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DIA SEM COR Tiago Santos
1 | P á g i n a
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SUMÁRIO
Introdução..........................................................................................................05
1 O Caráter da Crise..........................................................................................07
1.2 A Sintomologia..................................................................................09
2 As Formas de Superação, Intervenção e Ajuda............................................11
3 “Psicologizando” a instituição Igreja...............................................................15
3.2 O Que Há de Errado Com a Psicologia?...........................................18
3.3 Aconselhamento Bíblico....................................................................20
Conclusão..........................................................................................................23
Referências Bibliográficas.................................................................................24
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“Levem os fardos pesados uns dos outros e, assim, cumpram a lei de Cristo.”
Gálatas 6.2
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INTRODUÇÃO
Para algumas das crises que surgem no âmbito familiar, algumas
famílias criam seus próprios mecanismos de defesa e meios para superar estes
tempos difíceis, conseguindo sobrelevar-se ao momento de crise de maneira
muito ou pouco penosa. Existem crises, porém, que dificilmente são superadas
sem ajuda externa e, não são poucos os casos que se veem de famílias que
são destruídas ou marcadas profundamente porque em um momento de
conflito não tiveram alguém próximo que pudesse auxiliá-las.
O fato é que não existe nenhuma família, mesmo aquelas mais
solidamente estruturadas na fé cristã, que não tenha que enfrentar momentos
de crise. Algumas igrejas oferecem esta estrutura de apoio às famílias, muitas
delas, porém, tem este trabalho restrito aos casais, outras, no entanto, estão
sendo despertadas para a necessidade de estender este apoio a outros casos
e, não limitá-lo apenas aos casais em crise. Afinal de contas, não são apenas
as tensões do casamento que levam as pessoas à crise pessoal, existem
diversos temas que poderiam ser abordados nessa área como: tendências
suicidas, distúrbios sexuais, depressão, bipolaridade, doenças graves, morte
de um ente querido e outros intermináveis assuntos. Todas essas pessoas
precisam de palavras de esperança, encorajamento e orientação ao se
depararem com esses dilemas da vida.
O mundo moderno tem contribuído no crescimento dos conflitos
familiares, atribuindo crises novas e dificultando na solução das crises naturais.
Um bom exemplo é o individualismo extremado. As pessoas acreditam que não
precisam prestar contas de seus atos ou mesmo cumprir com seus princípios e
obrigações, obviamente esta tendência hedonista e esse desejo violento de se
“libertar” da solidariedade alcança o matrimonio, a relação entre pais e filhos e
por fim toda a sociedade. A falta de alicerces espirituais tem enfraquecido o
indivíduo e as famílias; o relativismo, pragmatismo e outras doenças filosóficas
dessa época tem levado a sociedade a uma atrapalhação generalizada. O
excesso de trabalho, o estresse e outros males deste século reforçam a teoria
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de que a modernidade tem agregado complicações ao indivíduo e lançado
obstáculos para as soluções dos conflitos familiares.
Em outros momentos, famílias que haviam estabelecido projetos futuros
são pegas de súbito por alguma tragédia ou perda que desestabiliza o âmbito
familiar.
Em suma, os assuntos abordados nesta obra têm como objetivo
introduzir, de maneira lacônica, os aspectos da psicologia e do
aconselhamento pastoral em situações de crise.
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1. O CARATER DA CRISE.
A crise se caracteriza por um tempo de desequilíbrio na vida de um
indivíduo que vai leva-lo a necessidade de mudança ou tomada de decisão
crucial à sua vida.
Todas as pessoas passam por momentos de crise em sua vida e o modo
como encaram essa condição varia de pessoa pra pessoa. A crise em si, se
qualifica por circunstancias adversas que se apresentam a vida, por mudanças
súbitas, perdas significativas, eminentes ameaças (à saúde, a estabilidade
financeira e etc), conflitos nas relações pessoais, desastres naturais como
furacões, terremotos e enchentes; acidentes, perda de um ente querido, entre
outros diversos fatores e causas.1 A crise é um estado temporário de
desiquilíbrio e transtorno, quando há a incapacidade do indivíduo, família ou
sociedade de resolver um conflito/problema usando os recursos que dispõem.
