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Almanaque Febec 16

Date post: 02-Mar-2016
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Almanaque de Cultura e Saude
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Diretor editorial Elifas AndreatoDiretor executivo Bento Huzak Andreato

Editor João Rocha RodriguesEditor de arte Dennis Vecchione

Editora de imagens Laura Huzak AndreatoEditor contribuinte Mylton Severiano

Redatores Bruno Hoffmann e Natália PesciottaRevisora Maria do Rosário Souza

Assistentes de arte Guilherme Resende, Soledad Cifuentes e Daniela Santiago (estagiária)

Gerente administrativa Fabiana Rocha OliveiraAssistente administrativa Eliana Freitas

Assessoria jurídica Cesnik, Quintino e Salinas AdvogadosJornalista responsável João Rocha Rodrigues (MTb 45265/SP)

Correspondências Rua Dr. Franco da Rocha, 137 - 11º andar Perdizes. São Paulo-SP CEP 05015-040 Fone: (11) 3873-9115 [email protected]

O Almanaque de Cultura e Saúde é uma publicação mensal da Andreato Comunicação e Cultura em parceria com a Febec – Federação Brasileira

de Entidades de Combate ao Câncer. A revista é distribuída por assinatura e pelos voluntários das Ligas de Combate ao Câncer.

Presidente Antonio Luis Cesarino de Moraes Navarropresidê[email protected]

Diretoria de Desenvolvimento Nelson [email protected]

Departamento Comercial e de Marketing Jaques C. [email protected]

Rua Silva Airosa, 40. Vila LeopoldinaSão Paulo-SP cep 05307-040

Fone: (11) 3017-0417

SAC (11) 3017-0417

ASSINE (11) 3017-0417www.febec.org.br

Apoio

SANTOS E GRANDES HISTÓRIAS

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O Almanaque de Cultura e Saúde está sob licença Creative Commons. A cópia e reprodução de seu conteúdo são autorizadas para uso não comercial, desde que dado o devido crédito à publicação e aos autores. Não estão incluídas nessa licença obras de terceiros. Para reprodução com fins comerciais, entre em contato com a Andreato Comunicação e Cultura.

8 Almanaquices

24 Ludoterapia

6 Armazém da saúde

32 Rir é o melhor remédio

Sumário

5 gente ajudando genteJulia Kawasaki Hori

14 EntrevistaRoberto Kikawa

18 Nossa gente, nossa históriaPaulo Leminski

20 eSPECIALBrasil de Todos os Santos

26 todos os cantosDe Penedo a Piranhas

30 Saúde in NaturaCenoura

34 muito obrigado Odete Spalaor de Favere

ada dia tem um santo e cada santo sua história. Ainda mais por estas terras. No Brasil, os santos atravessaram a fronteira do catolicismo e se embrenharam definitivamente

na cultura nacional. É o que mostra o Especial do mês, que revela como distintas santida-des estão presentes no futebol, em expressões populares e no nome de mais de 500 cida-des. Certamente há uma cidade perto de você com nome de santo. Se não a sua própria.

O AlmANAquE dE CulturA E SAúdE também se mantém firme no propósito de trazer à luz histórias encantadoras de luta pela vida. É uma homenagem a milhares de homens e mulheres voluntários que batalham arduamente em ligas de combate ao câncer. Anôni-mos que doam boa parte de suas energias para ajudar ao próximo. Neste mês, ouvimos dona Júlia, de Garça, que contribui para melhorar a vida de 253 pessoas com câncer, e do-na Odete, de tabatinga, que venceu a doença e hoje ameniza a dor de quem mais precisa.

Se falamos de saúde, também temos de falar de cultura, para honrar o nome. Na seção Almanaquices são resgatadas histórias de todos os tipos e sabores sobre o Brasil. Como estamos no mês dos namorados, prepare o coração para conhecer a trajetória pra lá de ro-mântica de rosa Husak, que, aos 82 anos, encontrou um novo amor na vida. Saiba tam-bém quem foi o sujeito que inventou que junho é o mês dos casais apaixonados. Confira, ainda, os enigmas e de onde surgiu a expressão “estar com a macaca”.

O grande momento desta edição, porém, é a conversa inspiradora com o médico roberto Kikawa. Ele atendeu a um pedido do pai no leito de morte: ser um médico humanitário que compreendesse e atendesse integralmente os pacientes. Com essa filosofia, o paulista-no e sua equipe do Centro de Integração de Educação e Saúde levam às mais diversas peri-ferias do País um centro de diagnósticos de alta tecnologia. detalhe: a bordo de uma carre-ta. tudo para evitar que mais gente passe pelo que seu pai passou.

A revista tem muito mais: o “cachorro louco” Paulo leminski, causos de rolando Boldrin, jogos e brincadeiras. um caldeirão de brasilidade e bons exemplos. Para receber mensal-mente o AlmANAquE em sua casa, acesse www.febec.org.br e faça uma assinatura anual. A melhor notícia: toda a renda é revertida a ações de luta contra o câncer.

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Gente ajudando gente

PARA DONA JULIA, VOLUNTARIADO É RETRIBUIÇÃO

ÀS OPORTUNIDADES DA VIDA

é o número de pacientes cadas-

trados na Associação de Volun-

tários de Combate ao Câncer de Garça, no

interior de São Paulo. Poucas coisas faltam

aos atendidos. Os voluntários se revezam

para oferecer dignidade num momento

tão delicado. E são muito bem-sucedidos

na empreitada. Todo o trabalho começou

há 12 anos, sempre sob a coordenação de

uma mesma mulher: Julia Kawasaki Hori.

Dona Julia passou a vida lecionando em escolas

públicas e universidades. Ao aposentar-se, não conse-

guiu ficar parada. Ansiava retribuir à sociedade as oportunidades

que havia tido. “Minha formação pessoal e profissional influen-

ciou a minha vontade de retribuir. Decidi, então, desenvolver

ações para os necessitados, sempre com a ajuda dos companhei-

ros da associação”, explica, aos 75 anos.

A entidade cresceu rapidamente. Hoje é procurada a qualquer

momento, seja às seis da manhã ou em plena madrugada. Os

serviços são inúmeros, oferecidos conforme as necessidades indi-

viduais de cada paciente. Há distribuição de medicamentos e ali-

mentos, dietas industrializadas, pagamento de exames aos mais

necessitados. Há ainda empréstimo de cadeira de rodas e camas

hospitalares, distribuição de fraldas descartáveis e até auxílio na

higiene pessoal dos pacientes. “Nosso objetivo, quando possível,

é evitar a hospitalização. Quanto mais tempo o paciente estiver

junto a seus entes queridos, melhor.”

Julia sente a necessidade de que a associação

cresça ainda mais, para assim poder ajudar

mais gente. O dinheiro vem principalmente

de contribuições da população, por meio

de campanhas promovidas pelos voluntá-

rios. A ajuda de outras entidades da cida-

de também é fundamental. E o trabalho

colaborativo tem rendido frutos. Este mês,

por exemplo, começa a construção da sede

própria da associação.

Entre tantos casos acompanhados em mais

de uma década, muitos emocionaram dona Julia.

Ela destaca uma assistente social que está vencendo o câncer

de forma corajosa e comovente. Ausenta-se do trabalho ape-

nas no dia em que comparece ao Hospital Amaral Carvalho,

em Jaú, para a sessão de quimioterapia. E também no dia

seguinte, para se recuperar. Depois, volta ao trabalho, e aten-

de sorridentemente a todos. “É um exemplo para todos que

convivem com ela, transmitindo esperança e confiança aos

doentes”, diz Julia.

Perguntada sobre projetos para o futuro, a voluntária afirma

que pretende continuar dedicando sua energia para amenizar o

sofrimento dos pacientes oncológicos, mesmo com tantas pedras

no caminho. “Apesar dos obstáculos enfrentados, sinto-me esti-

mulada todos os dias, e cada vez mais envolvida, buscando solu-

ções e alternativas para melhorar o atendimento dos doentes que

nos procuram”, finaliza.

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Armazém da saúde

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DO FUNDO DO BAÚ

Pode acreditar: veneno de jararaca salva vidas

a varÍola ainda vive

ntes de 1948, hipertensos não contavam com a bradicinina, substância que reduz a pressão arterial e melhora a expectativa e a qualidade de vida. Descoberta pelo carioca

Maurício Oscar da Rocha e Silva, a bradicinina é produzida pelo corpo humano em contato com enzimas do veneno de jararaca. O brasileiro previu que a substância seria amplamente usada em medicamentos. Foi o que aconteceu. Rocha e Silva ainda dedicou a vida a tantas outras pesquisas. Dizia: “Não acredite numa coisa sem ter uma boa razão para fazê-lo”.

esde 1980, a varíola é considerada uma doença erradicada. Mas laboratórios dos Estados Unidos e

da Rússia ainda mantêm amostras do vírus que durante séculos provocou uma das doenças mais mortíferas da história da humanidade. Havia intenção de destruir o vírus ainda este ano, mas a Organização Mundial de Saúde decidiu: só vai voltar a discutir a questão em 2014. “Acreditamos que é preciso continuar com as pesquisas científicas em torno da varíola. A destruição dos vírus vivos seria irreversível”, disse um representante russo, de acordo com o jornal Folha de S.Paulo.

A decisão é polêmica, já que a volta natural da doença é considerada impossível. O vírus não está presente na natureza ou em animais. Um dos mais favoráveis à sua destruição imediata é o médico norte-americano Donald Herderson. “Seria uma excelente ideia. Este é um organismo que deve ser sempre temido”, afirma ele.

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Rocha e Silva foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Como presidente da instituição, desafiou a ditadura militar (1964-1985) ao exigir que os cientistas exilados voltassem ao Brasil. “A ciência não pode ser tratada como atividade clandestina sujeita a inquéritos e perseguições pessoais”, escreveu. Não teve êxito, mas não se dobrou aos desmandos dos militares.

Você Sabia?

Bill Gates, mecenas das vacinas brasileiras? A Fiocruz e o Instituto Butantan – duas das maiores produtoras de vacinas do País – podem conseguir um auxílio importante: a do bilionário Bill Gates, que pretende financiar a pesquisa e produção de vacinas no Brasil. E não só o País será beneficiado, caso a intenção do dono da Microsoft dê certo. Ele pretende que, a partir das doações, o Brasil produza vacinas de baixo custo para chegar ao mercado internacional com preços competitivos e obrigar as grandes produtoras mundiais a baixarem os preços dos medicamentos.Br

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o mês de maio foi realizado em Bocaina, no interior de São Paulo, a primeira edição da Reunião

Regional de Coordenadores de Ligas de Combate ao Câncer. O evento reuniu representantes de quatro cidades da região: Jaú, Torrinha, Barra Bonita e Boa Esperança do Sul.

A intenção era trocar experiências e discutir soluções para as questões dos voluntários. Os representantes de Torrinha, por exemplo, explicaram como firmaram acordos com laboratórios para pagar uma taxa menor nos medicamentos, e como estabeleceram parcerias com postos de saúde. “Ouvimos de cada cidade as vivências, os sonhos e os obstáculos para ajudar, juntos, a resolver os problemas”, afirmou Geraldo Kyelce Caria Affonso, coordenador da liga de Bocaina.

NOTÍCIAS DA FEBEC

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Boa notícia para os cafeinólatras Bem, ao menos para os homens loucos por café. Pesquisadores da Universidade de Harvard descobriram que beber pelo menos seis xícaras de café por dia reduz em 60% os riscos de câncer de próstata. A pesquisa avaliou 50 mil homens durante 20 anos.

Tatuí promove leilão para a Fundação Amaral Carvalho Leilão de 80 cabeças de gado, prendas e show sertanejo. Essa foi a programação do evento que ocorreu em Tatuí no fim de maio. Toda a renda arrecadada foi revertida para a Fundação Amaral Carvalho e para a Santa Casa de Misericórdia de Tatuí.

“Uma feijoada só é realmente completa quando tem ambulância

de plantão”Stanislaw Ponte Preta

Fim do cheque caução em hospitais

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Marketing em xeque Em maio, centenas de médicos norte-americanos publicaram carta aberta dirigida ao McDonald’s. Os profissionais solicitaram que a rede de lanchonetes deixasse de usar o personagem Ronald McDonald’s como forma de atrair crianças para consumir seus lanches, considerados ricos em gordura, sal e açúcar. Os médicos ainda sugeriram eliminar os brindes que vêm nas caixas do McLanche Feliz. Em comunicado, o McDonal’s respondeu que “Ronald é um embaixador a serviço do bem, que dá mensagens importantes às crianças sobre segurança, alfabetização e um estilo de vida ativo e equilibrado”.

