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Mengyao Ren - UMinho

Date post: 16-Oct-2021
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96
Universidade do Minho Instituto de Letras e Ciências Humanas Mengyao Ren julho de 2019 A Cultura Antroponímica em Português e Chinês Mengyao Ren A Cultura Antroponímica em Português e Chinês UMinho|2019
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Page 1: Mengyao Ren - UMinho

Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas

Mengyao Ren

julho de 2019

A Cultura Antroponímica em Português e Chinês

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Page 2: Mengyao Ren - UMinho

Universidade do MinhoInstituto de Letras e Ciências Humanas

Mengyao Ren

julho de 2019

A Cultura Antroponímica em Português e Chinês

Trabalho efetuado sob a orientação daProfessora Doutora Anabela Leal de Barros

Dissertação de Mestrado Mestrado em Estudos Interculturais Português/Chinês: Tradução, Formação e Comunicação Empresarial

Page 3: Mengyao Ren - UMinho

II

DIREITOS DEAUTOR ECONDIÇÕES DEUTILIZAÇÃO DOTRABALHO POR TERCEIROS

Este é um trabalho académico que pode ser utilizado por terceiros desde que

respeitadas as regras e boas práticas internacionalmente aceites, no que concerne aos

direitos de autor e direitos conexos.

Assim, o presente trabalho pode ser utilizado nos termos previstos na licença abaixo

indicada.

Caso o utilizador necessite de permissão para poder fazer um uso do trabalho em

condições não previstas no licenciamento indicado, deverá contactar o autor, através do

RepositóriUM da Universidade do Minho.

Licença concedida aos utilizadores deste trabalho

AtribuiçãoCC BYhttps://creativecommons.org/licenses/by/4.0/

Page 4: Mengyao Ren - UMinho

III

AGRADECIMENTOS

Depois de dois anos de estudos no âmbito da Comunicação Intercultural

Portugal/Chinês, esta dissertação foi finalmente realizada, o que não teria acontecido sem a

ajuda de muitas pessoas, às quais gostaria de expressar a minha gratidão.

Em primeiro lugar, os meus agradecimentos sinceros à minha orientadora distinta e

cordial, Professora Doutora Anabela Leal de Barros, que me influenciou com as suas ideias

perspicazes e inspirações significativas, me orientou com os seus conselhos académicos

práticos e instruções viáveis, e me iluminou enquanto estava confusa durante o procedimento

de escrita. Os seus comentários foram indispensáveis para a realização desta dissertação.

A minha gratidão também aos professores ilustres do Curso de Mestrado em Estudos

Interculturais Português/Chinês: Tradução, Formação e Comunicação Empresarial,

Professora Doutora Sun Lam, Professor Doutor Luís Cabral, Professor Doutor Manuel Gama e

Professora Doutora Pilar P. Barbosa, cujas instruções cuidadosas me capacitaram com boa

competência linguística e atitude académica correta.

Também agradeço profundamente aos meus amigos e colegas portugueses, pela ajuda

académica ao nível da língua portuguesa e pela amizade preciosa e rica, em particular à

Cláudia Silva, à Ângela Miranda, à Tatiana Carvalho e ao Joni Santos. Aos meus amigos

chineses, sobretudo a Tian Han, Xi Wang, Yiran Zhang, pela sua inspiração criativa acerca do

assunto da dissertação, por dar-me uma mãozinha quando me sentia confusa.

Por último, um grande agradecimento à minha família. Aos meus pais, pela

preocupação e compreensão incondicional, pelo encorajamento permanente. Ao meu avô,

pela amor e solicitude absoluta, revelando a sua preocupação com o progresso do meu

trabalho mesmo numa cama de hospital.

Page 5: Mengyao Ren - UMinho

IV

DECLARAÇÃO DE INTEGRIDADE

Declaro ter atuado com integridade na elaboração do presente trabalho académico e

confirmo que não recorri à prática de plágio nem a qualquer forma de utilização indevida ou

falsificação de informações ou resultados em nenhuma das etapas conducentes à sua

elaboração.

Mais declaro que conheço e que respeitei o Código de Conduta Ética da Universidade

do Minho.

Page 6: Mengyao Ren - UMinho

V

A Cultura Antroponímica em Português e Chinês

Resumo

Este trabalho tem como objetivo estudar o processo de evolução da cultura

antroponímica em português e chinês nos diferentes períodos destas línguas e civilizações,

determinando os fatores que promoveram essas mudanças e usando as cinco dimensões de

cultura propostas pelo humanista Geert Hofstede: o individualismo versus coletivismo, a

aversão à incerteza, a distância relativamente ao poder, a masculinidade versus feminilidade

e a orientação de curto prazo versus longo prazo, com a finalidade de medir as diferenças

culturais e a orientação de valores entre a China e Portugal, explorando os critérios atuais de

seleção do nome: fonéticos ou estéticos; semânticos ou relativos ao “poder” do nome; de

respeito pelos antepassados e pela tradição; autenticidade ou vernaculidade em cada língua;

universalidade ou caráter internacional do nome; exotismo e grau de raridade ou vulgaridade

do mesmo; ordem alfabética, etc.

Palavras-chave:

antroponímia/antropónimo; alcunhas; cultura antroponímica; dimensão da cultura; estudo

intercultural português-chinês; nomes

Page 7: Mengyao Ren - UMinho

VI

Antroponimic Culture in Portuguese and Chinese

Abstract

This work aims to study the evolution of anthroponymic culture in Portuguese and

Chinese from different periods of these languages and civilizations, determining the factors

that promoted changes and using five dimensions of culture proposed by the humanist Geert

Hofstede: individualism versus collectivism, aversion to uncertainty, distance from power,

masculinity versus femininity, and short-term versus long-term orientation to measure cultural

differences and value orientation between China and Portugal. This study also explores

current selection criteria of the name: phonetic or aesthetic; semantic or relative to the

"power" of the name; respect for ancestors or traditions; authenticity or vernaculity;

universality or international character; exoticism and degree of rarity or vulgarity; alphabetical

order, etc.

Keywords:

anthroponymy/anthroponym; anthropomorphic culture; cultural dimension; nickname; names;

portuguese-chinese intercultural study

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VII

中葡姓名学文化研究

摘要

本文旨在通过对葡萄牙及中国姓名学文化发展中的关键节点进行研究,探索

葡萄牙及中国姓名学文化演变的轨迹,并利用著名人文学博士吉尔特·霍夫斯塔

德提出的五个文化尺度:个人主义和集体主义,不确定性规避,权力距离,“男

性化”倾向和长期取向与短期取向来衡量中葡两国之间的文化差异和价值取向区

别。基于此研究基础,再依据字母或文字的音、形、义、意、数等原理,按照名

学、易学、五行学、社会学、民族文化等方面,从多个角度对现代社会选择姓名

的原则进行深度探索,找出最适合的名字并对其目标论证其特定的吉凶与变化趋

势。

关键词:

绰号;姓名学/姓名学的;姓名学文化;文化尺度;跨文化研究;姓名

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VIII

ÍNDICE

Introdução........................................................................................................................1

Capítulo 1

Antroponímia e mudança linguística..................................................................................5

1.1 A antroponímia enquanto parte da onomástica............................................................6

1.2 Antropónimos na toponímia........................................................................................ 8

1.3 As alcunhas..............................................................................................................11

1.3.1 Interesse sociocultural....................................................................................12

1.3.2 Interesse linguístico........................................................................................15

Capítulo 2

Antroponímia e mudança histórica..................................................................................18

2.1 Em Portugal............................................................................................................. 19

2.1.1 Fixação do território (até ao século XIV).......................................................... 19

2.1.2 Expansão e Descobrimentos (séculos XV-XVI)..................................................25

2.1.3 Da monarquia dual/domínio filipino ao iluminismo (séculos XVII-XVIII).............26

2.1.4 Decadentismo, modernização e contemporaneidade (séculos XVIII-XX)............28

2.2 Na China..................................................................................................................34

2.2.1 Antes da reunificação da Dinastia Qin (antes de III a.C.).................................. 35

2.2.2 Da Dinastia Qin à Dinastia Tang......................................................................37

2.2.3 Da Dinastia Song à dinastia Qing.....................................................................41

2.2.4 Após a guerra do ópio (séculos XVIIII-XX)........................................................ 46

2.2.5 Representação especial do título chinês: Zi, Hao............................................. 48

Capítulo 3

Antroponímia e culturas comparadas..............................................................................52

3.1 Individualismo versus coletivismo............................................................................. 53

3.2 Aversão à incerteza.................................................................................................. 54

3.3 Distância ao poder....................................................................................................56

3.4 Masculinidade versus feminilidade............................................................................57

3.5 Orientação de curto prazo versus longo prazo........................................................... 59

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IX

Capítulo 4

O estado atual da atribuição e receção do nome em português e em chinês.................... 61

4.1 Critérios atuais da seleção do nome em chinês......................................................... 62

4.1.1 Semânticos ou relativos ao “poder” do nome..................................................62

4.1.2 Fonéticos ou estéticos.................................................................................... 63

4.1.3 Configuração dos carateres............................................................................ 65

4.2 Critérios atuais da seleção do nome em português....................................................66

4.2.1 Lista de nomes permitidos em Portugal...........................................................66

4.2.2 Inspiração para o nome perfeito......................................................................68

Conclusão...................................................................................................................... 71

Referências bibliográficas............................................................................................... 75

Referências situgráficas.................................................................................................. 82

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X

Índice de figuras

Figura 1 Universidade de Sun Yat-Sen..............................................................................10

Figura 2 Centro Comercial Vasco da Gama...................................................................... 10

Figura 3 Dicionário dos sobrenomes, e appellidos mais uzados, e communs em Portugal.23

Figura 4 Os estados vassalos no início do período das Primaveras e Outonos................... 36

Figura 5 Os quatro tons em chinês.................................................................................. 65

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XI

Índice de tabelas

Tabela 1 Alcunhas para pessoas altas ou baixinhas..........................................................14

Tabela 2 Nomes e Alcunhas dos Ídolos Estrangeiros........................................................ 15

Tabela 3 Nomes masculinos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa....29

Tabela 4 Nomes femininos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa...... 29

Tabela 5 Nomes mais comuns no século XX.................................................................... 33

Tabela 6 Transmissão de nomes entre gerações.............................................................. 34

Tabela 7 Três tipos de 谥号 (Shì hào)............................................................................50

Tabela 8 Os 庙号 (Miào hào) dos imperadores............................................................... 51

Tabela 9 Nomes mais populares em Portugal no ano de 2017..........................................67

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XII

AO MEU QUERIDO AVÔ

致我敬爱的外公

QUE MERECE ESTE TRABALHO

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1

Introdução

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2

Desde os tempos antigos que os nomes têm desempenhado um importante papel na

identificação pessoal. Numa grande variedade de atividades comunicativas, as pessoas

geralmente começam por perguntar os nomes umas das outras.