A crise tem o potencial de gerar transcendência e transformação positiva na
vida de um indivíduo ou causar um resultado radicalmente negativo e
traumático.2
A crise não representa uma doença, ela faz parte da experiência humana
universal, é a forma natural em que se reage ante as ameaças que não se
podem controlar, sejam elas externas ou internas.
“As crises representam um perigo quando não se processa a
dor, quando as pessoas perdem a confiança em si mesmas, quando se
isolam e ficam paralisadas perdem a confiança em si mesmas frente à
vida.”3
1 MALDONADO, Jorge E. Intervenção em crises. In: SANTOS, Hugo N. (Org.). Dimensões do Cuidado e do
Aconselhamento Pastoral. CETELA/ASTE : São Leopoldo/São Paulo, 2008, p.155. 2 SLAIKEU, Karl A. Crisis Intervention: A Handbook for Practice and Research. Boston: Allyn an Bacon,
1990, p. 15. 3 Maldonado, 2008, p158.
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Uma experiência de crise não se define pelo simples causo ocorrido, mas
sim pela maneira enervante que o individuo encara a circunstância e o modo
como isso o desestabiliza diante da crise.
“A experiência de crise consiste na combinação de significados,
ideias, sentimentos e processos que excedem a capacidade que uma
pessoa ou família tem para lidar com uma situação em um momento
dado. Uma pessoa ou uma família entra em crise também quando
percebe um acontecimento, situação ou estímulo como
inesperadamente devastador (a morte súbita de um ente querido, por
exemplo). Neste caso, o tempo que transcorre entre o impacto da
notícia e a vivência da crise pode ser mínimo. Uma crise também pode
ser desencadeada quando se interpreta uma situação como algo
sumamente ameaçador (um divórcio, por exemplo). Diante do perigo
percebido como demolidor, as pessoas entram em colapso e/ou não
encontram um caminho efetivo para enfrenta-lo. As crises acontecem
quando os recursos habituais ou extraordinários se mostram ineficazes
para lidar com a situação, permitindo que a tensão aumente até
exceder a capacidade da pessoa ou do sistema familiar.”4
A crise e sua resolução dependem de uma combinação de diversos fatores,
mas é possível concluir que uma pessoa segura, flexível, que conta com o
apoio de pessoas como: a família, a igreja, a comunidade e etc, encontram-se
melhor equipadas para enfrentar as crises. Todavia, uma pessoa que não
dispõe dos mesmos recursos está à mercê do perigo.
As crises nem sempre apresentam-se de maneira repentina e inesperadas,
elas podem ser crises emergenciais ou acidentais. A crise de desenvolvimento
é aquela que pode ser mais ou menos previsível, que acompanha o processo
de maturação de uma pessoa, como, por exemplo, a fase da adolescência, a
menopausa, os filhos saindo de casa (por causa dos estudos ou casamento), o
mesmo serve para os filhos que estão deixando a casa dos pais, a meia idade,
a velhice, um filho novo que chega (pela gravidez ou por adoção) e etc. A
4 Maldonado, 2008, p. 159.
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transição destes estágios da vida também podem acarretar em períodos de
crises pessoais e familiares.5
Ao contrário das crises de desenvolvimento, as crises emergenciais são
inópias e imprevisíveis, tais como: perda de uma pessoa por morte ou divórcio,
amputação de um órgão, aquisição de uma dependência física, suicídio, perda
do emprego, gravidez indesejada, entre outros.
1.2 A SINTOMOLOGIA.
Como já dito antes, a crise não pode ser caracterizada como doença, não
trata-se de um distúrbio mental, mas uma reação normal a uma fase da vida.
Contudo, isso não significa que uma crise não possa causar problemas
psicológicos.
“(...) A intensidade da crise depende do momento em que o
circuito mental/emocional fica sobrecarregado. Poder-se-ia comparar o
fenômeno da crise com um curto-circuito elétrico desencadeado pela
sobrecarga de consumo de energia.
Há pessoas que na crise perdem completamente a noção dos
fatos. Algumas, numa atitude de defesa (dissonância cognitiva), deixam
de perceber a realidade e agem como se as coisas não estivessem
acontecendo com elas.” 6
A crise representa uma ameaça à vida e por conseguinte trás consigo um
sentimento de perda. A crise pode provocar uma regressão, uma busca
acerbada por segurança e proteção, o que pode fazer com que a pessoa fique
dependente daquelas em quem ele deposita sua expectativa de socorro. A
crise também aumenta a sensibilidade psicológica e deixa a pessoa mais
acessível às intervenções externas, tornando-as mais vulneráveis e
influenciáveis.