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou em maio projeto de lei

que proíbe hospitais e clínicas de exigirem cheque caução de pacientes que precisem se internar. “O Código Civil proíbe negociação com alguém que está em necessidade”, explicou o deputado estadual Fernando Capez, autor do projeto, que ainda precisa da aprovação do governador Geraldo Alckmin.

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Almanaquices

la nasceu em 1927, na comunidade húngara da Vila Anastácio, em São Paulo. Os pais vieram da Europa em 1925, buscando nos

trópicos dias sem guerras e com trabalho. Criada sob a rígida batuta da mãe, Rosa Husak cresceu menina prendada. Cedo descobriu que nascera para amar.

Aos 14 anos, caiu de amores por José. A paixão mal brotou e foi podada pela raiz. “Minha mãe não aceitou o namoro porque ele não tinha dinheiro para ficarmos juntos”, relembra Rosa. José prometeu voltar com fortuna no bolso quando a amada completasse 18 anos. Rosa sonhou dias a fio. Guardou o amor no peito e seguiu a vida ao desejo da enérgica mãe. Aos 17, fugiu. Casou-se às escondidas com André, na tentativa desesperada de conseguir liberdade.

O enlace durou apenas três meses. O casal foi descoberto pela mãe, que obrigou Rosa a voltar para casa e esperar melhor partido. Antes de o novo pretendente aparecer, José voltou à procura da prometida. Com o coração despedaçado, a moça correu para se esconder. “Senti vergonha. Ele cumpriu a parte dele e veio me buscar. E eu não esperei por ele”, lamenta.

Aos 20 anos, Rosa aceitou o pedido de Santo, soldador com o dobro de sua idade. Era a saída para se desvencilhar da barra da saia da mãe. Juntos, construíram uma história e uma família com três crianças. Santo faleceu 17 anos depois. Deixou Rosa com os filhos para sustentar e uma dívida sem fim. Ela era mãe e pai ao

UM NOVO AMOR AOS 73, OUTRO AOS 82

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mesmo tempo. Trabalhava de sol a sol na fábrica de rendas. Ali perto conheceu Luiz Carpi. Convicta de que todo dia é um novo começo, permitiu-se namorar. Não demorou para Luiz estreitar os laços e pedi-la em casamento para os filhos. Bênção concedida, 33 anos de união.

Rosa amou o marido, mas amava mais a si mesma. Aos 70 anos, incomodada com as confusões do companheiro, expulsou-o de casa. Com os filhos criados, dedicou-se à assistência social. Ajudou pessoas doentes, carentes do carinho que ela sempre teve de sobra para compartilhar.

Uma tarde, na sala de espera de um hospital, Rosa encontrou Somar. E, nos olhos dele, o amor que queria para si mesma. “Senti um tremelique, um relâmpago”, revela. Somar era uruguaio, um mágico que correu mundo encantando o público. Encantou Rosa. Por três anos, viveram uma paixão de cinema. Ela, aos 73 anos. Ele, aos 85. Foram felizes até o dia em que o coração de Somar cansou de bater. Um pedaço de Rosa partiu com ele.

Para ocupar corpo e alma, ela concentrou-se no trabalho voluntário e em atividades recreativas em Campo Limpo Paulista, interior de São Paulo. Esbarrou em outro Luiz. De conversa em conversa, o “caboclo” prometeu conquistá-la. “E conquistou”, admite. Aos 84 anos, de marido novo, dona Rosa agarra a felicidade com unhas e dentes. Renova sonhos a cada minuto. Ela sempre soube que nasceu para amar e vai morrer amando.

PAIXÃO NÃO TEM IDADE

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SAIBA MAISVisite o site do Forninho: www.forninho.com.br

que um saco de pão e um jornal têm em comum? Ambos,

depois de cumprir sua função, são descartados. Então por que não gastar papel apenas uma vez e unir as duas coisas? Foi o que o empreendedor cultural Fábio Santana fez em 2003 quando criou o Forninho, uma publicação impressa nas tradicionais embalagens de padaria. “Lembrei dos antigos almanaques que, geralmente patrocinados por fabricantes de biotônicos e elixires, difundiam cultura de forma gratuita”, explica.

Hoje, poucas coisas têm maior acesso aos lares brasileiros do que o pão nosso de cada dia. Na capital do Espírito Santo, os pãezinhos vêm embrulhados em informações de utilidade pública, saúde e textos sobre turismo, cultura e entidades sociais. Com vocação para incentivar a cultura de Vitória, o Forninho chegou a sortear ingressos para shows, com divulgação dos ganhadores em rádio popular. Às vezes traz impressos cupons de desconto em peças teatrais e publica poesias de leitores.

Fábio busca a sustentabilidade do projeto com a venda de anúncios. As panificadoras recebem mil exemplares por mês e, se quiserem mais, podem comprar pelo preço do saco de pão tradicional – com direito a imprimir sua logomarca. A publicação também ganhou espaço fora das padarias. Em sebos, bibliotecas municipais e bancas de jornais, o pão embalado pelo Forninho dá lugar a livros, revistas e guloseimas.

O

origem da expressãoEstar com a Macaca Quando dizemos que uma pessoa está com a macaca, não insinuamos que ela pula de galho em galho ou que o simpático primata seja símbolo de agitação. Macaca, no caso, não tem a ver com o animal. Vem da expressão maka’aka ou ma’káaca, do banto africano. Significa ataque de riso. No Nordeste, na época da colônia, a expressão também era usada para se referir a quem sofria de hanseníase.

o baú do Barão“Mais valem dois marimbondos voando

do que um na mão.”Nossa homenagem a Aparício Torelly, o Barão de Itararé.

Uma loja de departamento paulistana procurou o

publicitário João Dória. O desafio era bolar uma forma para aquecer as vendas durante o mês de junho, então um dos menos lucrativos para o comércio.

O publicitário teve a sacada de criar o Dia dos Namorados, inspirado no Dia de São Valentim, em 14 de fevereiro, quando os apaixonados europeus e norte-americanos trocam presentes. A justificativa de Dória para escolher 12 de junho: é o dia que antecede o de santo Antônio, o santo casamenteiro.

Em 12 de junho de 1949 aconteceu o primeiro Dia dos Namorados do Brasil. Não chamou muita atenção, apesar de uma enorme faixa estendida em frente à loja: “Não é só de beijos que se prova o amor”. Demorou mais de uma década para pegar. Mas deu certo. Hoje, é a terceira data mais pujante para o comércio brasileiro. Só perde para o Natal e o Dia das Mães – este último, também, uma invenção do publicitário.

JOÃO DÓRIASÓ NÃO CRIOUO NATAL

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meia-idade, o procurador-aposentado Lauro Ribeiro Escobar

já tinha decidido: dedicaria seu tempo de aposentadoria à heráldica e à vexilologia. Pouco conhecidas, as palavras referem-se ao estudo de brasões e da composição na qual se inserem: medalhas e bandeiras. “Ciência bonita e, apesar da terminologia própria, não tão complicada”, desmistifica Lauro. Ele anima-se ao explicar as origens dos distintivos, na Idade Média, quando os batalhões não usavam uniformes e quase ninguém sabia ler. Os escassos livros sobre o assunto sempre lhe interessaram. Autodidata, passou a fazer parte do Conselho de Honrarias e Mérito do Estado de São Paulo assim que foi criado, em 1968. Era o mais novo do grupo e só o deixou quase uma dezena de governos depois.

PARA LAURO, O RIGOR DA HERÁLDICA é PASSATEMPO

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Confira a resposta na página 24

de quem são estes olhos?

Filha de ator e bailarina, a dona dos olhos nasceu no Rio de Janeiro em 10 de junho de 1977. Aos 6 anos foi figurante de um filme de Cacá Diegues e, mais tarde, de um programa infantil de Angélica. O papel de maior destaque é de 2007, quando encarnou uma garota de programa em horário nobre da tevê. No lugar

do sobrenome usa a alcunha artística herdada do pai.

o Vale do Paraíba, interior de São Paulo, esconde-se São Luiz do Paraitinga, uma

pequena cidade onde o tempo parece não passar. Há ainda carroças sem pressa, gente na calçada para ver a Lua chegar, tradições guardadas desde o século 18. Junho é época de colorir as ruas com bandeirinhas, acender a fogueira, mexer o quentão. O arraial domina o mês inteiro, batizado com um nome que vem dos céus. É só prestar atenção no foguetório: Chi Pul Pul é o som que faz o rojão quando estoura e ilumina a noite, espantando os maus espíritos.

Os compositores da região passam o ano preparando canções para concorrer no concurso de música junina – a exemplo da disputada batalha de marchinhas carnavalescas, que ocorre no início do ano. Os troféus são tao autênticos quanto a cidade: primeiro lugar, um bezerro; segundo, uma leitoa; terceiro, um pato. O quarto colocado ganha um frango; o quinto, um ovo. Ao sexto, prêmio de consolação: uma pena.

PRA QUEM GANHAR, UM BEZERRO; PRA QUEM PERDER, UMA PENA

CONCURSO CAIPIRA

Festa junina em São Luiz do Paraitinga.

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O que se colhe no mês Kiwi, morango, uva, manga, abacate,

berinjela, caqui, mexerica.

estação colheita

bOCHA? DOMINÓ? QUE NADA

Desde o começo, o procurador, com receio do ócio, viu no assunto “grande oportunidade de se dedicar a algo agradável e diferente – sobretudo diferente – na aposentadoria”. Autor de cerca de 300 bandeiras municipais, um dos primeiros projetos foi o estandarte da capital paulista, que até então desrespeitava as regras, com o fundo branco. O aposentado garante que ainda há muito a ser feito: “A maioria dos municípios, infelizmente, tem a bandeira fora do padrão”.

Lauro cria também brasões e medalhas de associações, colégios, batalhões. Aos 84 anos, é muito raro recusar um trabalho – “sempre sem custo algum”, frisa. “Gosto de fazer um trabalho útil, que vale a pena. Faço porque é gratificante.”

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o Rio de Janeiro, em fins do século 19, Cândido da Fonseca Galvão, ou Dom Obá II, torna-se um dos pioneiros na luta pela

igualdade racial no Brasil. Sua origem é pouco comum: filho de escravos e neto do alafin (rei) africano Abiodun. Ganha destaque em meio à população negra. Andava com farda de gala numa época em que poucos negros andavam calçados.

Nascido em 1845, alista-se como voluntário na Guerra do Paraguai, enquanto escravos eram recrutados à força. Tinha verdadeira admiração por Pedro 2º. Era o primeiro a chegar em suas audiências públicas. Falava diretamente com a realeza para conseguir melhores condições de vida para os negros. No último aniversário que o imperador comemorou no Brasil, Dom Obá liderou uma manifestação que invadiu o Palácio Imperial para apoiar a monarquia.

O imperador reconhecia seus feitos em prol da nação durante a Guerra e dava ouvidos às suas súplicas. Defendia maior participação

política dos negros e o fim dos castigos corporais. Dizia orgulhar-se “de preto ser”. Era “amigo dos brancos”, mas não de todos: só dos que sabiam “que o valor não está na cor”. Terminava seus artigos com expressões em latim, iorubá e português, como prova de sua identidade racial. As opiniões se dividiam: para uns, era amalucado. Escravos e libertos chamavam-no respeitosamente de Príncipe Obá, uma referência para os que buscavam a liberdade.

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É o signo dos apegos. Nascidos em câncer costumam colecionar recordações com carinho e, a princípio, preferem sempre a segurança do conhecido. Guiados pelos sentimentos e forte intuição, são

geralmente amigos sensíveis. Intimidam-se, porém, ao expor os próprios sentimentos. Objetividade também não é seu forte. Prepare-se para muito rodeio até um canceriano chegar ao ponto que deseja.

le é dono de uma voz muito conhecida entre a geração dos anos 1980. Adolescentes e crianças da época certamente ouviram sua voz

nos inúmeros desenhos e seriados que dublou, como Changeman, Jiraiya e Flinstones. Hoje, Nelson Machado Filho é reconhecido como um dos mais competentes profissionais do ramo. Além de dublar, traduziu mais de 150 episódios dos programas Chaves e Chapolin, sucessos até hoje. A voz que criou para o personagem Quico é considerada por alguns fãs a melhor do seriado. “São quase 20 anos sendo entrevistado por gente que me pede pra fazer a voz dele nos lugares mais inusitados!”, conta.

