našem městě, nebo v městečkách v

okolí, vystavený mrazivým jitrům, a neměl s kým by vyměnil byť jen pozdrav.

Protože všechny ty plachý noční stíny, který občas zahlédneme v temný noci, ve

většině případů nechtějí mít s osobou v uniformě nic do činění, i kdyby měli jen

popřát dobrýtro. Řekl bych, že právě proto měl děda tu skoro až zoufalou potřebu

pořád si s někým vykládat. Rána trávil u hrbatce v koloniálu, kde klábosil s lidma,

co přicházeli a odcházeli, a po poledni se odebral do holičství U Portugalce proprat

události toho dne i dávno minulý, z našeho města i z celýho Ria Grande.

Na každej námět měl nějakej příběh, ale pro několik určitých jich měl

spoustu: myslím, že o lásce a smrti vyprávěl nejradši. A taky o nevysvětlitelných

tragédiích způsobených neznámýma silama, o cti, důstojnosti a mužnosti, o

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věrnosti a přátelství – vlastnostech, který, jak říkal, se vytrácejí z našeho města a

vlastně i z celýho světa.

No a jednoho takovýho odpoledne byla řeč o fotbale. A kdosi se

pohoršoval, jaký strašný peníze platěj jednomu hráči, nějakýmu machrovi z Porta

Alegre, co vždycky protihráčům nejdřív přehodí míč přes hlavu, potom před nima

kličkuje, až se natáhnou na trávník, a nakonec dá ještě brankářovi housle, syčák

jeden!

Můj děda usrkával maté a kroutil hlavou, nevěřícně, podrážděně, a už

se nemohl dočkat, až se ujme slova. Pak se ten druhej odmlčel, znechucenej,

protože takový peníze by stačily k uživení kolika chudejch rodin, a tenhle vůl

vydělává mnohem víc než většina poctivě pracujících lidí. Copak tohle je ňáká

spravedlnost?

A tehdy děda začal vyprávěl příběh o tom mulatovi. Znal hodně

příběhů o fotbale, protože on sám ho kdysi hrával, byl to jeden z těch dotěrných

útočníků, malých a rychlých jako střela, co nejsou ani vysocí ani silní, a proto

musejí být rychlejší a mazanější a lstivější a drzejší, aby vyvedli obranu z míry.

Děda vždycky říkal, jó, v tý době, to byl sport pro chlapy, protože rozhodčí pískali

faul, jenom když tekla krev, a vykázali agresora, jen když se ten druhej válel

v bahně v bezvědomí. A vyprávěl, jak na sebe plivali a vráželi do sebe loktama a

mlátili se pěstma a jak si zarývali špunty od kopaček do obličeje a podobný

zvěrstva.

Ale opusťme přítoky a vraťme se k řece. Tak tenhle černoch byl něco

jako první profesionální fotbalista ve městě. Nevím, kdy to bylo, ale řekl bych, že

někdy kolem poloviny nebo koncem třicátých let, protože děda říkal, že v tý době,

v tý zpropadený době, kdy sportovci dostávali peníze za to, co uměj, už byl ze

hřiště venku se zničenýma kolenama.

No a ten černoch hrál za Brazilskej sportovní klub, tým černochů a

mulatů. Hřiště měli na slatině u vlakovýho nádraží. V devatenácti, dvaceti letech

uměl kličkovat a střílet góly jako nikdo jinej v tý době. Ani malej, ani vysokej, byl

hubenej jak lunt a lehkej jako vánek a na trávníku tančil jako motýl. A

chladnokrevnej. Hrál s otevřenýma očima, hlavu vztyčenou. A taky vypočítavej,

nestačilo mu střelit gól, chtěl obránce potupit, a brankáře chtěl vidět mlátit do

trávníku pěstma. Při hře se smál. Viděls to někdy, ne? Nebyl to úsměv, byl to

škleb, smějící se maska, která neměla nic společnýho s tím, co prožíval uvnitř.

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Smál se tak jen proto, aby protihráče rozzuřil, aby se přestali ovládat a šli mu po

krku. Protože nic není pro naše mužstvo horší, než hráči s horkou hlavou, lidi

křičí, že chtějí krev, zabij toho hajzla! – a už to vypadá, že z toho bude rvačka, ale

chladnej hráč vždycky jenom lehounce uskočí na stranu a vyjde z tý mely jako

vítěz.

Takovej byl na hřišti, neúprosnej. Mimo něj byl ale úplně jinej.

Zdvořilej, stydlivej, mírnej, tichej, s vybranýma způsobama. Odcházel ze hřiště se

sklopenou hlavou, jako by se omlouval za to, že hraje tak dobře.

Pracoval na jatkách. Ale kde, to už ti nepovím. Někde tam, jak je

přístav. Tam v těch místech taky bydlel, v tý uličce, jak vede rovnoběžně

s průplavem, a která musela bejt v tý době ještě temnější a špinavější. On a jeho

stará, ovdovělá matka. Během týdne byl celej den zavřenej v těch temných halách,

osvětlených jenom letmýma zábleskama nabroušených nožů a s podlahou od krve,

po který mu klouzaly nohy.

S nožem to uměl stejně dobře jako s míčem, říkal děda. Měl na starosti

vykosťování. Zvládnul rozbourat býka během několika minut. A nenechal na kosti

ani vlákno masa. Porcoval dobytek se stejnou přesností, s jakou uhýbal kopancům

protihráčů, vždycky jen o pár potřebných milimetrů.

V neděli pak oslňoval na hřišti.

Poté, co prohráli čtyři nebo pět zápasů v řadě, si začali vedoucí klubu

Pelotas říkat, jestli nedělají pěknou pitomost, když neberou černochy a mulaty.

Děda vždycky říkal: fakt je, že tyhle černoši jsou líný jak vši, a nepotkal jsem jich

víc než sedm, co se nebáli práce, ale jistý je, že jakmile jde o nějakou nekalost,

jako jsou zábavy nebo kopaná, tak v tom bývají dost dobří. Až jeden Angličan,

kterej se na schůzích vedení dost angažoval, do ostatních tolik hučel, až se

nakonec uvolili, že s černochem promluví. Jeden z vedoucích klubu, chlápek

z rodiny Almeidy Guimarãese, co měl peněz jak šlupek, na to řekl, že tomu

černochovi přidá navíc starej barák, kterej má na kraji města. Jestli jim kývne,

může tam bydlet zadarmo po dobu, co za ně bude hrát.

Poslali teda někoho, aby s klukem promluvil.

Bydlel v chatrči s vratkýma zdma a slaměnou střechou. V létě, když

byla řeka rozvodněná, si museli častokrát sbalit svých pět švestek a jít

k příbuzným, kteří bydleli v Terras Altas. Jakmile záplavy polevily, vraceli se

s matkou zase zpátky. Ale tohle nebylo to, proč se rozhodl.

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Trvalo dlouho, než přijal. Ne že by je chtěl navnadit, jako to dělají

hráči dneska, aby získali lepší smlouvy. Dva nebo tři měsíce zvažoval všechna pro

a proti, protože věděl, že od chvíle, kdy přijme, nebude jen obyčejnej černoch:

bude zaprodanej černoch. A děda říkal: dnešní lidi si neuměj ani představit, co ten

mulat uvnitř zakoušel. V noci chudák ani nespal, jak pořád přemítal, co má dělat.

V tý době se totiž chlap cenil ne podle toho, kolik má peněz, ale jestli umí nebo

neumí dodržet slovo.

Rozhodl se kvůli ženský.

Tahle malá černoška, která pracovala u jedný rodiny v centru města,

pro něj znamenala víc než jakákoliv čest nebo hrdost.

Kdyby zůstal v týmu svýho srdce, tleskali by mu a objímali ho jenom

černoši a mulati stejně chudí, jako on sám, ne-li ještě víc, za těch tesklivých

nedělních podvečerů, který s sebou v zimě přinášejí nejen smutek a mlhu, ale i

beznadějnou vyhlídku na další pracovní týden.

Za nesčetných probdělých nocí snil o domě, kterej viděl, když se

jednou v neděli dopoledne procházel se svojí snoubenkou a na levý, ohnutý paži

cítil o něco silnější dotek jejích prstů, snil o tom domě a viděl se uvnitř i venku, na

zápraží, jak za svitu měsíce brnká na cavaquinho, který zatím neměl. Dokonce

slyšel pláč malýho andílka, co se ještě nenarodil. Snil, se směsí pýchy a vlastnický

marnivosti, jak zavírá petlice na dveřích a uléhá vedle svý ženy, a jak usíná, jako

každej jinej normální člověk.

Přijal. Protože kdyby nepřijal, musel by zůstat v tý chatrči, musel by se

svojí ženou bydlet v jediný místnosti a nechat druhej pokoj, pokoj plnej děr, kudy

zatéká, svý matce.

Řekl ano třetímu vyslancovi.

Do zápasu zbýval už jenom týden.

Onen Angličan tu zprávu rozhlásil novinářům a ti nešetřili černí ani

papírem, aby mulata pošpinili a přirovnali ho k takovým pohromám lidstva, jako

Atila nebo Solano Lopez, a ke všem těm argentinským a uruguayským diktátorům.

Od tý chvíle už nespal klidně jako dřív. Ne kvůli novinářům, protože

noviny se do chatrčí v tom koutě města nedostaly, ale kvůli úsměškům a vtipům i

ošklivým urážkám kolegů z jatek, mulatů a černochů jako on sám. Tohle pohrdání

mu vadilo, tohle se ho dotýkalo.

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A tehdy si přestal věřit, prohlásil děda. Ta ruka, která se dřív nikdy

nezachvěla, teď sjížděla nožem proti kosti a on, kterej nikdy nemusel brousit nůž

dřív, než rozboural čtyři kusy, ho musel brousit co půlhodinu. Cítil se starej,

unavenej, smutnej a osamělej.

Měl matčinu péči a něhu svý snoubenky. Ale ta hanba byla taková a

tolik bolela, že se s ní nemohl nikomu svěřit.

Zápas měl být v neděli.

Ta nehoda se stala koncem sobotního dopoledne, když už skoro

zavírali. Ostatní odešli, sotva odbil zvon, ale on tam zůstal, sám, a pracoval.

Nemohl s nima do baru na kořalku jako každou sobotu, protože věděl, že od onoho

dne už pro něj nebude u pultu z mramoru místo. Už nebude poslouchat ani

vyprávět vtipy. Ani si už s nezazpívá s ostatníma ty veselý písničky. Už si nebude

moct půjčovat od majitele baru cavaquinho tak jako dřív. To všechno pro něj

skončilo, byl zaprodanec.

Já si myslím, že to byla slza, tvrdil děda, já si myslím, že to byla slza,

co mu zakalila zrak a způsobila tu nehodu. Už neovládal nůž tak jako předtím. Ve

chvíli, kdy se mu ta slza dostala do očí, nad ním ztratil kontrolu.

Zrovna zvíře vykosťoval, na zemi, na zakrvavený dlažbě, jak to měl ve

zvyku. Pracoval nejen rukama, ale i bosýma nohama, kterýma trup přidržoval.

Vtom se mu nůž vysmekl a on nepocítil nic než jen slabý pálení, skoro svrbení,

uvnitř levýho chodidla. Nůž se mu vymknul a projel mu celou nohou, od palce až

po patu. Rána byla hluboká, asi dvacet centimetrů dlouhá. Nejdřív si myslel, že to

nic nebylo. Ale pak se z rány začala řinout krev, tmavá, hustá, rudá krev.

Byl v hale sám. Bylo slyšet jenom zvuky koštěte, kterým venku

zametal starej černoch dvůr. Běžel ke svý skříni a vyndal z ní boty. Naštěstí si je

ten den vzal s sebou. Chci říct, vzal si je ten den s sebou, protože když ráno

vstával, tak zapomněl, že je psanec a že nemůže jít s ostatníma na kořalku. Obul

se. Rychle dokončil práci. Nestaral se, jestli je ostří nabroušený, nezajímaly ho

zbytky masa, který zůstaly na kostech. Potřeboval odejít co nejdřív. Hotovo. Když

si v šatně sundával zástěru, všimnul si, že krev už prosakuje vrchem, mezi

tkaničkama. Šel zpátky do sálu, sundal si botu a vylil krev na dlaždice. Prohlédl

ránu, pořád krvácela, ale míň. Napadlo ho, že ránu zaškrtí, vzal do ruky pruh

syrový kůže. Měl v tom praxi, nebylo měsíce, aby se někdo ošklivě nepořezal. Při

odchodu s sebou vzal kus suchýho střívka. Už víceméně věděl, co má dělat. Prošel

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kolem vedoucího. Popřál mu dobrý poledne, ale odpovědi se nedočkal. Venku na

dlažbě zamžoural do mlhavýho denního jasu a pozdravil drožkaře, kterej vozil

maso na trh, ale ani ten mu neodpověděl. Co víc, černoch od něj schválně odvrátil

obličej.

Šel rovnou domů. Poobědval. V pokoji si lehnul, obutej, a nohu si opřel

o čelo postele. Vešla jeho matka, deštník zavěšenej na předloktí. Proč ležíš takhle

s nohama nahoře, když jsi před chvílí obědval? Abych si uvolnil svaly, zítra mám

zápas. No dobrá – řekla matka – ale není to dobrý na žaludek. Času dost, nech to

na pozdějc. Chystáte se ven, maminko? Chystám, jdu dát požehnání Matyldině

synkovi, hošík má už přes tejden churavý břicho.

A odešla. Spočítal si, že má půlhodinu, nanejvýš hodinu. Vzal džbán a

naplnil plechovou mísu vodou. Šel na dvůr, pod rozkvetlý pomerančovník.

Omyl chodidlo. Rána byla hluboká, ale už nekrvácela. Vyčistil botu a

vrátil se do pokoje. Vzal krabici od marmelády, kde měla matka šití. Našel jehlu,

jakou potřeboval, s velikým očkem. Zpod matrace vzal ostrej nožík. Z ovčího

střeva oddělil proužek, tenounkej jako příze. Asi tak půl metru. To bude stačit.

Potom ránu zašil. Od palce až po patu. Stehy pořádně utahoval. Schoval nůž a

střevo, vrátil jehlu do krabice a uklidil ji zpátky do kredence s uraženýma

dvířkama.

Obul si boty.

Vtom si vzpomněl, že pod stromem nechal zašpiněnou mísu. Běžel tam

a vylil vodu na záhon, právě včas, protože matka už byla v kuchyni. Rukou setřel

zbylých pár červených kapek.

– No né, to už ses myl, takhle brzy?

– Ne, maminko, jenom jsem si umyl ruce a obličej.

– Nejseš ty dneska nějakej divnej, chlapče?

– To víte, maminko, dělám si starosti s tím zítřejším zápasem.

– Já to říkám pořád: na světě není hloupějšího tvora než mužskej. Přes

tejden se dře v práci a v neděli, kterou Bůh stvořil k odpočinku, by jenom flámoval

a hejřil s flundrama anebo vysedával v hospodě. A aby toho nebylo málo, tak teď

ještě přišli s tou kopanou. Ale hloupý sou ženský, že nikdy nepřestanou rodit další

chlapy.