5 HOCH, Lothar Carlos. A crise pessoal e sua dinâmica. Uma abordagem a partir da psicologia pastoral.
In: SANTOS, Hugo N. (Org.). Dimensões do Cuidado e do Aconselhamento Pastoral. CETELA/ASTE : São Leopoldo/São Paulo, 2008, p.144. 6 Hoch, 2008, p. 146.
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Ainda outras esferas podem ser afetadas em um momento de desequilíbrio
na vida de uma pessoa. Fisicamente uma pessoa pode desenvolver úlceras, ter
dificuldades para dormir, desenvolver complicações cardíacas;
psicologicamente pode mudar seu modo de se comportar e se relacionar com
as pessoas, tornar-se agressiva, ter depressão; e espiritualmente pode mudar
sua relação com a Igreja (podendo inclusive diminuir sua frequência ou mesmo
abandonar a congregação), romper com convicções e valores ou mesmo
buscar novas filosofias de vida e outros ofertas religiosas.7
A crise é um momento de incerteza e de caos existencial, contudo, é correto
afirmar que ela pode ser benéfica e ajudar do processo de crescimento e
amadurecimento quando superada. Mas por razões óbvias, ela só poderá
afirmar isso na retrospectiva, depois que o pior (ou o total) da crise tiver
passado.
7 Hoch, 2008, p. 148.
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2 AS FORMAS DE SUPERAÇÃO,
INTERVENÇÃO E AJUDA.
É importante reconhecer que o tempo de crise pode ser um momento
estratégico na vida de uma pessoa. Pode ser uma oportunidade única de
crescimento e aprendizagem, que podem depender do tipo de intervenção à
crise que será tomada.
É bem verdade que algumas pessoas têm em si uma capacidade diferente
de superar as dificuldades da vida, de se recompor após uma crise e continuar
projetando seu futuro a despeito das dificuldades que tenha enfrentado.
“Essa capacidade de proteção, permite a „uma pessoa, um
grupo ou uma comunidade impedir, diminuir ou superar os efeitos
nocivos da adversidade‟.8 Implica tentar transformar intempéries,
momentos traumáticos e situações difíceis e inevitáveis em novas
perspectivas.” 9
A resiliência é essa capacidade de superação, de vencer as provas da vida.
A resiliência pode se desenvolver a partir das condições e situações externas.
“A resiliência é a capacidade que todo ser humano tem, em
maior ou menor medida. É um recurso que é, em parte, inato, mas
também se adquire ao longo do tempo, pois a resiliência, como diz
Cyrunlik10
(1999), „se tece‟ durante todo o ciclo da vital.”11
Pessoas e instituições que se preocupam em motivar e trabalhar a
capacidade de superação podem promover a resiliência.
8 THEIS, Amandine. In: MANCIAUX, 2003, p.50.
9 ROCCA, Susana. Resiliência: uma perspectiva de esperança na superação das adversidades. In: HOCH,
L.C., ROCCA, S.(Orgs.). Sofrimento, Resiliência e Fé. Implicações para as relações de cuidado. São Leopoldo : EST/Sinodal, 2007, p.10. 10
CYRUNLIK, Boris é neuropsiquiatria, psicanalista, etólogo, diretor de docência na Universidade de Toulon, França. 11
Rocca, 2007, p. 12.
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Esses fatores externos podem contribuir para a superação das dificuldades,
contudo, não são garantias absolutas de sucesso em todos os tempos.
“A resiliência não é uma realidade alcançada para sempre, não
é absoluta, mas dinâmica. Por isso, não se deveria dizer que uma
pessoa é resiliente, ou não é resiliente, já que cada um tem momentos
e circunstâncias da vida que se consegue lidar melhor com as
dificuldades”12
Existem alguns ambientes que podem promover a resiliência. Um dos
principais é o papel do tutor de resiliência ou a rede de proteção (grupo de
pessoas ou instituição) na acolhida e na escuta. Pesquisas apontaram que
após sofrer uma crise, as pessoas que se abriram, mas não se sentiram
ouvidas, reviveram a sensação do trauma, o contrário aconteceu com os que
se sentiram receptivos ao compartilhar seu trauma, sentiram-se fortalecidas e
motivadas para encarar a situação e superá-la.13 A falta de apoio nessa área
pode-se dar através da dificuldade do indivíduo em querer se abrir e contar seu
problema ou também dá-se por simplesmente não ter uma rede de proteção
com quem possa contar.