Nascido em São Paulo, em 1954, iniciou carreira por trás das telas com os pais, ambos dubladores. “Fui trabalhando, trabalhando e fiquei no pedaço até hoje”, diz. Em pouco tempo, sua voz começou a se destacar, possibilitando interpretar artistas e películas ilustres. Já foi Moisés, Paul McCartney, Roberto Benini e Tom Hanks. Até Adolf Hitler ele dublou.

Na ativa há 39 anos, nas décadas de 1980 e 1990 dirigiu mais que dublou. Mas não deixa de emprestar sua voz: participa da dublagem de seriados como Will & Grace, Crossing Jordan e até do desenho Bob Esponja, revivendo as falas do divertido Seu Siriqueijo – o que, para Nelson, foi só para “quebrar um galho”. Atualmente, é possível ver e ouvi-lo na internet pela TV Capricórnio, onde apresenta o programa Versão Brasileira.

NELSON JÁ DUBLOU DE MOISéS A MCCARTNEY

Santo do mês

SAIBA MAIS

São João O único santo que, como Jesus, temsua efeméride na data de nascimento, e não na de morte. O aniversário de Jesus e o de João, muito comemorados e separados por um semestre exato, coincidem com as festas pagãs pela chegada do inverno e do verão. A mãe de João, Isabel, era prima de Maria e teria acendido uma fogueira para avisá-la do nascimento.

Nelson Machado Filho

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PRíNCIPE DOS ESCRAVOS

Dom Obá II D’África, o Príncipe do Povo. Vida, tempo e pensamento de um homem livre de cor, de Eduardo Silva (Companhia das Letras,1997).

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olha essa históriaSetembro de 1999. Inauguração da maior casa de espetáculos de São Paulo. Para o grande

evento, dois grandes nomes: João Gilberto e Caetano Veloso. A high society paulistana lotava o

auditório, em parte mais preocupada com os espumantes e canapés do que com a apresentação.

Não que João tenha ajudado a ser bem recebido. Logo no começo do show, fez um muxoxo e

reclamou do eco e do ar-condicionado. Após tocar o clássico O Pato, disparou, irritado: “O pato

sou eu!”. O público começou a vaiar. João não se fez de rogado. Mostrou a língua para a plateia e

cantarolou: “Vaia de bêbado não vale, vaia de bêbado não vale...”. A polêmica estampou todos os

jornais no dia seguinte.

Vídeos e histórias da emissora: www.redemanchete.net Mô

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D omingo, 5 de junho de 1983. Em cinco canais – incluindo os antes ocupados pela TV Excelsior, em São Paulo, e pela TV Tupi,

no Rio de Janeiro – ia ao ar pela primeira vez a contagem regressiva de oito segundos que caracterizaria a emissora do empresário Adolpho Bloch. A rede levaria o mesmo nome da revista semanal Manchete, carro-chefe da Bloch Editores desde 1952. Inspirada na linguagem visual e no fotojornalismo, a publicação persistiu até 2000 entre as revistas de maior circulação. O braço televisivo do grupo seria marcado por alto investimento para a época: 50 milhões de dólares. Operando a partir de imponente prédio projetado por Oscar Niemeyer, no Rio de Janeiro, a Rede Manchete de Televisão se consolidaria, entre os anos 1986 e 1991, como a segunda maior rede brasileira e terceira da América Latina. Marcou época com sucessos na dramaturgia, como as novelas Dona Beija (1986), Pantanal (1990) e Xica da Silva (1996).

Ao lado das coberturas esportivas – incluindo Copas do Mundo – e do carnaval carioca, inovou trazendo um telejornal de três horas de duração, caracterizado pela visão aprofundada e analítica das notícias. Um dos pontos altos do jornalismo da emissora foi a transmissão dos comícios das Diretas Já, em 1984.

A programação de qualidade não impediu que a emissora enfrentasse grave crise econômica durante a década de 1990. Em 1999 – quatro anos após a morte de seu fundador –, foi vendida e transformada na Rede TV!.

MANCHETE MARCOU éPOCA COM JORNALISMOE DRAMATURGIA

SAIBA MAIS

oda sexta-feira 13, às 13 horas, os 13 integrantes fazem algazarra na avenida Treze de Maio, Rio de Janeiro. A

Confraria do Garoto não poderia ter outra data de fundação: o 13º dia de um mês. Mais precisamente 13 de junho de 1974. Desde aquela data mantém o propósito de preservar a tradição e a irreverência cariocas.

Além da festa no dia considerado supersticioso, quando os membros distribuem galhos de arruda e doces ao som de marchinhas, a Confraria não para de inventar ações na cidade. Com fanfarra e bom humor, o grupo também denuncia escândalos políticos e descaso com o patrimônio histórico. No Carnaval surge a Galinha do Meio-Dia, bloco que parodia o pernambucano Galo da Madrugada.

“Não somos humoristas ou artistas. Somos pessoas de diferentes áreas com um denominador comum: levantar o moral do Rio, lembrar sua história e tradição”, esclarece Nelson Xerife, terceira geração de uma família de confrades. E sentencia: “Em nosso sangue corre carnaval”.

CARNAVAL NO SANGUE UNE 13 CONFRADES HÁ DéCADAST

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LYDIA NÃO SABIA LER E VIROU ESCRITORA

oi a Terra Indígena Guarani Piaçaguera, na divisa de Itanhaém com Peruíbe,

no litoral paulista, o berço de Lydia da Silva Gonçalves. O pedaço de chão, que o avô doou para o pai, o pai doou para ela. Dali Lydia tirava o sustento da família. Capinando a roça, ficou viúva, com quatro filhos, aos 23 anos. Casou-se outra vez. Aumentou a prole com mais duas crianças.

Aos 65 anos, resolveu legalizar a área herdada e foi trapaceada por um advogado. Tudo porque não sabia ler. Decidida a não ser passada para trás de novo, lá foi ela se matricular na escola. Quem diria: tomou gosto pela coisa. Entrou no curso de Pedagogia da Universidade Aberta para a Melhor Idade.

Tomada pelas letras, pôs a caneta para funcionar. Das mãos que não sabiam escrever brotaram poemas e contos. Lydia publicou em 2007 A Felicidade Está a sua Espera, seu primeiro livro. Nas páginas, escritas com capricho, fala do prazer de vencer desafios. Os versos, guardados por tanto tempo, explodiram: Meus olhos revelam minha liberdade. Agora sei a verdade de mim mesma e sou feliz.

Gostou tanto de ser autora que botou as mãos à obra para escrever Mosaico Caiçara. Agora resgata a cultura de seu povo em uma coletânea de contos infantis que logo estará na gráfica. De posse das palavras e da própria vida, aos 73 anos Lydia recuperou as terras, planeja mestrado e doutorado em Educação, pois descobriu que o saber é libertador. “Nunca é tarde para aprender. Se a gente quer, consegue”, reforça.

F

garoto carioca, nascido em 5 de junho de 1941, resistiu bem à sociedade conservadora da década seguinte. A mãe se dizia viúva, evitando burburinhos por ser desquitada. Restava aprontar com amigos do bairro, entre eles Jorge Ben Jor e Tim Maia. Este último lhe mostrou os acordes básicos do violão. Com o instrumento em punho e uma jaqueta de couro, participou de programa de tevê que inaugurou um movimento musical.

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Confira a resposta na página 24

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EMBAIXADOR DEFENDEU MARINHEIROS BÊBADOS EM DISPUTA CONTRA O BRASIL

Questão Christie foi o maior incidente diplomático do

segundo reinado brasileiro. Em 1861, o navio inglês Prince of Wales zarpou de Glasgow, na Escócia, rumo a Buenos Aires. Mas a embarcação encalhou próximo ao farol de Albardão, a 87 quilômetros da barra do Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul. Toda a carga foi perdida.

O que era um mero acidente marítimo se tornou questão diplomática para o embaixador britânico William Dougal Christie. Ele exigiu um ressarcimento do governo brasileiro. Pedido negado por dom Pedro 2º. A relação entre os países começou a estremecer.

A situação degringolou mesmo quando, em 17 de junho de 1862, três marinheiros britânicos foram presos no bairro da Tijuca, no Rio. Bêbados e à paisana, eles causaram uma enorme confusão pela cidade. O embaixador considerou a prisão um desrespeito à Marinha britânica.

Exigiu punição aos policiais. Pedido novamente negado. Como retaliação, Christie ordenou que sua Marinha bloqueasse o porto do Rio. Saldo: cinco navios mercantes apreendidos.

As ações causaram revolta. Imigrantes ingleses eram hostilizados nas ruas cariocas.

A

Já dom Pedro 2º gozou de um dos poucos momentos de popularidade. O povo se orgulhava de o imperador desafiar os poderosos britânicos.

Decidiu-se que a questão seria resolvida por um árbitro internacional. O escolhido foi o rei da Bélgica, Leopoldo I. Por “coincidência”, tio da rainha da Inglaterra. Mas, para surpresa geral, a decisão foi favorável ao Brasil.

A história acabou? Que nada. Os britânicos ignoraram a decisão e os países romperam relações de vez. Só depois de um ano marcou-se uma audiência, os europeus apresentaram um pedido formal de desculpas e tudo voltou ao normal.

Todo o imbróglio deixou apenas uma marca visível. Há gaúchos que juram avistar os restos do Prince of Wales toda vez que a maré baixa.

SAIBA MAISMosaico Caiçara, de Lydia da Silva Gonçalves (Inteligência, 2009).

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Questão Christie, de Victor Meirelles.

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Entrevista

R O B E R T O K I K A W AFO

TOS:

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EIRA

O gastroenterologista Roberto Kikawa levou a sério o pedido que o pai lhe fez pouco antes de morrer: “Prometa que você vai ser médico. Não como muitos que há por aí, mas um que se preocupe com as pessoas”. A carreta da saúde, que o paulistano idealizou há três anos, é apenas uma das provas de que

está cumprindo a promessa. Com ela, Roberto e sua equipe já levaram atendimento humanizado e de alta tecnologia para quase 30 mil pessoas em mais de 15 cidades. Maior centro móvel do mundo, a carreta

nada mais é do que um caminhão que, quando aberto, tem 100 metros quadrados de área e atende até 10 especialidades de diagnósticos, além de realizar procedimentos simples. Em pouco tempo, o Centro de Integração de Educação e Saúde (Cies) recebeu vários prêmios. É sempre movido pela tríade tratar-educar-

prevenir, “nessa sequência”, explica o idealizador do projeto. “É preciso quebrar paradigmas que existem entre as pessoas e os serviços de saúde, para que haja confiança”, defende Roberto. Ele sabe que o trabalho é uma “gota no oceano”. Mas não desanima: “Quem sabe, se a gente tentar, essa gotinha não possa se tornar uma

poça? E a poça, quem sabe, um braço de mar? Quem sabe um dia a gente possa transformar algo?”.

É SIM VIÁVEL LEVAR ALTA TECNOLOGIA ÀS PERIFERIAS

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Como você escolheu ser médico? Eu sempre quis ser médico. Na fase de escolha profissional, acabei passando por maus bocados porque meu pai teve uma doença muito grave. Co-meçou como dor de coluna e foi desaguar num câncer de laringe. Durante essa época, recebemos atendimento de to-dos os hospitais, fizemos tudo o que podia ser feito. Minha mãe deixou o emprego e eu fui vender bentô, uma espécie de marmita, para o almoço de feirantes. Enquanto isso, en-trei na faculdade de medicina, e meu pai só piorava. Recebe-mos então o atendimento de um casal de médicos japone-ses, do National Cancer, de Tóquio. Eles deram uma luz no que poderia ser feito com um atendimento muito diferen-ciado. Não apenas para o meu pai, mas para mim e minha mãe. Explicando a condução do tratamento, traziam a ali-mentação ideal, tiravam as dores do pacien-te. Isso é o que se chama hospcare, um trata-mento especial, paliativo e integral ao pa-ciente terminal – ainda que eu não goste de usar essa palavra, pois o fim é só Deus quem determina – e também à sua família. Ainda depois que meu pai morreu, continuaram me ajudando com suporte espiritual e psico-lógico, sem falar no auxílio com pesquisas para que eu tivesse bolsas durante a faculda-de. Pouco antes de morrer, meu pai me fez um pedido no leito do hospital. Ele disse: “Prometa que você vai ser médico. Não mé-dico como muitos que há por aí, mas sim como esse que está me atendendo agora”. Fiquei bem tocado.