O nome, como uma espécie de embaixador cultural, tem sofrido, ao longo da história,

uma grande evolução, mostrando pertença a determinados grupos étnicos e linguísticos e

revelando conotações culturais ricas que refletem as características da cultura nacional ou

do clã, grupo a que pertence.

Apesar de Portugal não ser um país tão antigo como a China, passou também ele por

muita turbulência durante a sua evolução, com um processo de desenvolvimento histórico

que podemos considerar épico. Os primeiros documentos escritos em português datam do

século XII (Martins 1999, 2001, 2004; Castro, Marquilhas e Albino 2001; Castro 2004; Souto

Cabo 2003, 2004), mas essa língua românica, o galego-português, formou-se e usou-se

oralmente muito antes de Portugal se tornar um país independente, em 1143. Os romanos

chegaram à Península Ibérica em 218 a.C. Durante o reinado do Imperador Augusto,

dividiram-na em três províncias — a Tarraconensis, a Lusitania e a Betica. É claro que não

trouxeram apenas a língua latina, mas também a cultura única da antiga Roma e do império

romano em formação. A característica mais marcante é que os portugueses nesta época

gostavam muito de usar os nomes compostos dos clãs e nomes de família tanto do pai como

da mãe, pois, os nomes dos cidadãos eram geralmente compostos por cinquenta ou sessenta

letras, eram demasiado longos para serem registados - veja-se o caso da Rainha Augusta

Vitória, que foi batizada com o nome mais longo de Portugal: Augusta Vitória Guilhermina

Antónia Matilde Luísa Josefina Maria Isabel de Hohenzollern-Sigmaringen (Proença, 2008:

347). Com o intuito de facilitar o registo dos nomes, o governo acabou por emitir um

conjunto de regras segundo as quais cada português só poderia ter no máximo dois nomes

próprios e quatro apelidos (decreto-Lei n.º 131/95 de 06/06/1995), e hoje em dia, o nome

completo deve compor-se, no máximo, de seis vocábulos gramaticais, simples ou compostos,

dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio e quatro a apelidos (IRN,

09/11/2017).

A origem dos nomes chineses, desde a antiguidade, radica na ideia dominante de

criação de um apelido centrado na origem materna, com o radical 女 (nǚ, 'mulher'), que

passou a ser o núcleo para essa formação. Esta inferência pode ser verificada em muitas

lendas e em algumas palavras que servem de apelidos. A criação de carateres é a

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3

cristalização da experiência e sabedoria dos antepassados, e também o símbolo da

humanidade a entrar na civilização. O significado original das palavras apelido e nome é bom

exemplo disso. Como referido na antiquíssima obra 史记•五帝本纪 (Shǐjì•wǔdì běnjì)1, o

caráter 姓 (xìng, 'apelido') reflete as características históricas do período matriarcal.

Naquela época, os descendentes da mesma mãe viviam juntos, formando grupos iniciais,

clãs, nos quais o nome e a herança passavam de mãe para filhos. A partir daí, podemos

inferir que o nome chinês nasceu nos tempos antigos, com registos escritos, e a nação

chinesa dá disso provas literárias há cerca de quatro mil anos.

O nome aparenta ser uma coisa simples e básica, mas por detrás dele existe uma

enorme riqueza cultural. Partindo da sua evolução histórica diferente, o Oriente e o Ocidente

criaram muitas diferenças entre si. Como estudante chinesa da língua portuguesa, partirei

destes dois países, Portugal e China, como objeto de análise, de forma a identificar e explicar

as diferenças históricas e culturais que contribuíram para as diferenças que existem nos

nomes que conhecemos atualmente.

A presente dissertação está organizada em quatro partes, o que corresponde aos quatro

capítulos que inclui.

Antes de tudo, no primeiro capítulo, introduz-se o termo antroponímia, esclarecendo o

seu significado e aplicação em diferentes cenários e analisando designações de pessoa a

partir de características particulares, físicas ou psicológicas/morais.

No segundo capítulo aprecia-se o desenvolvimento da antroponímia ao longo dos

períodos históricos. A análise foi realizada separadamente em Portugal e na China,

mostrando as particularidades e destaques em cada etapa diferente. Além do mais, para

evidenciar as modas linguísticas em cada época, selecionaram-se alguns exemplos dos

nomes mais utilizados e apreciados entre os séculos III a.C. e XX, não só em Portugal, mas

também na China, chamando a atenção para aspetos como a origem, a mudança e a

evolução dos nomes. Para isso, socorremo-nos de exemplos comuns mas típicos de obras

antigas e contemporâneas, como os trabalhos de de Ana Belo, Anabela Leal de Barros, Ding

Chongming e outros.

O terceiro capítulo apresenta uma comparação entre a cultura antroponímica em

português e chinês com base nos capítulos anteriores, aplicando uma teoria desenvolvida por

Hofstede a partir de um dos maiores estudos empíricos das cinco dimensões culturais, que é

1 É um livro que regista mais de 3 000 anos de história da China.

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4

um quadro-referência com cinco dimensões de valores entre as culturas nacionais.

Por último, investiga-se o estado atual da atribuição e receção do nome em português e

em chinês, começando pelos critérios atuais para a seleção do nome, quer em português

quer em chinês, e observando as tendências da moda.

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5

Capítulo 1

Antroponímia e mudança linguística

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1.1. A antroponímia enquanto parte da onomástica

Os seres humanos possuem um património hereditário que evidencia até que ponto

sabem tomar apontamento da evolução da sociedade e têm o instinto de preservação e

conservação de documentos da história. Assim, no âmbito de cada área do saber existem

registos históricos para se conhecer como se passaram as coisas na antiguidade e ao longo

do tempo — como eram, o que faziam e falavam os nossos antepassados.

Uma dessas ciências é a onomástica. Trata-se da disciplina que se dedica à análise e

classificação dos nomes, ou seja, do ato de nomear, centrando-se nesse processo de

denominação. É fácil identificar a presença da onomástica na lexicografia, a ciência que se

dedica à organização do repertório lexical de cada língua. Mas a onomástica não é

importante apenas para criar conhecimento sobre uma língua, pois fornece também dados

importantes noutros âmbitos, sobretudo o relacionado com o estudo da História.

Tendo-se desenvolvido sobretudo na segunda metade do século XIX, a onomástica é

uma disciplina que se liga aos recursos humanos. As investigações foram feitas em

documentos antigos em casca, pele, bambu, pedra, madeira ou papel, que fornecem

informação acerca da origem, evolução e cronologia do surgimento dos nomes.

Geralmente, reconhecem-se dois setores ou especialidades na onomástica. Um é a

toponímia, que trata de registar as denominações de lugar. Dentro do seu âmbito,

destacam-se a hidronímia, a oronímia e outros ramos indicados abaixo, dedicados ao estudo

de diferentes nichos ou topoi:

Hidrónimos: nomes de rios e outros cursos da água. Limnónimos: nomes de lagos. Talassónimos: nomes de mares e oceanos. Orónimos: nomes de montes e outros elementos do relevo. Corónimos: nomes de subdivisões administrativas e de estradas. Exónimos: nomes de lugares em línguas estrangeiras em relação à falada no próprio lugar.

(Amaral, 1997: 31-42)

A antroponímia, por sua vez, está centrada nos nomes dos seres humanos, que é o foco

desta dissertação. O seu ramo permite conhecer a origem, o desenvolvimento e a cronologia

dos apelidos e nomes próprios.

Trata-se de um ramo importante também para que os historiadores e outros

investigadores possam estudar as relações de poder através dos nomes próprios de famílias

que estiveram à frente de sociedades ao longo dos anos. O mesmo conceito vale para

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instituições de poder como a Igreja, por exemplo. A antroponímia permite estabelecer

relações entre a etimologia, a evolução fonética, morfológica e semântica destes nomes e o

desenvolvimento do mundo e da sociedade, em todos os seus aspetos e manifestações.

Naturalmente, os estudos antroponímicos, e onomásticos em geral, pressupõem o

estudo da mudança fonética e fonológica, morfológica, morfossintática, semântica e

pragmática dos nomes, já que a sua materialidade é especialmente relevante e o seu sentido

e utilização não o são menos. Tal como acontece com quaisquer outras palavras da língua,

também os nomes sofrem mudança ao longo do tempo, contudo, não sendo essa a minha

área de especialização, e tendo em conta que estão em causa não apenas um, mas dois

sistemas linguísticos de famílias diferentes, o português e o chinês, e todos os períodos da

sua evolução, limitar-me-ei a pequenos apontamentos etimológicos, morfológicos, semânticos

e pragmáticos a respeito de nomes selecionados como exemplos. Para se ter uma ideia da

mudança e variação fonéticas e fonológicas que afetam os nomes ao longo do tempo basta

atentar, como mero exemplo, nos nomes próprios e apelidos que o autor anónimo do

manuscrito 2126 da Livraria, editado por Anabela Barros (2018) incluiu no seu dicionário de

português desde o período medieval até ao século XVIII (1769) como verbetes — e não

simplesmente nas listas ou dicionários temáticos que acrescenta no final do códice — por se

tratar de variantes com mudanças que os utilizadores da língua poderiam não compreender

à data, tal como refere Barros (2018: 112-114) na Introdução.