Lehl si a usnul těžkým spánkem plným zlých snů. Zdálo se mu, že je na

hřišti, ale nemůže se rozběhnout, protože nemá levou nohu. A všude kolem za

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plotem se lidi smáli a posmívali se mu a křičeli: tak co, ty zaprodanej mrzáku, to

chci vidět, jak dáš teďka gól!

Pozdě odpoledne ho probudila jeho matka.

– Už by ses měl jít mejt.

– Dneska se nebudu mýt, maminko.

– Ohó, a proč ne? Tak z tebe je teďka špindíra a lenoch? A co tvoje

snoubenka, co ta tomu řekne?

– Dnes za ní nepůjdu. Jsem nějaký unavený.

– Nic mi nevykládej, hochu. Že ty ses s ní pohádal! Ty se mi snažíš

něco zatajit, ale já na to přídu, protože mě jen tak neoklameš, mě ne, já jsem tě

znala, ještě když jsi neměl zuby a kadil černý bobky. Nezapomeň, že jsi vyrost v

mým břiše. Vím o tobě všechno, víc než ty sám. Takže teďka se mazej umejt, než

na tebe vezmu rákosku!

Tu noc nespal. Jen si lehce zdřímnul, až když začalo škvírama v

okenicích pronikat slunce, který vychází nahoře za kopcem, za ulicí Patnáctého

listopadu.

Naobědval se brzy. A vyrazil na stadion. Měl štěstí, protože mu nějakej

drožkař nabídnul, že ho sveze. Mulat, kterej celou cestu nezavřel pusu. Chtěl po

něm góly, spoustu gólů, protože s těma frajírkama z Pelotas by měl někdo pořádně

zatočit. Byl zticha, protože mu nemohl říct, že dá hodně gólů, to ano, ale že tyhle

góly budou za to družstvo frajírků z Pelotas.

Požádal drožkaře, aby mu zastavil blok od hřiště. On to ale odmítal, že

chce mít to potěšení dovézt ho až před vchod. Ne! Ať zastaví. Ještě se chce stavit u

snoubenky, zalhal.

Vystoupil a šel pěšky. Trochu nejistě zamířil ke vchodu pro členy

klubu, kam kromě uklízečů nikdy předtím žádnej černoch nebo mulat nevkročil, a

musel vrátnýmu s nakroucenýma knírama dlouze a potupně vysvětlovat, kdo je. V

tom okamžiku ho objal nějakej vysokej chlápek, kterej vypadal na cizince,

odtáhnul ho do šatny a zakřičel na polonahý chlapy, že tohle je ten novej

spoluhráč, ten slavnej kanonýr. Našel si místo na konci lavice, kde nebylo tolik

světla, a začal se svlékat. Styděl se ukázat svoji hnědou nahotu před všema těma

bělochama. Přišel k němu zase ten vysokej chlápek a jemu chvíli trvalo, než

pochopil, co mu říká: chtěl vědět, jakou má velikost bot, aby mu mohl dát nový

kopačky. Poděkoval. Řekl, že bude hrát v těch svých, starých a ošoupaných. Ten

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chlap s modrýma očima se smál, že tedy dobrá, ale že by je to chtělo aspoň

naleštit. A zavolal na malýho černýho kluka a nařídil mu, aby mu ty sešlapaný

kopačky vyleštil.

Byl jako v jiným, vzdáleným světě, kam k němu doléhal hukot šatny,

sem tam přerušenej nervózním smíchem. Nedíval se kolem sebe. Oblékl si

modrožlutý tričko, ke kterýmu odmalička cítil odpor. V tu chvíli k němu čistič bot

zvedl oči, velký a plný černýho jasu, a jemu došlo, že si všimnul tý ohromný rány

sešitý střevem. Položil si pravou nohu přes levou a hledal ponožky. Obul se. Seděl

dál se sklopenou hlavou, zatímco mu klučina leštil kopačky.

– To vás bude hrozně bolet, mladý pane – zašeptal černoušek.

– Buď zticha, prcku, a hleď si svý práce!

Kluk pokračoval v čištění, s očima obrácenýma na hráče.

– Hotovo, mladý pane.

Vtom se ten kluk sklonil nad bednu, políbil mu nablýskanou špičku

kopačky a řekl potichoučku:

– Nezáleží na tom, za kterou stranu budete hrát, mladý pane. Hlavní je

to, že to budete vy, kdo bude dávat góly.

A v tý vteřině, v tom záblesku se střetli pohledem a porozuměli jeden

druhému: byli černí a chudí a věděli, že se oba prodírají životem všemu navzdory,

větru i zimě, v nikdy nekončícím procesí shrbených těl a tmavých tváří, jeden za

druhým, pořád dál, bez vidiny cíle.

Co bych ti k tomu ještě řek, kamaráde? Zeptal se děda v tomhle bodě

vyprávění. Už jen málo, odpověděl. Jenom to, že mulat předvedl úžasnej výkon.

Střelil tři góly. A že do něj bušili! Odcházel s očima schovanýma pod opuchlinama

a roztrženým obočím. Mlátili ho jeho bývalí spoluhráči, ale ani jednou nepožádal o

vystřídání, jako to dělaj ty poserové teďka. Hrál až do posledního zapískání.

A prvotřídně. Byl jako toreador, kterej se vyhejbá rozzuřeným býkům. A

přehazoval jim míč přes hlavu, a těch houslí co jim dal! A oni nekopali do míče,

ale do něj, a on se vždycky jenom vyklonil na stranu, takže šel kopanec mimo. Tři

góly, víš, co to je?

Odcházel ze šatny jako poslední, protože nechtěl, aby někdo viděl jeho

ponožku nasáklou krví. V tý době se sami starali o to, kdo jim vypere dres. Takže

odešel, aniž by se kdokoli krom toho malýho kluka dozvěděl jeho tajemství.

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A protože nechtěl, aby o tom někdo jinej věděl, hlavně ne jeho matka,

šel do domu, kde pracovala jeho snoubenka, a přes zeď na konci dvora jí podal

rudou ponožku ztuhlou zaschlou krví, jako by to byl svatební dar, záruka,

hypotéka.

4.2 Peklo v sobě nosí

– Jsou lidi, pro který má život už od narození nachystanej jeden nezdar

za druhým, který mají už od kolébky pečeť tragédie, selhání a marnosti. Ale občas

se sám sebe ptám, jak je možný, že bohové někdy spojí dohromady dva takový

osudy a utkají z jejich rozedraných vláken podivnej koberec zmaru. Bílej Velbloud

a Plavej Ďábel byli jedni z nich, zrození a vychovaní na pokraji společnosti mezi

vyvrženci, aby se jednoho dne setkali a neodvratně spojili svý tragický osudy, jako

by jim to mohlo nějakým způsobem poskytnout na konci jejich rychlých životů

jakousi úlevu. Anebo jako by to celý byl jen hodně špatnej vtip.

Bílej Velbloud byl pitomec. Chodili jsme spolu do prvního ročníku na

Gymnáziu Aloise Gonzagy. V tý době, v jedenácti, dvanácti letech, to už od

ostatních pěkně schytával. Určitě jsi taky měl nějakýho takovýho spolužáka,

třídního blbečka. Většinou je to ten nejošklivější nebo nejtlustší, vždycky se najde

nějakej trouba. U nás to byl Bílej Velbloud. Byl z nás nejvyšší a nejhloupější. Řekl

bych, že se ve škole i snažil, ale učení mu do tý jeho palice prostě nelezlo. On sám

měl z těch pětek, co dostával, srandu.

Nebylo dne, aby se po vyučování nestrhla bitka. Takový ty tahanice o

přestávkách, znáš to – šťouchanec, nadávka, a někdo prohlásí: to si s tebou

vyřídím po škole. Spíš ještě děti než puberťáci, prváci se prali nejvíc.

Jednou, hnedka zkraje roku, se do Bílýho Velblouda někdo pustil. A po

škole byla rvačka. Velbloud, už si ani nepamatuju, jak se vlastně jmenoval, byl

hubenej, trochu hrbatej, ne že by měl něco s páteří, byl jenom shrbenej, asi aby

nevypadal tak vysokej. Ten druhej byl spíš menší.

Pustili se do sebe u tý stoky v ulici Generála Argola. Ten malej do něj

začal mlátit a bušil do něj celou dobu, než přešli blok, až na hlavní třídu. Velbloud

nebyl schopnej skoro ani zvednout ruce, aby některý rány vykryl. Ten prcek ho

kopal do holení a mlátil ho pěstma do břicha, ale ten vůl tam jenom stál se

vztyčenou hlavou a smál se.

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Nakonec se ten kluk unavil a vzdal to:

– Nebudu mlátit blbce, kterej se ani neumí bránit.

Den nato nějakej jinej kluk, to je jedno, o přestávce rozhlásil, že si po

škole Velblouda podá:

– Strčil do mě a hodil mi svačinu na zem.

Nesmysl. Sám jsem viděl, jak se o Velblouda opřel a schválně upustil

svůj chleba se salámem.

Celá scéna se znovu opakovala, i místo bylo stejný. Akorát to byl

někdo jinej, kdo mlátil třídního blbečka.

Už je ti určitě jasný, že Velbloud se mu říkalo kvůli tomu hrbu. Celá

přezdívka zněla Bílej Velbloud, protože byl hodně bledej.

Za chvíli už bylo bití toho chudáka naprosto běžná věc. Nejdřív celá

naše třída. Potom ostatní třídy z prvního ročníku. Z druhýho taky. A dokonce i

některý třeťáci, ti menší, měli svůj den slávy: seřezali Velblouda.

Ten ročník na naší škole už nedochodil. Jednoho dne zmizel. Já jsem

ho vídal skoro pokaždý, když šel do školy nebo když se z ní vracel, protože bydlel

dva bloky ode mě.

Věděli jsme jenom to, že přestoupil na jiný gymnázium.

Po nějakým čase jsem zjistil, co se stalo, z jednoho rozhovoru mezi

mámou a tátou během oběda. Mluvili potichu, v náznacích, abysme nepochopili, o

čem se baví. Bylo to jednoduchý. Velbloudovýho tátu, kterej pracoval v Banco da

Província, obvinili z krádeže a propustili.

Můj táta, to už jsem ti určitě říkal, pracoval v Banco do Brasil. Takže

věděl všechny drby.

– Slyšel jsem, že se teď přestěhovali do tý nový čtvrti, jak otvírají na

východ od centra – řekl táta.

Takhle tedy Velbloud zmizel z našich životů.

Prošli jsme gymplem jako všichni ostatní kluci ve městě, dělali jsme si

o hodinách taháky, koukali jsme učitelkám na nohy a psali jsme po zdech na

záchodech sprosťárny, abysme vytočili kněžoury. Některým vyrašil knír dřív než

ostatním, jiní vyprávěli v hloučku svoje první milostný zážitky.

Jednoho dne, o mnoho let později, to už jsem byl na průmyslovce, jsem

Velblouda uviděl znovu. Bylo to u jednoho železářství, jak je ulice Generála

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Osória. Pomáhal zrovna vykládat náklaďák. Byl z něj chlap jak hora. Bez

rozmýšlení jsem na něj zavolal:

– Hej, Bílej Velbloude!

On se na mě podíval, smál se jako za starých časů, takovým tím

bezvýrazným, nesouvislým smíchem hlupáka, ale neodpověděl. Možná mě

nepoznal. Zvednul bednu, dal si ji na ramena a vzdálil se tou svojí loudavou chůzí,

až zmizel kdesi ve stínu železářství.

Vem si, že já jsem docela vysokej, ale on moh mít o nějakých patnáct

centimetrů víc než já, a to byl ještě nahrbenej dopředu.

Znovu jsem ho viděl po roce, možná víc, těžko říct. V tý době jsme se

tři nebo čtyři z naší třídy rozhodli, že se dáme na vzpírání. Bejt nabušenej bylo

tenkrát v módě. Frčely trička s krátkýma rukávama, ze kterých lezly pořádný

bicepsy. Vlasy jsme si mazali pomádou, protože kudrnatý vlasy se považovaly za

ošklivý.

Jednou večer jsme šli do tělocvičny, kterou otevřeli v jednom z těch

zchátralejch baráků v ulici Maršála Deodora s obrovskýma střešníma místnostma

rozdělenýma na různý kadeřnictví, krejčovství, hodinářství a obuvnictví. Ujal se

nás nějakej mrňavej svalovec, Argentinec nebo Uruguajec, oblečenej jenom v

trenýrkách, děsně ochotnej. Chvíli jsme se s ním bavili, ptali jsme se ho na ceny a

v kolik hodin jsou tréninky a šli jsme pryč. Na chodbě jsme se přitom střetli s

Bílým Velbloudem. Otočil jsem se za ním a viděl jsem, jak vchází do tělocvičny.

Na co potřebuje zvedat činky, když celej den nosí bedny?

Nikdo z nás se už do tý tělocvičny nevrátil. Móda velkých svalů rychle

přešla a my jsme byli zase spokojení s tím, co jsme měli ze sportu. Já jsem hrával

basket za školní tým.

Nastoupil jsem na univerzitu. Moje stará třída se rozutekla. Našel jsem

si dva nový kamarády, Rybáře a Bečku. Byli to vyhlášený flamendři. Začali jsme

chodit po barech. Měli jsme rádi to umělý veselí, zakouřený sály, cinkot ledu ve

sklenicích a ošklivý ženský, který se pod maskou šminek měnily v krásky.

Do jakýho lokálu půjdeme, jsme se rozhodovali podle toho, kolik jsme

zrovna měli peněz. Když jsme na tom byli relativně dobře, zamířili jsme do

nějakýho baru v centru, kde byly ženský mladší, hezčí a náročnější. Ale protože

jsme byli skoro pořád švorc, chodili jsme spíš do putyk v zapadlejších ulicích,

Felixe da Cunhy, Dobrovolníků nebo Generála Osória.

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Jednoho večera, už dost opilí, jsme spočítali drobáky a došli k závěru,

že bysme se mohli zajít podívat do Kostek, novýho podniku, kterej otevřeli v ulici

Dobrovolníků, kousek od křižovatky s ulicí Generála Osória. Dopotáceli jsme se

tam, zaplatili vstupný, který zahrnovalo i sklenku whisky, a vešli jsme dovnitř.

A tehdy jsem uviděl Velblouda znovu. Stál v tmavým koutu za

vrátným, ruce zkřížený na hrudi, a smál se tím svým přihlouplým smíchem. Říkal

jsem si, že bych ho mohl pozdravit, ale vzpomněl jsem si, jak mi tehdy u toho

železářství neodpověděl, a rozmyslel jsem si to. Jestli se nezbavil toho hrbu na

zádech, tak k němu aspoň při vzpírání získal jakousi protiváhu v naběhlým

hrudíku. Prošel jsem kolem něho a cítil se jako usmrkanec. Dělal v tom klubu

vyhazovače.

Během příštích let jsme se do toho podniku ještě hodněkrát vrátili,

většinou na konci měsíce, kdy Rybář dostával kapesný. Už jsem ti myslím říkal, že

jeho táta dělal soudce v Riu Grande, takže byl pěkně zazobanej. Ale vypadalo to,

že prachy do tý rodiny tečou spíš ze strany jeho matky, která měla pozemky někde

u Santa Vitórie. Rybář byl škrt a držgršle, ale Bečka a já jsme do něho vždycky

hučeli, až to nakonec vzdal a naše večírky v Kostkách zatáhnul. Je jasný, že jsme

nikdy neměli dost na to, abysme si zaplatili ženskou, takže jsme vždycky vzali

zavděk třema nebo čtyřma panákama kořalky.