Você já atendeu pacientes na mesma situação que seu pai? Assim que terminei a faculdade, co-mecei a fazer a mesma coisa que o casal japo-nês fazia. Como voluntário, atendia família por família com pacientes nessa situação. Ainda hoje atendo 30 famílias. Cheguei a fazer o projeto de um hospital que prestasse esse tipo de atendimento, preocupado com corpo e espírito, e até visitei instituições assim fora do Brasil. Na In-glaterra desenvolveram algumas práticas bem interessantes. Em uma delas, por exemplo, o paciente e o familiar puxam uma mesma bexiga. Quando os dois a soltam, é porque já en-tenderam a necessidade da partida. Se um dos dois solta e o outro continua segurando, isso significa que essa pessoa pre-cisa trabalhar a compreensão. Ainda sonho em construir um hospital com esse tipo de atendimento.

Como partiu dessa ideia para um projeto de prevenção e diagnós-tico? Pensei: se não estou conseguindo fazer a estrutura para atender pessoas com doenças graves, por que não fazer algo que diminuísse esse estágio de câncer avançado e outras do-enças sem possibilidades de tratamento? Aí pensei em criar

uma iniciativa relacionada à medicina preventiva, mas não a prevenção primária, que é comum: dizer para não beber, porque pode dar câncer de laringe; não fumar, porque pode dar câncer de pulmão; comer fibra e usar camisinha, para prevenir câncer de colo. Esse tipo de campanha é bem feita pelo País. O que falta é a prevenção secundária, pois a popu-lação não tem condições de realizar exames preventivos. Com a prevenção secundária, temos uma detecção precoce, e o câncer tem tratamento para cura. Assim se fecha um ci-clo para que também tenhamos menos gastos na saúde com pacientes avançados.

E por que uma carreta? O maior número de pessoas sem aces-so a esse tipo de processo está nas regiões periféricas, com

vulnerabilidade social mais alta. Pensando em estruturas que facilitassem o acesso, me lembrei de algo que tinha visto na França. Fiz um estágio lá e, nas folgas, tinha contato com o Médicos Sem Fronteiras. Eles desen-volviam contêineres com estrutura fantásti-ca para levar para a África, a lugares de alta vulnerabilidade social. Havia estrutura até para cirurgias. Na época, aquilo me tocou, pensei até em tornar-me médico missioná-rio. O centro móvel é essencial porque, ape-sar de o custo da construção de um centro móvel ou fixo ser o mesmo, haverá proble-mas de manutenção do centro fixo por causa da ociosidade. A carreta móvel pode suprir demandas e otimizar o atendimento.

Não teria sido mais fácil fazer parte do projeto que já existia na Europa do que idealizar o seu próprio? Por que essa opção? Eu ainda quero fa-zer coisas na África. Mas, se você parar para

pensar, todos os projetos vão para a África. Certa vez fiz aten-dimento em uma favela no Jardim Pantanal, na divisa entre São Paulo e Guarulhos. Quando cheguei lá, o líder comunitá-rio me chamou para conversar: “Doutor, o senhor vai ser polí-tico? O senhor quer voto? O que o senhor quer?”. Eu respondi que não queria nada, só entender a situação deles. Ele então me perguntou: “Posso fumar?”. Respondi que não, não podia. Embrulhando o fumo em um papel de supermercado, ele me disse: “Se eu fumar esse cigarro, doutor, me tira a fome, por-que só como uma vez por dia”. Os ratos que andavam pelas palafitas eles matavam pra comer. Eu não sabia nem como ia falar de prevenção e saúde pública. Como dizer que só pode tomar água potável e andar calçado, se eles não têm acesso a água, se não têm chinelos para usar? Quer dizer, já temos uma África a céu aberto em São Paulo. E não adianta falar bonito apenas de prevenção primária. É preciso que haja acesso à prevenção secundária. E o conceito mundial hoje já é difundir

“Fomos convidadospara exportar a tecnologia e a gestão de

trabalho para Timor Leste, Venezuela, Itália, Porto Rico, Angola. Estamos estudando como

fazer isso.”

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a prevenção terciária, que é atender famílias com vulnerabili-dade genética. Se no Brasil estamos aquém, por que ir para outros lugares? É preciso começar a fazer algo aqui mesmo.

A carreta foi criada aqui? Como foi o desenvolvimento da tecnolo-gia? Ela foi feita aqui, sim. Para ser sincero, confesso que às vezes a gente pensa como surge umas ideias malucas dessas e nem sabe. Tudo começou porque uma amiga me apresen-tou ao presidente da Olympus para retribuir um favor – eu a havia indicado para uma vaga na empresa. No dia, montei algumas imagens de como o projeto seria, de forma bem tosca mesmo. Imaginei a carreta e coloquei nela a marca da Olympus. O presidente achou bonito e me levou a Washing-ton, para mostrar o projeto ao presidente internacional. Saí de lá com um milhão de dólares em equipa-mentos. Só não sabia como iria fazer a carre-ta para abrigar aquilo. Essa ideia do “trans-former”, de como seria a logística da carreta dividida em unidades que abrem para os dois lados, eu tive no avião. O engenheiro que de-senvolveria o projeto estava ao meu lado, e ajudou a criar o desenho ali mesmo, no voo.

Esse modelo despertou o interesse de outras ins-tituições? Sim. Fomos convidados a exportar a tecnologia e a gestão de trabalho para Ti-mor Leste, Venezuela, Itália, Colômbia, Porto Rico, Angola. Estamos estudando co-mo fazer isso. Tudo foi desenvolvido na marra: onde era possível guardar um equi-pamento para que a carreta passasse por viadutos, onde podíamos guardar e descar-tar diferentes tipos de lixo etc. Há toda uma logística. Mas gosto de frisar que o mais im-portante do projeto não é a carreta. O proje-to é o coração da equipe que está ali. Foi construído com amor de muitas pessoas para levar esse amor a outras tan-tas. A carreta é um instrumento.

O projeto chama Centro Integrado de Educação e Saúde. Onde en-tra a educação? Por onde passa, a carreta capacita profissio-nais para atender. Já temos 700 agentes comunitários trei-nados pelo Brasil. Nossa ideia é trazer a comunidade para resgatar o sistema de saúde. Em vez de apenas pensar que a saúde é dever do Estado e se isentar, a sociedade tem que aprender como melhor usar o sistema. Há de se integrar empresas, comunidade e governo. Além disso, pensamos numa forma diferente de lidar com o paciente. Falamos em “tratar, educar e prevenir”. Nessa sequência. É preciso que-brar paradigmas que existem entre as pessoas e os serviços de saúde para que exista confiança. Só assim será possível educar, aconselhar que atitudes tomar ou não tomar.

A quais tipos de paradigmas você se refere? É frustrante ver o sistema de saúde – público e boa parte do privado – e tam-bém a própria classe médica. A saúde está mercantilizada, não há um cuidado com o doente. Além disso, há uma dis-tância entre o doente e o médico. Na carreta, resgatamos a ideia do paciente que entra “desarmado” para ser atendido. Geralmente as pessoas já chegam com raiva do médico que mal vai olhar para a cara delas. É preciso ter uma postura diferente desde o começo do atendimento. Começamos li-gando para o paciente no dia anterior para confirmar o ho-rário da consulta. Ele chega lá já com a ficha pronta, é cumprimentado com um bom dia. Fazemos questão de atender com hora marcada. Em alguns municípios, todos os pacientes do dia chegam às 7 horas e formam aquela fila

quilométrica. É difícil convencê-los de que há horário marcado e que ele será respeita-do. Quando deixamos o questionário do pa-ciente respondido, o médico pode se focar no paciente. Pelo menos olhar e falar com ele. Se você dá esse carinho no início, fica mais fácil falar em prevenção. Se a pessoa chega lá e ninguém nem liga ou trata da dor que ela está sentindo no momento, per-de o sentido. Por isso o “tratar, educar e prevenir”. A partir de quando você planta essa semente na pessoa, já começa a mudar o paradigma, porque ela começa a ver o sis-tema de saúde de forma diferente. Aí você está plantando algo de diferente na socieda-de. Pena que seja uma gota no oceano. Mas quem sabe, se a gente tentar, essa gotinha não possa se tornar uma poça? E a poça, quem sabe, um braço de mar? E unir todos os empreendedores sociais que têm essa vontade na área de saúde, de educação etc?

Quem sabe um dia a gente possa transformar algo.

A alta tecnologia oferecida também é uma quebra de paradigma, não? Muito. Oferecemos ar-condicionado, temos na carreta uma tecnologia que muitos hospitais, mesmo os particula-res de São Paulo, não têm. São equipamentos de última ge-ração para endoscopia, urologia, parte respiratória, mamo-grafia, ultrassom etc. Eu me lembro de uma situação antes de tudo isso, quando ajudei a instalar o primeiro Programa de Saúde da Família, na zona leste de São Paulo. Lembro que tive um choque em relação à realidade com que eu tra-balhava no hospital Sírio Libanês. Eu queria instalar os mesmos equipamentos do Sírio Libanês na zona leste, mas as pessoas diziam que nunca haveria orçamento. Hoje eu mostro que é viável sim levar alta tecnologia às periferias, com sustentabilidade de custos. Tenho orgulho de pagar bem os médicos do Cies, e isso atendendo pela tabela SUS.

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“Tenho orgulho de remunerar bem os

médicos, e isso atendendo pela

tabela SUS.Mostramos para a sociedade que é possível, com

parcerias público-privadas.”

Page 17: Almanaque Febec 16

Mostramos para a sociedade como é possível, fazendo par-cerias público-privadas.

Como se dá a viabilidade econômica do Cies? Bem, somos uma organização de sociedade civil de interesse público, formada por amigos, pequenos empresários e profissionais, entre mé-dicos, advogados, contadores, que se uniram na ideia de que a carreta seria viável. É um projeto que concebemos para atender a população que realmente necessita – não gosto de falar “pobre”, porque pobre todos nós somos de alguma coi-sa. Fizemos um plano de negócios para isso. Recebemos apoio de empresas como Olympus, Philips e Engemet. O em-presário local também partici-pa, seja cedendo alimentação, estadia para o médico, seguro. O município paga o preço da tabe-la SUS e contratamos pessoas da comunidade – técnicos de en-fermagem, limpeza, recepção, administrativo –, que recebem um certificado e passam a en-tender o que é essa ligação en-tre poder público, poder priva-do e sociedade. Começamos em junho de 2008. Em 2009, rece-bemos um prêmio da Finep, do Ministério da Ciência e Tecno-logia. Em 2010, recebemos o prêmio da Folha de S. Paulo e da Fundação Schwab.

Você pensa em uma ampliação do projeto? Inicialmente tínhamos a intenção de multiplicar a ideia, mas no começo não foi tão simples. Antes era preciso procurar as cidades para apre-sentar o projeto. Com os prêmios e uma maior divulgação, já somos procurados por municípios. Houve um boom de cha-madas, e isso faz uma pressão para pensarmos em desenvol-ver ideias. Atendemos 200 pacientes por dia, sem contar com a carreta. Devemos chegar em uma meta até o fim do ano bem maior do que esperávamos, algo como 80 mil pacientes atendidos no ano, com o grupo em constante crescimento, contratando pessoas, inclusive ampliando a sede. Temos uma consultoria no Rio de Janeiro e estamos montando uma no Vale do Paraíba, em São Paulo. Já criamos locais de apoio fixo em vários municípios. Agora temos também uma van da saú-de, e estamos inaugurando um boxe da saúde.

Como são esses outros centros móveis? A van da saúde pode prestar duas especialidades em cada local. Ela é prática por-

que pode atender regiões serranas, como o Morro do Ale-mão. Tive essa ideia depois de uma conversa com o secretá-rio de saúde carioca. Embarquei no aeroporto Santos-Du-mont agoniado, porque não sabia como levar a carreta para lugares como as favelas do Rio. Fiquei pensando nisso du-rante o voo e, quando cheguei em Congonhas, brinquei com o engenheiro que me acompanhava: “Já sei! Pegue uma caneta e escreva aí: vamos fazer uma van equipada”. O boxe da saúde é um derivado de contêiner, que abre e pode ser transportado em balsas ou aviões. Metade da população do Amazonas é ribeirinha e o navio do Exército não conse-gue atingir esses povoados durante seis meses do ano. Esta-

mos fazendo agora uma parceria com o projeto Saúde e Alegria para levar um desses contêineres no barco que eles utilizam. No momento, estamos conversando também com governos do Mara-nhão para levar a estrutura a lu-gares que não são nem pobres, são miseráveis, nas proximidades do município de Barreirinhas. Estamos conversando com ou-tras entidades sérias para novas parcerias. Para o Maranhão, por exemplo, queremos levar o servi-ço de saúde junto com um proje-to de hortas comunitárias.