No Vocabulário geral podem ainda ler-se variantes onomásticas já necessitadas de explicação,seja por motivos meramente gráficos, como Migel, ou fonéticos e morfofonológicos, como osnomes próprios com metátese Antoino e Ander, a antiga forma abreviada de Sebastião, oapelido Passagno/Pessagno, também integrado na lista de apelidos como Pessanha, ou asformas aglutinadas Fernandalvares e Lopofons:

Affonce O nome de Affonço. (45)Ander Andrè. (11)Anrique Henrique, nome proprio. (39)Antoino Antonio. (11)Bastião Bestião. Sebastião. (69)Bartolo Bartholomeo. Outros erradamente, Bertolo. (68)Beatrix2 Brites. [vd. Briatizinha] (73)Briatizinha Briteszinha. Diminutivo de Brites. [vd. Beatrix] (73)Bertolameu3 Bartholomeo. (68)Caloro Carlos, nome proprio. [vd. Calros] (133)Calros Carlos. Nome proprio. [vd. Caloro] (103)Catrina Catharína. Nome proprio. (103)

2 O autor registou Beatríz na lista inicial de lemas.3 A mesma mão registou Bartolameo na lista inicial de lemas.

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8

Cosmo Cosme, nome proprio. (134)Damiano Damião, nome proprio. (156)Delisabeth4 Izabel. (155)Gonçale Gonçalo. (205)Guimar Guiomar, nome proprio de molher, dirivado de Guilherme. (205)Guiteria Quiteria, nome proprio de molher. (200)Ilena Elena, nome proprio de molher. (210)Issopote Izopo, ou Ezopo. (210)Jabel Jzabel. (209)Jhoam5 João. [vd. Joane; Joham] (210)Jaccome Jacome. (210)Jerolymo6 Jeronymo, nome proprio de homem. (208)Joane João. [vd. Jhoam; Joham] (210)Joham João, nome proprio de homem. [vd. Jhoam; Joane] (210)Jozey Jozè, nome proprio de homem. (208)Madanèla Magdalena, nome proprio de molher. De tres Magdalenas entre si destinctas

faz memoria a Sagrada Escritura. Huma irmã de Lazaro; outra que ungidapoz [sic] de Christo, em caza de Farizeo; outra, de quem o mesmo Senhorlançou sette demonios. (225)

Matuca Maria, nome proprio. (234)Migel Miguel, nome proprio. (242)Pere Pedro, nome proprio. [vd. Però] (267)Però Palavra antiquada. Porem. [vd. Peròm; Peròo] Em outro sentido he Pedro,

nome proprio. [vd. Pere] (267)Rotrigue7 Rodrigo, nome proprio. (283)Xaviel Xavier. (318)Passagno8 Pessanha. Apellido. (267)Fernandalvares9 Fernando Alvares. (196)Lopofons Lopo Affonço. (218)

1.2. Antropónimos na toponímia

A Toponímia é o estudo dos nomes de lugares, levando em conta a influência e a

relevância dos nascimentos e os processos de mudança. Está intimamente ligada às

pesquisas históricas, filosóficas, religiosas, antropológicas, geográficas e humanísticas. O

termo é oriundo da Grécia e significa, literalmente, 'nomes de lugar'. Mas a Toponímia vai

além do estudo das denominações de países, províncias, cidades, vilas ou municípios,

havendo muitas subdivisões que se encarregam do estudo das diferentes áreas.

Enquanto recurso para a identificação, orientação e comunicação entre as pessoas, tem

a função prática de permitir a localização e identificação dos imóveis urbanos e rústicos, das

4 Delizabeth na lista inicial de lemas.5 Jhoaam na lista inicial de lemas.6 Jerolimo na lista inicial de lemas.7 Rodrigue na lista inicial de lemas.8 Pessagno na lista inicial de lemas.9 Fernandalves na lista inicial de lemas.

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freguesias, localidades, lugares de morada e outros locais que refletem sentimentos,

personalidades e memórias de figuras populares e de relevo, de épocas, de factos históricos,

usos e costumes. A atribuição ou alteração dos topónimos deve revestir-se de grande cuidado,

de modo a respeitar a sensibilidade das populações e os valores históricos, culturais e sociais,

contudo, nem sempre é assim que acontece na prática. As designações toponímicas acabam

por ser duráveis, contudo, são frequentemente influenciadas por fatores de circunstância ou

por critérios subjetivos, dado que a nomeação pelo povo é muitas vezes espontânea e vai

ganhando tradição com a passagem do tempo (Cardoso, 1988: 45).

No âmbito da toponímia não se observa por norma a necessidade de complementos

para compreensão dos nomes, sendo estes constituídos por um só elemento lexical,

compostos de dois ou mais elementos ou formados a partir da fusão de dois ou mais

elementos independentes.

Deve-se notar que os antropónimos incluídos na toponímia geralmente têm um

significado profundo por detrás, seja uma lenda bonita ou uma história valiosa de valor

comemorativo.

Tais situações são muito comuns na China. Veja-se o exemplo de 黄帝 (Huángdì,

'Imperador Amarelo'), um dos Três Augustos, reis lendários, sábios e moralmente perfeitos

que teriam governado a China durante um período anterior à Dinastia Xia. Durante o seu

reinado, ele interessou-se especialmente pela saúde e pela condição humana, questionando

os seus ministros-médicos sobre a tradição médica da época. Passou a ser considerado um

grande herói e fundador da nação chinesa, após ter conduzido a sua tribo, dos 轩辕

(Xuānyuán), à vitória contra a tribo vizinha dos 神农 (Shénnóng), na Batalha de 阪泉

(Bǎnquán) (Sima, 1982: 1).

Outro exemplo conhecido é o de 孙中山 (Sūn Zhōngshān, 'Sun Yat-sen'), estadista,

político e líder revolucionário chinês. Como principal pioneiro da China republicana, Sun é

frequentemente referido como o Pai da Nação. Em outubro de 1911, desempenhou um papel

fundamental no derrube da Dinastia Qing, a última dinastia imperial da China. Foi o

primeiro-ministro provisório quando a República da China foi fundada, em 1912, e mais tarde

co-fundador do Kuomintang, de que foi o primeiro líder.

Tendo em consideração os grandes líderes da China Moderna, tanto as cidades grandes

como as pequenas têm estradas ou ruas com o seu nome. O mais conhecido é o de 中山大

学 (zhōngshān dàxué, 'Universidade de Sun Yat-Sen'), assim denominada em sua

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homenagem (Wu, 2006: 6).

Figura 1 Universidade de Sun Yat-Sen

Em Portugal os exemplos também não são escassos, e um dos mais recentes e

paradigmáticos é o do Centro Comercial Vasco da Gama.

Figura 2 Centro Comercial Vasco da Gama

O Vasco da Gama é um centro comercial localizado em Lisboa, no Parque das Nações.

Inaugurado em 1999, é uma referência para quem gosta de fazer as suas compras, aliadas

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às atividades de lazer e ocupação de tempos livres. O seu nome é uma homenagem a Vasco

da Gama, magnífico navegador, explorador e administrador português do século XV, que deu

um grande contributo para o sucesso das navegações e conquistas portuguesas na época

dos Descobrimentos (Fonseca, 2016: 65-69).

Outro exemplo interessante é o de Luís Vaz de Camões, o autor do poema épico Os

Lusíadas e do mundialmente famoso soneto de incipit Amor é fogo que arde sem se ver (em

chinês 爱情是燃烧着的无形之火, Àiqíng shì ránshāozhede wúxíngzhīhuǒ) (Costa, 1994:

119), que revelou notável sensibilidade e talento ao escrever sobre os dramas humanos,

sejam amorosos ou existenciais. Hoje é considerado um dos maiores escritores de língua

portuguesa e um dos maiores representantes da literatura mundial. O seu nome é conhecido

em todo o mundo e é usado em diversas praças, avenidas, ruas e instituições.

Não podemos igualmente esquecer José Saramago ao tratar esta questão da aplicação

de antropónimos na toponímia. No contexto atual das literaturas modernas da Língua

Portuguesa, José Saramago é um dos autores de maior destaque, não só por ter sido o

primeiro escritor proveniente de um país lusófono a ganhar o Prémio Nobel da Literatura,

mas também pela qualidade dos seus textos. No romance português contemporâneo,

Saramago destaca-se também pela construção de romances que têm como pano de fundo a

história de Portugal, das suas raízes medievais à atualidade. Com engenho e criatividade

incomuns, o seu trabalho inaugurou uma nova era na literatura moderna portuguesa. Os seus

romances revelam muitas cruéis realidades sociais com forte ressonância na vida da classe

média e baixa. A fim de expressar reconhecimento e celebrar o seu sucesso, muitos

elementos locais são batizados com o seu nome.

1.3. As alcunhas

Alcunha é um epíteto que geralmente aprecia um indivíduo, tendo em consideração

uma particularidade física ou moral que se lhe atribui, ou algum episódio ou facto da sua

existência.

A alcunha é um signo que capta, em geral, aspectos essenciais do indivíduo que pretenderetratar. Por outras palavras, o discurso da alcunha é um discurso de rigor (Ramos, 2002: 11).

Em algumas ocasiões, a alcunha foi considerada como parte da identidade de alguma

celebridade. Geralmente serve na vida quotidiana como título coloquial e informal. Algumas

são carinhosas e doces, servindo para indicar a proximidade ou familiaridade, outras são

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12

críticas e depreciativas, visando causar o riso e ridicularizar. Na sua esmagadora maioria

estas não são registadas oficialmente em documentos, embora no passado, quando era

comum os indivíduos possuírem apenas o nome próprio, ou este e um apelido, ela pudesse

servir para distinguir entre pessoas do mesmo nome, acabando por permanecer agregadas

ao nome até passarem a figurar nos documentos oficiais.

Atualmente a alcunha, criada a partir de qualquer característica positiva ou negativa, é

uma designação popular, não oficial, usada em situações informais em que a atmosfera é

relativamente relaxada entre as pessoas mais familiares. Uma mulher muito pequenina pode

ser chamada de sardinha10, enquanto uma mulher gorda costuma ser chamada de

almôndega.

1.3.1. Interesse sociocultural

Entre as alcunhas chinesas um exemplo muito comum é 狗子 (gǒuzi , 'cãozinho'),

cujo uso no Norte da China vem desde os tempos antigos. A mais famosa é a história de 天

津狗不理包子 (Tiānjīn gǒubùlǐ bāozi , 'Pãozinho Goubuli de Tianjin').

A marca de 狗不理 (gǒubùlǐ, 'cãozinho ignora pães') foi fundada em 1858. Na Era de

Xianfeng da dinastia Qing, havia um jovem chamado Gao Guiyou que vivia na aldeia de Yang,

condado de Wuqing, província de Hebei. Como o seu pai só teve o filho quando tinha

quarenta anos, aspirando à sua segurança escolheu-lhe a alcunha de 狗 子 (gǒuzi,

'cãozinho'). Ele desejava que o filho pudesse viver facilmente como um cãozinho (de acordo

com os costumes do Norte da China, esse nome está carregado de afeto simples e

carinhoso).

Aos catorze anos, o 狗子 (gǒuzi, 'cãozinho') foi para Tianjin aprender diversas técnicas

de fazer pãezinhos. E assim se tornou um empregado do restaurante Liu, especializado em

comida a vapor, que ficava ao lado do Canal Sul de Tianjin. Gao Guiyou era um estudande

engenhoso, diligente e agencioso a fazer os pãezinhos; as suas habilidades a fazê-los

cresciam sob a orientação cuidadosa dos professores. Praticando diariamente, o jovem

tornou-se rapidamente famoso pelas suas habilidades. Depois de três anos de estudo, Gao

Guiyou já dominava várias técnicas de fazer pãezinhos, pelo que se tornou independente,

abrindo um restaurante especializado, intitulado 德聚号 (déjùhào, 'marca de excelência').