V tom doupěti vládlo vždycky bujarý veselí. Občas nějakej venkovskej

hňup, kterej ten den prodal dobrou úrodu, zaplatil všem rundu. Bečka se

skamarádil s jednou obstarožní šlapkou, která nepila. Vždycky, když jí někdo

koupil whisky, mrkla na Bečku, kterej se k ní přitočil se sklenicí limonády a

vyměnil si to s ní. Poznali jsme tam jednoho nešťastnýho starýho mládence,

ubožáka, co pracoval na městským úřadě jako písař, kterej tam chodil vždycky na

konci měsíce. Slyšel jsem, že míval peníze jenom na vstup. Vcházel do sálu jako

důstojnost sama a potom zval ženský k tanci. U třetí nebo u čtvrtý se ten chudák

udělal do kalhot. Tím považoval svoji misi za splněnou a odcházel, aby se vrátil

zase za měsíc. Viděli jsme všelicos.

Ale vraťme se na poušť, zpátky k Bílýmu Velbloudovi.

Jednou v srpnu, časně zrána, byl zavražděn. Byli jsme v posledním

ročníku univerzity a už jsme chodili na praxi k soudu.

Ta brutální vražda se dostala na titulní stránky novin a mluvilo se o ní

v kavárnách, v barech, v domácnostech, v kancelářích, na náměstích.

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Dva nebo tři dny nato jsem se ohlásil u státního zástupce, což byl v tý

době starej Olyntus, a řekl jsem mu, že bych rád pomáhal při obžalobě, protože

jsem s Velbloudem chodil do školy. Teď jsem si vzpomněl, jak se jmenoval:

Roberto de Azevedo Alves. Tenhle Olyntus byl ten největší morous, co mě kdy

učil. Řekl jenom:

– Nemyslím si, že už bych byl tak starý, abych potřeboval pomoc

takového spratka, jako jsi ty. Ale jestli mi slíbíš, že o tobě v kanceláři nebudu ani

vědět, že se ani nehneš a nebude tě vidět ani slyšet, tak na to přistoupím.

Domluveno.

S tímhle staroušem jsme dopodrobna zmapovali krátkej a nešťastnej

život Bílýho Velblouda. Vyzpovídali jsme jeho nesčetný noční společníky, pasáky,

prostitutky, bohémy, opilce.

A starej Olyntus mi říkal:

– Jenom sbírám materiál pro svoji osobní potřebu, abych měl

argumenty. Nemůžu vzít k soudu ani jednoho z těhle magorů, to bych to mohl

rovnou zabalit. Už jsi někdy viděl, aby se zástupce opíral o výpovědi takovýhle

chátry? Ti jestli se ukážou v soudní místnosti, tak je ten vrah v tu chvíli z basy

venku.

Tak jako tak jsme ale získali profil Bílýho Velblouda. Byl to

neobyčejně tichej chlápek, hrozně slušnej, kterej nikomu nevadil. Od nikoho si

nepůjčoval peníze, vypadalo to, že žije z tý almužny, co mu dával majitel klubu.

Nikdy se nezaplítal s ženskýma, i když tři nebo čtyři po něm házely očkem. Jen

výjimečně, nanejvýš tak desetkrát během celejch těch let, musel uplatnit svou sílu,

aby vyvedl nějakýho otrapu. Jednou takhle popadnul stokilovýho tlusťocha, hodil

si ho přes ramena, odnesl ho o dva bloky dál a strčil ho do otevřenýho kanálu v

ulici Maršála Deodora. Chlápek tam zůstal celou noc, vyspal se z opice a museli

přijet až hasiči, aby ho odtaď dostali. A jednou vyhodil obávanýho Plavýho Ďábla.

Proto taky zemřel.

Výpovědi těch nočních živlů o Velbloudovi starýmu Olyntovi pomohly

k tomu, aby ten démon v lidský podobě, známej jako Plavej Ďábel, dostal osmnáct

let.

Tenhle Plavej Ďábel se narodil a vyrostl na okraji města, na březích

přehrady Santa Bárbara, v chatrči o dvou místnostech. On a jeho matka, která

v posteli vydělávala na chleba pro oba. O otci nikdo nic nevěděl, dokonce ani jeho

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matka, kterou jsme poprvý viděli až u soudu. Byla to ženská, která kdysi určitě

bývala krásná, ale ve čtyřiceti vypadala na osmdesát. Měla vrásčitej obličej a

hrudník propadlej od tuberkulózy. Plakala a prosila, ať jejímu synáčkovi odpustěj,

že vyrost bez mužskýho vzoru. Ale její slzy nebyly nic platný.

Plavej Ďábel byl středně vysokej, asi tak metr sedmdesát pět. Měl

zelený oči chladnokrevnýho vraha. Zdálky vypadal drobnej, ale když jsme se

k němu přiblížili, pocítili jsme ohromnou sílu, která se zdála pramenit z jeho

šílenství. Měl takový ty šlachovitý svaly posetý jizvama, jaký mívají pouliční rváči

a zloději, co jsou zvyklí po nocích přeskakovat zdi. Jeho špinavě blond vlasy,

drsný a vyšisovaný sluncem, mu padaly přes záda. Jak tam tak u soudu seděl na

židli s poutama na rukách, vypadal jako šelma připravená skočit ne po soudci nebo

po porotcích, ale po všech přítomných najednou. Občas se podrážděně zasmál,

smíchem, ze kterýho běhal ženským v sále mráz po zádech.

Slyšel jsem, že do sebe ládoval všechny možný i nemožný drogy,

šňupal, píchal si je nebo je polykal v co největším množství. Pracovalo pro něj pět

nebo šest holek, těch úplně nejšpinavějších, co postávaly kolem tržnice. Mlátil je

hlava nehlava a pak šel pryč a nechal je krvácet. A bral jim všechny peníze a

kupoval si za ně mladý kluky. Kradl, přepadával, pásl ženský, píchal si, rval se. Za

větrnejch nebo deštivejch nocí, kdy ani krysy nevylézají z děr, se procházel po

opuštěnejch ulicích, kopal do dveří a rozbíjel okenní tabulky. Byl to ďábel. Plavej

Ďábel.

Jak už jsem říkal, osud Bílýho Velblouda se začal naplňovat v tu noc,

kdy se Plavej Ďábel objevil v tom podniku. Bylo to takhle:

Vrátnej měl příkaz od majitele, aby Plavýho Ďábla nepouštěl dovnitř,

protože to je špína. Ale on trval na svým: že potřebuje mluvit s jednou ze svejch

holek co je vevnitř, že si od ní vezme peníze na zaplacení vstupnýho. Vrátnej řekl,

že problém nejsou peníze, že ho dovnitř prostě nepustí, protože majitel řekl, že ho

tam nechce vidět.

Plavej Ďábel začal vyvádět: že se dovnitř dostane silou, že s tou

ženskou musí mluvit, protože potřebuje prachy. Odstrčil vrátnýho a začal se cpát

dovnitř. Vtom ho Bílej Velbloud popadl, za ruce, protože věděl, že chodí vždycky

ozbrojenej. A zkroutil mu je tak, že si musel kleknout. Řekl mu tím svým

hlubokým chraplákem, aby šel po dobrým. Že se s ním nechce prát. Sešel se kolem

nich hlouček lidí. Plavej Ďábel řval a kopal kolem sebe jak pominutej. Že tohle si

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vypijou. Vtom ho Bílej Velbloud praštil pěstí do temene, jako by dával ránu

kladivem. Běsnící Plavej Ďábel se sesul k zemi a Velbloud ho odtáhnul pryč.

Uložil ho do výklenku dveří a nechal ho tam spát.

Týden nato byl Velbloud mrtvej.

Život je samý překvapení. Z kluka, kterýho celý dětství mlátili, vyrostl

něco jako Herkules. A teď, když mohl rozdávat rány a prolívat krev a konečně se

pomstít, tak se omezoval na to nejnutnější. Úder pěstí do zátylku. Žádný kopance

nebo rány do obličeje. Čistá práce.

Starej Olyntus podal při soudním přelíčení mistrovskej výkon. Sám víš

moc dobře, jaký šaškárny porotci občas předvádějí, ale Olyntus jim svýma

proslovama vytřel zrak. On to byl jeden z těch zarytejch katolíků. Věřil pevně

v Boha a Ďábla. Toho rána se mu podařilo všechny přesvědčit, že ten chlap

s nepříčetným pohledem je ztělesněním zla. Nejdřív sarkastickým tónem pomalu

přečetl svůj seznam obvinění, který potom podepřel výpověďma sesbíranýma při

našich nočních pochůzkách.

– Dámy a pánové, co jiného můžeme očekávat od této krvelačné bestie

než smrt a zmar? Pouhá jeho přítomnost otravuje vzduch v této místnosti. Toto je

tvor tmavých nocí. Ne, teď nemám na mysli ty noci, kdy mladíci za svitu měsíce

zpívají pod okny své milé nebo se uchylují k hlučnému veselí u barového stolu.

Toto je tvor nocí černých jak smola, který se cele oddal těm nejtemnějším

zákoutím lidské duše.

A vytáhnul svazek od Jacksonova vydavatelství klasických autorů,

Ztracený ráj od Miltona, a přečetl z něj úryvek, který si pamatuju dodnes:

Neboť peklo v sobě nosí, okolo

něho peklo jest, a o krok jediný

nemůž pekla dál než sebe utéci

změnou místa.

Lidi chtěli tleskat, ale soudcovo kladivo je umlčelo.

Ale co na všechny v sále zapůsobilo úplně nejvíc, ještě víc, než

obžaloba starýho Olynta, byla výpověď portugalskýho pekaře.

Tak tedy tenhle Portugalec roznášel onoho chladnýho srpnovýho rána

chleba v ulici Admirála Barrosa, když vtom si všimnul, že za zídkou jednoho

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domu je někdo schovanej. Nejdřív si myslel, že je to zloděj, kterej má políčeno na

košík s chlebem, co nechával opřenej o železnou roletu krámu. Bylo půl šestý

ráno, pořád ještě tma. Portugalec šel k povozu, vzal bič a zamířil ke zdi.

– Hej, chlape, co se tam schováváš za tou zídkou?

Plavej Ďábel se napřímil, ukázal mu břitvu a řekl:

– Zmiz vodsaď, Portugalče, vo ten tvůj chleba mi nejde.

Vtom pekař zaslechl, jak někdo vytahuje roletu krámu. Rozhodl se

majiteli krámu říct, co viděl. Vešel dovnitř a v několika větách uvedl zívajícího

hokynáře do obrazu. Ten popadnul revolver a oba vyšli ven před krám. No ale to

už byl ten chlap pryč. Prohodili ještě pět, šest vět o zlodějích a rozešli se.

Portugalec měl naspěch. Vyhoupnul se na povoz a pokračoval v jízdě. Měl oči na

šťopkách a v ruce svíral bič, protože se obával, že se ten lump bude chtít pomstít.

Nemusel čekat dlouho – řekl Básník – aby Plavýho Ďábla spatřil

znovu. Na rohu ulice rozpoznal v mlze jeho postavu. Pohyboval se rychle, po

špičkách. Před ním zpozoroval ještě dalšího člověka, obrovskou postavu nějakýho

hromotluka. Strhnul povoz do protisměru, až k obrubníku, zrovna včas, aby

zahlédl, jak se ten vlasatec sklání k tomu obrovskýmu chlapovi. A zaslechl slabej

výkřik, spíš zavytí nějakýho zvířete. To Plavej Ďábel několika zásahy břitvou

přeřízl Bílýmu Velbloudovi achilovky. Pekař seděl na lavici jak opařenej a pořád

ještě nechápal, co se to děje, když vtom ten chlap, kterýho předtím viděl za zídkou,

začal před tím klečícím obrem skákat a vykřikovat nesouvislý slova a zuřivě do něj

řezal břitvou, do obličeje, do hrudi, padni kam padni.

Celý to netrvalo dýl než pár vteřin. Portugalec přitáhl otěže a vyskočil

na silnici. V tý chvíli ležel ten vysokej chlap na zemi a pravou rukou svíral lýtko

toho vraha, kterej se k němu skláněl a nepřestával ho řezat do ruky.

Vtom se do toho vložil Portugalec a pětkrát, desetkrát přetáhnul

Plavýho Ďábla bičem po zádech, až to vlhkým ranním vzduchem svištělo.

Nakonec se Plavej Ďábel vyprostil ze sevření Bílýho Velblouda a chtěl utéct, ale

Portugalec mu svým dlouhým bičem spoutal nohy. A dál do něj mlátil, až mu

vypadla břitva z ruky. A nepřestával do něj bušit, zatímco se ten vrah znovu

zvednul a pokusil se o další útěk. Na konci dalšího bloku se Plavej Ďábel sesul

k zemi v bezvědomí. To už se před dveřma domů začaly objevovat skupinky

rozespalých obličejů, který probudily tlumený výkřiky raněnýho a práskání bičem

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a nadávky toho vraha. Portugalec ho svázal bičem a potom ho odtáhl za vlasy na

četnickou stanici.

No a po výpovědi tohohle Portugalce už byl všem rozsudek jasnej:

osmnáct let.

Ale Plavej Ďábel si neodseděl ani dva měsíce. Protože ani ve vězení si

nedal pokoj. On byl totiž na zajíčky a dopustil se tý nebetyčný blbosti, že se

zakoukal do amanta jednoho z šéfů tý věznice. A tak se stalo, že jednoho rána,

když byli vězni na dvoře na vycházce, šel na záchod a tam na kohosi narazil. Prej

mu uřízli jazyk a koule, strčili ho do záchodový mísy a nechali ho tam vykrvácet.

A tady příběh končí, protože ředitel tý věznice neprojevil valnej zájem

vypátrat, kdo ten zločin spáchal.

4.3 Klidný pan Braga

Ve svých čtyřiceti sedmi letech měl João Braga v šatníku uloženo

dvacet tři obleků, z toho deset italských, všechny zakoupené v posledních čtyřech

letech, kdy se i bez diety udržoval na osmdesáti kilech. Nosil lněné košile,

hedvábné kravaty a boty z Anglie, těžké, diskrétní, naleštěné.

Jako ředitel pobočky jedné velké reklamní společnosti v Brasílii

dostával velkorysý plat a k tomu pronájem domu s pozemkem o šesti stech

metrech čtverečních v luxusní čtvrti Lago Sul. Utrácel hodně peněz za benzín,

daně a pojištění pěti aut, která rodina vlastnila. V ostatních výdajích byl umírněný.

O prázdninách, vždy v červenci, se s manželkou sebrali a odjeli do Evropy nebo

Spojených států.

Braga, člověk neochvějně klidný, si nedělal starosti s penězi. Pocházel

z prostých poměrů a netoužil téměř po ničem, co by už neměl, ale děsil se

představy, že by měl ještě někdy bydlet v bytě.

Když občas pomyslel, v jakých sídlech bydlí někteří klienti společnosti,

kde pracoval, tak mu jeho vlastní dům připadal docela skromný. Na druhou stranu

nesl těžce bídu, která ho obklopovala – u semaforů, na parkovištích supermarketů,

za okny restaurací. Ale protože neznal kouzelné zaklínadlo, které by s ní

skoncovalo, jen pokrčil rameny.