Outro fator é a aptidão pessoal desse indivíduo. A resiliência pode estar
estreitamente ligada a boa autoestima e a capacidade da pessoa ser sociável
(o que contribuiria para a formação de contatos para a rede de proteção desse
indivíduo).
“Essa capacidade de aceitar e até rir do que é imperfeito
demonstra a faculdade psíquica de tomar distância do assunto,
permitindo lidar melhor com a dificuldade, pois, olhando desse outro
ângulo, é possível enxergar diferente e com menos sentimento a
realidade que faz doer. Para isso, é importante o clima afetivo e de
confiança que há no encontro. Essa capacidade de criatividade na
leitura e na verbalização dos fatos com bom humor também se vê
favorecida pelas atividades artísticas e lúdicas, sendo dança, a música,
a poesia, o espírito celebrativo, assim como o jogo de palavras, ou
12
Rocca, 2007, p. 12. 13
Rocca, 2007, p. 18.
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outro tipo de jogos, instâncias propícias para a promoção da
resiliência.”14
Neste aspecto, Roseli Kühnrich apresenta os benefícios da arte-terapia,
que segundo ela, juntamente com a fé, o humor e a criatividade, soma-se a
estes recursos já mencionados, como as redes de proteção.15
“Ao usar o hemisfério cerebral direito, que é intuitivo, ligado à
emoção e produção artística, e não apenas o hemisfério esquerdo,
ligado aos aspectos racionais e analíticos, a pessoa vai tomando
consciência de si mesma, passando a se ver de maneira nova, mais
“congruente” (...)”16
Ainda segundo Roseli, a arte-terapia não só humaniza o tratamento
psiquiátrico como também devolve o valor ao paciente, com base no afeto e
atenção entre cuidador e paciente que a arte-terapia oferece.
Considera-se um âmbito favorável à resiliência a espiritualidade, a
filosofia de vida e a fé religiosa. “A religião e a espiritualidade podem ser
recursos terapêuticos poderosos para a recuperação, cura e resiliência.”17
Contudo, há um alerta para a importância do conhecimento da psicologia no
aconselhamento:
“Quem intervém em uma crise deve conhecer sua capacidade
para lidar com o estresse, para estabelecer limites e para acompanhar
sem fazer sermões, moralizar, julgar ou pressionar. Também deve ter
uma noção clara de quando um caso ultrapassa sua capacidade de
lidar com ele a fim de encaminhá-lo a um profissional ou a um
especialista.”18
14
Rocca, 2007, p. 20. 15 KÜHNRICH DE OLIVEIRA, Roseli M. Implicações para as relações de cuidado. In: HOCH,L.C., ROCCA,S.
(Orgs.). Sofrimento, Resiliência e Fé. Implicações para as relações de cuidado. São Leopoldo :
EST/Sinodal, 2007. 16
Roseli Kühnrich, 2007. 17
WALSH, Froma. Fortalecendo a Resiliência Familiar. São Paulo: Roca, 2005, p.7. 18
Maldonado, 2008, p. 156.
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Há casos em que o conselheiro deve buscar ajuda especializada como:
casos de propensão a suicídio, alcoolismo, depressão, violência familiar ou
sexual e drogas. Nestes casos e em outros que a crise não for resolvida
adequadamente, sugere-se a intervenção de uma ajuda especializada ou de
terapia formal.
Neste aspecto, existe uma face importante do trabalho pastoral, o
aconselhamento informal como intervenção e prevenção às crises. A posição e
o papel do pastor o coloca em um posto privilegiado para o aconselhamento.