10. De acordo com o provérbio conhecido em Portugal “A mulher e a sardinha, quanto maior, mais daninha”.

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13

Gao Guiyou tinha boas técnicas, fazia as coisas a sério, nunca adulterando as receitas

aprendidas com o seu mestre. Além disso, os pãezinhos tinham uma textura macia e um

sabor delicioso e um aspeto não gorduroso, com forma de crisântemo, sendo distintos na cor,

no aroma, no sabor e na aparência. Deste modo, várias pessoas de lugares distantes foram

atraídas a provar e comprar os seus pãezinhos, pelo que o negócio tornou-se florescente

rapidamente, e logo depois a fama bateu-lhe à porta. Os clientes eram cada vez mais, e Gao

Guiyou andava tão atarefado que não tinha oportunidade para falar com eles, por isso estes

diziam num tom humorístico que “o cãozinho vende pãezinhos e ignora as pessoas”. Com o

passar do tempo, as pessoas já estavam acostumadas a esta brincadeira, chamando-lhe 狗

不理 (gǒubùlǐ, 'cãozinho ignora pães'), e passando a chamar ao seu restaurante 狗不理

包子铺 (gǒubùlǐ bāozipù, 'Restaurante de Pãezinhos do Goubuli'). O nome original do

restaurante foi gradualmente esquecido, os pãezinhos do Goubuli tornaram-se um dos pratos

típicos e mais famosos de Tianjin e, inclusivamente, já têm um nome em inglês: Go Believe.

A razão pela qual o protagonista viveu tão bem foi porque algumas pessoas também

contribuíram com uma parte dos méritos para uma boa alcunha simbólica. Cães, tigres,

galinhas e outros animais domésticos podem afugentar os maus espíritos, no pensamento

dos chineses, portanto, são sempre denominados por esses nomes, pois se acredita que a

pessoa ganha a capacidade correspondente aos conceitos dos nomes que se lhe atribuem.

Por outras palavras, a origem inicial da alcunha é proteger as crianças dos espíritos, para

que estas cresçam com mais saúde e com muitos exemplos positivos. São cada vez mais as

pessoas que acreditam e usam estas alcunhas.

No que respeita à alcunha portuguesa, também é de fácil visualização que está

intimamente relacionada com a cultura social, mas não da mesma forma, na verdade, o uso

de elogio em português é raro e muitos são depreciativos e críticos.

É facilmente constatável que o processo sociológico das alcunhas aparece tradicionalmenteligado à ruralidade. Sendo as alcunhas, neste meio, uma das formas de designação ereferência por etiquetagem dos membros de uma comunidade, elas funcion(av)am sobretudoem espaços geográfica e demograficamente não muito vastos de modo a permitirem apossibilidade do interconhecimento total na comunidade (Teixeira, 2007: 207).

Pode ser impiedosa, mas é frequentemente bem humorada a forma da alcunha. O

usuário é como um romancista realista talentoso, porque evita a ação da força, apenas

usando um “palavrão” que traz um golpe mental inestimável para o objeto.

Além disso, os portugueses são particularmente eminentes em utilizar metáforas ou

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14

metonímias para associar subtilmente nomes a alcunhas.

Baleia - Gorda Rato - Muito activo Burro - Estúpido, teimoso Porca - Pouco asseada Pisco - Pequeno Batata - Nariz grande Tomate - Corado/a em excesso Cenoura - Cabelo ruivo

(Teixeira, 2007: 215)

De acordo com a observação, existem dois métodos principais para a atribuição de

alcunhas de base metonímica, sendo umas físicas e outras comportamentais. Assim, a

alcunha “Baleia” é baseada no estado do corpo e “Burro” tem a ver com a atitude diária

abaixo das expetativas, ou pouco regular.

Comparada com o nome original, a alcunha é sempre imposta pela comunidade ao

indivíduo e tem um significado muito fácil e transparente, com a finalidade de revelar um

pormenor relevante daquele que a possui.

Observem-se abaixo algumas alcunhas do Tratado das Alcunhas Alentejanas (Ramos, 2002):

Para as pessoas altas Para as pessoas baixas

Arranha-céu Amostra grátis

Bambu Anão

Tabela de basquetebol Cavaquinho

Desengonçada Mascote

Gigante Microscópico

Monstro Pipoca

Montanha Pixel

NBA Pouca sombra

Perna Longa Reduzido

Pilar Salva Vidas de Aquário

Tabela 1 Alcunhas para pessoas altas ou baixinhas

No total, contém 10 alcunhas para designar pessoas altas e baixas. Algumas são mais

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simpáticas e graciosas, outras mais ofensivas, mas cada uma tem uma relação com o

respetivo interesse sociocultural. Por exemplo, é óbvio que as pessoas que jogam bem

basquetebol e podem jogar na NBA são as mais altas, enquanto que o mosquito, sendo um

inseto, é muito pequeno.

1.3.2. Interesse linguístico

A alcunha, como um derivativo da conotação cultural e tradicional, é difundida

amplamente por causa da sua vivacidade, novidade e fácil lembrança. Às vezes revela

proximidade, como a usada entre amigos para demonstrar uma amizade mais profunda, e às

vezes poderá até conter uma anedota ou história. Os fãs chineses são definitivamente

criativos quando se trata de alcunhar as suas celebridades favoritas, e isso pode ser um sinal

de afeição para com os seus ídolos.

No caso de Timothée Chalamet, ator bem-conhecido pelo filme Call Me by Your Name

(em português: Chama-me pelo teu nome), a sua alcunha é 甜茶 (tiánchá, 'chá doce'),

porque Tim Cha soa como Tian Cha, que significa literalmente 'chá doce'. Já no caso da

cantora americana Lady Gaga, famosa internacionalmente, com muitas músicas populares,

uma das suas alcunhas é 鸭妹 (yāmèi, 'irmã do pato'), porque gaga na China é 'o som que

faz o pato'. As alcunhas não são apenas para o auto-entretenimento dos fãs chineses, pois

algumas já têm a aceitação dos próprios ídolos.

Nome Alcunha

John Oliver 囧橄榄 jiǒnggǎnlǎn , 'azeitona'

Jon Stewart 囧叔 jiǒngshū, 'tio vergonhoso'

Joss Whedon 尾灯 wěidēng, 'lanterna traseira'

Jude Law 裘花 qiúhuā, 'flor'

Justin Timberlake 贾老板 jiǎlǎobǎn, 'patrão Jia'

Katy Perry 水果姐 shuǐguǒjiě , 'irmã de fruto'

Kendrick Lamar 喇嘛 lǎma , 'lama'

Léa Seydoux 蕾老师 lěilǎoshī, 'professora Lei'

Tabela 2 Nomes e Alcunhas dos Ídolos Estrangeiros(知乎 zhīhū11, 2018)

11 Um dos média Q & A mais populares na China.

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16

Em Portugal, alcunhas carinhosas são muito usadas na atividades comunicativas,

normalmente por familiares e amigos, significando que o relacionamento é mais íntimo, que

a distância é pequena e existe amor, tal como o uso de fofinho, (a)mor, cuchi-cuchi, entre os

casais. Um recurso comum para a criação de alcunhas em português é a aplicação de

sufixos diminutivos ou aumentativos. Na gramática da língua portuguesa os diminutivos

usam-se no processo de derivação, que permite modificar os substantivos ou adjetivos a fim

de exprimir diminuição ou aumento, depreciação ou valorização. Quando se emprega este

procedimento gramatical a uma alcunha esta tem o nome de hipocorístico.

O substantivo hipocorístico tem origem no grego ὑποκοριστικός, que

significa 'chamar com voz suave', sendo um tratamento derivado de um nome próprio. Há

cinco formas principais de hipocorísticos no sistema de nomenclatura portuguesa. Os

exemplos são escolhidos do livro 1001 nomes de bebés (Barradas, 2016: 15).

Diminutivo do nome verdadeiro: Rosa - Rosinha Tatiana - Tatianinha Teresa – TeresinhaAumentativo do nome verdadeiro: Paulo – Paulão Lobo - Lobaz, LobãoForma reduzida do nome verdadeiro: António - Tó, Totó Mariana - Mari Isabel/Isabela - Isa, BelaVariante do nome verdadeiro: Francisco - Chico Diego – YagoRepetição ou duplicação de sílabas: Eduardo – Dudu Nilo – Nini

Como o hipocorístico é formado por alterações na própria palavra de origem,

geralmente os nomes de género diferente só têm variação de género.

Heleno/Helena - Leno/Lena Francisco/Francisca - Chico/Chica

Às vezes, nomes de géneros diferentes têm hipocorísticos completamente diferentes:

Vitor - Vitinho e Vic Vitória - Vivi, Vicky

Também existe a possibilidade de dois nomes de géneros diferentes possuírem o mesmo

hipocorístico:

Daniel/Daniela - Dani Alexandre/Alexandra - Ale/Alex

Page 30: Mengyao Ren - UMinho

17

Além disso, o mesmo nome tem hipocorísticos distintos em países diferentes. Por

exemplo, Daniel — Dangel em alemão, Dani em espanhol e português e Dano ou Danós em

húngaro (Carvalho, 2016: 73).

Page 31: Mengyao Ren - UMinho

18

Capítulo 2

Antroponímia e mudança histórica

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19

2.1. Em Portugal

Tendo em consideração a riqueza da evidência histórica, a abundância de documentos

publicados, a quantidade e a variedade da antroponímia, dividiu-se em 4 etapas

representativas: da pré-história à fixação do território, da expansão e dos descobrimentos, da

monarquia dual/domínio filipino ao iluminismo e do decadentismo, modernização e

contemporaneidade.

2.1.1. Fixação do território (até ao século XIV)

No III milénio a.C., a maré de migração começou a desenvolver-se, muitos povos

indo-europeus, celtas chegaram à Europa Central e invadiram o território português. Devido à

invasão de novas raças, várias civilizações começaram a misturar-se, formando alguns

grupos étnicos, com numerosas tribos, entre os quais avultam os galaicos, que criaram a

cultura castreja a norte, os lusitanos no centro, os célticos no Alentejo, e os cónios no

extremo sul de Portugal (regiões do Algarve e Alentejo). Estes povos, de origem mista, viviam

geralmente no alto dos montes, em povoações rodeadas de muralhas (Castro, 2006: 47).

Ano após ano, os romanos, que eram um povo forte, muito desenvolvido e com um

exército muito bem organizado, conquistaram pela força das armas as terras à volta do mar

Mediterrâneo. Os soldados venciam com facilidade a maior parte dos seus adversários.