Jen málokdy se zamyslel, zda je možné, třeba jen vzdáleně, aby

všichni, skoro všichni nebo alespoň většina lidí na světě žila důstojně. Občas měl

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ale pocit, že se nutně musí něco udělat, aby se zmenšily některé vily, anebo

zvětšily chatrče na předměstí.

Braga byl, připomínám, kliďas.

Nebyl věřící, ale musím rychle dodat, že nebyl ani ateista ani agnostik.

Přemýšlet o existenci Boha mu připadalo jako nesmírně spletitá záležitost.

Připouštěl, že lidé mají určité sklony k duchovnu, a že tyto sklony sílí ve chvílích

osamění a zoufalství. Ale on sám se zoufalý ani osamělý nikdy necítil. Občas

samozřejmě ano, když to večer přehnal s whisky, což se stávalo zřídka, snažil se

před spaním rozpomenout na Otčenáš, který odříkával jako malý kluk.

Braga byl ve své podstatě muž činu, a jako takový byl rád neustále v

pohybu. Nasednout do auta, nechat se odvézt na letiště, nastoupit do letadla,

ubytovat se v hotelu a potom pozorovat okénkem taxíku cizí města a exotické

tváře. Miloval hotely, cítil se v nich doma: vdechoval s potěšením ten nádech

prchavosti typický pro vše, co se týkalo velkoměst.

Po mnoho let byl nadaným reportérem, avšak bez nadutosti,

nedůslednosti a komediantství, které novináři zaručují místo mezi těmi nejlepšími.

Za něco málo přes dvacet let si ve dvou novinách a jednom časopise vybudoval

nenápadnou, ale stále stoupající kariéru. Ve dvaačtyřiceti, kdy vedl redakci

jedněch velkých novin, si uvědomil, že přišel čas změnit obor.

Jednoho dne pozoroval čerstvě vystudované chlapce a dívky zabrané do

počítačů a pochopil, že tohle povolání vyžaduje především mládí. Nebo naivitu.

Připadalo mu nemístné předvádět své šediny a lhostejnost mezi nadšením tolika

zanícených srdcí, která chtěla zachránit lidstvo, svrhnout vlády a napravit

společnost.

Toužil po něčem klidnějším, po práci, která by mu umožňovala vyrazit

na konci dne nakupovat ruku v ruce s manželkou do obchodního centra nebo si

dovolit ten přepych zajít si během týdne do kina na science fiction. On, který po

spoustu let odcházel z práce mezi jedenáctou a půlnocí, si chtěl užívat těch

nejnevinnějších nočních radovánek. A ze všeho nejvíc si přál usadit se v křesle

jako král a dívat se v televizi na fotbal, obklopený dětmi, se sklenicí piva v ruce a

mísou pražené kukuřice na klíně.

Právě proto, aby si splnil tyto malé sny, přijal bez váhání nabídku řídit

pobočku jedné velké reklamní firmy v Brasílii.

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Před nějakou dobou poznal na jednom večírku majitele společnosti –

devětadvacetiletého chlápka, který udělal v reklamním oboru tu nejzávratnější

z nejzávratnějších kariér. Velkej šéf, jak se mu přezdívalo, se pohyboval v reklamě

už od třinácti, kdy pracoval jako poslíček v pobočce jedné americké firmy. Po

deseti letech stanul na její špici: byl jmenován ředitelem, prvním narozeným

v Brazílii.

A aby se nenudil, založil Velkej šéf vzápětí svoji vlastní společnost,

která se už po dvou letech pohybovala na vrcholu žebříčku. Rád se chlubil, že

prodělal dva infarkty: první ve dvaceti čtyřech, druhý ve dvaceti osmi letech. Jeho

četní nepřátelé však tvrdili, že šlo jenom o bušení srdce z přílišného pití.

Velkej šéf nosil obleky těch nejneuvěřitelnějších barev, křiklavé košile

a bláznivé kravaty. Na nohou měl tenisky s děravými podrážkami a kouřil

kubánské doutníky po padesáti dolarech. Všichni jeho zaměstnanci se úplně

rozplývali nad čímkoliv, co řekl nebo udělal.

Během pohovoru se Velkej šéf Bragy zeptal:

„Máš rád hazard, ženský, anebo jen prachy?“

Braga se usmál a odpověděl:

„Každý se občas dopustíme nějakého toho prohřešku.“

Majitel společnosti se pobaveně smál přes oblaka dýmu. Potom se

obrátil na finančního ředitele:

„Kup pro nás tohohle člověka. Ten jeho styl se mi zamlouvá.“

Braga využil příležitosti a řekl si o dvojnásobek platu, který původně

zamýšlel, a k tomu o nájem domu.

Jako zkušený novinář Braga věděl, jak důležitá je věta na správném

místě. Dobrý úvod dokáže zachránit i mizernou reportáž, říkával. Liboval si v

mnohoznačných a jízlivých větách. Jako byla ta, kterou odpověděl majiteli

společnosti a která mu zajistila to místo. I když to byla samozřejmě lež.

Braga nenáviděl jakýkoliv hazard. Byl například přesvědčený, že

lidstvo už nikdy nevymyslí nic otravnějšího než poker.

Po celých třiadvacet let, co byl ženatý, pro něj neexistovaly jiné ženy

než jeho manželka. Jednou, když měl trochu špičku, se svěřil jednomu příteli

s nefalšovanou pýchou:

„Nikdy jsem svý starý nezahnul.“

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Následujícího dne ho ten nevybíravý způsob, jakým mluvil o své

dlouholeté družce, mrzel.

Z neřestí, které šéf jmenoval, se ho týkala, třebaže okrajově, jenom

jedna: peníze. Ne, Braga nebyl chamtivý. Ale měl rád pohodlný život.

„Znám lepší zábavu než vybírat to nejlevnější mýdlo,“ říkával Glórii,

když řešili rodinný rozpočet.

Až dlouho poté, co nastoupil, zjistil Braga, co myslel Velkej šéf tím

„ten jeho styl se mi zamlouvá.“

Bylo to jednou večer, když spolu seděli v restauraci. Velkej šéf do sebe

obrátil láhev whisky na oslavu uzavření obzvláště výhodné smlouvy a pronesl:

„Brago, byla to láska na první pohled. Úplně jsem si zamiloval ten tvůj

styl. Seriózní. V životě jsem nepotkal takovýho mamlase. To tvoje slušňáctví má

velkou cenu. I ten největší gauner si na tobě vyláme zuby. Vem si třeba mě. Řek

sis o plat vysoko nad průměrem a já jsem na to přistoupil. Každej tancuje podle

tebe, když na něj vybalíš tenhle úsměv Mony Lisy. Brago, ty seš prostě

k nezaplacení. Ty seš počestná tvář naší firmy.“

Velkej šéf byl veselá kopa. Jednou vrazil do Bragovy kanceláře a

požádal o zrcátko, žiletku a propisku. Když mu je přinesli, vytáhl obálku a z ní

vysypal bílý prášek. Ten podrtil žiletkou, udělal lajnu a pomocí propisky bez

náplně ji nasál.

Braga všemu mlčky přihlížel, bledý, šokovaný, zdrcený. Netušil, že je

jeho šéf závislý na kokainu.

V následujících dnech nemyslel na nic jiného, než jak by ho mohl

zbavit té jeho závislosti. Zavolal do São Paula ostatním ředitelům a diskrétně jim

převyprávěl celou příhodu.

Ti položili telefon a váleli se smíchy po koberci. Prášek, který před

Bragovými zraky nasál, byl neškodný potravinový škrob. Celé to byl jen žertík,

který si Velkej šéf přichystal na spořádaného ředitele z Brasílie.

„Já ho prostě žeru,“ říkával Velkej šéf a napodoboval přitom Bragův

přízvuk. „Je to poslední slušnej blb na celým tomhle podělaným světě. Ujišťuju

vás, že jestli někdy nějakej zákazník vyleze na stůl a vymočí se mu na hlavu,

Braga tomu chlápkovi osuší pinďoura kapesníkem.“

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Historka o falešném kokainu se rozšířila mezi reklamními agenty

po celé zemi. Když Velkej šéf, trochu připitý, volal Bragovi, aby se mu omluvil,

uslyšel jenom:

„Šéfe, jsem velmi rád, že to celé byl jenom žert. Já jsem se o vás

opravdu bál. Ale musím uznat, že to bylo celé moc dobře sehrané.“

Velkej šéf položil telefon a sekretářka zahlédla, že má v očích slzy.

Bragova upřímnost byla dojímavá.

Když spolu o několik měsíců později znovu mluvili po telefonu, tak si

Braga všiml, že Šéfův hlas zní o něco medověji než obvykle:

„Posílám ti tam jednu kočku. Je jí dvacet šest a je to ta nejkrásnější a

nejchytřejší holka, co jsem kdy potkal. Zamilovala se do mě, ale já jako bůh se

nemůžu oženit s lidskou bytostí, ať je sebekrásnější. Víš, Brago, na světě je

spousta ženskejch a já do konce svých dnů nestihnu všechny poznat tak, jako

poznal Adam Evu. Ta, kterou ti posílám, je fakt výjimečná. Pracuje u mě šest

měsíců. Chodil jsem s ní celý tři týdny. To je maximum, který jedný ženský

poskytuju. A protože spala s polobohem, tak se bojím, že je teď tak zdrcená, že se

pokusí o sebevraždu. Takže ji předávám tobě. Bude ti dělat v Brasílii asistentku.

Nech ji, ať si dělá, co chce. Hlavní je, aby zůstala u vás a neotravovala mě tady.

Kdybys nebyl takovej trouba, tak tě poprosím, ať ji sbalíš, ale úplně postačí, když

jí seženeš ňákýho borce. Brago, zachraň mě před ní! Jestli selžeš, budu muset

najmout odstřelovače.“

Braga dívku vyzvedl na letišti. Trval na tom, že jí pomůže s kufry.

Zpočátku se cítil trochu nesvůj z toho, že má vedle sebe tak krásnou ženu. Ale

když si všiml závistivých mužských pohledů, které je provázely, pookřál.

Dívka se zavřela v hotelu a do práce dorazila až po dvou dnech. Přišla v

půli dopoledne, ve špatné náladě, a hned způsobila povyk. Vnutila se na jednání

s jedním důležitým klientem, bavila se tam nahlas a vypustila několik slov, za

která by se styděl i dlaždič. A k tomu ještě seděla s nohama od sebe, i když měla

na sobě krátkou sukni.

Během následujících dnů se nepříjemné scény opakovaly.

Holka měla věčně zarudlé oči, vysušené rty a zívala s pusou dokořán.

Nejvíc času trávila tím, že seděla u telefonu a nadávala lidem ze São Paula.

Braga ihned pochopil, že pod maskou agresivity, vzpurnosti a

nevychovanosti se skrývá dívka jako každá jiná. Zrovna takový hlupáček jako jeho

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vlastní dvacetiletá dcera. Proto se rozhodl, že jí pomůže na Velkýho šéfa

zapomenout. Zabil by tím dvě mouchy jednou ranou: zbavil by majitele

společnosti vášně, která mu byla na obtíž, a navrátil by úsměv té tváři jako ze

žurnálu.

Jednoho pozdního pátečního odpoledne podal Braga dívce sklenku s

velkorysou dávkou whisky. Ve firmě byli už jen sami dva. Braga pozoroval, jak se

na okolní budovy snáší noc, a řekl:

„Moniko, ty jsi velmi mladá a krásná. Nemluvím ale o tvé fyzické

kráse, která je nesporná. Mluvím o jiné kráse, o té vnitřní. Jsi úžasná. Chytrá,

smyslná. Maličko útočná, to ano. Ale to je součást tvé výjimečnosti.“

Monika položila sklenici na stůl, aniž by z ní upila.

„Brago, já vím, že to je hajzl. Vím, že tě pověřil, abys pro něj udělal

špinavou práci. Ale nikdy by mě nenapadlo, že by se čestnej chlap jako ty snížil

k tomu, aby přede mnou opakoval ty směšný a přeslazený fráze, který mi napsal.“

„Proboha, to ne! To nikdy!“

Braga vše důrazně popíral. Přesvědčoval ji, že říká jenom to, co

doopravdy cítí. Zapřísahal se, že ta slova jsou jeho vlastní. Slova přítele, otcovská

útěcha. Jediné, co si přeje, je vidět ji šťastnou.

Ale ona pokračovala v osočování:

„Teď už chápu tu tvoji ohleduplnost, Brago. Měl jsi ji v popisu práce.

A já jsem byla doopravdy ráda, když jsi mi otevíral dveře a přisouval židli na

schůzích. Myslela jsem si, že jsi romantický, zdvořilý. Kavalír. Ale pěkně jsem se

spálila. Jsi jako všichni ostatní. Ze stejnýho těsta. Shnilýho.“

Zvedla se a při odchodu za sebou práskla dveřmi.

O týden později ji Braga pozval na večeři. Přijala, ale jen pod

podmínkou, že bude moci vybrat restauraci, protože se jí už dělalo nanic z těch

pajzlů, kde se scházejí podvodníci, pochybní podnikatelé a tuneláři, kteří obklopují

vládu. Braga souhlasil. Šli do nenápadné restaurace.

„Málo světla a hodně hudby,“ řekl Braga a usmál se. Povšiml si čtyř

nebo pěti objímajících se mladých párů a vzpomněl si na své vlastní děti. Možná,

že do tohohle baru také chodí.

„Co si o tom všem myslíš?“ zeptala se Monika.

„O čem všem?“

„O celým svinským životě.“

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„O životě? V jakém směru? Mohla bys to upřesnit?“

„Co si myslíš o svým životě, Brago? Kam jsi to v tom svým podělaným

životě dotáhnul? Jsi spokojenej s výsledkem, s tím ubohoučkým světem, ve

kterým žiješ ponořenej až po uši? V práci tě obklopuje výkvět všech gaunerů a

doma tvoje tlustá manželka a debiloidní děti.“

„Nevím přesně, kam míříš, Moniko, ale řekl bych, že něco jsem

dokázal: vybudoval jsem rodinu, a to není málo.“

„To dělají všichni, Brago. Jsi jenom další zvíře uprostřed stáda. Větší a

cennější, ale pořád zvíře.“

Večeřeli mlčky.

Bragy se ta slova trochu dotkla. Zvíře uprostřed stáda. Ubohoučký svět.

Vždyť on pro ni dělal, co bylo v jeho silách. Ale ona je tak útočná. Čas od času se

odvážil na ni letmo pohlédnout. V přítmí baru byla krásná, nádherná, přímo

okouzlující.

V autě o tom znovu tiše přemítal. Byl to stále ten stejný Braga. Tvrdá

slova na tom nic neměnila. Byl to kavalír.

Noc byla černá jak smola, bezměsíčná, a proto vystoupil z auta a

doprovodil ji až k recepci hotelu. Při loučení jí políbil ruku. Pozvala ho do

hotelového baru.

Braga řekl, že nemůže. Je dost pozdě a musí jet domů. Poděkoval jí.