Geralmente os pastores acompanham todas as épocas marcantes da vida de
um indivíduo: nascimento, casamento, morte e etc. O pastor tem como
ferramenta o aconselhamento informal, o que lhe permite alcançar pessoas que
jamais procurariam um tratamento formal para as suas crises. Frequentemente
o aconselhamento pastoral acontece em lugares informais, como numa fila, na
escada, no mercado, num carro, numa caminhada... a qualquer momento o
pastor pode ter uma conversa sobre a saúde espiritual de alguém. Uma
pergunta sobre a nossa saúde espiritual, partindo de um pastor, é tão
apropriada quanto uma pergunta sobre a nossa saúde física, feita pelo médico
da família.19
O aconselhamento pastoral leva apoio emocional e inspiração à pessoa
em crise. O conselheiro pastoral confronta, mas também conforta! Ele desafia,
mas também se importa.20 É preciso erguer um clamor para que a igreja
recupere sua herança de cura e dê atenção para a criação de trabalhos com
métodos do movimento holístico.21 Os líderes religiosos, como pastores e
padres, não precisam (e não devem) exercer essa tarefa sozinhos. A igreja
pode atentar-se para treinamento de visitação e aconselhamento, afim de
capacitar membros leigos ao cuidado e ao aconselhamento.
A poimênica tem por função na crise, ajudar a pessoa atingida pelo
infortúnio da vida, a ver dentro de si e da sua espiritualidade aquilo que
19 CLINEBELL, Howard. Aconselhamento Pastoral. 4ª Ed. São Leopoldo: EST/Sinodal, 2007, p. 188. 20
Clinebell, 2007, p.194. 21
Clinebell, 2007, p.205.
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permaneceu intacto em seu ser, trazer a memória o que pode lhe dá
esperança.22 Isso é como “juntar os cacos”, ou seja, fazer com que a pessoa se
reorganize dentro da sua nova realidade.
“(...) Como pessoas que ajudam nossos semelhantes em crise,
devemos usar diligentemente as ferramentas e habilidades de
intervenção. Como cristãos que conhecem o poder de Deus, podemos
aguardar com expectativa as maravilhas que somente Deus pode
fazer.”23
22
Lamentações 3.21 23
Maldonado, 2008, p. 180.
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3 “PSICOLOGIZANDO” A IGREJA.
O aconselhamento é uma prática da Igreja desde os tempos apostólicos e
parte natural da vida espiritual do corpo. A própria Bíblia dá testemunho dessa
prática na Igreja primitiva quando diz: “Admoestem uns aos outros”24, “exortai-
vos mutuamente”25, “consolai-vos uns aos outros com estas palavras”26,
“confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros,
para serdes curados”27, entre diversas outras recomendações ao longo do
Novo Testamento.
Esses preceitos se aplicam ao povo da Igreja, não somente a estirpe
sacerdotal. O aconselhamento – e particularmente o aconselhamento que
habilidosamente emprega a Palavra de Deus – é um dever necessário na vida
cristã e da comunhão.28
No entanto, aconselhamento, no seu amplo sentido, não é o mesmo que
aconselhamento bíblico. O que se aplica a um não se aplica necessariamente
ao outro.29 Em tempos recentes, a psicologia tem ganhado espaço dentro da
igreja e conforme ganha espaço também coleciona afetos e desafetos. É
possível dar conselhos sem que estes sejam fundamentos Bíblia. As técnicas e
sabedoria adquirida a partir de terapias seculares (como a psicologia) podem
ser aplicadas em benefício e crescimento da poimênica, o que não pode
acontecer é a psicologia substituir a Escritura, isso tem causado alguns riscos
para a vida do Corpo da Igreja.
“Esse movimento em si, não está conduzindo a Igreja a uma
direção bíblica. (...) Na verdade, tem deixado muitos com o
24
Romanos 15.14 25
Hebreus 3.13 26
1 Tessalonicenses 4.18 27
Tiago 5.16 28
MAC ARTHUR JR., John F.; MACK, Wayne A. Introdução ao Aconselhamento Bíblico: Um guia básico de princípios e práticas de aconselhamento. São Paulo: Hagnos, 2004, pág. 21. 29 WELCH, Edward. What is Biblical Counseling, anyway. Publicado em The Journal of Biblical
Counseling. v. 16, n.1, Fall 1997, pág. 2. Edward Welch é deão acadêmico da Christian Counseling and Educational Foundation em Glenside, Pennsylvania.
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entendimento de que a Palavra de Deus é incompleta, insuficiente,
obsoleta e incapaz de oferecer ajuda aos mais profundos problemas
emocionais e espirituais das pessoas.”30
Se as pressuposições que norteiam a substituição da Bíblia pela
psicologia fosses sadias, poderia se esperar que os cristãos de hoje seriam a
geração mais bem ajustada e mentalmente equilibrada que já viveu sobre a
face da terra. Afinal, eles desfrutam várias gerações de perícia psicológica,
aplicada por filósofos que alegam ser capazes de amalgamar esse
conhecimento com a igreja, sem utilizar das Escrituras e torna-los “Cristão”.