No ano 218 a.C., durante a Segunda Guerra Púnica contra Cartago, o plano dos

romanos era invadir a Península Ibérica, mais concretamente o território de Portugal atual. E

no século I a.C. foi formada a província da Lusitânia, que correspondia à maior parte de

Portugal atual. Os romanos venceram os cartagineses12, mas, terminadas as guerras, em vez

de se irem embora, resolveram instalar-se e dominar todas as tribos da Península (Mommsen,

1854 - 1855: 1934).

No processo de assimilação cultural, os lusitanos não ficaram parados como outras

tribos, mas lutaram bravamente pelas suas crenças e persistência em manter a sua própria

cultura. Comandados por Viriato13, mantinham-se vigilantes nas montanhas, sem se deixar

impressionar pela grandiosidade e organização do exército romano. Mesmo com armas mais

frágeis, os lusitanos não deixavam de atacar em força: desciam dos montes, de vez em

quando, e travavam batalhas violentas com os romanos. Morria sempre muita gente. Nestas

12 Cartagineses: um povo de comerciantes do Norte de África que tinha fundado algumas cidades na Península Ibérica.13 Viriato (181 a.C. – 139 a.C., Lusitânia) foi um dos líderes da tribo lusitana que confrontou os romanos na PenínsulaIbérica.

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20

batalhas, os romanos nunca conseguiam vencer os lusitanos. No entanto, uma coisa é

incontestável: os romanos influenciaram os povos que conquistaram em várias áreas, e os

lusitanos não são exceção. Por exemplo: os costumes, as leis, a arte, a moeda, a rede viária,

o direito de cidadania e o mais importante: a língua (o latim) (Martins, 1998: 105-121).

Nos anos 407-409 d.C., com o declínio do Império Romano, chegam em massa os

invasores germânicos, a que os romanos chamavam bárbaros. Os romanos usavam a palavra

“bárbaro” para todos aqueles que habitavam fora das fronteiras do império e que não

falavam a sua língua oficial: o latim (Castro, 2006: 53).

No processo de agressões, os vândalos foram para o Sul, os suevos para Noroeste e os

alanos para nordeste. Algumas pessoas encaravam os povos germânicos como libertadores

do confrangimento romano, outras como invasores. As influências imediatas das invasões

foram a confusão e a desmoralização. Vieram depois a rapina feroz e as emigrações

massiças. Perde-se assim o equilíbrio imperial (Bustamante, 2006: 136).

Em 711, um exército formado principalmente por soldados berberes e árabes atravessou

o estreito de Gibraltar e começou a conquista da Península de sul para norte. A velocidade de

conquista foi muito rápida, e o seu efeito, duradouro. Após cinco anos, chegaram ao centro

da atual Espanha e expandiram as campanhas militares no que viria a ser Portugal, mais

precisamente em cidades como Beja, Évora, Coimbra e Santarém. Mas a dominação não teve

a mesma duração, nem as mesmas repercussões, em todas as zonas. Foi fraca nas Beiras, a

norte do rio Douro, principalmente na região onde viria a se constituir o Condado

Portucalense. Também não provocou nenhuma mudança importante, embora aí se tenham

fixado, em maior ou menor número, tribos muçulmanos, sobretudo, as de origem berbere.

Isso dá aos outros invasores uma nova oportunidade. Em 754, o pequeno reino cristão das

Astúrias conseguiu expulsar definitivamente os muçulmanos para o sul do Douro. De fato, foi

no sul de Portugal que o Islã deixou marcas profundas, comparáveis à contribuição da

presença romana na estrutura do que, mais tarde, seria a civilização portuguesa.

No entanto, deve notar-se que a ocupação árabe teve efeitos diferentes em vários

lugares de Portugal durante este período. Os árabes não chegaram à região norte, que esteve

sempre sob o domínio cristão. A influência foi mínima a norte do Douro e na área interior do

território português atual. Sentiu-se mais na Estremadura e Beira Litoral, e o máximo nas

províncias do sul, sobretudo na Algarve. Habitavam todo o sul e centro de Portugal atual, até

à região do Mondego ou porventura do Douro, e no norte existiam só estabelecimentos

Page 34: Mengyao Ren - UMinho

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ocasionais (Castro, 1990: 165)

Pode-se afirmar que a presença do colono muçulmano não foi igual. A norte do Douro a

autoridade muçulmana desapareceu nos fins do século VII, depois de cinquenta anos de

domínio irrequieto e incompleto.

Alguns anos mais tarde, em 1096, o rei Afonso VI de Leão e Castela entregou o governo

do Condado Portucalense, formado em 868 entre os rios Minho e Douro, a um primo de

Raimundo, o conde Henrique de Borgonha, juntamente com a sua filha Teresa de Leão,

passando Henrique a ser conde de Portucale. Em 1139, depois de uma grande vitória contra

um forte contingente mouro na batalha de Ourique, D. Afonso Henriques foi afirmado como

rei de Portugal, com o apoio das suas forças militares, e deste modo nascia o Reino de

Portugal. Em 1297, o rei D. Dinis finalmente garantiu a estabilidade com os reinos de Leão e

de Castela e publicou o Tratado de Alcanizes, a fim de fixar os limites fronteiriços. E

acompanhando a reconquista, reconheceu o português como língua oficial em Portugal, e na

documentação pública, em vez do latim (Castro, 2006: 73).

Em suma, através da observação do desenvolvimento da história portuguesa, as terras

foram conquistadas sucessivamente pelos povos celtas, iberos, romanos e árabes. É por

causa da sua presença que existem muitas evidências arqueológicas relacionadas. Deles

restam também termos linguísticos que se mantêm vivos no português dos nossos dias. Ao

mesmo tempo, com base em materiais sobre antroponímia portuguesa, podemos analisar a

situação linguística num específico período histórico, não só no âmbito da escrita, mas

também da fonética. Os testemunhos antroponímicos são importantes para a análise da

qualquer língua, permitindo análises regionais ou locais. As variantes do vocabulário da

antroponímia proporcionam-nos referências fonéticas, lexicais, gráficas, gramaticais e

culturais a respeito dos desenvolvimentos linguísticos, permitindo um melhor conhecimento

da história da língua portuguesa.

A língua portuguesa tem a sua origem na língua latina. Até à atualidade, em

consequência das alterações linguísticas, ocorreram várias mudanças fonéticas, fonológicas e

morfossintáticas, todavia, também continuam a utilizar-se vocábulos cultos na antroponímia.

A seguir apresentam-se alguns exemplos típicos retirados do livro Nomes próprios (Belo,

1995), acompanhados da sua etimologia, referência histórica mais evidente e da indicação de

personagens que os usaram, incluindo papas e santos.

Page 35: Mengyao Ren - UMinho

22

Augusto

Vem do latim AUGUSTUS, que significa 'majestoso, venerável, consagrado'. Os Imperadores deRoma que usaram este nome (depois de Otávio) eram considerados iguais aos deuses. Forammuitos os missionários e santos com este nome. Lembremos Santo Agostinho de Cantuária,que baptizou dez mil ingleses de uma assentada.

César

Do latim CAESAR, nome de importante família romana (GENS JULIA). Todos sabem quem foi JúlioCésar, que pretendia descender de Vénus. Foi um político extraordinário, cuja eloquênciaempolgava as multidões, era um ídolo para as tropas que comandava, empreendeu numerosascampanhas e saiu vitorioso de quase todas. Os imperadores romanos usaram a partir de entãoo título de César.

Vicente

Vem do latim VINCENS ('vencedor'). São Vicente, diácono espanhol, morreu em Valência (séc. IV)depois de torturado. É o padroeiro dos vinhateiros. Entre os numerosos santos com este nomedestacam-se São Vicente de Paula, eclesiástico que se dedicou aos pobres e fundou a Ordemdas Irmãs da Caridade. Dele derivaram Vicentino e as formas femininas Vicentina e Vicência.

Se é verdade que os romanos estabeleceram uma base sólida para a formação inicial

da língua portuguesa, também há que reconhecer que os germanos e árabes tiveram um

papel imensurável no seu desenvolvimento. Pode-se dizer que os efeitos deles se

manifestaram nos vários aspetos da vida quotidiana, especialmente nos substantivos para

designar vegetais e produtos hortícolas. Existem também muitas palavras que têm relação

com a economia, a tecnologia, o mobiliário e instrumentos diversos. Esse léxico geralmente

foi adotado para descrever uma realidade nova e essa descrição sempre resulta em

renovação na área da linguística. Sendo assim, as modas e as coisas foram mudando e

novos nomes mais modernos foram aparecendo.

São exemplo de nomes germânicos, de entre os mais usados em Portugal já no século

XVIII, Henrique e Carlos (Barros, 2018: 403-410):

Henrique

Tem origem no nome germânico HAIMIRICH, composto pela união dos elementos HEIM, quesignifica 'lar', 'casa', e RIK, que quer dizer 'senhor', 'príncipe', 'poder'. Dessa junção, resulta osignificado 'senhor do lar', 'príncipe do lar' ou 'governante da casa' (Dicionário de nomespróprios-lista de nomes germânicos masculinos, rank 3).

Carlos

Tem origem no germânico KARL, a partir dos termos KARAL, KERL, que significa literalmente'homem do povo'. Há estudiosos da onomástica que apontam também a relação do nomeCarlos com o termo germânico hari, e nesse caso o significado seria 'exército' ou 'guerreiro'(Dicionário de nomes próprios-lista de nomes germânicos masculinos, rank 6).

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23

Exemplo de nomes árabes, colhidos no Índice de nomes próprios gregos e latinos

(1995), são Ademir e Fátima:

Ademir

Significa 'feito de ferro' ou possivelmente 'estrangeiro'. Existem duas possíveis origens para onome Ademir, ambas do árabe: - Ademir pode significar 'de ferro', se for originado no nomeAD-DEMIRI, uma cidade egípcia; outra possível origem é o nome ADJEMIR, uma cidade santa doIndostão. Nesse caso o significado seria 'estrangeiro' (Dicionário de nomes próprios - lista denomes árabes masculinos mais vistos, rank 3).

Fátima

Vem do árabe FATIMA e significa 'aquela que desmama (uma criança)'. Assim se chamavam aesposa do profeta Maomé e a esposa de Ali, o quarto dos califas. A devoção a Nossa Senhorade Fátima pôs em uso este nome (Dicionário de nomes próprios - lista de nomes árabesfemininos mais vistos, rank 1).

Figura 3 Dicionário dos sobrenomes, e appellidos mais uzados, e communs em Portugal

Além do latim e do árabe, a religião teve também grande influência na antroponímia

portuguesa deste período. No século II e III, os templos e as aras aparecem como um dos

efeitos mais significativos do processo de romanização (Castro, 2006: 60). Com eles

mudaram-se substancialmente os aspetos concretos das práticas religiosas ao nível do

processo de aculturação entre romanos e indígenas. À medida que a romanização se

processava, verificaram-se diversas demonstrações de sincretismo entre as divindades

existentes. Com efeito, no Império Romano, que tinha como “plano de fundo” a religiosidade

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proto-romana, a partir do século II começaram a instalar-se os deuses romanos

paralelamente aos cultos indígenas na Península, o que poderá ter-se iniciado já na época

pré-romana, por influência dos contactos com os Fenícios, Gregos e Cartaginenses, que

teriam introduzido os seus substitutos.