Jako mnoho mužů nebyl Braga ve věcech lásky zrovna všímavý. Byl

tak ponořený do sebe, že si ani nevšiml, že od té noci dívčin neposkvrněný obličej

znesvětily šminky; a že seprané džíny nahradily lněné sukně a saka jak ze šatníku

nějaké čtyřicátnice; a že vyměnila ošoupané tenisky za elegantní lodičky na

podpatku; a že se jí ve vlasech zalesklo několik do šeda odbarvených pramenů.

Nezapůsobilo na něj ani když začala chodit do práce brzo.

Braga si nevšiml ani těchto, ani jiných, zřetelnějších náznaků, až do

onoho pátečního podvečera, kdy se znenadání objevila v jeho kanceláři v krásných

šatech s výstřihem a řekla:

„Brago, nalej mi whisky. To je jen aperitiv. Jako hlavní chod si dám

tebe.“

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5. Análise da tradução dos contos

5.1 Análises da linguagem das personagens

Uma das partes essenciais de uma tradução é a identificação do estilo do narrador

e das personagens, para que o tradutor possa encontrar um estilo correspondente na

língua-alvo. O tradutor deve estar atento se no texto estão presentes as seguintes

caraterísticas: a) dialeto regional; b) socioleto – linguagem caraterística para um

grupo social; c) registro social – depende da situação em que a conversa ocorre; d)

o tom pelo qual o enunciado é apresentado.21

Foram estes quatro critérios que

usamos como a base para a nossa análise das linguagens usadas nos contos

escolhidos, e utilizamos as nossas conclusões para encontrar uma linguagem

correspondente em tcheco.

Outro problema de tradução são idiomas e provérbios. Na sua tradução,

o tradutor deve usar uma tradução comunicativa, isto é, ele deve procurar um

idioma com o significado equivalente na língua-alvo que não tenha conotações

indesejadas. Devido à natureza complexa de algumas expressões idiomáticas, a sua

tradução se pode mostrar problemática. Nos casos quando não há uma expressão

idiomática correspondente na língua-alvo, o tradutor pode usar uma perífrase, uma

compensação ou criar uma expressão analógica.22

5.1.1 “Meia encarnada dura de sangue”

5.1.1.1 O Poeta

O narrador do conto “Meia encarnada dura de sangue” é o Poeta, um

advogado da classe média23

, que conta a história a um amigo. O contexto da

narrativa, isto é, uma conversa informal entre dois amigos, determina a estrutura

do conto e a linguagem do narrador. Vale ressaltar, porém, que o tom da narrativa

não é homogêneo, no texto podemos encontrar trechos num tom elevado, com a

presença de figuras poéticas. Também é notável a presença de regionalismos

próprios ao Sul do Brasil ou mais especificamente ao estado do Rio Grande do Sul.

No nível morfossintático, a informalidade da linguagem coloquial do

narrador se demonstra pelos seguintes traços:

21 Dagmar Knittlová, K teorii i praxi překladu (Olomouc: Univerzita Palackého, 2000) 22. 22 Zlata Kufnerová et alii, Překládání a čeština (Jinočany: H&H, 1994) 88. 23 Correspondência eletrônica entre Iuri Müller e Lourenço Cazarré de 17.11.2011

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- Estruturas gramaticais coloquiais:

O tal crioulo esse foi uma espécie de primeiro profissional da cidade.

(pág. 12)

- Contrações prepositivas:

Ficava pras bandas do porto. (pág. 13)

- Uso de expressões idiomáticas:

Tinha tantos contos de réis quanto milhos numa espiga. (pág. 14)

- uso de léxico da linguagem informal:

pau (pág. 13), parada (pág. 13), cara (pág. 14), cachaçada (pág. 16)

Levando em conta estas caraterísticas da linguagem do narrador,

optamos na nossa tradução para o tcheco pela linguagem coloquial. No nível de

morfologia, usamos algumas desinências informais. As mais frequentes na nossa

tradução são as seguintes:

- terminação –ej em vez de –ý em adjetivos masculinos:

Dva nebo tři měsíce zvažoval všechna pro a proti, protože věděl, že od

chvíle, kdy přijme, nebude jen obyčejnej černoch: bude zaprodanej

černoch.

A terminação –ej usamos sistematicamente quando substituía “ý” no

final da palavra. Quando não se encontrava no final da palavra, mantemos na

maioria dos casos a terminação formal:

Znal hodně příběhů o fotbale, protože on sám ho kdysi hrával, byl to

jeden z těch dotěrných útočníků, malých a rychlých jako střela, co

nejsou ani vysocí ani silní, a proto musejí být rychlejší a mazanější a

lstivější a drzejší, aby vyvedli obranu z míry.

- terminação –ý em vez de –é em adjetivos e pronomes masculinos e neutros:

My, kluci s nohama po kolena od bláta, jsme si vždycky hrávali opodál,

buď na plácku na schovávanou, anebo na malým hřišti, který jsme si

vyznačili na opuštěným pozemku, a užívali si posledních zbytků světla.

- terminação –ma em vez de –mi em substantivos e adjetivos femininos:

Bydlel v chatrči s vratkýma zdma a slaměnou střechou.

No nível lexical usamos expressões coloquiais:

Až jeden Angličan, kterej se na schůzích vedení dost angažoval, do

ostatních tolik hučel, až se nakonec uvolili, že s černochem promluví.

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Como já mencionamos, o narrador usa regionalismos, porém, o seu

número é relativamente limitado. Apesar de que os regionalismos

permitam ao leitor brasileiro identificar que o texto está situado no Sul

do Brasil, na língua-alvo o uso de regionalismos poderia ter conotações

indesejáveis. A melhor solução é traduzir regionalismos por expressões

da língua coloquial ou por regionalismos que não tenham o efeito

perturbador,24

assim:

- Rancho (pág. 14) – chatrč

- Banhado (pág. 13) – slatina

- Guasca (pág. 17) – pruh syrové kůže (neste caso não existe um termo

correspondente na língua-alvo, por isso usamos uma analogia)

- Matreiro (pág. 12 – mazaný

- Bolicho (pág. 16) – bar

- Floxo (pág. 17) – churavý

- Guri (pág. 19) – klučina

Na linguagem do Poeta encontramos numerosas expressões idiomáticas.

Na maioria dos casos foi possível encontrar uma expressão equivalente em tcheco:

Um dos diretores do clube, da família Almeida Guimarães, um cara

que tinha tantos contos de réis quanto milhos numa espiga, disse mais:

que cederia ao tal crioulo uma casa velha que tinha lá pros lados da

Cerquinha. (pág. 14)

Jeden z vedoucích klubu, chlápek z rodiny Almeidy Guimarãese, co měl

peněz jak šlupek, na to řekl, že tomu černochovi přidá navíc starej

barák, kterej má za městem.

Num caso, porém, não encontramos uma expressão idiomática tcheca

correspondente:

Pois este meu avô – disse o Poeta – dava um dedo por um pouco de

prosa. (pág. 11)

A expressão „dar um dedo por“ exprime a paixão forte por alguma coisa. Em

tcheco existe a expressão semelhante „dát si pro korunu koleno vrtat“, mas esta é

usada só em relação com dinheiro. Aproveitamos, porém, a sua estrutura para criar

uma nova expressão idiomática que não soe estranho ao leitor tcheco, assim:

24 Kufnerová 70.

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No a tenhle můj děda – řekl Básník, by si dal pro kus řeči palec

useknout.

Também houve momentos quando no texto original não havia uma

expressão idiomática, mas para a situação descrita existia um idioma em tcheco.

Como as expressões idiomáticas são bastante frequentes no texto, decidimos usá-

las também em algumas poucas situações quando no texto original não havia um

idioma:

Muitas vezes no verão, nas cheias do rio, tinha que botar os trastes nas

costas e sair para a casa de uns parentes, que moravam nas Terras

Altas. (pág. 14)

V létě, když byla řeka rozvodněná, si museli častokrát sbalit svých pět

švestek a jít k příbuzným, kteří bydleli v Terras Altas.

5.1.1.2 O avô

Como já mencionamos na análise literária, no conto “Meia encarnada dura de

sangue” há dois narradores. O avô é o narrador original da história do mulato, que

foi depois recontada pelo seu neto, o Poeta. O Poeta usa na sua narrativa trechos da

narrativa do avô, que têm geralmente a forma de discurso direto ou indireto. Há

situações, porém, quando não é certo quem é o narrador.

O tom dos discursos do avô é informal, já que ele se dirige ao seu neto.

Às vezes, o avô também comenta sobre a narrativa, muitas vezes fazendo

comparações entre o tempo em que a história está situada e o tempo atual – nestas

ocasiões o tom é levemente depreciativo. A linguagem do avô é coloquial e muito

expressiva, com a presença de gíria e expressões idiomáticas. Na nossa tradução

para o tcheco usamos a linguagem coloquial, usando as mesmas desinências

informais como na linguagem do Poeta. Quanto ao léxico, tentamos procurar

expressões levemente desusadas. A narrativa é também marcada pelo tom

explicativo que pode ser dado pela situação – o avô se dirige ao seu neto que

provavelmente era uma criança, então sente a necessidade de explicar e interpretar

os acontecimentos a ele:

Apanhou dos seus antigos companheiros, mas em momento algum

pediu para sair, como fazem estes frescos de hoje em dia. (pág. 20)

Mlátili ho jeho bývalí spoluhráči, ale ani jednou nepožádal o

vystřídání, jako to dělaj ty poserové teďka.

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O velho dizia que naquele seu tempo, sim, aquilo era um esporte para

homens, porque os juízes só marcavam falta se o agredido sangrasse, e

só expulsavam o agressor quando o outro ficava estirado sobre o

barro, desmaiado. (pág. 12)

Děda vždycky říkal, jó, v tý době, to byl sport pro chlapy, protože

rozhodčí pískali faul, jenom když tekla krev, a vykázali agresora, jen

když se ten druhej válel v bahně v bezvědomí.

5.1.1.3 A mãe do mulato

A mãe do mulato é uma negra enérgica, provavelmente sem uma educação formal.

A sua linguagem é altamente expressiva, com a presença de regionalismos, gíria e

interjeições. No nível de sintaxe, a sua fala contém estruturas informais e também

desusadas, que dão à sua fala um toque original. Vale ressaltar que os verbos da

segunda pessoa terminados em –s não são um sinal de arcaização, mas são comuns

na fala informal do Sul do Brasil.

Devido à alta expressividade e complexidade da fala da velha, não foi

fácil encontrar um equivalente na língua-alvo. Levando em conta todas as suas

caraterísticas, recriamos a linguagem da mãe na língua-alvo aproveitando

estruturas informais. Para os regionalismos procuramos expressões menos

frequentes, porém sem conotações dialetais:

Vou, vou benzer o filhinho da Matilde, o guri anda com a barriga floxa

há uma semana. (pág. 17)

Chystám, jdu dát požehnání Matyldině synkovi, hošík má už přes tejden

churavý břicho.

Também tentamos encontrar palavras obsoletas ou desusadas que o leitor

associasse com pessoas idosas:

É o que eu sempre digo: Não tem bicho mais burro do que homem,

durante a semana passa se gastando lá no serviço e no fim de semana,

que Deus fez pra descansar, se mete na gandaia, nas farras com as

sem-vergonhas, ou na cachaça e agora, pra piorar, tem esse tal jogo

de bola. Mas burras são as mulheres, porque nunca deixam de parir

outros homens. (pág. 18)

Já to říkám pořád: na světě není hloupějšího tvora než mužskej. Přes

tejden se dře v práci a v neděli, kterou Bůh stvořil k odpočinku, by

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jenom flámoval a hejřil s flundrama anebo vysedával v hospodě. A aby

toho nebylo málo, tak teď ještě přišli s tou kopanou. Ale hloupý sou

ženský, že nikdy nepřestanou rodit další chlapy.

5.1.1.4 O mulato

O mulato é “um rapaz gentil, tímido, de fala mansa, silencioso, cerimonioso” (pág.

13). Quando ele fala com a sua mãe, o tom da conversa é manso, porque o rapaz a

trata com respeito. Traduzimos então estes trechos por linguagem formal, sem

desinências informais e com vocabulário neutro:

A senhora vai sair? (pág. 17)

Chystáte se ven, maminko?

É, mãe, preocupado com o jogo amanhã. (pág. 18)

To víte, maminko, dělám si starosti s tím zítřejším zápasem.

Nesta situação também foi necessário considerar as diferenças culturais entre o

Brasil e a República Tcheca. Enquanto no Brasil é comum até hoje tratar os pais

por „o senhor / a senhora“, em tcheco usa-se o tratamento por tu. Porém, nem

sempre foi assim, e considerando a época em que a história está situada (anos

trinta), optamos pelo tratamento formal.

Na situação em que o mulato se dirige ao menino negro, ele fala com

ele usando o tom de superioridade. Por isso, neste trecho usamos neste trecho

desinências informais.

Cala a boca, moleque, cuida do seu trabalho! (pág. 20)

Buď zticha, prcku, a hleď si svý práce!

5.1.1.5 O menino

O pequeno lustrador de sapatos está numa posição inferior em relação ao mulato, o

que determina o tipo da sua linguagem – ele trata o mulato por „o senhor“ e usa

uma linguagem formal. Na nossa tradução mantivemos o tratamento e as

desinências formais. O menino também usa o tratamento de cortesia “seu moço“,

que é levemente arcaico, para que encontramos o equivalente tcheco „mladý

pane.“

Vai doer muito, seu moço. (pág. 20)

To vás bude hrozně bolet, mladý pane.

Está pronto, seu moço. (pág. 20)

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Hotovo, mladý pane.

Não importa o lado que o senhor vai jogar, seu moço. O que interessa

é que o senhor é que vai fazer os golos. (pág. 20)

Nezáleží na tom, za kterou stranu budete hrát, mladý pane. Hlavní je

to, že to budete vy, kdo bude dávat góly.

5.1.2 “O inferno traz em si”

5.1.2.1 O Poeta

Os contos “O inferno traz em si” e “Meia encarnada dura de sangue” são do

mesmo livro de contos, e têm o mesmo narrador, o Poeta. Também o quadro

narrativo é parecido: o Poeta conta a história a um amigo, o que determina o tom

da conversa e a linguagem. Para manter a continuidade entre os dois contos

usamos neles as mesmas desinências informais.

Também no conto “O inferno traz em si” havia numerosas expressões

idiomáticas, para as quais foi preciso encontrar equivalentes convenientes na

língua-alvo:

Nunca se metera com as mulheres, embora três ou quatro tivessem

arrastado a asa pro lado dele. (pág. 90)

Nikdy se nezaplítal s ženskýma, i když tři nebo čtyři po něm házely

očkem.

O Peixeiro era um pirica, mão-de-porco, mas o Barrica e eu tanto lhe

enchíamos o saco que ele acabava cedendo e bancando as festas no

Xadrez. (pág. 88)

Rybář byl škrt a držgršle, ale Bečka a já jsme do něho vždycky hučeli,

až to nakonec vzdal a naše večírky v Kostkách zatáhnul.

Devido à alta frequência das expressões idiomáticas na linguagem do

narrador, usamo-las na nossa tradução também em algumas situações quando estas

não estavam presentes no texto original:

Ia de olhos bem abertos, segurando firme na mão o chicote porque

temia que o rapaz quisesse se vingar. (pág. 93)

Měl oči na šťopkách a v ruce svíral bič, protože se obával, že se ten

lump bude chtít pomstít.