Note, no entanto, que essa não é uma prática rara. Você consegue dar
bases bíblicas para os seus conselhos? Se não, provavelmente eles estão
fundamentados no conhecimento secular ou experiências pessoais adquiridas
ao longo da vida. As Escrituras dão um conselho sobre esta postura no livro de
Provérbios (atribuída sua autoria ao Rei Salomão, a própria Bíblia dá
testemunho de que trata-se do homem mais inteligente que habitou a terra):
“Confia no Senhor de todo o teu coração, e não te estribes no teu próprio entendimento.” Provérbios 3:5
Paul Tripp, membro do corpo docente da Christian Counseling and
Educational Foundation e professor de Aconselhamento no Westminster
Theological Seminary, Glenside, PA, fala sobre a diferença desses dois tipos
de aconselhamento, o que se utiliza somente da psicologia e do
aconselhamento dito bíblico:
“O fato é que você não pode ter um relacionamento sem ser
uma pessoa que influencia e é influenciado. Você dá e recebe
conselhos todos os dias. Não é uma tarefa limitada aos profissionais
pagos – ela está entretecida nos relacionamentos humanos. O
30
MacArthur, 2004, p.22.
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18 | P á g i n a
problema é que com frequência não reconhecemos o poderoso
impacto desses encontros cotidianos.”31
Para Tripp, o livro de Provérbios capta bem essa dinâmica. Segundo ele,
Provérbios é como um fórum de discussões onde se encontram dois tipos de
conselhos: o conselho do sábio e o conselho do tolo. Esses conselhos
influenciam os pensamentos, os desejos, as escolhas e as ações; e podem vir
das palavras de um amigo, de um programa de televisão ou mesmo através do
sermão de domingo. Pessoas aconselham e isso é inevitável!
“Deveríamos estar preocupados com as muitas horas de
aconselhamento formal não fundamento na Palavra de Deus. (...) A
questão não é quem está aconselhando. Todos nós estamos. A
questão central é se esse aconselhamento está enraizado na revelação
do Criador.”
3.2 O QUE HÁ DE ERRADO COM A PSICOLOGIA?
A Palavra Psicologia literalmente significa “o estudo da alma”. Para
alguns, a disciplina secular da psicologia se baseia em pressupostos ateístas e
fundamentos evolucionistas e está apta a lidar com a humanidade em um nível
superficial e temporal. Segundo Mac Arthur para estudar a alma se estuda as
Escrituras.32 A posição de Mac Arthur não leva em consideração que a
psicologia pode contribuir com meios poderosos para lidarmos,
compreendermos e entendermos os dilemas humanos, pois, uma vez que se
entende a crise e os dilemas que um indivíduo passa, mais eficaz e certeiro
será o aconselhamento bíblico. Talvez a veemente afirmação de Mac Arthur
seja uma defesa não contra as ferramentas da psicologia, mas sim contra a
psicologia moderna de Sigmund Freud, um humanista que divisou a psicologia
como substituta para a religião.
31
TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor: Pessoas que precisam ser transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação. São Paulo: NUTRA Publicações, 2009. Pág. 77. 32
MacArthur, 2004, p. 26.
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19 | P á g i n a
“Antes de Freud, o estudo da alma era tido como disciplina
espiritual. Em outros palavras, estava inerentemente ligado à religião. A
principal contribuição de Freud foi definir a alma humana e o estudo do
comportamento humano em termos absolutamente seculares. Ele
separou completamente a antropologia (o estudo dos seres humanos)
da esfera espiritual e por conseguinte abriu espaço para teorias
ateístas, humanistas e racionalistas acerca do comportamento
humano.”33
A resistência dos cristãos à psicologia também deve-se ao fato de que
pregar a Palavra está fora de moda, e cada vez mais as igrejas tem
incorporado em suas pregações a psicologia popular. A consequência disso é
que os conceitos do Evangelho estão se redefinindo. O pecado habitual recebe
o nome de vício ou de comportamento compulsivo e muitos pressupõe que a
solução está no cuidado médico.34 Quanto mais a Igreja se afasta dos
conceitos Bíblicos vitais, tanto mais o povo se afasta de uma perspectiva
bíblica com relação a problemas e soluções.