O cristianismo, quando penetrou na Península Ibérica, através dos canais do Império

Romano, foi encontrar um “fundo religioso” multissecular constituído por uma multiplicidade

de deuses e cultos. E os cristãos celebram as etapas mais importantes da vida com

determinados costumes e rituais que, nalguns casos, foram sendo transmitidos ao longo dos

séculos (Castro, 2006: 60). Estes acreditam que Deus os acompanha desde o nascimento até

à morte, motivo pelo qual muitos pais batizam os seus filhos pouco tempo depois de

nascerem. Em todas as confissões cristãs, seguindo o exemplo de João Baptista, é

derramada água sobre a cabeça do batizando, ou este é imerso em água. Ao mesmo tempo,

a palavra batismo também está relacionada com o ato de dar um nome a alguém. Dizem que

os nomes de batismo são apenas usados por pessoas dessa religião e costumam ser os

mesmos dados pelos pais no nascimento. Quando os pais católicos selecionam um nome

para os seus filhos, consideram que também selecionam um nome de batismo. E não é

incomum serem nomes de santos.

Assim, podemos afirmar que as características essenciais do cristianismo têm uma

relação muito próxima com a antroponímia portuguesa, e uma evidência disso são os nomes

de batismo originários da Bíblia (Gonçalves, 2013: 230). Vejam-se alguns exemplos:

Maria

Tem origem no hebraico MYRIAM, que significa 'senhora soberana' ou 'a vidente'. É um dosnomes mais comuns do mundo há séculos, e pode ser visto também como segundo nome eaté em conjugação com nomes masculinos, como João Maria ou José Maria. Por ser utilizadopor muitas culturas, o nome tem um vasto leque de interpretações. A versão mais utilizada é aadvinda do hebraico MARAH, que quer dizer 'aquele que é insistente' ou 'sabor amargo'. Asegunda interpretação mais difundida é a do egípcio MRYM, que significa 'amada de Amón', ouseja, 'amada por Deus', explicação que foi tomada de empréstimo pela Igreja Católica séculosmais tarde (Dicionário de nomes bíblicos-Dicionário online de português).

João

Tem origem no hebraico YEHOKHANAN, IOHANAN, composto pela junção dos elementos YAH, quequer dizer 'Javé, Jeová, Deus', e HANNAH, que quer dizer 'graça'. Significa 'Deus é gracioso,agraciado por Deus, a graça e misericórdia de Deus, Deus perdoa'. Este nome deve a suapopularidade a dois personagens do Novo Testamento, ambos santos muito reverenciados. Oprimeiro foi João, o Batista, um eremita judeu considerado o antecessor de Jesus Cristo. Osegundo foi São João Evangelista, um dos doze apóstolos de Cristo, autor do EvangelhoSegundo João e do livro da revelação apocalíptica (Dicionário de nomes bíblicos-Dicionário

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online de português).

2.1.2. Expansão e Descobrimentos (séculos XV-XVI)

Para o homem dos séculos XV-XVI, o mundo exterior revelava-se em superfície, hoje,

porém, ele é estudado com minúcia e em profundidade. A expansão e os descobrimentos

foram realizados graças à curiosidade dos povos, ávidos de novo saber, acabando por

generalizar-se a emoção que de tal resultava, a cada passo reconhecida como superior ao

que as fábulas antigas tinham engrandecido e celebrado.

No início da expansão portuguesa, os portugueses quiseram conquistar Ceuta, cidade

muçulmana do Norte de África. Tratava-se de um entreposto comercial para os que traziam o

ouro da zona a Sul do deserto do Sara, ocupava uma posição estratégica e localizava-se

numa zona de solos muitos férteis. No entanto, os resultados esperados não foram os

melhores, Ceuta, uma cidade rica, passou a uma cidade pobre, pois os Árabes desviaram as

rotas comerciais para a Itália. Enfrentando tal situação, os portugueses decidiram seguir um

outro caminho: o das viagens marítimas, com o objetivo de atingir diretamente as zonas

produtoras de ouro. Assim aconteceram a descoberta da Madeira e dos Açores, a exploração

da costa africana, a chegada à Índia e a descoberta do Brasil (Cortesão, 1993: 219). Nesse

processo, várias culturas se fundiram.

O estudo da antroponímia em Portugal dos séculos XV-XVI inicia-se no período da

história da língua portuguesa conhecido como português médio. Trata-se do período de

transição entre o português antigo e o português clássico. O período do português médio

caracteriza-se por importantes mudanças linguísticas, enquanto o período do português

clássico se caracteriza pelo esforço de uniformização e consolidação (Castro, 1990: 11).

A língua portuguesa deste período prestava-se a diversos fins: não só era veículo de

expressão lírico-literária, em poesia, mas também, em forma de prosa, aparecia em

documentos, de preferência cartulários, bem como na antroponímia (Castro, 2006: 74). A

característica mais típica é que os neologismos latinos se incorporavam à língua,

conservando a ortografia original, com pequena adaptação à fonética portuguesa. Pode-se

dizer que o período quatrocentista e quinhentista se incluía no período fonético da ortografia,

porquanto a escrita procurava espelhar a pronúncia.

Quanto às vogais, havia no galego-português grande abundância de hiatos, resultantes

da queda de consoantes intervocálicas nas palavras latinas (Maia, 1986: 179), por exemplo,

maa (> má), paaço (> paço), caaveira (> caveira), seer (> ser), meestre (> mestre). Estes

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hiatos, que mantinham as duas sílabas dos étimos, foram desaparecendo progressivamente

na pronúncia, porém a grafia conservou-os por longo tempo.

As vogais orais simples mudaram-se ao longo da história do português. Assim,

encontramos, por exemplo, <a> em lugar de <e> ou <e> por <a>, ora por assimilação

(Piedade > Piadade) ora por dissimilação (Manhã > Menhã, Razão > Rezão, Catarina >

Caterina).

Tratando-se de consoantes, há um fenómeno fonético e fonológico que influi

diretamente na ortografia das palavras. Entre as consoantes sibilantes havia distinção na

pronúncia de “s” intervocálico e <z>, <ss> e <ç>, <ch> e <x> (Martins, 1999: 491-534).

Se atentarmos em variantes como Andresa/Andreza; Lusia/Luzia; Cesar/Cezar;

Ambrosio/Ambrozio; Cardoso/Cardozo, concluímos que diferem no que respeita aos

grafemas <z> e <s>, representando sons sibilantes predorsodentais e ápico-alveolares

sonoros.

Quanto a Gomçalo/Gomcalo/Gomsalo; Lourenço/Lourenco/Louremso;

Colaço/Colaco/Colaso, revelam oscilação gráfica na representação das sibilantes

predorsodentais e ápico-alveolares surdas.

Existe ainda alternância entre as grafias <s> e <ss> em contexto intervocálico:

Pesador/Pessador; Matoso/Matosso.

A alternância da terminação de nomes como Adriam/Adrião; Armam/Armão;

Simom/Simam/Simão ficou a dever-se à uniformização das terminações nasais das formas

nominais do singular, já concluída no português clássico, embora tenham perdurado as

representações gráficas distintas por mais algum tempo.

Em nomes como Ayres/Ayrres; Baros/Barros; Ferador/Ferrador, a oscilação gráfica

entre <r> e <rr> poderá ou não evidenciar variação fonética, sobretudo em contexto

intervocálico.

Os nomes Eanes/Ianes e Moniz/Muniz diferem nas grafias <i> e <e>, <o> e <u> devido

à proximidade acústica e articulatória das vogais (Martins, 1999: 491-534).

2.1.3. Da monarquia dual/domínio filipino ao iluminismo (séculos XVII-XVIII)

Em 1580, com a morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, Portugal

enfrenta uma crise dinástica cuja análise se mostrou complexa. Nessa altura, havia três

Page 40: Mengyao Ren - UMinho

27

candidatos ao trono de Portugal: Dona Catarina14, D. António15 e D. Filipe II de Espanha.

Com o apoio da nobreza e os setores ligados ao comércio e ao artesanato, D. Filipe II de

Espanha acabou por ser reconhecido como rei de Portugal, tornando-se Filipe I de Portugal

em 1583. Durante o seu mandato, fez algumas promessas importantes aos portugueses,

sendo as principais a manutenção dos dois reinos (Espanha e Portugal) e a ocupação dos

cargos administrativos em Portugal e no Império português somente por portugueses. Uma

promessa que teve um impacto profundo na área cultural é que o português se manteria

como a língua oficial, pois garantiu a sustentabilidade do desenvolvimento da língua

portuguesa (Silva, 2000: 124).

Mas os bons tempos não foram longos, pois em 1598 D. Filipe I faleceu. Os sucessores

D. Filipe II e D. Filipe III não respeitaram as promessas feitas aos portugueses, forçando-os a

integrar o exército espanhol e a combater por toda a Europa (Silva, 2000: 21). Devido a essa

mistura forçada, o campo da língua, e consequentemente o campo da antroponímia,

passaram por grandes mudanças. Por exemplo: em Rui/Ruy/Ruj, a vogal <i> vê-se

representada através das grafias <y> e <j>. Em Gorge/Jorge; Joam/Yoam, a consoante

fricativa palatal sonora surge representada pelos grafemas <g>, <j> ou <y>. Em

Marqez/Marquez; Arcas/Archas, a consoante oclusiva velar surda é representada pelos

grafemas <q>e <qu>, <c> e <ch>. Essa alternância entre grafias pode explicar-se por

influência de formas castelhanas.

Por incompetência dos reis espanhóis, Portugal sofreu muitos ataques militares e

perdeu muitas cidades, fortalezas e terras no Brasil, África e Ásia. Ao mesmo tempo, o povo

português ficou muito descontente com a Monarquia Dual, tendo começado a Revolução que

ficou conhecida como “Restauração”. Depois, Portugal entrou na Era pombalina e no

absolutismo (Santos, 1982: 122), um período marcado por reformas:

As reformas religiosas tiveram influência cultural na composição do nome. O

primeiro-ministro expulsou os jesuítas da metrópole e das colónias, confiscando os seus bens,

alegando que a Companhia de Jesus agia como um poder autónomo dentro do Estado

português, e diminuiu o poder da igreja, subordinando a Inquisição ao Estado.