Para finalizar: você acredita que o empreendedorismo social pode mes-mo transformar realidades? É im-portante que a gente volte a esse conceito. O mundo está embar-cando na ideia de empreendedo-rismo social e precisamos tam-bém aprender o que é isso, o que é

educação do futuro, saúde pública, além do assistencialis-mo. Não acredito no assistencialismo e no mutirão. É como um turista na Coreia, por exemplo, dar um chocolate para uma criança coreana. A partir dali, aquilo vai ser objeto de desejo dela, e chocolate é proibido para crianças coreanas. Queremos modificar de verdade, mesmo que para isso te-nhamos que enfrentar a máfia do colarinho branco, até de próprios médicos populares que exploram a precariedade do serviço público. O empreendedorismo social tem tudo a ver com o conceito de sustentabilidade social. O assisten-cialismo deve existir num primeiro momento, pois nin-guém vai estudar se estiver com fome, por exemplo. Mas é preciso que haja um plano de desenvolvimento social para que o assistencialismo tenha perspectivas de fim. Por isso acredito em negócio social.

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Page 18: Almanaque Febec 16

Nossa gente, nossa história

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Tropicalista psicodélico, cachorro

louco assumido. Em 44 anos de vida

desregrada, deu tempo para ser tradutor,

jornalista, professor, publicitário,

escritor, letrista, judoca, quase monge

e, sobretudo, poeta. No monastério ou

na boemia, amava estudar a palavra. Ao

“educar-se na pedra filosofal da poesia

concreta”, tornou-se fundamental à

poesia brasileira.

pontos-finais e letras maiúsculas muito “parnasianas”. E seria íntimo de bares, álcool, cigarros e drogas. Tentando a abstinên-cia, escreveu a um amigo: “Não quero terminar como Fernando Pessoa, com hepatite etílica aos 44 anos. Pound e Maiakóvski, os maiores poetas do século, não bebiam”. Mas pouco depois, com a morte do filho e do irmão caçula, entregou os pontos, como atesta uma anotação: Maremotos em mares mortos. Pai morto. Mãe morta. Filho morto. Irmão morto. Como querer que minha vida não seja torta?. Morreu como Pessoa, em 7 de junho de 1989, aos 44. Com um abismo entre os dois, claro, quanto ao estilo poético.

Pedra filosofalCerto encontro literário em Belo Horizonte mudou a vida do estudante de Direito e Letras. “O Leminski nos apareceu aos 18 anos, Rimbaud curitibano com físico de judoca, escandindo versos homéricos. Esse polaco-paranaense soube, muito preco-cemente, deglutir o pau-brasil oswaldiano e educar-se na pedra

o dia em que o fim da Segunda Guerra foi anunciado, nasceu Paulo Leminski, primogênito de Paulo e Áurea. O menino afro-polaco-brasileiro, no primário, passaria

horas debruçado sobre dicionários de latim e francês. Além de verbetes, decorava Camões e Homero. Quando conheceu Antô-nio Vieira e a literatura católica, resolveu se internar no mostei-ro de São Bento, em São Paulo. Tinha 13 anos.

Apesar de se destacar pelos conhecimentos e pela inteligência, os monges acharam que o curitibano não tinha vocação religiosa. Principalmente quando encontraram fotos sensuais de Brigitte Bardot embaixo de seu colchão. Virou poeta: as mãos que escre-vem isto / um dia iam ser de sacerdote / transformando o pão e o vinho forte / na carne e sangue de cristo / hoje transformam palavras / num misto entre o óbvio e o nunca visto.

“Notavam-se em Leminski alguns traços de boemia”, comen-tou um monge do São Bento. “Não com relação à bebida, eviden-temente, mas com relação ao romantismo.” Pois os traços se in-verteriam. Afastaria-se de tudo que é clássico – considerava até

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Page 19: Almanaque Febec 16

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filosofal da poesia concreta, magneto de poetas-poetas.” Quem narra é o ícone do movimento, Haroldo de Campos. Espécie de mascote do grupo concretista, Leminski levou o estilo ao Paraná.

Com o golpe militar e a necessidade financeira, deixou os cur-sos universitários e descobriu-se excelente professor de cursinho pré-vestibular, pioneiro na dinamização das aulas. Só deixou de vez a profissão muitos anos depois, devido à vida boêmia. Dizia-se apenas “um bandido que fala latim”.

Por um tempo, trabalhou em três jornais no Rio de Janeiro, enquanto disseminava seus escritos autorais em importantes revistas literárias. De volta a Curitiba, pela primeira vez ele, as filhas e a mulher, a poeta Alice Ruiz, moraram numa casa, e não mais em repúblicas – as chamadas “comunidades” dos anos 1970.

rock and roll e haicaisA década de 1970 foi intensamente vivida por Paulo em todos os sentidos. Era entusiasta da Tropicália, da psicodelia, da contra-cultura e, como não podia deixar de ser, do rock and roll. Au-tor do projeto Em Prol de um Português Elétrico, participou de grupos musicais e teve canções, não só roqueiras, gravadas por Caetano, Gil, Moraes Moreira, Ney Matogrosso e Ângela Maria.

Ao mesmo tempo, a cultura oriental lhe era intrínseca. Faixa preta no judô, foi um de nossos maiores tradutores e escritores dos singelos haicais japoneses: Pelos caminhos que ando / um dia vai ser / só não sei quando. Escreveu o perfil do poeta japonês Bashô. No ramo das biografias, assinou também uma do escritor Cruz e Souza, de Trótski e Jesus Cristo. Foi ainda tradutor de muitas obras, em diversas línguas.

Andou por oito anos com rascunhos do seu romance-ideia de-baixo do braço, uma prosa experimental que imagina o filósofo Descartes no Nordeste brasileiro. Os amigos começaram a cha-

mar de “catatau” o inseparável bolinho de guardanapos e papéis. E Catatau virou o título da obra.

ainda cresce caPimLeminski trabalhou por muito tempo como publicitário. No mundo das agências, era competente e excêntrico como em tudo que se metia. Costumava deixar os clientes esperando dias para entregar um trabalho que fizera em minutos – “para valorizar”.

No polaco havia muita pose, julgava o crítico Décio Pignatari: “Falava que conhecia línguas, mas na verdade conhecia muito mal umas sete ou oito. Tinha crises de megalomania que faziam parte do próprio mergulho etílico no qual vivia mergulhado. Seu discurso político-ideológico era confuso, sem muita coerência”. Mas nem mesmo Décio seria capaz de negar sua importância literária como poeta. Para Augusto de Campos, era o maior de sua geração.

Por ele mesmo: pauloleminski / é um cachorro louco / que deve ser morto / a pau e pedra / a fogo e a pique / senão é bem capaz / o filhodaputa / de fazer chover / em nosso piquenique.

No fim dos anos 1980 já podia dizer: “Não sou poeta de fim de semana. Faço poesia 24 horas por dia. Montei a minha vida de tal forma que a produção textual me permite pagar o aluguel do fim do mês, a escola das minhas filhas, o meu cigarro, o vinho”. No texto Resto Imortal, escreveu que queria “deixar neste planeta não apenas um testemunho” da sua passagem, “campo onde não cresce mais capim”, mas sim o “pensar transformado em máqui-nas objetivas, sobrevivendo a mim”.

“pauloleminski / é um cachorro louco / que deve ser morto / a pau e pedra / a fogo e a pique / senão é bem capaz / o filhodaputa / de fazer chover / em nosso piquenique”

SAIBA MAIS

Paulo Leminski – O bandido que sabia latim,

de Toninho Vaz (Record, 2001).

Page 20: Almanaque Febec 16

Seja nos foguetes das festas juninas, no nome de nossas

cidades ou em expressões costumeiras, os santos povoam a

cultura nacional. Símbolos tão populares assim só poderiam ter

originado muitas histórias de almanaque.

as Duas Pontes, da Barra, dos Patos, do Paraíso. Em criativas variações, são João está presente nas cinco regiões brasileiras. Mas são José é o mais numeroso – só a Paraíba tem mais de 10. No Brasil inteiro há cerca de 500

municípios com nomes de santos. E mais de 40 times de futebol.A maior metrópole do País, e segunda do mundo, leva o nome do santo do dia

em que se rezou sua primeira missa. Quem escolheu foi o jesuíta José de Anchieta, hoje a um passo de ser também canonizado. O maior rio nordestino chamamos de Velho Chico, tal a intimidade assumida com são Francisco. Tudo porque na primeira vez que aquelas águas foram navegadas era dia dele. Outro Rio, o de Janeiro, decreta feriado pelo padroeiro Sebastião, no dia 20, mas não abre mão de cruzar os braços também no 23 de abril, de Jorge.

Cada dia tem seu santo, cada santo tem um dia. Os engraçadinhos dizem que o de são Nunca fica fora do calendário. Responde-se: ele é contemplado em 2 de novembro, dia de Todos os Santos. Data que originou, inclusive, a nomenclatura

do maior porto brasileiro e um tradicional sobrenome do nosso povo: Santos. Portugueses enraizaram o culto às santidades católicas em todos os

âmbitos da vida no Brasil. Trouxeram vários costumes, e logo tratamos de inventar outros. Muitas vezes eles acabam desatrelados do catoli-cismo para fazer parte de uma tradição maior. Cultuamos até figuras não reconhecidas pelo poderoso Tribunal Eclesiástico. E, contrariando a máxima de que santo de casa não faz milagre, já emplacamos ao menos um genuinamente nacional: são frei Galvão. Além de Paulina, uma italiana com os pés fincados no Brasil.

Brasil

de todos

os santos

Brasil

de todos

os santos

Brasil

de todos

os santos

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de todos

os santos

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Page 21: Almanaque Febec 16

Ligar a torneira e abrir a porta é

com Pedro

Ligar a torneira e abrir a porta é

com Pedro

Ligar a torneira e abrir a porta é

com PedroDiz Jesus a Pedro: “Eu te darei as chaves do Reino do Céus: tudo o que ligares na Terra será ligado nos céus, e tudo que desligardes na Terra será desligado no Céu”. Daí acreditar

que o padroeiro do Brasil manda nas chuvas. Por isso também soltar foguetes na sua data, em junho, para agradar ao porteiro celestial. É bom garantir amizade.

ESSA VIROU NOSSA MESMO

Feita branca, aparecida negraFeita branca, aparecida negraFeita branca, aparecida negraFeita branca, aparecida negraQuem declarou são Pedro de Alcântara padroeiro do Brasil, com a bênção

do papa, foi... Pedro de Alcântara, nosso primeiro imperador. Como está atrelado à história imperial, o santo acabou ficando em segundo plano em relação à Nossa Senhora Aparecida, também nossa padroeira. Além de ter sido encontrada no rio Paraíba por pescadores pobres, ela é negra.

No entanto, sua cor não é original da imagem. Especialistas atestam que os traços tradicionais, do século 18, adquiriram o tom escurecido enquanto ficaram sob a água lodosa.

Ligar a torneira e abrir a porta é

com Pedro

Aparecida do Norte festeja são Benedito com congada todo ano. A romaria

faz questão de passar na paróquia de santa Rita de Cássia e levá-la no andor para participar da festa. Não que a santa tenha alguma coisa a ver com a homenagem, mas, como o são Benedito da cidade ficou muitos

anos sem igreja própria, alojava-se na paróquia dela. Os fiéis acreditam ser de

bom-tom que ele retribua a hospedagem.

Para se assemelhar às santidades, era comum os escravos do Brasil pintarem de preto imagens de Nossa Senhora do Rosário e de santo Antônio. São raros os santos de pele originalmente escura. São Benedito, um dos exemplos mais importantes, sempre atraiu devoção dos afro-brasileiros. Enquanto as santidades de pele e olhos claros ganharam similares em entidades nagôs, o santo negro não tem correspondente nos candomblés. É evocado sempre como o católico são Benedito mesmo. De modo que só poderia acontecer no Brasil, ele e Nossa Senhora do Rosário dividem homenagem com reis africanos na congada, festa tradicional do País ligada à Igreja.