Petrificado no branco, ainda sem saber o que estava ocorrendo, o

padeiro viu quando o homem que há pouco estivera por trás do

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murinho começou a pular na frente do gigante ajoelhado, gritando

palavras desconexas, e dando golpes frenéticos de navalha, no rosto,

no peito, por onde pegasse. (pág. 93)

Pekař seděl na lavici jak opařenej a pořád ještě nechápal, co se to děje,

když vtom ten chlap, kterýho předtím viděl za zídkou, začal před tím

klečícím obrem skákat a vykřikovat nesouvislý slova a zuřivě do něj

řezal břitvou, do obličeje, do hrudi, padni kam padni.

5.1.2.2 Olyntho

Olyntho é um promotor velho mal-humorado, e quando se dirige ao Poeta, com

quem investiga o caso da morte do Camelo Branco, ele demonstra um certo

despeito. A linguagem dele é coloquial, ele usa gíria e ocasionalmente também

palavras pejorativas ou vulgarismos. Estas caraterísticas mantivemos na nossa

tradução para o tcheco:

Estou apenas recolhendo material para meu uso pessoal, para a

argumentação. Não posso levar um só desses cretinos pro júri porque

aí me arrombo todo. Já viste um promotor recorrer ao depoimento

dessa gentalha? Se aparecem no tribunal, o assassino sai de cana na

mesma hora. (pág. 90)

Jenom sbírám materiál pro svoji osobní potřebu, abych měl argumenty.

Nemůžu vzít k soudu ani jednoho z těhle magorů, to bych to mohl

rovnou zabalit. Už jsi někdy viděl, aby se zástupce opíral o výpovědi

takovýhle chátry? Ti jestli se ukážou v soudní místnosti, tak je ten vrah

v tu chvíli z basy venku.

Na hora de falar do tribunal, porém, a linguagem dele é elevada e

simbólica, com a presença de imagens bíblicas e figuras poéticas (paronomásia,

metáfora, hipérbole, plenoasmo). Estas caraterísticas tentamos manter também na

nossa tradução:

O que podemos esperar, senhores e senhoras, desta besta-fera, deste

sangüinário, a não ser morte e destruição? Ele, com sua simples

presença, empesta o ar desta sala. Este é um ser das trevas. Não, não

das trevas iluminadas dos namorados que fazem serenatas, nem destes

outros rapazes que se refugiam na alegria ruidosa de uma mesa de

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bar. Este é um ser das trevas trevosas, que se entregou por inteiro às

mais abscônditas negruras da alma. (pág. 92)

Dámy a pánové, co jiného můžeme očekávat od této krvelačné bestie

než smrt a zmar? Pouhá jeho přítomnost otravuje vzduch v této

místnosti. Toto je tvor tmavých nocí. Ne, teď nemám na mysli ty noci,

kdy mladíci za svitu měsíce zpívají pod okny své milé nebo se uchylují k

hlučnému veselí u barového stolu. Toto je tvor nocí černých jak smola,

který se cele oddal těm nejtemnějším zákoutím lidské duše.

Na nossa tradução, porém, substituímos a paranomásia que exprime a absoluta

ausência de luz (um ser das trevas trevosas) por um símile (tvor nocí černých jak

smola).

5.1.2.3 Diabo Loiro

Os discursos do Diabo Loiro são na maioria das vezes reproduzidos pelo narrador,

só há um exemplo do discurso direto desta personagem:

Vai-te embora, portuga, não quero nada com o teu pão. (pág. 93)

Zmiz vodsaď, Portugalče, vo ten tvůj chleba mi nejde.

Deste curto trecho podemos concluir que o Diabo Loiro usa linguagem

coloquial, devido à presença da forma informal do imperativo („vai-te“) e do nome

informal com um valor pejorativo („portuga“). Levando em conta as caraterísticas

do Diabo Loiro (é um criminoso agressivo), optamos na nossa tradução por uma

linguagem muito coloquial.

A expressividade da linguagem do Diabo Loiro se manifesta também

em outros tipos de discursos que podemos encontrar no texto, como o indireto

livre, que formalmente pertence ao plano do narrador, mas em que podemos sentir

a presença da expressividade da personagem:

Mas ele insistiu: precisava falar com uma das suas minas que estava lá

dentro, que pegaria com ela o dinheiro para pagar o ingresso. (pág.

91)

Ale on trval na svým: že potřebuje mluvit s jednou ze svejch holek co je

vevnitř, že si od ní vezme peníze na zaplacení vstupnýho.

O Diabo Loiro se esquentou: ia entrar na marra porque tinha que falar

com a mulher, precisava de grana. (pág. 91)

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49

Plavej Ďábel začal vyvádět: že se dovnitř dostane silou, že s tou

ženskou musí mluvit, protože potřebuje prachy.

5.1.2.4 O português

A linguagem do padeiro português demonstra traços do português europeu, que

não passarão despercebidos a um leitor brasileiro („gajo“, „estás a fazer“). Na

tradução desta variedade linguística optamos pela tática de traduzi-la pela

linguagem coloquial, com a presença de dialetismos sem conotações regionais

indesejadas.25

Neste caso, como se tratava de uma frase muito curta, usamos a

língua coloquial:

Ó gajo, que estás a fazer aí, escondido? (pág. 93)

Hej, chlape, co se tam schováváš za tou zídkou?

5.1.3 “O tranqüilo senhor Braga”

5.1.3.1 O narrador

O narrador é deste conto é onisciente e conta a história de João Braga com um

certo distanciamento, humor e ironia. A narrativa está situada na Brasília

contemporânea, e também o narrador usa uma linguagem atual, com alguns

exemplos de anglicismos (ranking, shopping), típicos para o ambiente comercial.

A linguagem do narrador é formal, mas em algumas poucas ocasiões ele passa

para a linguagem coloquial. A maioria da expressividade está concentrada nos

discursos das personagens.

Na nossa tradução da linguagem do narrador usamos o tcheco formal,

sem desinências informais.

5.1.3.2 Braga

Braga é um homem sério de meia-idade e usa uma linguagem formal e correta. As

suas frases são claras e concisas, possivelmente devido à sua antiga profissão de

jornalista. Traduzimos a sua fala por uma linguagem formal, sem desinências

informais, salvo o discurso quando ele está bêbado, onde usamos a linguagem

coloquial:

Jamais mijei fora do penico. (pág. 325)

25

Kufnerová 70.

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Nikdy jsem svý starý nezahnul.

5.1.3.3 O Chefão

De acordo com a sua personalidade excêntrica e brincalhona, a linguagem do

Chefão é altamente expressiva. Ele é muito criativo e gosta de exagerar e usar

linguagem figurativa, como eufemismos ou hipérboles. Ele usa linguagem

coloquial, expressões idiomáticas e ocasionalmente também vulgarismos, mas

estes não são muito abundantes, e só poucos deles podem ser classificados como

tabuismos. Em tcheco optamos pela linguagem coloquial com desinências

informais, e procuramos manter a expressividade da sua linguagem:

Foi amor à primeira vista, Braga. Eu me apaixonei pelo seu formato.

Quadrado. Nunca vi um sujeito com tanto jeito de bundinha. Essa sua

fachada de caretão vale muito. Mesmo o cara mais safado acaba se

dando mal com você. Eu, por exemplo. Você exigiu um salário acima

da média, e eu topei. Qualquer um dança quando você abre esse

sorriso de Mona Lisa. Você vale ouro, Braga. Você é a face honesta da

nossa agência.

Brago, byla to láska na první pohled. Úplně jsem si zamiloval ten tvůj

styl. Seriózní. V životě jsem nepotkal takovýho mamlase. To tvoje

slušňáctví má velkou cenu. I ten největší gauner si na tobě vyláme zuby.

Vem si třeba mě. Řek sis o plat vysoko nad průměrem a já jsem na to

přistoupil. Každej tancuje podle tebe, když na něj vybalíš tenhle úsměv

Mony Lisy. Brago, ty seš prostě k nezaplacení. Ty seš počestná tvář

naší firmy.

5.1.3.4 Mônica

Mônica é uma mulher muito direta, até agressiva. A linguagem dela é coloquial,

ela usa a gíria dos jovens, expressões idiomáticas e vulgarismos. Assim como o

Chefão, também ela é criativa no seu uso de língua, mas o tom da sua linguagem é

mais agressivo. Em tcheco optamos pela linguagem coloquial e mantivemos o tom

agressivo.

A gíria de jovens se carateriza pela criatividade na formação de

palavras. A expressão „babacóide“ é bastante original, é formada com o sufixo –

óide, que neste caso tem o matiz pejorativo. Este sufixo existe também em tcheco,

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onde tem conotações analógicas, aproveitamo-lo então na nossa tradução para criar

uma expressão que também seja típica para a fala dos jovens e que seja bastante

rara:

No trabalho, é obrigado a conviver com a nata da vigarice; em casa,

está cercado pela sua mulher gorda e pelos seus filhos babacóides.

(pág. 327)

V práci tě obklopuje výkvět všech gaunerů a doma tvoje tlustá

manželka a debiloidní děti.

Em um dos seus discursos apareceu a expressão idiomática “dar com os

burros n’água” para que encontramos o seguinte equivalente tcheco:

Mas dei com os burros n’água. (pág. 327)

Ale pěkně jsem se spálila.

Na tradução da seguinte expressão idiomática aproveitamos a expressão

tcheca „být ze stejného těsta“, mas tínhamos que modificar o adjetivo:

Você é como todos os outros. Do mesmo barro, sujo. (pág. 327)

Jsi jako všichni ostatní. Ze stejnýho těsta. Shnilýho.

Como já mencionamos, na linguagem de Mônica encontramos

vulgarismos, como por exemplo „comer“ em sentido de „ter sexo com alguém.“

Neste caso o verbo é utilizado num sentido ambivalente:

Sirva-me um uísque, Braga. É só o aperitivo. Hoje eu vou comer você.

(pág. 328)

Na nossa tradução procuramos encontrar uma expressão que contenha os dois

siginificados da palavra:

Brago, nalej mi whisky. To je jen aperitiv. Jako hlavní chod si dám

tebe.“

5.2 Nomes próprios

Na tradução de textos para outra realidade cultural, o tradutor precisa adaptar o

texto ao leitor com um conhecimento diferente da cultura da origem do texto.

Estas modificações geralmente afetam as expressões ligadas à realidade da cultura-

origem – nomes de instituições, jornais, revistas, topónimos nomes de pratos,

peças de roupa, danças e jogos nacionais, sistema de educação e organizações

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políticas e sociais.26

Os métodos de tradução destes termos constituem um

problema de tradução particular, que tem sido o tema de muitos trabalhos

linguísticos.

As soluções deste problema variam no nível de transposição cultural,

isto é, no grau de adaptação do termo à cultura-alvo. Por um lado, o tradutor pode

manter o termo na sua forma original, referindo-se assim diretamente à cultura-

origem (exoticismo). Por outro, ele pode encontrar uma situação equivelente na

cultura-alvo, encaixando a situação plenamente no contexto da cultura-alvo

(transplantação cultural).

Os cinco graus da transposição cultural são:

- Exoticismo – o termo permanece na sua forma original, com ou sem mudanças

ortográficas, por exemplo na tradução de topónimos;

- Empréstimo cultural – o uso de certos termos próprios à cultura do texto de

origem, por exemplo termos ligados à filosofia;

- Calque – a tradução literal, por exemplo do nome de uma instituição;

- Tradução comunicativa – uma tradução que considera o uso diferente nas duas

línguas na tradução de certas frases, como por exemplo idiomas ou provérbios;

- Transplantação cultural – transplantação da situação ao contexto cultural da

língua-alvo, como por exemplo na tradução de contos de fada que são naturais às

duas culturas.

O tradutor também deve levar em conta a função do termo no texto. Os

exoticismos têm a maior capacidade de evocar a cultura da língua-alvo27

, por outro

lado, o leitor pode não ser familiar com o termo, o que poderia dificultar a

compreensão do texto. Quando o tradutor opta pela transplantação cultural, ele

deve ser muito cauteloso para não produzir conotações indesejadas.

Na nossa tradução prevalecem exoticismos e analogias, que usamos

quando existiam conceitos idênticos ou quase idênticos na cultura alvo28

. Nos

restantes casos optamos por calques ou outras soluções.

5.2.1 Topónimos

26 Knittlová 11. 27 „Vlastní jména, která se často dostávají do názvu díla, se mohou stát signálem cizosti textu a

spolu se jmény místními (eventuálně s názvy reálií) tvoří body, jež udržují kontinuitu povědomí

cizosti prostředí i literárního díla a průběžně připomínají, že jde o překlad, nikoliv o originál.“

Kufnerová, 174. 28 Knittlová 22.

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Os nomes de países, regiões ou cidades grandes geralmente não constituem um

problema de tradução, já que na língua-alvo há formas estabelecidas:

O que mais fazia era ficar horas no telefone xingando os caras em São

Paulo. (Braga, pág. 326)

Nejvíc času trávila tím, že seděla u telefonu a nadávala lidem ze São

Paula.

Fora apenas uma brincadeirinha com o bem comportado diretor de

Brasília. (Braga, pág. 325)

Celé to byl jen žertík, který si Velkej šéf přichystal na spořádaného

ředitele z Brasílie.

Sim, porque passava a manhã na venda do corcunda, dando trela aos

que entravam e saíam; e depois da sesta se ia para a barbearia do

Português, repassar os dramas do dia, do passado, da nossa cidade, de

todo o Rio Grande. (Meia, pág. 11)

Protože rána pak trávil u hrbatce v koloniálu, kde klábosil s těmi, kdo

přicházeli a odcházeli, a po poledni se odebral do holičství U

Portugalce proprat události toho dne i dávno minulé, z našeho města i

z celého Ria Grande.

A tradução de topónimos pode ser problemática quando se trata de

locais menos frequentes, como ruas e bairros. Os topónimos são abundantes

sobretudo no conto “O inferno traz em si”, onde aparecem muitas referências a

ruas e bairros da cidade de Pelotas. Apesar de que os nomes destas ruas possam

soar complicados ao leitor tcheco, decidimos mantê-los na sua forma original

(exoticismos). A localização exata dos acontecimentos tem uma função muito

importante neste conto devido à situação narrativa particular – o narrador está

relembrando a história que está contando com todos os detalhes. Por isso, os

topónimos não devem ser omitidos ou generalizados.

As ruas que aparecem no conto „O inferno traz em“ si são

concretamente Rua Voluntários da Pátria, Rua General Osório, Rua Marechal

Deodoro, Rua Almirante Barroso, Rua Félix da Cunha, Rua General Argolo e

Avenida Bento Gonçalves. Devido ao tom coloquial do conto, os nomes aparecem

muitas vezes na sua forma abreviada: a Argolo, a Avenida, a Osório, a Deodoro, a

Félix da Cunha, a Voluntários, a Barroso. Na tradução para o tcheco, manter a

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forma abreviada se mostrou difícil por razões estilísticas, então na maioria dos

casos os nomes de ruas aparecem na sua forma completa:

Foi numa daquelas ferragens lá da Osório. (O Inferno, pág. 87)

Bylo to u jednoho železářství, jak je ulice Generála Osória.

Certa noite fomos até uma academia de ginástica que funcionava num

daqueles casarões decrépitos da Deodoro. (O Inferno, pág. 87)

Jednou večer jsme šli do tělocvičny, kterou otevřeli v jednom z těch

zchátralejch baráků v ulici Maršála Deodora.