A reforma na educação influenciou a herança e disseminação do nome. Foram

destruídos e proibidos livros de autores que eram tidos como “corruptores da Religião e da

Moral” e de conteúdo “ofensivo da paz e sossego público”; introduziram-se importantes

14 Duquesa de Bragança, familiar de D. Sebastião.15 Prior do Crato, membro da família real.

Page 41: Mengyao Ren - UMinho

28

mudanças no sistema de ensino superior, passando-o ao controlo do Estado.

As reformas no aparelho de Estado influenciaram os regulamentos específicos de

atribuição do nome. Introduziram-se importantes mudanças através da criação das primeiras

compilações de direito civil, que substituíram assim o direito canónico; através da introdução

da censura de livros e publicações de caráter político.

Essas reformas afetaram o comércio francês e inglês, contribuindo para devolver a

Lisboa a sua grandiosidade como entreposto atlântico. Tais trocas económicas também

contribuíram para a diversificação dos fatores de composição do nome português. Atentemos

em alguns exemplos típicos:

Adílson

Por influência do inglês, e uma vez que SON quer dizer 'filho', o nome significa 'filho de Adiel',ou 'filho de Adil'. Adiel é um nome de origem hebraica que une as palavras ADI (ornamento) eEL (Deus), e significa 'ornamento de Deus' (Vasconcelos, 1928).

Nicole

Significa 'a que vence com o povo' ou 'a que conduz o povo à vitória'. Nicole surgiu a partir dofrancês NICOLE, que é a variante feminina de Nicolau, nome de origem grega. Nicolau surge dogrego NIK LAOS. Seu significado decorre da junção dos elementos níke, que significa 'vitória', elaos, que quer dizer 'povo' (Dicionário de nomes próprios - lista de nomes franceses femininosmais vistos, rank 4).

2.1.4. Decadentismo, modernização e contemporaneidade (séculos XVIII-XX)

A força de Portugal diminuiu à medida que os outros países europeus conquistavam

sucessivamente a hegemonia marítima. No século XVII, um grande número de portugueses

imigrou para o Brasil, causando uma grave perda populacional.

Em 1 de novembro de 1755, um terramoto de magnitude 9 atingiu Lisboa. Os danos

causados pelo terramoto e o tsunami e fogo subsequentes destruíram toda a cidade. A

catástrofe teve consequências que a economia portuguesa não suportou. Em 1807, Napoleão

atacou Portugal, tendo ocupado Lisboa a 1 de dezembro do mesmo ano. Foi somente em

1812 que o reino se libertou do domínio francês. Em agosto de 1820, a revolução liberal

ocorreu em Portugal, e a primeira medida do novo governo foi convidar o rei D. João VI,

exilado no Brasil, a retornar a Portugal. Após uma série de lutas, a cerimónia de coroação

teve lugar a 1 de dezembro de 1822. Desta forma, Portugal foi ultrapassando gradualmente a

crise (Silva, 2006: 184-197).

Page 42: Mengyao Ren - UMinho

29

Durante a segunda metade do século XIX, a criação de muitas indústrias, a evolução

dos meios de transporte e comunicação e o aumento da população contribuíram para o

crescimento das cidades. As principais cidades do país — Lisboa e Porto — foram as que

mais cresceram e se modernizaram. Naquele tempo, a burguesia era o grupo social mais

importante da cidade. Neste contexto histórico, a distribuição dos nomes mais comuns era

aproximadamente a seguinte:

Século XVII Século XVIII/XIX

Nome % Nome %

Manuel 14.1 Manuel 15.4

António 10.8 José 14.0

João 10.7 António 13.5

Francisco 4.8 João 11.0

Pedro 4.6 Francisco 4.1

Diogo 4.5 Luís 3.3

Luís 3.5 Joaquim 2.5

Simão 3.0 Diogo 2.3

Domingos 2.8 Domingos 2.3

Tabela 3 Nomes masculinos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa

Século XVII Século XVIII/XIX

Nome % Nome %

Maria 19.9 Maria 20.2

Isabel 12.6 Ana 9.3

Beatriz 7.6 Isabel 7.3

Catarina 7.4 Leonor 4.5

Ana 6.9 Catarina 4.0

Leonor 6.3 Beatriz 3.9

Joana 3.6 Joana 3.3

Branca 3.0 Antónia 3.1

Violante 2.7 Josefa 2.8

Tabela 4 Nomes femininos mais frequentes dos processados da Inquisição de Lisboa16

16 Foram utlizados para esta sondagem preliminar os ficheiros informáticos elaborados, no âmbito do projeto dirigido por

Page 43: Mengyao Ren - UMinho

30

As tabelas mostram que, com poucas exceções, os nomes masculinos e femininos

escolhidos com maior frequência no século XVII continuavam a sê-lo nos dois séculos

seguintes. Entre os nomes masculinos, os de Simão e Gaspar desaparecem da lista dos dez

nomes mais frequentes depois do século XVII, sendo substituídos, respetivamente, por

Joaquim e José. Entre os nomes femininos, desaparecem depois do século XVII Branca,

Violante e Inês. Os nomes que os substituíram foram, nos séculos XVIII/XIX, Mariana, Josefa

e Antónia. Mas a grande maioria dos nomes próprios manteve a sua popularidade.

No dicionário manuscrito que compõe o códice 2126 dos Arquivos Nacionais-Torre do

Tombo, da Livraria, de 1769, editado por Anabela Barros (2018), foram incluídas pelo autor

anónimo listas dos nomes próprios mais comuns, entre os quais figuram ainda alguns que

tiveram bem pouca fortuna em épocas posteriores. Sendo listas por secções alfabéticas, não

é possível avaliar quais de entre eles seriam os mais privilegiados. Separados de acordo com

o sexo, surgem assim, no final da obra, o Dictionario. Dos nomes proprios de homens, mais

communs, e uzados em Portugal e o Dictionario. Dos nomes mais communs de molheres:

Robert Rowland no Instituto Gulbenkian de Ciência entre 1982 e 1987, a partir do catálogo oitocentista dos processos daInquisição de Lisboa do Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Foram excluídos os nomes estrangeiros.

Page 44: Mengyao Ren - UMinho

31

Adrião*Affonço*AgostinhoAlbertoAleixoAlexandreAmadorAmaroAmbrozioAnacletoAnastacioAndrèAngeloAnselmoAntamAntonioAttanazioBaltazarBartholomeoBazilioBentoBernardinoBernardo

BoaventuraBràsCaetanoCalisto*Candido*CarlosCazimiro*ClaudioClementeConstantinoCosmeCustodioDamazoDamiamDiogoDionizioDomingosDuarteEduardoEstacioEstevãoEugenioFeliciano

FelicioFelixFernandoFlorençio*FlorentinoFortunatoFranciscoHenriqueGabrielGasparGonçaloGregorioIgnacioJacintoJeronymoJoãoJoaquimJozèJuliãoJulioLazaro*Leandro*Leonardo

LourençoLucasLuizMamedeManoelMarçalMarcelo*MarcosMattheusMatthiasMauricioMiguelNarcizoNunoPantalião*PascoalPaulino*PauloPedroPlacidoPolicarpo*QuintinoRafael

Raimundo*RobertoRoqueSantosSebastiãoSemeãoSimãoTeodoroTeodozioTeotonioThomàzThomèTristãoValentimValerioVenancio*Verissimo*ViçenteVictorino

Page 45: Mengyao Ren - UMinho

32

Adriana*AguedaAldonça*AnastaciaAndrezaAngelaAngelicaAnnaAntoniaArcangelaAugostinhaAurelia*BaptistaBàrbaraBentaBernardaBernardinaBraziaBrizida*CaetanaCatharinaCazimira*Claudia

ClemenciaConstanciaDamianaDioniziaDomingasDorotheaEfigeniaElenaEngraciaEufraziaEugeniaFaustinaFeliciaFeliciannaFelizardaFilippaFlorenciaFranciscaGabrielaGerarda*Gervazia*Ge[r]trudesGregoria

Guimar*IgnaciaIgnez*Innocencia*IriaIzabelJacintaJeronymaJoannaJoaquinaJozefaJuliaJulianaJusta*Justina*LaureanaLeocadia*LeonardaLeonorLourençaLucreciaLuizaLuzia

MagdalenaManoela*MariaMartaMauriciaMeciaMicaelaMonicaNarcizaPascoaPaulaPaulinaPerpetuaPetronilhaPlacidaPoloniaQuiteriaRitaRofina*RozaRozaliaRozalinaSabina*

SebastianaSerafina*SimeanaSimoa*SuzanaTeotoniaTheodora*Theodozia*TherezaThomaziaTimòtea*UmbelinaUrsulaValeriaVicenciaVictoriaVictorina

Violante

Após o processo de modernização, Portugal entrou num novo capítulo, o da

Contemporaneidade. Em outubro de 1910, uma revolução derrubou a monarquia de Portugal

e estabeleceu a Primeira República. Depois, um golpe militar ocorreu, em maio de 1926, e

uma ditadura militar foi estabelecida. O Ministro das Finanças, Salazar, organizou a “Liga

Nacional” em 1931, e em 1933 uma nova constituição foi aprovada para estabelecer um

novo sistema nacional (Estado Novo), de natureza fascista, que é a “segunda república” na

história de Portugal. A revolução dos cravos aconteceu em 25 de abril de 1974 e o processo

de democratização começou (Pessoa, 2015: 283-285, 298-303).

A cultura dos nomes na nova era tornou-se cada vez mais abundante, tendo em

consideração fatores diferentes de nomenclatura. Por exemplo, a musicalidade ou som

agradável do nome, a estética visual ou gráfica do mesmo, o seu significado ou “poder

sugestivo”, o seu caráter internacional ou existência em várias línguas.