Um governador baiano já havia proclamado soldado o santo Antônio da igreja local para que a santidade auxiliasse nos momentos de aperto. Com a invasão francesa em Portugal, dom João não pensou duas vezes. O então príncipe regente do Reino Unido de Portugal e Brasil apelou ao santo peão com uma promoção. Em 1810, assinou decreto, no Rio de Janeiro, elevando o “Glorioso santo Antônio, que se venera na cidade da Bahia”, ao posto de “Tenente Coronel de Infantaria”. Outras imagens da santidade junina também receberam títulos de soldado, capitão, coronel e tenente em todo canto do Brasil a fim de garantir alguma proteção. Sempre com os devidos documentos, distintivos e indumentária – e sem esquecer dos soldos pagos às paróquias.

Justo: Rita empresta a casa, Benedito convida pra festa

Justo: Rita empresta a casa, Benedito convida pra festa

Justo: Rita empresta a casa, Benedito convida pra festa

Justo: Rita empresta a casa, Benedito convida pra festa

O povo nem sempre é tão generoso com santo Antônio

como os mandatários. Quando as coisas não vão bem ou a

moça não arranja par, tira-se o menino Jesus dos braços da

imagem. Se não adiantar, ela é virada de ponta-cabeça dentro de um copo d’água. Até que os

apelos sejam atendidos.

Imagem de madeira recebia salário para dirigir infantariaImagem de madeira recebia salário para dirigir infantariaImagem de madeira recebia salário para dirigir infantariaImagem de madeira recebia salário para dirigir infantaria

Santo negro entrou em festa pagãSanto negro entrou em festa pagãSanto negro entrou em festa pagãSanto negro entrou em festa pagã

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Page 22: Almanaque Febec 16

Os mais populares (por nomeação de municípios)

1° lugar: São José 60 cidades

2° lugar: São João50 cidades

3° lugar: Santo Antônio34 cidades

Padre José Simões, outro pároco do Pilar, em Ouro Preto, não cansou de inventar contos do vigário. Para se disfarçar, deixou a barba crescer e pegou carrão emprestado. Fez um avião atrasar só para o esperar e fugiu de grandes figurões. Todas as peripécias, com ou sem a batina, eram para recuperar imagens de santos roubadas das igrejas por vendedores ou colecionadores. Morreu em 2009 com mais de 500 artigos sacros resgatados no currículo. Teve até peça que voltou do Louvre para Minas Gerais.

À frente do setor de achados e perdidos celestial está Longuinho. Mas isso só segundo os brasileiros, e folclorista nenhum desvendou a origem da crendice. Provavelmente os três gritinhos ou pulinhos em recompensa pelo objeto encontrado referem-se à Santíssima Trindade. Segundo os católicos tradicionais, o responsável pelo setor é santo Antônio.

Segurando uma lança e sobre um cavalo branco, são Jorge é o guerreiro mais cultuado nestas terras. Sem entrar no mérito da lenda que o coloca na Lua, nem a passagem do santo pela Terra pode ser comprovada. Por isso, na década de 1960, quando a Igreja fez uma reforma litúrgica para reconsiderar seus santos, colocou o padroeiro da Inglaterra e do Corinthians na lista dos “cassados”. Dom Paulo Evaristo Arns interferiu junto ao papa: “Santo padre, nosso povo não está entendendo direito a questão. São Jorge é muito popular no Brasil, sobretudo entre a imensa torcida do Corinthians, o clube de futebol mais popular de São Paulo”. Para alegria dos corintianos, a começar por dom Paulo, o santo continuou ocupando o dia 23 de abril. “Não podemos prejudicar nem a Inglaterra nem o Corinthians”, escreveu o líder máximo da Igreja.

Santo do pau ocoAlgumas igrejas mineiras ainda

guardam santos esculpidos em madeira vazia por dentro. Durante o ciclo do ouro, as

imagens eram usadas para esconder minério em pó das autoridades fiscais, sonegando as altas taxas de extração cobradas pela Coroa.

Corinthians salvou o santo guerreiroCorinthians salvou o santo guerreiroCorinthians salvou o santo guerreiroCorinthians salvou o santo guerreiro

Na boca do povo

Herói de batina levou santo de volta pra casaHerói de batina levou santo de volta pra casaHerói de batina levou santo de volta pra casaHerói de batina levou santo de volta pra casa

Só mesmo aqui santo recebe em pulinhoSó mesmo aqui santo recebe em pulinhoSó mesmo aqui santo recebe em pulinhoSó mesmo aqui santo recebe em pulinho Conto do vigário

No século 18, dois vigários de Ouro Preto disputavam a mesma imagem de

Nossa Senhora para suas paróquias. O vigário de Pilar propôs acabar com a pendenga

lançando a sorte: amarrariam a santa num burro postado entre as duas paróquias e

acatariam a direção que o animal tomasse como destino para a imagem. Assim foi feito.

Naquele dia mesmo a imagem pousou na igreja do Pilar. Mas tudo não passava de

uma esperteza do vigário local. Como o burrico era de sua paróquia,

ele bem sabia que o bicho tomaria o caminho de casa.

Sempre em alta com

agradecimentos em faixas e santinhos distribuídos pelos devotos atendidos, Expedito é o santo das causas urgentes. Em

latim, Expeditus significa disponibilidade, rapidez.

Assunto urgente? Tratar com Expedito

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56 m Santa Rita de Cássia

A maior imagem sagrada do mundo é brasileira, mas não é nem a de Padim Ciço, no Ceará, nem a de Jesus Cristo, no Rio de Janeiro. A santa Rita de Cássia recém-construída em Santa Cruz, no Rio Grande do Norte, bate as duas e não tem correspondente no planeta.

Cada um com seu padroeiro

Músicos: santa CecíliaCaminhoneiros e Motoristas: são Cristóvão

Bêbados: são MartinhoProfessores: santa Marcelina

Advogados: santo Ivo

Todos os 4 mil santos da igreja católica percorreram um longo caminho até conquistar o posto. Postuladores são

espécies de advogados que defendem os candidatos perante o Tribunal Eclesiástico. Para chegar à santidade,

é preciso passar por três categorias anteriores: servo de Deus, venerável e beato. Dois brasileiros fizeram-se

santos: frei Galvão e madre Paulina, que, apesar de nascida na Itália, cresceu em Santa Catarina. À beira do

último degrau, temos hoje o beato José de Anchieta, jesuíta que fundou São Paulo. Seu processo arrasta-se

no Tribunal desde 1602.

Há quatro séculos na filaHá quatro séculos na filaHá quatro séculos na filaHá quatro séculos na fila

VIDE BULA

A pílula de são frei Galvão é aconselhada principalmente para grávidas preocupadas com o sucesso no parto ou para casais inférteis. Porém, pode ser tomada na ânsia pela cura de qualquer tipo de mal físico ou psicológico. O frei paulista, que viveu entre 1739 e 1822, criou o “medicamento” em vida, quando procurado para auxiliar uma moça em complicada situação de parto. Deixou às freiras enclausuradas no Mosteiro da Luz, em São Paulo, a incumbência de produzir a pílula em série, para ser distribuída gratuitamente. Consiste em nada mais do que um minúsculo papel dobrado, com uma frase escrita à mão, em latim: “Depois do parto, permanecestes virgem, Mãe de Deus, intercedei por nós”. Cada envelope vem com três pílulas e a receita: é preciso rezar a novena de frei Galvão por nove dias e ingerir o “comprimido” no primeiro, no quinto e no último.

Padre Cícero Romão fez de Juazeiro do Norte o maior polo religioso da América Latina, e, por conta disso, a segunda maior cidade do Ceará. Ai de quem disser que Padim não é santo perto dos milhões de romeiros que vão a Juazeiro todos os anos. Mas a verdade é que o vigário sertanejo morreu condenado pelo Santo Ofício, proibido de rezar missa. O Vaticano não acreditava em seus milagres, achava que promovia fanatismo e se beneficiava financei-ramente da devoção popular. Só agora, 75 anos depois da morte, pensa em reabilitá-lo entre os seus – quem sabe o primeiro passo para a canonização.

Padim não era padrePadim não era padrePadim não era padrePadim não era padre

56 m Santa Rita de Cássia

Rita desbanca Cícero e RedentorRita desbanca Cícero e RedentorRita desbanca Cícero e RedentorRita desbanca Cícero e Redentor

SAIBA MAIS

Superstição no Brasil, de Câmara Cascudo

(Global, 2001).

Cada Dia Tem Seu Santo, de A. de França Andrade

(Artpress, 2000).

Brasil de todos os Santos,de Ronaldo Vainfas e Juliana de Souza

(Jorge Zahar, 2002).

Pílula milagrosa é herança do santo da casaPílula milagrosa é herança do santo da casaPílula milagrosa é herança do santo da casaPílula milagrosa é herança do santo da casa

46 m Estátua da Liberdade

46 m Estátua da Liberdade

30 m Cristo Redentor

30 m Cristo Redentor

27 m Padre Cícero

27 m Padre Cícero

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Ludoterapia

o calculista das árabias

Pala

vras

Cru

zada

s

N o s s a h o m e N a g e m a J ú l i o C é s a r d e m e l l o e s o u z a , o m a l b a T a h a N

depois de o grande calculista beremiz samir casar-se com Telassim em bagdá, seu acompanhante retornava para casa. Parou na mesma hospedaria onde ficara com beremiz, perto da mesquita de solimã. mais uma vez havia um problema para ser resolvido por lá, e o viajante se dispôs a resolvê-lo sozinho. um hóspede que chegara precisava pagar uma diária todos

os dias, e pretendia estender-se por uma semana. mas não possuía moedas – tinha apenas uma barra de ouro, correspondente ao valor total da hospedagem. deveria, com ela, pagar o mesmo valor a cada dia, sendo que a faca que havia, velha, só podia fazer dois cortes. rapidamente o amigo do calculista encontrou uma solução para a questão. sabe dizer qual é?

ac

ervo

da

fa

míli

a

respostas

ENIGMA FIGURADO erasmo Carlos.

O QUE É O QUE É? Tirar extrato.

SE LIGA NA HISTÓRIA 1d(Caipirinha); 2c(Cajuína); 3b(Chimarrão); 4a(Guaraná Jesus).

BRASILIÔMETRO 1a; 2d; 3c; 4c; 5d; 6b; 7b; 8d.

O CALCULISTA DAS ARÁBIAS a barra de ouro deveria ser cortada duas vezes, de modo a se obterem três pedaços dos seguintes tamanhos: 1/7, 2/7 e 4/7 do tamanho da barra. No primeiro dia, o hóspede paga com 1/7 da barra. No segundo, usa o pedaço de 2/7 e recebe o de 1/7 como troco. No terceiro dia, usa o mesmo 1/7 e, no quarto, paga com 4/7 e recebe de volta os dois pedaços que estavam com a hospedaria (1/7 e 2/7). Nos dois dias seguintes repete a forma de pagamento das duas primeiras diárias. No último dia, enfim, paga com o 1/7 restante da barra.

T e s T e o N í v e l d e s u a b r a s i l i d a d e brasiliômetro

quentefrio

10 2 3 4 5 6 7 8

DE QUEM SÃOESTES OLHOS?

Camila Pitanga

faBio

mo

TTa/ a

e

adaptado de Matemática Divertida e Curiosa, de malba Tahan (record, 2009).

mais importante grand slam conquistado por gustavo Kuerten, em 8/6/1997:(a) roland garros (b) aberto da austrália(c) aberto dos eua (d) Copa davis

o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7/6/1494,usava como referência para dividir o mundo:(a) antilhas (b) ilhas do Caribe(c) ilha de marajó (d) arquipélago de Cabo verde

antes de ter o nome da cidade, em 4/6/1935,o são Paulo Futebol Clube chamou:(a) guarani (b) regatas (c) Floresta (d) Palestra

em 24/6/1976, Caetano, gal, gil e bethânia estreiam o show, disco e grupo:(a) Tropicália (b) secos e molhados(c) doces bárbaros (d) doces e salgados

o b da sigla bNh, criada em 19/6/1964:(a) barateamento (b) bens (c) brasil (d) banco

local da morte do jornalista Tim lopes, em 2/6/2002:(a) estádio (b) Favela (c) Praia (d) Cassino

Primeiro edifício oficial inaugurado em brasília,em 30/6/1958:(a) esplanada (b) alvorada (c) Planalto (d) buriti

em 21/6/1970 a seleção canarinho conquista,na Copa do mundo:(a) Primeiro título (b) bicampeonato(c) Taça Fifa (d) Taça Jules rimet

1

2

3

4

b Quando chegaram à américa, os europeus perceberam que a bebida dos guaranis era um bom remédio contra a ressaca. À base de erva, seu consumo envolve um ritual.

c Feita com fruta tropical, existe na forma artesanal e em versão industrializada – ambas genuínas do brasil. dá nome à música de Caetano veloso.

d um decreto presidencial de 2003 define os ingredientes e a receita de seu preparo, além de proteger a matéria-prima fundamental da cobiça de estrangeiros.

se liga na históriaa bebida inventada por um farmacêutico. muito popular em certo estado nordestino, hoje a receita pertence a uma empresa norte-americana.