Mas como quase sempre estávamos na pior, freqüentávamos em geral

os botecos das ruas mais escuras, a Félix da Cunha, a Voluntários, a

Osório. (O Inferno, pág. 88)

Ale protože jsme byli skoro pořád švorc, chodili jsme spíš do putyk v

zapadlejších ulicích, Felixe da Cunhy, Dobrovolníků, Generála Osória.

Pegaram-se no canalete da Argolo. (O Inferno, pág. 85)

Pustili se do sebe u té stoky v ulici Generála Argola.

Nos seguintes casos optamos por outras soluções, seja por razões

gramaticais (flexão em tcheco), seja para evitar especificações („čtvrť Cerquinha“

apod.) que poderiam ter um efeito perturbador. Optamos então pela generalização

ou descrevemos o local em outros termos – neste caso levamos em conta

localização geográfica real.

O pequeno começou batendo e seguiu uma quadra inteira, até a

Avenida, batendo. (O Inferno, pág. 85)

Ten malej do něj začal mlátit, a bušil do něj celou dobu, než přešli

blok, až na hlavní třídu.

Montou na carroça e seguiu em frente, pela Barroso. (O Inferno, pág.

93)

Vyhoupnul se na povoz a pokračoval v jízdě, tou samou ulicí.

Parece que agora se mudaram praquele bairro novo que estão abrindo

lá no Areal – disse o pai. (O Inferno, pág. 86)

Slyšel jsem, že se teď přestěhovali do tý nový čtvrti, jak otvírají na

východ od centra – řekl táta.

Este Diabo Loiro nascera e se criara na Cerquinha, nas beiras do

Santa Bárbara num casebre de duas peças. (O Inferno, pág. 90)

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Tenhle Plavej Ďábel se narodil a vyrostl na okraji města, na březích

přehrady Santa Bárbara, v chatrči o dvou místnostech.

Um dos diretores do clube, da família Almeida Guimarães, um cara

que tinha tantos contos de réis quanto milhos numa espiga, disse mais:

que cederia ao tal crioulo uma casa velha que tinha lá pros lados da

Cerquinha. (Meia, pág. 14)

Jeden z vedoucích klubu, chlápek z rodiny Almeidy Guimarãese, co měl

peněz jak šlupek, na to řekl, že tomu černochovi přidá navíc starej

barák, kterej má na kraji města.

Nos casos em que manter os nomes na sua forma original significaria

perda de uma informação traduzimos o termo por um calque:

Jako bych ho před sebou viděl, byl malej, měřil sotva metr a půl, jak

sedí před svým domem v ulici Corredor das Tropas, to je ta, co vede

dolů od starýho kostelíka Panny Marie, tykev s maté v levý ruce,

začouzenou konvici v pravý, a loví pozdě odpoledne mezi uspěchanýma

kolemjdoucíma někoho, kdo by měl chuť si trochu poklábosit.

Só fechou os olhos quando viu, por entre os postigos, a chegada do sol,

que nasce lá pra cima, na lomba da Quinze. (Meia, pág. 18)

Jen si lehce zdřímnul, až když začalo škvírama v okenicích pronikat

slunce, který vychází nahoře za kopcem, za ulicí Patnáctého listopadu.

Numa noite, já bastante bêbados, contamos os trocados e chegamos à

conclusão de que poderíamos dar uma chegada no Xadrez, uma boate

nova na Voluntários quase esquina Osório. (O Inferno, pág. 88)

Jednoho večera, už dost opilí, jsme spočítali drobáky a došli k závěru,

že bysme se mohli zajít podívat do Kostek, novýho podniku, kterej

otevřeli v ulici Dobrovolníků, kousek od křižovatky s Generála Osória.

Apesar de que a adição de informações só deve ser usada quando

necessário,29

houve um caso quando optamos por ela:

Diretor do escritório em Brasília de uma grande agência de

publicidade, ele recebia um polpudo salário mais o aluguel da casa de

seiscentos metros quadrados no Lago Sul. (Braga, pág. 322)

29 „V uměleckém textu může přidávání informací působit negativně ze dvou důvodů. Jednak

zvýšená explikativnost mění účinnost textu, jednak přidání dovysvětlující informace mívá za

následek prodloužení textu. K specifikaci by nemělo docházet, není-li nutno dodávat detaily,

kterými bychom se vyhnuli neporozumění textu.“ Knittlová 12.

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Jako ředitel pobočky jedné velké reklamní společnosti v Brasílii

dostával velkorysý plat a k tomu dům s pozemkem o šesti stech metrech

čtverečních v luxusní čtvrti Lago Sul.

5.2.2 Nomes de organizações e instituições

O futebol é um dos temas principais do conto “Meia encarnada dura de sangue”.

No conto aparecem nomes de vários clubes de futebol regionais, que não têm um

equivalente em tcheco. Devido à linguagem informal do narrador, estes nomes

aparecem às vezes na sua forma abreviada (o Pelotas – Esporte Clube Pelotas) ou

sob alcunhas (Avenida – Esporte Clube Pelotas30

). Na tradução dos nomes dos

clubes optamos por traduções literais (calques), que em certos contextos usamos

na sua forma abreviada, em conformidade com o texto original. Para facilitar a

compreensão do texto traduzimos as alcunhas pelos nomes completos dos clubes.

Pois o crioulo jogava pelo Grêmio Esportivo do Brasil, o time dos

negros e mulatos. (Meia, pág. 13)

No a ten černoch hrál za Brazilský sportovní klub, tým černochů a

mulatů.

Depois de perder quatro ou cinco jogos, de enfiada, os dirigentes do

Pelotas começaram a se perguntar se não estariam fazendo uma

grande asneira em não aceitar jogadores negros ou mulatos. (Meia,

pág. 14)

Poté, co prohráli čtyři nebo pět zápasů v řadě, si začali vedoucí klubu

Pelotas říkat, jestli nedělají hloupost, když neberou černochy a mulaty.

Pedia-lhe golos, muitos golos, porque o negócio era arrebentar com

aqueles almofadinhas lá da Avenida. Foi em silêncio, calado, porque

não podia dizer-lhe que faria golos, sim, muitos golos, mas que estes

golos seriam para o time dos almofadinhas da Avenida. (Meia, pág. 19)

Chtěl po něm góly, spoustu gólů, protože s těma frajírkama z Pelotas

by měl někdo pořádně zatočit. Byl zticha, protože mu nemohl říct, že dá

hodně gólů, to ano, ale že tyhle góly budou za to družstvo frajírků z

Pelotas.

30 http://pt.wikipedia.org/wiki/Esporte_Clube_Pelotas (15.3.2012)

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Na tradução do nome do Colégio Gonzaga aproveitamos a estrutura dos

nomes dos colégios tchecos. O nome do colégio aparece no texto na forma

abreviada, mas na nossa tradução usamos o nome completo do colégio. Na

segunda menção do colégio no texto omitimos o nome do colégio e especificámo-

lo em outros termos:

Estudamos juntos a primeira série do ginásio, no Gonzaga. (Inferno,

pág. 85)

Chodili jsme spolu do první třídy na Gymnáziu Aloise Gonzagy.

Ele não chegou a concluir aquele ano lá no Gonzaga. (Inferno, pág.

86)

Ten ročník na naší škole už nedochodil.

Na tradução dos nomes dos dois bancos que aparecem no conto “O

inferno traz em si” optamos por exoticismos:

O pai do Camelo, que era funcionário do Banco da Província, fora

demitido, acusado de roubo. (Inferno, pág. 86)

Velbloudovýho tátu, kterej pracoval v Banco da Província, obvinili

z krádeže a propustili.

Meu pai, já devo ter te dito, trabalhava no Banco do Brasil. E sabia as

fofocas todas do meio. (Inferno, pág. 86)

Můj táta, to už jsem ti určitě říkal, pracoval v Banco do Brasil. Takže

věděl všechny drby.

O nome da Editora Jackson, uma editora de autores clássicos cujo nome

completo é W. M. Jackson Inc. Editora, traduzimos por um calque, aproveitando a

estrutura estilística dos nomes de editoras tchecas:

E aí, pegou um volume dos clássicos Jackson, Paraíso Perdido, de

Milton, e leu um trecho do poema que até hoje recordo: (Inferno, pág.

92)

A vytáhnul svazek od Jacksonova vydavatelství klasických autorů,

Ztracený ráj od Miltona, a přečetl z něj úryvek, který si pamatuju

dodnes:

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„O Diário“ refere com a maior probabilidade ao Diário Popular, um

jornal pelotense com formato de tabloide.31

Por razões estilísticas omitimos o

nome do jornal e optamos por um termo mais geral:

O crime bárbaro ganhou a primeira página do Diário, e foi comentado

nos cafés, nos bares, nas casas, nas repartições, nas praças. (Inferno,

pág. 89)

Ta brutální vražda se dostala na titulní stránku novin a mluvilo se o ní

v kavárnách, v barech, v domácnostech, v kancelářích, na náměstích.

5.2.3 Realidade brasileira

Graças aos contatos cada vez mais intensivos entre o Brasil e a República Tcheca,

os tchecos estão cada vez mais familiares com a cultura brasileira. Por isso na

tradução de conceitos ligados à cultura brasileira optamos às vezes por

exoticismos, que já não devem ter um efeito muito perturbador ao leitor. Na

maioria dos casos, porém, encontramos analogias convenientes.

O exotismo usamos para „cavaquinho“, que mantivemos na sua forma

original, sem mudanças ortográficas. Além de que o leitor possa ser familiar com

esta palavra, o seu equivalente tcheco, „malá čtyřstrunná kytara“, é muito longo e

descritivo. O leitor não terá dificuldades em entender que se trata de um

instrumento musical, já que a palavra aparece na sua primeira menção na

colocação „dedilhar o cavaquinho“.

Nas incontáveis noites indormidas, sonhou com a casa que já vira, num

passeio, numa manhã de domingo, sentindo no braço esquerdo

dobrado a pressão mais forte dos dedos da namorada, sonhou com a

casa e se viu dentro dela, e fora, na soleira, dedilhando o cavaquinho

que ainda não possuía, numa noite de lua. (Meia, pág. 15)

Za nesčetných nocí, kdy oka nezamhouřil, snil o domě, který už viděl,

když se jednou v neděli dopoledne procházel se svojí snoubenkou, která

ho v tu chvíli tiskla v ohybu levé paže o něco silněji, snil o tom domě a

už se viděl uvnitř, a viděl se i venku, na zápraží, jak za svitu měsíce

brnká na cavaquinho, které zatím neměl.

31 http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Lista_de_jornais_do_Brasil#Rio_Grande_do_Sul (25.5.2012)

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Não mais teria o direito de pedir emprestado aquele cavaquinho ao

dono do boteco. (Meia, pág. 16)

Už si nebude moci půjčovat od majitele baru cavaquinho tak jako dřív.

Para o resto encontramos equivalentes. Cuia de chimarrão traduzimos

por um calque:

Pois este meu avô – disse o Poeta – dava um dedo por um pouco de

prosa. Parece que estou a vê-lo, pequeno, não media mais de metro e

meio, sentado em frente à sua casa – ali no Corredor das Tropas, rua

que desce da igrejinha velha de Nossa Senhora da Luz – cuia de

chimarrão na esquerda, chaleira tisnada na direita, catando entre os

passantes apressados do fim da tarde alguém que quisesse jogar fora

um pouco de saliva. (Meia, pág. 11)

No a tenhle můj děda – řekl Básník, by si dal pro kus řeči palec

useknout. Jako bych ho před sebou viděl, byl malý, měřil sotva metr a

půl, jak sedí před svým domem v ulici Corredor das Tropas, to je ta,

jak vede dolů od starého kostelíka Panny Marie, tykev s maté v levé

ruce, začouzenou konvici v pravé, a loví pozdě odpoledne mezi

uspěchanými kolemjdoucími někoho, kdo by měl chuť si trochu

poklábosit.

Para „cachaça“ encontramos um equivalente na cultura-alvo:

Não poderia acompanhá-los até o bolicho para a cachaça de todo

sábado, porque sabia que a partir daquele dia não mais teria um lugar

no balcão de mármore. (Meia, pág. 16)

Nemohl s nimi do baru na kořalku jako každou sobotu, protože věděl,

že od onoho dne už pro něj nebude u pultu z mramoru místo.

Quero dizer, viera com elas porque ao levantar naquela manhã não se

lembrara que era um homem marcado e que por isso não poderia ir

para a cachaçada. (Meia, pág. 16)

Chci říct, vzal si je ten den s sebou, protože když ráno vstával, tak

zapomněl, že je psanec a že nemůže jít s ostatníma na kořalku.

Claro que a grana não dava para pagar uma mulher, e assim

contentávamo-nos com três ou quatro doses de cachaça. (Inferno, pág.

89)

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Je jasný, že jsme nikdy neměli dost na to, abysme si zaplatili ženskou,

takže jsme vždycky vzali zavděk třema nebo čtyřma panákama kořalky.

„Vergamoteira“, cuja tradução exata para o tcheco é „mandarinkovník“,

substituímos por „pomerančovník“, que deve soar mais familiar ao leitor tcheco.

Foi pro pátio, pra debaixo da vergamoteira florida. (Meia, pág. 17)

Šel na dvůr, pod rozkvetlý pomerančovník.

O nome do refrigerante „guaraná“ substituímos por um termo mais

geral:

Cada vez que ganhava uma dose de uísque dum freguês ela piscava pro

Barrica que se aproximava com um copo de guaraná e trocava com

ela. (Inferno, pág. 89)

Vždycky, když jí někdo koupil whisky, mrkla na Bečku, kterej se k ní

přitočil se sklenicí limonády a vyměnil si to s ní.

Também no seguinte caso usamos um termo mais geral em vez do

nome do produto:

Com Glostora besuntávamos os cabelos porque era feio ter cabelos

crespos. (Inferno, pág. 87)

Vlasy jsme si mazali pomádou, protože kudrnatý vlasy se považovaly za

ošklivý.

5.2.4 Antropónimos

5.2.4.1 Nomes

Em tcheco há a tendência de manter os nomes próprios das línguas do oeste

europeu sem mudanças ortográficas. Assim, o nome do protagonista do conto “O

tranquilo senhor Braga” não sofreu nenhumas mudanças ortográficas, assim como

os nomes de outras personagens que aparecem sob os nomes reais. Somente no

caso do nome Olyntho, um sobrenome brasileiro de origem grega, decidimos

aproveitar a variante latina Olynthus,32

com uma pequena mudança ortográfica:

Olyntus.

Quando existe uma versão do nome na língua-alvo, o tradutor pode

aproveitá-la. Assim fizemos na tradução dos nomes Mónica (Monika) e Matilde

32 http://books.google.cz/books?ei=kfBxT_nAIcOZhQe7n-

3KAQ&hl=cs&id=vFJ2x6vYVlYC&dq=olyntho+nome+significado&q=olyntho#v=snippet&q=oly

ntho&f=false (25.4.2012)

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(Matylda). Quando se trata de personagens conhecidas deve ser respeitado o uso

estabelecido na língua-alvo, houve então uma leve mudança ortográfica no nome

Átila (Atila).