Deus mesmo não estima os conselheiros que reivindicam representa-Lo,
mas que, na realidade, tem como suficiente a sabedoria humana. Veja o texto
de Jó 12.17-20:
“Aos conselheiros leva despojados, e aos juízes faz desvairar.
Solta a autoridade dos reis, e ata o cinto aos seus lombos. Aos
sacerdotes leva despojados, aos poderosos transtorna. Aos
acreditados tira a fala, e tira o entendimento aos anciãos.”
A sabedoria de Deus é tão vastamente superior à dos homens que os
maiores conselheiros humanos tornam-se ridículos ante a ela. Os versos 24 e
25 acrescentam mais:
“Tira o entendimento aos chefes dos povos da terra, e os faz
vaguear pelos desertos, sem caminho. Nas trevas andam às
apalpadelas, sem terem luz, e os faz desatinar como ébrios.”
33
MacArthur, 2004, p. 26. 34
MOWER. O. Hobart, The Crisis in Psychiatry and Religion. Nova York: Van Nostrand, 1961.
DIA SEM COR Tiago Santos
20 | P á g i n a
Se houve alguém que teve de aguentar a insensatez de conselheiros
humanos bem-intencionados, essa pessoa foi Jó. Os conselhos irrelevantes e
inúteis, ouvidos por Jó, foram tão pesarosos quanto as aflições satânicas pelas
quais ele passou, pois estavam exclusivamente baseadas no conhecimento
humano.35
Bem sabe-se que a geração do século XXI corre a passos largos em
direção a uma vida de autossuficiência, onde não há espaço para Deus e Sua
Palavra. É possível dizer que é preocupante ver que a igreja de Cristo, que
deveria manter os olhos do mundo em direção a Deus, de maneira sutil, mas
certamente devastadora, coopera para que a Palavra perca a sua importância
e o mundo continue escravo do seu hedonismo sem encontrar a verdade que
liberta.
Veja que a psicologia sem estar baseada na Bíblia pode ajudar a
dominar a dor, mas não curá-la. A Bíblia não precisa da psicologia para ir a
fundo nos conselhos para a alma, mas os conselheiros podem sim, encontrar
na psicologia métodos riquíssimos para aprimorar seus conhecimentos. Esta
obra não é contra a psicologia, mas sim a favor de uma psicologia cristã usada
de modo correto.
3.3 ACONSELHAMENTO BÍBLICO.
Em contraste a tendência do “aconselhamento cristão” alienado a Bíblia,
surge um movimento que vem ganhando força. Um grupo que se articula e que
conclama a Igreja de volta às Escrituras como recurso suficiente para a solução
dos problemas da alma. O principal objetivo do movimento visa o retorno do
aconselhamento bíblico na igreja.
“Eles estão percebendo aquilo que, na verdade, sempre
creram: que as Escrituras são superiores à sabedoria humana (cf.
35
MacArthur, 2004, p. 39.
DIA SEM COR Tiago Santos
21 | P á g i n a
1Coríntios 3.19); que a Palavra de Deus é um árbitro mais eficaz do
coração do que qualquer meio terreno (cf. Hebreus 4.12); que o
Espírito de Deus é o único agente eficaz de recuperação e
regeneração (cf. Efésios 5.18-19); e que todos os tesouros da
sabedoria e do conhecimento encontram-se no próprio Cristo (cf.
Colossenses 2.3).”36
O aconselhamento bíblico não tem nenhum sentido se não for centrado
em Deus e saturado de Bíblia. John Piper conta que não muito depois da morte
de Jaime Boice, R.C. Sproul contou-lhe que numa das últimas conversas que
teve com Jaime Boice, o Dr. Boice disse-lhe: “Estamos rodeados de pastores
que dizem que as pessoas não precisam de ensinamento nem conhecimento,
mas precisam ser abraçadas, precisam ser ouvidas em silêncio, precisam ouvir
histórias e compartilhar experiências.”37 James Boice está absolutamente
correto acerca do menosprezo da ênfase no ensino. As pessoas precisam
desesperadamente de ensino acerca da natureza de Deus, mas seria arcaico
dizer que elas não precisam de um abraço, serem ouvidas em silêncio, ouvirem
histórias (o próprio Jesus as contava em forma de parábolas). É um equívoco
preocupante achar que o secular não tem nada a contribuir para aqueles que
servem em nome de Cristo.