Oferecimento LEANDRO & STORMER

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o calculista das árabias

Se é sina dos chinas sair lá da China,

até em cima sairão negócios da China.

trava-língua

IMIGRANTES CRIARAM UM PAÍS MULTICOLORIDO

ocê já deve ter ouvido que o Brasil é um dos países mais miscigenados do mundo. De fato. Nesta terra há gente de todas as

origens. Mas nem sempre foi assim. Até o início do século 19, éramos basicamente três povos: descendentes de portugueses, de africanos e indígenas. Só em 1818 começaram a chegar europeus de outras partes.

O fim da escravidão, em 1888, foi o grande propulsor para a vinda de milhões de imigrantes. De início, italianos e alemães. Um péssimo negócio para os negros. Se até então eram escravos, passaram a ser homens livres, porém desempregados, jogados ao deus-dará.

A partir de então, a vinda de milhões de imigrantes da Europa e de outros cantos mudou a cara e os sobrenomes da Nação. Engajados, eles promoveram as primeiras greves por condições dignas de trabalho. Trouxeram novos pratos para incrementar a culinária brasileira. Mudaram os costumes de regiões inteiras. Calcula-se que haja 25 milhões de descendentes de italianos no Brasil, o maior número fora da Itália. Há também milhões de espanhóis, alemães, japoneses. Além de muitos outros povos: poloneses, gregos, coreanos... Ah, e apostamos que você não sabia dessa: somos o segundo país com mais descendentes de africanos do mundo. Só na Nigéria há mais negros.

V

O qUE é O qUE é?O que o tomate da macarronada foi fazer no banco?

É tradição na casa de descendentes de italianos uma bela macarronada aos domingos. Mas e se todos os 25 milhões de ítalo-brasileiros resolvessem se esbaldar com a iguaria no mesmo dia? Se cada um comesse um prato de 100 gramas, seriam necessários 10 milhões de pacotes de 500 gramas para alimentar toda essa gente. É muita coisa! Se juntássemos a extremidade de uma embalagem com a outra, daria para percorrer a distância entre São Paulo e Brasília. Mamma mia!

JÁ PENSOU NISSO?

A imigração ao Brasil é um fenômeno que continua a acontecer. Se antes

o maior número era de europeus e asiáticos, agora há um grande contingente de bolivianos que vêm ao País em busca de uma

vida mais digna. O destino principal é São Paulo. Estima-se que 200 mil bolivianos vivam na cidade. Assim como os imigrantes do passado, eles também sofrem com o preconceito. Mas mantêm suas tradições, o idioma e o orgulho de um povo milenar. O principal ponto de encontro desses imigrantes é a Praça Kantuta, um pedacinho da Bolívia em plena pauliceia.

¡HOLA!

soluçÃo Na P. 24

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Todos os Cantos Textos, fotos e ilustrações de Heitor e Silvia Reali

ara começar, foi preciso retroceder 151 anos. Ao folhear as páginas amareladas de um velho diário de bordo que hoje

integra o acervo do Museu Imperial de Petrópolis, o historiador alagoano Jairo de Oliveira encontrou inspiração para criar um roteiro inusitado. O nobre caderno está preenchido com ano-tações precisas e até desenhos de punho do imperador dom Pe-dro 2°. Em 1859, sua Alteza embarcou no navio Pirajá, “às pró-prias custas”, e navegou por quatro meses e 11 dias pelo rio São Francisco, de Penedo a Piranhas. Em companhia da imperatriz, Tereza Cristina, alguns ministros e muitos escravos, cruzou os estados de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e da Bahia.

Assim que a comitiva imperial era avistada navegando perto

da cidade, uma queima de fogos anunciava sua chegada. De-pois do desembarque, começavam os discursos, as declamações de poemas, a entrega das chaves e a celebração de uma missa solene. “Sempre com a participação em peso da comunidade”, anotou satisfeito o monarca.

Em todos os vilarejos, Pedro visitava o convento, o hospital, o cemitério, a prisão. E também a escola, onde sabatinava tan-to alunos quanto professores. Depois anotava tudo tintim por tintim. Ao todo, foram 43 cadernetas recheadas de impressões sobre a vida econômica, política, cultural e social. Considerava as notas essenciais para a compreensão histórica de um gover-nante “que deveria ir para além dos entornos da corte”.

CRUZEIRO IMPERIALd e P e n e d o a P i r a n h a s

Mais do que navegar pelo rio São Francisco, de Penedo a Piranhas, esta viagem refaz um trajeto

histórico e remete a um passado quase perdido no tempo.

P

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Viagem na viagemO bisneto de Pedro 2°, João de Orleans e Bragança, fotógrafo, ecologista, dono de hotel em Paraty e ele mesmo grande viajan-te, aceitou de imediato o convite do historiador Jairo para fazer o mesmo percurso feito pelo bisavô um século e meio atrás. Em-barcaram todos em Penedo, num navio escoltado por dezenas de barcos e pequenas embarcações em festa.

O primeiro desembarque foi na embandeirada Propriá, onde anunciaram a chegada do príncipe com ruidoso foguetório. João observou com olho agudo a paisagem: “A região aqui é privile-giada. Meu bisavô dormiu nesta casa que ainda está bonita, mas em volta dela já há casas que se desfiguraram. É preciso cuidar do patrimônio histórico, arquitetônico e cultural. E também do São Francisco”.

O príncipe se emocionou ao ser recebido pelos índios Cariri-xocós em Porto Real do Colégio. Eles, por sua vez, também ficaram felizes – era a primeira vez que os convidavam para um aconte-cimento na cidade. Na parada seguinte, Pão de Açúcar, Pedro 2° anotou: “Soltaram foguetes no ar, deram-me um cavalo, segui por imensa gente. Vi um belo juazeiro sob um sol ardentíssimo. No caminho, um dos alunos, entusiasmado, gritou: ‘Viva o Impera-dor, que não mais hei de vê-lo’. ‘Por que não?’, replicou outro. ‘Porque já sabe o caminho...’”

PRESTE ATENÇÃO

Atente para as embarcações que navegam de-lá-pra-cá no Velho Chico. Há de saveiros a

borboletas, pequenas canoas com velas que de tão ágeis parecem voar sobre as águas da foz. E também a hoje rara canoa de tolda (foto), com suas velas de origem asiática, além da peculiar taboa de bolina, com uma espécie de leme que

fica na lateral da embarcação.

Na linha do tempoEm Entremontes, o imperador comentou que o sol era de “tor-rar pão-de-ló” e, em Piranhas, “que as casas tinham um aspecto tristíssimo sob aquele solão”. Gostava muito dos aumentativos. Os ramos do archeiro, espécie de cactus usado como tocha, ilu-minavam as noites no Pirajá. Saboreou pequi e, infatigável, de-teve-se para observar emas e periquitos, maritacas e xexéus nas belas árvores de flores amarelas, as craibeiras.

Em uma linha do tempo, Pedro e seu bisneto João se depa-raram com desigualdades sociais que perduram. Para ambos a viagem foi um marco. Se Pedro sonhou com um projeto de inte-gração nacional, João destaca a importância de nosso idioma: “É único em um território tão imenso e nosso maior bem. Aqui está uma forma de integração”.

E as crianças que lhe cruzaram o caminho, o que concluíram? “Pensei que ele vinha de manto vermelho e cajado. Ele mesmo carregava sua maleta, que era bem pequenininha. É um príncipe simples”, disse uma. Já Tamara, vestida de princesa para recep-cioná-lo na singela Traipu, confirmou o que todos desejavam: “O príncipe ficou feliz de ver nossa quadrilha. Voltou mais rico com os presentes que demos a ele”. E fez questão de esclarecer: “Tô exagerando, não. Foi ele mesmo quem disse que eram o seu maior tesouro”.

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O ROTEIRO TEM MAIS

Cachoeira do LajadãoÉ quase miragem do sertão: a queda d’água passa pelo rochedo, despenca de uma altura de 20 metros e forma uma refrescante piscina cor de âmbar. Tão revigorante naquele calorão que talvez seja a verdadeira fonte da juventude.

Museu de arqueologia de Xingó O acervo do MAX, composto de peças encontradas durante as escavações para a construção da hidrelétrica de Xingó, fornece ao visitante uma boa ideia de como viviam os nordestinos pré-históricos. Nas amplas salas estão expostas réplicas de desenhos rupestres, objetos de cerâmica e instrumentos feitos de rocha, como lanças, raspadores e lâminas para machado, além de adornos, colares e potes.

Trilhas e caminhos Uma das maneiras mais prazerosas de conhecer as diferentes espécies de cactos, vegetação resistente que se instala nas íngremes rochas, é caminhar pelas trilhas do Talhado, do Vale dos Mestres ou as da fazenda Mundo Novo. No caminho observam-se também pequenos roedores e aves. Nesta última trilha diziam que Maria Bonita se banhava em uma espécie de banheira natural, que acumulava água da chuva.

Do sumo da jaca, maracujá, cajá, caju, que dão essa rima tão gostosa, as doceiras de mão cheia da região

fazem uma cocada especial, com um quê azedinho para cortar um pouco o doce. Mas não se engane: é preciso

botar muito açúcar “prá mó de” apurar o caldo.

NÃO DEIXE DE PASSEAR

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SERVIÇO

onde ficarXingó Parque Hotel • Se hotéis europeus costumam deixar na recepção uma cestinha com maçãs, as boas-vindas deste recanto são em forma de perfumadíssimas cestas de goiabas recém-colhidas. O hotel fica de frente para as águas da represa. Fone: (79)3346-1245. www.xinguparquehotel.com.br.onde comerSabor do Sertão • Delícias como galinha de capoeira, tilápia do sertão e guisado de carneiro são acompanhadas por farofa com farinha de Itabaiana, feijão-verde e quiabada. Tudo em generosas porções. Fone: (79) 9963-5811.

Tabaréu • Entre as melhores receitas da chefe de cozinha Vânia, estão a costela ao tabaréu e o tucunaré frito. No cari assado, o peixe de sabor suave que dá nome ao restaurante é coberto por queijo coalho e servido com cremoso purê de macaxeira ou pirão de leite. Escolha uma das mesas debaixo das frondosas árvores, com deliciosa e constante brisa. Fone: (79) 9949-6765.onde comprarEngenho da Terra • A loja do Aeroshopping de Aracaju tem o melhor do artesanato sergipano em peças como rendas, imagens de santos esculpidas em madeira, redes e xilogravuras. Fone: (79) 3212-8592.

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Saúde in Natura Oferecimento Ceagesp

HÁ MILÊNIOS, UM SANTO REMÉDIOC E N O U R A

Muito antes de Cristo a humanidade já conhecia os valores que essa raiz tem. A cenoura

era usada para curar os mais variados males. Atravessou séculos, mudou de cor e ainda é

considerada um dos alimentos mais saudáveis que há.

uase não há parte do organismo humano que passe incólume às propriedades da cenoura. O consumo be-neficia pele, cabelos, mucosas e sistema imunológico.

Faz um bem danado para a visão. Auxilia a prevenir o reumatis-mo e ainda ajuda a regular o sistema nervoso e o aparelho diges-tivo. Bastam 100 gramas por dia para satisfazer a necessidade de vitamina A de um indivíduo adulto.

Há quem acredite que cure qualquer problema de visão. De fato, a ciência prova seus benefícios, mas algumas pessoas pas-sam do ponto. Dizem que combate miopia e catarata. Outras, mais exageradas, apregoam que a raiz pode fazer cegos voltarem a enxergar. O consumo de cenoura realmente é importante para a visão na infância, pois o legume possui betacaroteno, substân-cia que origina a vitamina A, uma das responsáveis pela formação das funções visuais. Mas, sozinha, a cenoura não é garantia de que não haja miopia ou catarata, pois fatores hereditários e dege-nerativos são os principais causadores desses problemas.