5.2.4.2 Alcunhas

Alcunhas geralmente exprimem uma caraterística exterior ou interior de uma

pessoa, e por isso não é possível mantê-las na sua forma original, já que isto

significaria a perda de uma informação relevante para o leitor.

No conto “O inferno traz em si” a maioria das personagens é conhecida

sob as suas alcunhas. É o caso dos protagonistas, o Camelo Branco e o Diabo

Loiro. As suas alcunhas são formados por um substantivo (Camelo, Diabo) e um

adjetivo que exprime uma caraterística exterior (Branco, Loiro). As duas alcunhas

podem ser interpretadas simbolicamente, como já explicamos na análise literária

do conto. Na nossa tradução mantivemos a estrutura substantivo – adjetivo: Bílej

Velbloud, Plavej Ďábel. “Loiro” traduzimos como „plavý” em vez de “blonďatý”,

já que este adjetivo é mais poético e também por razões sonoras.

No caso do Poeta se pode tratar de uma alcunha derivada da ocupação a

que a personagem se dedica ou de um sobrenome português (trata-se de um

sobrenome pouco frequente). Na nossa tradução optamos por “Básník”, que

cumpre as duas interpretações possíveis.

Um dos melhores amigos do narrador do mesmo conto é chamado

Barrica. A palavra “barrica” designa um tonel pequeno, mas também pode ser

usada para denominar pessoas pequenas e obesas. A estes dois significados

corresponde em tcheco a palavra “bečka”, que também mantêm o gênero feminino

da expressão original.

Outro dos seus amigos é o Peixeiro. Esta palavra tem dois significados: um

vendedor de peixes ou um fã do Santos Futebol Clube, de São Paulo. Como em

tcheco seria difícil criar um adjetivo relativo a este clube, aproveitamos o primeiro

significado da palavra. Como a tradução exata (prodavač ryb) consiste de duas

palavras, optamos por uma expressão com um significado semelhante, que bem

poderia ser usada como alcunha – Rybář.

A alcunha do chefe de João Braga, Chefão, é formada usando o sufixo

aumentativo –ão. Em tcheco exprimimos esta caraterística por um adjetivo –

Velkej šéf.

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5.3 Outros fenómenos de tradução

5.3.1Gíria

Por gíria entendemos um dialeto usado por determinado grupo social que busca se

destacar através de características particulares e marcas lingüísticas, especialmente

em nível lexical.33

No conto “Meia encarnada dura de sangue” encontramos muitas

expressões relacionadas ao futebol, que é um dos temas principais do conto. No

mesmo conto encontramos termos relacionados ao processamento de carne, já que

o protagonista trabalha num matadouro.

5.3.1.1 Futebol

O uso de gíria de futebol contribui à maior expressividade do conto, e junto com

outros fatores estilísticos (como a sucessão de frases curtas) evocam as emoções e

o suspense de um jogo de futebol.

E alguém comentava o dinheiro estúpido que estavam dando a um

jogador de futebol, um porto-alegrense cheio de bossa, que gostava de

dar chapéus no marcador, e depois driblava-o, até que se

esparramasse sobre a grama, e que arrematava enfiando a bola por

entre as pernas dos goleiros, um carrasco! (Meia, pág. 12)

Ele tinha várias histórias de futebol porque ele mesmo havia sido um

jogador, um ponta irritante, daqueles pequenos que são com flechas e

que, por não terem nem altura nem força, se obrigam a ser mais

velozes e mais matreiros e mais gambeteiros e mais debochados, para

irritar os laterais. O velho dizia que naquele seu tempo, sim, aquilo era

um esporte para homens, porque os juízes só marcavam falta se o

agredido sangrasse, e só expulsavam o agressor quando o outro ficava

estirado sobre o barro, desmaiado. (Meia, pág. 12)

„Chapéu“, isto é, uma „jogada na qual a bola é chutada por cima do

adversário e recuperada logo adiante, às suas costas“34

não tem um um equivalente

em tcheco, então usamos uma analogia: střela přes hlavu.

Marcador: obránce, porém usamos um termo mais geral: protihráč

33 Dicionário eletrônico Houaiss, “gíria.” 34 Dicionário eletrônico Houaiss, “chapéu.”

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Driblar: kličkovat

Para a situação „arrematava enfiando a bola por entre as pernas dos

goleiros“ existe em tcheco o termo „housle“.

A kdosi se pohoršoval, jaký strašný peníze platěj jednomu hráči,

nějakýmu machrovi z Porta Alegre, co vždycky protiháčům nejdřív

přehodí míč přes hlavu, potom před nima kličkuje, až se natáhnou na

trávník, a nakonec dá ještě brankářovi housle, syčák jeden!

Ponta: útočník

Lateral: obránce, neste caso usamos o termo genérico „obrana“.

Znal hodně příběhů o fotbale, protože on sám ho kdysi hrával, byl

jedním z těch dotěrných útočníků, malých a rychlých jako střela, co

nejsou ani vysocí ani silní, a proto musí být rychlejší a mazanější a

lstivější a drzejší, aby vyvedli obranu z míry.

Juízes: no contexto de futebol usa-se o termo „rozhodčí“

Marcar falta: no contexto de futebol usa-se a expressão „pískat faul“

Děda vždycky říkal, jó, v tý době, to byl sport pro chlapy, protože

rozhodčí pískali faul, jenom když tekla krev, a vykázali agresora, jen

když se ten druhej válel v bahně v bezvědomí.

5.3.1.2 Processamento de carne

Este tipo de gíria encontramos nas seguintes frases:

O negócio dele era a desossa. Desmanchava um boi em minutos. E não

deixava um só fiapo de carne nos ossos. Com a mesma precisão que

escapava dos coices do adversário, recuando o corpo apenas os

milímetros necessários, ele destrinchava os animais. (Meia, pág. 13)

Ele estava desossando a carcaça no chão, como gostava de fazer,

sobre a laje ensagüentada. Usava não só as mãos, mas também os pés

descalços, para firmar a ossamenta. (Meia, pág. 16)

Para a maioria dos termos encontramos equivalentes em tcheco:

Desossa – vykosťování

Desmanchar – rozbourat

Destrinchar – naporcovat

Měl na starosti vykosťování. Zvládnul rozbourat býka během několika

minut. A nenechal na kosti ani vlákno masa. Porcoval dobytek se

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stejnou přesností, s jakou uhýbal kopancům protihráčů, vždycky jen o

pár potřebnejch milimetrů.

„Carcaça“ é o cadáver de animal de açougue, desprovido de couro, pés,

cabeça e vísceras. Para este termo não encontramos um equivalente, por isso

usamos um termo mais geral: zvíře.

„Ossamenta“ é um sinónimo de „esqueleto“, isto é, o conjunto de ossos

dos animais vertebrados, mas preferimos usar a palavra „trup.“

Zrovna zvíře vykosťoval, na zemi, na zakrvavené dlažbě, jak to měl ve

zvyku. Pracoval nejen rukama, ale i bosýma nohama, kterýma trup

přidržoval.

5.3.2 Citação do poema Paraíso Perdido

O velho Olyntho apoiou a sua acusação do Diabo Loiro num trecho do poema

Paraíso Perdido.35

O trecho citado é do início do canto IV:

“O horror medonho, a dúvida terrível,

Confundem-lhe os turbados pensamentos

Que lhe acendem o Inferno dentro d’alma:

O Inferno traz em si, de si em torno;

Năo pode um passo dar fora do Inferno,

Porque, onde quer que vá, leva-o consigo!

Remordida a consciência lhe desperta

A desesperaçăo que dormitava;

Desperta-lhe a lembrança desabrida

Do muito que já foi, do que é agora,

Do que há de ser, a pior sempre indo tudo:

Crescendo as obras más, cresce o castigo.”36

35 A primeira versão do poema épico Paraíso Perdido de John Milton (1608 – 1674) foi publicada

em 1667. O poema é baseado no livro de Génesis e narra a história da queda do homem. Um dos

protagonistas é o Satanás, o anjo rebelde que foi expulso do Paraíso por disobedência, e que se

dicidiu vingar. O trecho citado é do início do canto IV, quando Satanás está observando o Éden e

está contemplando sobre o seu passado de um anjo inocente e sobre si mesmo. Ele sabe que já não

pode voltar àquele estado de inocência, porque o Inferno está dentro dele, ele é a encorporação do Inferno e assim continuará a cometer o mal.

http://en.wikipedia.org/wiki/Paradise_Lost (25.6.2012)

36

http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/paraisoperdido.html (23. 5. 2012)

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Para a nossa tradução usamos a tradução de Josef Jungmann de 1873,

apesar de que também existam traduções mais recentes:37

„Strach a nejistota hněte neklidnou

jeho mysl, a bouří ze dna peklo v něm

(neboť peklo v sobě nosí, okolo

něho peklo jest, a o krok jediný

nemůž pekla dál než sebe utéci

změnou místa), budí v něm teď svědomí

spěcí zoufalost, a budí pomnění

hořké, čímtě byl, čím jest, čím býti má,

horším: stíháť horší muka horší čin.”38

Na nossa tradução fizemos umas pequenas modificações gráficas. Na

versão tcheca, o trecho citado não é independente, mas faz parte de uma frase

complexa, e se encontra em parêntesis. Utilisamos este trecho como uma unidade

independente, isto é, tiramos as parêntesis e colocamos uma maiúscula no início da

frase e no seu final um ponto final:

Neboť peklo v sobě nosí, okolo

něho peklo jest, a o krok jediný

nemůž pekla dál než sebe utéci

změnou místa.

O primeiro verso também foi usado para dar o nome ao conto. Por

razões estilísticas omitimos nele na nossa tradução a conjunção inicial “neboť” –

“Peklo v sobě nosí”.

37 Ver http://cs.wikipedia.org/wiki/Ztracen%C3%BD_r%C3%A1j (23. 5. 2012)

Pela nossa experiência, porém, só é possível encontrar nas bibliotecas tchecas a tradução de

Jungmann. 38 Josef Jungmann, Miltonův Ztracený ráj (Praha: Nakladatel kněhkupectví: I. L. Kober, 1873) 107

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6. Conclusão

Neste trabalho apresentamos três contos escolhidos de Lourenço Cazarré. Primeiro

analisamo-los do ponto de vista literário, já que a interpretação correta é uma

condição indispensável para uma tradução bem-sucedida, e logo procedemos à

própria tradução dos contos.

Um dos maiores desafios na nossa tradução foi encontrar na língua

tcheca um estilo equivalente àquele do autor. Depois de muita consideração

optamos pelo estilo coloquial que refletisse o caráter oral dos contos, com a

presença de algumas desinências informais, mas procuramos usar estas com

moderação. Os traços do estilo coloquial mais carregados reservamos para os

discursos das personagens.

Nos três contos escolhidos encontramos personagens muito diversas,

cuja linguagem é altamente expressiva e original. É sobretudo o caso do Chefão e

da Mônica do conto “O tranqüilo senhor Braga”, que usam uma linguagem

coloquial, mas muito criativa, e os discursos da mãe velha do conto “Meia

encarnada dura de sangue”, em que encontramos regionalismos e outras

expressões desusadas. Para encontrar um estilo equivalente na língua tcheca foi

necessário levar em conta todas as caraterísticas linguísticas destes discursos, mas

também outros fatores, como por exemplo o contexto situacional da conversa.

Também o problema de tradução de nomes próprios se demonstrou

bastante complexo. Procuramos soluções de quase toda a escala da transposição

cultural, desde os exoticismos, que usamos para alguns objetos da realidade

brasileira, calques, que usamos tradução de na algumas instituições ou

organizações, até analogias convenientes na cultura tcheca.

Na tradução do trecho do poema Paraíso Perdido descobrimos que

conseguir uma cópia deste livro em tcheco é bastante difícil, já que as versões

disponíveis na internet ou nas bibliotecas geralmente usam a ortografia antiga.

Felizmente, achamos uma cópia deste livro com a ortografia contemporânea numa

livraria de livros antigos.

A nossa prioridade era, além da tradução fatualmente correta, manter a

expressividade e o vigor do texto original, aproximando o estilo particular de

Lourenço Cazarré ao leitor tcheco.

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7. Resumo

Tématem této diplomové práce je překlad třech vybraných povídek současného

brazilského spisovatele Lourença Cazzarrého z brazilské portugalštiny do češtiny.

Úvodem této práce představuji autora a rysy jeho tvorby, dále se zaměřuji na

literární rozbor povídek. Následuje vlastní překlad a jeho rozbor, kde popisuji

problémy, se kterými jsem se během překladu setkala. Bylo to konkrétně zvolení

vhodného jazyka pro vystižení osoby vypravěče a kontextu, zachování expresivity

promluv postav, překlad vlastních jmen, zejména toponym, a dílčí překladatelské

problémy, jako je překlad žargonu a úryvku z básně Ztracený ráj od Johna

Miltona.

Cílem této práce bylo seznámit českého čtenáře s částí tvorby Lourença

Cazarrého a přiblížit mu jeho osobitý styl.

The topic of our thesis is the translation of three stories of the contemporary

Brazilian writer Lourenço Cazarré from Brazilian Portuguese into the Czech

language. Firstly, we introduce the author and provide information about his work,

and then we proceed to the actual translation and the commentary, where we

describe the challenges we had to face and find suitable solutions for: finding an

equivalent for the discourses of the narrators and the characters, maintaining the

expressivity of the discourses, translation of specific names, such as toponyms,

and also other minor translation problems, such as translation of jargon and a

quote from the poem Paradise Lost by John Milton.

The aim of our thesis is to introduce Lourenço Cazarré and his

distinctive style to the Czech reader.

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8. Bibliografia

Cazarré, Lourenço. “O tranqüilo senhor Braga”. Todas as Gerações. Ronaldo

Cagiano. Brasília: LGE Editora, 2006.

Cazarré, Lourenço. Noturnos do Amor e da Morte. Porto Alegre: Instituto Estadual

do Livro, 1989.

Correspondência eletrônica entre Jolana Hanušová e Lourenço Cazarré de

16.7.2012

Correspondência eletrônica entre Iuri Müller e Lourenço Cazarré de 17.11.2011

Costa, Luiz Carlos Guimarães da. História da literatura brasiliense. Brasília:

Thesaurus Editora, 2005.

Cunha, Celso e Lindley Cintra. Nova Gramática do Português

Contemporâneo. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 2002.

Doležel, Lubomír. O stylu moderní české prózy. Praha: Nakladatelství

československé akademie věd, 1960.

Dicionário Eletrónico Houaiss, Versão 1.0. Editora Objetiva Ltda., 2001.

Hamplová, Sylva e Jaroslava Jindrová. Česko-portugalský slovník.

Voznice: Leda, 1997.

Jindrová, Jaroslava e Antonín Pasienka. Portugalsko-český slovník.

Voznice: Leda, 2005.

Jungmann, Josef. Miltona Ztracený ráj. Praha: Nakladatel kněhkupectví: I. L.

Kober, 1873.

Knittlová, Dagmar. K teorii i praxi překladu. Olomouc: Univerzita Palackého,

2000.

Kufnerová, Zlata, et alii. Překládání a čeština. Jinočany: H&H, 1994.

Pravidla českého pravopisu. Praha: Academia, 1993.

Sant’anna Martins, Nilce. Introdução à estilística. São Paulo: T.A. Queiroz, 1989.

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9. Anexos – os textos originais

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