Ryle, em um de seus pensamentos expositivos acerca do livro de João,
esclarece que o objetivo do aconselhamento, deve ser tirar o foco do indivíduo
dele mesmo e leva-lo a Deus. Pode parecer bobagem para qualquer um tirar o
foco do aconselhado de si mesmo (já que é ele que está com o problema a ser
resolvido) e lavá-lo para o confronto ou o conforto com Cristo.
“O caminho para a autocrucificação e santificação pode parecer
tolice e perda para o mundo, assim como soterrar boas sementes de
milho parece desperdício para a criança e para o tolo. Mas jamais
36
MacArthur, 2004, p. 22. 37
PIPER, John Stephen. God’s Glory is the goal of Biblical Counseling. Publicado em The Journal of Biblical Counseling, v.20, n. 2, Winter 2002. John Stephen Piper é um dos mais influentes pregadores batistas calvinistas e autores do século XXI, que serviu como pastor sênior na Igreja Batista Bethlehem em Minneapolis, Minnesota por 33 anos.
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houve alguém que não descobriu que, ao semear para o espírito,
colheu a vida eterna.” 38
Talvez seja possível dizer que o argumento dos teólogos do
aconselhamento bíblico esteja infundado, uma vez que a psicologia cristã não
elimina Deus do cálculo. Por outra lado é possível entender a preocupação do
movimento, quase que massorético, para manter a igreja baseada nos
fundamentos bíblicos.
38
RYLE, John Charles. Expository Thoughts on the Gospels: John. Greenwood, S.C.: Attic Press, 1965. Ryle foi o primeiro bispo da igreja de Liverpool na Inglaterra.
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CONCLUSÃO
Como conselheiros espirituais, precisamos estar sempre prontos para
dar uma palavra de conforto, alento à fé, direção aos perdidos e oração para os
que precisam de graça e auxílio do Eterno.
Os métodos terapêuticos e pastorais podem ajudar na tarefa de
resiliência e superação; são ferramentas a disposição dos que prestam estes
cuidados, dos que aconselham.
É correto dizer que não há problemas em o “cristianismo saquear o
Egito”, do cristianismo tomar para si aquilo que o secular tem de valioso para
oferecer ao serviço cristão. Mas sempre é conveniente que se tenham
movimentos conservadores que não permitem que a igreja se “psicologize” de
vez, no sentido de perder aquilo que temos de mais poderoso, que são as
palavras do Deus de amor e as verdades do Cristo que liberta.
Superar uma crise pode se tornar uma experiência pessoal e espiritual
propícias para transcender a fé e o ser, basta que a pessoa seja bem
direcionada e que se use os recursos disponíveis com diligência.
Ao final do último capítulo de Mateus, Jesus promete aos seus que
estaria com eles, até o final dos tempos, devemos nos lembrar do Cristo que
restaura vidas e opera milagres, do Deus e do Santo Espírito Consoladores e,
termos a certeza de que não se está sozinho na tarefa de confortar quem quer
que seja em tempos difíceis, no dia sem cor.
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REFERÊNCIAS BIBLÍOGRAFICAS
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MOWER. O. Hobart, The Crisis in Psychiatry and Religion. Nova York: Van Nostrand, 1961.
PIPER, John Stephen. God’s Glory is the goal of Biblical Counseling. Publicado em The Journal of Biblical Counseling, v.20, n. 2, Winter 2002. ROCCA, Susana. Resiliência: uma perspectiva de esperança na superação das adversidades. In: HOCH, L.C., ROCCA, S.(Orgs.). Sofrimento, Resiliência e Fé. Implicações para as relações de cuidado. São Leopoldo : EST/Sinodal, 2007. RYLE, John Charles. Expository Thoughts on the Gospels: John. Greenwood, S.C.: Attic Press, 1965
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TRIPP, Paul David. Instrumentos nas Mãos do Redentor: Pessoas que precisam ser transformadas ajudando pessoas que precisam de transformação. São Paulo: NUTRA Publicações, 2009.
WALSH, Froma. Fortalecendo a Resiliência Familiar. São Paulo: Roca, 2005.
WELCH, Edward. What is Biblical Counseling, anyway. Publicado em The Journal of Biblical Counseling. v. 16, n.1, Fall 1997.
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