A história da cenoura é milenar. Começou a ser cultivada na

região do Afeganistão 500 anos antes de Cristo. Considerada um santo remédio, era usada como planta medicinal para combater diversos males. Depois conquistou a Europa e, mais tarde, a Amé-rica. Mas foi só durante o século 16 que ganhou um aspecto mais próximo do que conhecemos hoje. Até então cenouras não eram alaranjadas. Tinham cor vermelha, branca ou amarela. Foram os holandeses que desenvolveram a variedade mais assemelhadas às cenouras que ocupam hoje nossos pomares.

Na hora de cozinhar, caso se deseje preservar os nutrientes, é importante não descascá-la. A casca é fundamental para reter os benefícios que a cenoura traz. Sua proteção natural ainda ajuda a emagrecer, pois tem uma quantidade elevada de fibras. Não é preciso descascá-la nem para preparar o popular bolo de cenoura.

O bolo de cenoura, aliás, vive há séculos na mesa dos brasileiros. Houve um tempo em que não havia vovó que não tivesse uma re-ceita só dela. Hoje, para aplacar a carência, quem tiver com falta de imaginação pode recorrer à internet. Lá existe um site especializado nessa delícia. O endereço? www.bolodecenoura.com.br.

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Ingredientes

Massa1 cenoura ralada200g de ricota 1 clara de ovo 2 colheres de sopa de farinha de trigoSal a gosto

Recheio2 colheres de chá de azeite 1 cebola picada1 maço de espinafre cozido1 colher de sopa de farinha de trigo 1 xícara de chá de leite desnatado 1/2 xícara de chá de creme de leite light Tomate cereja para decorar

RECEITA

TORTA DE CENOURA E ESPINAFRE

GARANTIA DE BOM BRONZEADO

Dermatologistas recomendam que se coma ao menos três cenouras por dia para buscar o bronzeado ideal. O consumo de cenoura e outros vegetais ricos em betacaroteno estimula a pele a reforçar a coloração do bronzeado. E também ajuda a bloquear parte dos raios ultravioletas agressivos à epiderme. Para que surta efeito,os especialistas indicam que se consuma esses alimentosa partir de um mês antes de se expor ao sol.

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preparo

MassaColoque numa tigela a ricota, a cenoura, a clara e a farinha de trigo. Misture tudo. Num refratário, espalhe um fio de azeite e acrescente a massa moldando-a até as bordas.Leve ao forno para assar por 15 minutos.

RecheioDoure a cebola no azeite e refogue o espinafre.A seguir, acrescente a farinha de trigo e o leite. Misture até encorpar. Retire do fogo e acrescente o creme de leite.Retire a massa do forno, coloque o recheio e decore com os tomates cereja.

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H á séculos, em Portugal se prepara um doce um tanto popular: a geleia de cenoura.

Acontece que a Comunidade Europeia considera que para a geleia gozar de livre comércio entre os países-membros tem de ser feita de fruta. Com um belo jeitinho português, os europeus decidi-ram: cenoura agora é fruta.

NA EUROPA, CENOURA É FRUTA

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Crua é mais saudávelCozinhar a cenoura com casca ajuda a conservar os nutrientes, mas prefira consumi-la crua caso queira manter todo o potencial que a raiz tem. Pode ser ralada ou em pedacinhos pequenos, o que deixa o legume mais gostoso. Os benefícios vão desde manter a saúde bucal até aliviar problemas pulmonares.

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Rir é o melhor remédio

SABE COM QUEM ESTÁ FALANDO?Dia de prova de concurso público, 100 candidatos na sala, inspetor chato, impaciente e louco parair embora. – Dez em ponto a prova termina, e quem não entregar até essa hora não entrega mais! Às 10h10, um candidato corre com a prova na mão até a mesa do inspetor, que já estava pronto para se retirar. – Eu avisei que não aceitaria provas fora do horário. Esqueça! – Mas o senhor por acaso sabe com quem está falando? – Não faço a menor ideia – responde, sarcástico.O candidato, então, levanta a imensa pilha de provas, enfia a dele no meio,dá uma embaralhada e conclui: – Que bom!

GURU ESPERTOO malandro encontra um guru religioso na praça:– Quanto é a eternidade parao senhor?– O mesmo que um segundo.– E quanto é um milhão de reais?– O mesmo que um centavo.– Ah, é? Então me empresta um centavo?– Claro. Só espera um segundo.

MACHO OU FÊMEAO mineirinho entra numa loja de ferragens e pede uma tomada. O vendedor pergunta:– Pois não, o senhor quer tomada macho ou tomada fêmea?E o mineiro:– Ô moço, acho que tanto faz. Nóis qué uma tomada pra acender a luz, não pra fazer criação.

INCENDIÁRIOUm maluco telefona para o corpo de bombeiros, informando que está pegando fogo no hospício.Menos de 10 minutos depois, olha as viaturas chegando ao local. Os bombeiros saltam do carro e o comandante pergunta:– Onde é o fogo?E o louco:– Vocês vieram tão depressa que eu ainda nem acendi!

CAVALO FALANTEO marido está no sofá, lendo o jornal, quando a mulher lhe dá uma bela pancada na cabeça com a frigideira. Espantado, ele pergunta o motivo. Ela responde:– Achei um papelzinho no bolso da sua calça escrito “Lelica” e um número!– Mas querida... Lembra quando fui ao jóquei? Lelica foi o cavalo no qual apostei, e o número é o quanto se pagava pela aposta.Envergonhada, a mulher pede mil desculpas.Na semana seguinte o marido recebe uma nova pancada. Ainda mais espantado, pergunta:– O que foi dessa vez?!– Seu cavalo ligou!

CAFEZINHOO cidadão, completamente bêbado, entra num bar e pede um café. No momento em que é servido, pergunta, enrolando a língua:– E o açúcar, quanto é?– O açúcar é de graça, senhor.– Ah, é? Então me dá três quilos.

RIQUEZA E POBREZAO filho pequeno pergunta ao pai:– Paiê, qual é a diferença entre a riqueza e a pobreza?– Ah, meu filho... A riqueza é o caviar, o champanhe, as belas mulheres...– E a pobreza, papai?– Bem, a pobreza é a carne de segunda, a cachaça e a tua mãe.

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CONVERSA DOS BICHOS

equinha, menino de uns 10 anos de idade, era na fazenda do meu pa-drinho o que se pode chamar de

“charrete boy” – o menino que com a charrete do fazendeiro vai buscar as coisas ou as pessoas na cidade.Pois naquele dia o Zequinha tinha ido buscar na cidade o padre Antônio. Era iniciante e tinha uma particularidade que só se descobriu depois: era ventríloquo. Logo de saída o padre pergunta se era longe a tal fazenda, ao que o menino responde que levaria uns pares de horas.Padre – Ô, menino! Você sabia que os animais conversam com a gente? Você quer ver os animais conversando comigo?Zequinha – Ara, sêo padre. Essa eu tô pagando pra vê. O sinhô me

adiscurpa, mas num querdito.Padre (falando para a égua) – Dona eguinha! Está muito pesada a charrete? (E faz a voz da égua sem abrir a boca) Tááá... sêo padre.Zequinha (gaguejando) – Sêo... padre... a égua falô... eu escuitei...

Padre – Todos os animais conversam com a gente...E assim o padre Antônio foi se divertindo com a surpresa encan-

tada daquele caboclinho. A viagem, que poderia ser longa, terminou logo, logo. Ao se aproximar da fazenda, eis que se deparam com várias cabras, bodes e cabritas que pastavam na grama verdinha. O menino estanca com as rédeas a eguinha, olha para o pároco e, apontando para uma das cabritinhas, diz:Zequinha – Óia, sêo padre! O sinhô tá vendo aquela cabrita branca ali na grama? Num querdite em nada que ela falá pro sinhô, viu?!

Z

causos de Rolando Boldrin

NA AULA DE QUÍMICAA professora pergunta para o Joãozinho:– Joãozinho, o que acontece com o ferro se é deixado à chuva e ao sol?– Ele enferruja, professora.– E com o ouro?– Ih, fessora, some rapidinho!

ANATOMIA HUMANADepois de uma longa explicação, a professora confere se a turma entendeu a matéria: – Juquinha, em quantas partes se divide o crânio?– Depende da pancada, professora.

QUE MEMÓRIA!Num distante rincão da Amazônia havia um índio famoso pela extraordinária memória. Em visita à sua tribo, um turista foi conferir:– O que você comeu na manhã de 12 de outubro de 1977?– Ovos.Como só era permitida uma pergunta por pessoa, o turista foi embora. Sete anos depois, num passeio por Paris, ele tromba com o mesmo índio. No susto, exclama:– Mas como?!– Fritos.

ACELERA!Dois pedreiros trabalhavam na cobertura de um prédio de 49 andares quando um deles perdeu o equilíbrio e caiu. O companheiro, desesperado, esticou o pescoço e gritou:– Acelera, Zezinho, que vem um tijolo aí atrás!

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Muito Obrigado

QUEM JÁ ENFRENTOU O CÂNCER CONHECE O VALOR DA LUTA

Por Odete Spalaor de Favere

s vezes eu acho que tumor tem a ver com desgosto.

Nasci em Tabatinga, pequena cidade do estado de São Paulo, e sempre morei em sítio, longe da cidade. Mas há pouco mais de 10 anos meu pai adoeceu e vim para o centro cuidar dele. Acabei perdendo meu pai, e também um irmão. Foi depois disso que os problemas de saúde começaram, quem sabe por causa dessa amargura. Minha vida não foi fácil. Nessa época eu costurava para fora – aqui em Tabatinga há muitas fábricas de bichinho de pelúcia. Percebi que estava com corrimentos, que depois viraram hemorragia. Passei por vários médicos, mas nenhum encontrou problemas e acabaram me tratando como se eu tivesse algum problema de hormônios. Até que um doutor abençoado pediu que eu fizesse alguns exames. Assim que o resultado chegou, ele me avisou: “Você tem que ir para Jaú urgente”.

A cerca de 100 quilômetros de Tabatinga, Jaú tem o maior hospital de oncologia da região, o Amaral Carvalho. E que ma-ravilha de hospital. Os enfermeiros e doutores nos tratam com uma educação e com um cuidado que dá gosto de ver. Aos 64 anos, eu tinha passado a vida toda trabalhando no sítio, sem nunca ter tido um problema sério de saúde. Nove anos depois, ainda sei na ponta da língua a data da cirurgia: 21 de janeiro de 2002. Eu estava fraca que só vendo. Não sei nem como aguentei

o procedimento. Essas coisas são complicadas, então fiquei no hos-

pital durante quase uma semana. Graças a Deus e às mãos dos cirurgi-

ões, deu tudo certo.Por seis anos eu frequentei o Amaral

Carvalho. Primeiro a cada mês, depois a ca-da dois meses, a cada quatro. Agora minha

vida é mais tranquila. Meu marido anda com algum problema de saúde, mas sabe como é: não quer ir ao médico de jeito nenhum. Acho que tem medo. Nós dois vivemos com nossas aposentado-rias e, como aluguel no centro não é nada barato, ainda faço al-guns trabalhos. É mais um dinheirinho que entra. Agora estou trabalhando na casa de uma senhora que está doente e precisa de alguém para ajudar e fazer companhia.

Desde o meu próprio tratamento, conheci a liga de combate ao câncer de Tabatinga e tornei-me voluntária. A associação me ajudou sempre que precisei, fosse com cestas básicas especiais, encaminhamento a médicos ou pagamento de exames. Agora que posso retribuir, participo de bazares e eventos, vendo almo-ço para reverter a verba para a entidade e o que mais estiver ao meu alcance. É preciso lutar para que a associação tenha renda e o trabalho não acabe. Faço questão de entrar nessa batalha, porque quem já passou por isso sabe bem como é importante cuidado e atenção num momento tão difícil da vida.

À

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SSaiba mais pelo telefoone (14) 336244.33854 ouu contato@@febec.orrg.br

Auxiliar pacientes carentes com câncer e seus familiares por meio de eventos beneficentes. Este é o objetivo do Circuito Amaral Carvalho e Febec de Leilões, realizado por ambas as entidades desde 2009, arrecada fundos para a luta contra a doença.

Até fevereiro deste ano, mais de 10 eventos foram promovidos pelo grupo que busca, primordialmente, o bem-estar social. Mas a Fundação Amaral Carvalho e Febec não estão sozinhas nesta tarefa: vários grupos de voluntários abraçaram a causa e estimulam a participação do público em suas cidades, além de se tornarem peças fundamentais na elaboração das festas.

Participe também, você estará ajudando a combater o câncer no Brasil.

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