Page 46: Mengyao Ren - UMinho

33

Anos 1950 Anos 1960

1 José 151.223 Maria 514.968 José 161.857 Maria 460.197

2 António 105.676 Ana 40.323 António 104.462 Ana 84.217

3 Manuel 83.427 Rosa 22.303 João 67.542 Rosa 26.1

4 João 52.717 Isabel 12.951 Manuel 66.127 Isabel 26.036

5 Carlos 39.98 Fernanda 7960 Carlos 58.701 Fernanda 22.543

6 Joaquim 36.244 Teresa 7610 Paulo 42.441 Teresa 15.464

7 Fernando 33.924 Margarida 6370 Fernando 39.118 Margarida 13.908

8 Francisco 22.027 Emília 5592 Luís 37.354 Emília 13.668

9 Luís 20.34 Deolinda 5409 Joaquim 34.325 Deolinda 13.515

10 Jorge 15.281 Filomena 4761 Jorge 28.438 Filomena 10.438

Anos 1970 Anos 1980

1 José 93.137 Maria 181.855 João 46.251 Ana 85.002

2 Paulo 68.512 Ana 88.828 Pedro 39.659 Maria 40.924

3 João 60.434 Rosa 49.969 Bruno 37.548 Joana 22.099

4 António 56.128 Isabel 49.416 Ricardo 35.951 Carla 21.521

5 Carlos 50.632 Fernanda 35.748 José 35.442 Sandra 20.378

6 Luís 48.475 Teresa 28.893 Luís 31.075 Andreia 19.865

7 Pedro 46.557 Margarida 28.434 Nuno 28.563 Susana 16.801

8 Nuno 43.371 Emília 22.769 Carlos 26.433 Tânia 16.673

9 Rui 42.33 Deolinda 21.4 Tiago 25.914 Patrícia 16.61

10 Jorge 28.649 Filomena 17.573 Rui 23.085 Cátia 16.55

Tabela 5 Nomes mais comuns no século XX17

No entanto, a identificação das pessoas nunca foi, no contexto português, durante o

período de decadentismo, modernização e contemporaneidade, função exclusiva dos nomes

próprios. Desde a Idade Média, os portugueses começaram a imitar a maneira romana que

usava a combinação de dois tipos de nomes: os nomes próprios e um ou mais sobrenomes.

Esses sobrenomes usados para acrescentar aos nomes próprios eram de vários tipos.

Podiam derivar: a) de alcunhas pessoais; b) de nomes próprios (normalmente, com um

prefixo ou sufixo a fim de significar 'filho de, alguém'; c) de toponímia; ou d) de trabalhos ou

cargos. Serviam, por um lado, para fazer uma distinção entre homónimos, por outro lado,

para garantir que esse indivíduo independente permaneça no interior da linhagem ou grupo

familiar. No início, pelo menos, podiam ser considerados como um complemento, de

natureza tendencialmente pessoal e intransmissível, ao nome próprio. Só mais tarde alguns

17 Fonte: IRN-instituto dos registos e do notariado.

Page 47: Mengyao Ren - UMinho

34

começaram a funcionar como nomes de família, transmissíveis de geração em geração.

Marido Mulher Filho(s) Filha(s)

1 Afonso Fernandes — Nuno Fernandes —

2 Afonso Lourenço — — Domingas Lourenço

3 Afonso Marques — Miguel Marques

Lourenço Marques

4 Álvaro Afonso — — Isabel Gonçalves

5 Álvaro Esteves — — Catarina Dias

6 Álvaro Fernandes — Domingos Fernandes

João Fernandes

Leonor Fernandes

7 António Afonso — António Afonso

João Afonso

Maria Afonso

8 António Fernandes Maria Vasques — Isabel Vasques

9 António Machado — Afonso Montes Antónia Montes

Maria Beiça

10 António Martins — Vicente Martins Catarina Martins

11 Baltasar Luís — João Luís —

12 Baltasar Martins Vilão — — Elvíra Lopes

Tabela 6 Transmissão de nomes entre gerações18

2.2. Na China

A história da China é longa, densa e complicada. Trata-se de uma cultura milenar que já

vivenciou centenas de grandes acontecimentos. É preciso considerar as diferenças na

questão cultural, uma vez que a China é um país de enormes dimensões, onde estão

integrados diversos povos e civilizações. Já foram descobertas evidências de sinais de vida

há cerca de 250 000 anos e os primeiros registos históricos são muito antigos (Li, 2011: 13).

18 Fonte: Revista do Centro em Rede de Investigação em Antropologia, vol. 12 (1), 2008.

Page 48: Mengyao Ren - UMinho

35

Isto tem-se verificado com muitos monumentos e vestígios encontrados nos últimos anos. Por

sua vez, tais restos mostraram a presença de túmulos de imperadores, palácios de

burocratas e coleções particulares da nobreza.

A antroponímia, como parte da dimensão cultural, tem sido um dos principais elos entre

a vida material e espiritual da nação chinesa e desempenha um papel extremamente

importante nos campos da política, cultura e atividades sociais. Os achados arqueológicos

provaram que os chineses começaram a viver nas suas próprias terras há mais de um milhão

de anos, mas a história dos 姓 (xìng, 'apelidos') começou mais tarde, apenas na sociedade

matriarcal (há cinco ou seis mil anos). Portanto, é necessário estudar o desenvolvimento e as

mudanças dos nomes chineses de acordo com limites de tempo específicos — dinastias —

que são um dos elementos mais importantes na estrutura histórica da China, tendo alargado

de maneira considerável a sua influência e poder.

2.2.1. Antes da reunificação da Dinastia Qin (anteriormente a III a.C.)

Antes da dinastia Qin, 姓 (xìng, 'apelido') e 氏 (shì, 'definições semelhantes ao

apelido em português'), eram separados e eram dois conceitos diferentes; 姓 era usado

para distinguir os antecessores e 氏 para indicar o nível hierárquico. Os nobres tinham o

direito de obter 氏, ao passo que os humildes só possuíam alcunhas (Li, 2011: 8-10).

Durante o reinado do Imperador Amarelo (2717 a.C.-2599 a.C.), 姓 (xìng, 'apelido')

nasce da sociedade matriarcal, e pode ser visto nas escrituras pictográficas que cada tribo

tem um antecessor feminino, e que o 姓 é o símbolo dessa tribo. Os oito 姓 antigos — 姬

19 (jī), 姚 (yáo), 妫 (guī), 姒 (sì), 姜 (jiāng), 嬴 (yíng), 姞 (jí), 妘 (yún) — todos têm

女 (nǚ, 'mulher') como radical. Mais tarde, entrou-se na sociedade patriarcal, mas o símbolo

da civilização tribal, 姓, ainda era preservado, tal como o exemplo de 姬 (jī) na tribo 黄

帝 (Huángdì, 'Imperador Amarelo'). Depois disso, 姓 continuou a evoluir durante os Três

Imperadores, os Cinco Imperadores e as Dinastias Xia, Shang e Zhou, tendo-se gradualmente

formado os xing mais comuns de hoje.

Na Dinastia Zhou, o 姓 (xìng, 'apelido') de 姬 (jī) do Imperador Amarelo foi dividido

19 姬 não tem significado concreto em chinês.

Page 49: Mengyao Ren - UMinho

36

em 411 姓, incluindo 周 (zhōu), 吴 (wú), 郑 (zhèng), 王 (wáng), 鲁 (lǔ), 曹 (cáo),

魏 (wèi), etc., representando 82% de todos os 姓 (o número total é de 504).

O 姜 (jiāng) de 炎帝 (Yán Dì) é uma das origens importantes de 吕 (lǚ), 谢 (xiè),

齐(qí), 高 (gāo), 卢 (lú), 崔 (cuī) e assim por diante.

O 姚 (yáo) de 舜帝 (Shùn Dì) originou mais de 60 姓, como 陈 (chén), 王(wáng),

胡 (hú), 孙 (sūn), 虞 (yú), 田 (tián), 袁 (yuán), 车 (chē), 陆 (lù).

Os descendentes de Vulcano 祝融 (Zhù Róng) utilizaram sempre 己 (jǐ), 董 (dǒng),

彭 (péng), 禿 (tū), 妘 (yún), 曹 (cáo), 斟 (zhēn) e 芈 (mǐ).

Estes 姓 (xìng, 'apelido') derivados foram chamados 氏 (shì, 'definições semelhantes

ao apelido em português') no período pré-Qin (Liang, 2017: 42).

Como as tribos continuaram a desenvolver-se e perpetuar-se, a população de cada uma

delas foi crescendo, e algumas pessoas mudaram-se para outros lugares. A fim de distinguir

essas pessoas, surgiu o 氏 (shì, 'definições semelhantes ao apelido em português'). Mais

tarde, surgiram mais métodos para definir 氏.

Figura 4 Os estados vassalos no início do período das Primaveras e Outonos

Page 50: Mengyao Ren - UMinho

37

Além de 氏 (shì, 'definições semelhantes ao apelido em português') ser nome do feudo

20 齐 (qí), 鲁 (lǔ), 晋 (jìn), 宋 (sòng), 郑(zhèng), 吴 (wú), 越 (yuè), 秦 (qín), 楚

(chǔ), 卫 (wèi), 韩 (hán), 赵 (zhào), 魏(wèi), 燕 (yàn), etc., ainda dá nome a cargos,

tais como 司徒 (sītú), 司马 (sīmǎ) e 司空 (sīkōng); nomes de profissões, tais como

陶 (táo, 'ceramista, oleiro'), 屠 (tú, 'carniceiro'); nomes de localização, tais como 西门

(xīmén), 东郭 (dōngguō), 邱 (qiū); posição da família, tais como 伯 (bó), 仲 (zhòng),

叔 (shū), 季 (jì), entre outros. 伯 (bó), 仲 (zhòng), 叔 (shū), 季 (jì) são os nomes

dados aos irmãos por ordem de idade, 伯 (bó) é o chefe ou irmão mais velho, 仲 (zhòng)

é o segundo irmão, 叔 (shū) é o terceiro e 季 (jì) é o mais novo (Liang, 2017: 33).

2.2.2. Da Dinastia Qin à Dinastia Tang

Durante muito tempo, o norte da China esteve dominado pelos bárbaros. O sul tinha

ficado bem dividido em diversas regiões. Um general do exército 秦始皇帝 (Qínshǐhuángdì,

'Imperador de Qinshihuang'), o primeiro imperador chinês (desde 247 até 221 a.C.),

conseguiu iniciar o processo de reunificação do país, depois de muitas lutas sangrentas e

conflitos políticos. Nos anos que se seguiram, os seus filhos continuaram a reunificar o

território que hoje conhecemos como China.

Na dinastia Qin, o Imperador de Qinshihuang unificou os seis países.

秦灭六国,子孙该为民庶,或以国为姓,或以姓为氏,或以氏为氏,姓氏之失,由

此始……兹姓与氏浑为一者也。

Qín miè liùguó, zǐsūn gāiwéi mínshù, huò yǐguówéixìng, huò yǐxìngwéishì, huò yǐshìwéishì,xìngshì zhīshī, yóucǐshǐ...Zī xìng yǔ shì húnwéiyīzhěyě.O reino Qin destruiu os outros seis pequenos reinos, portanto, os descentes dos derrotadosdevem ser plebeus. Podem intitular-se shì por xìng.

(Zheng, 1995: 4)

Desde então, não há grande diferença entre o姓 (xìng, 'apelido') e o氏 (shì, 'definições

semelhantes ao apelido em português'). Ambos são consistentes com o significado de apelido

hoje em dia.

Além disso, um fenómeno muito interessante é que, naquele tempo, as pessoas

consideravam os porcos como auspiciosos, por isso alguns nomes de pessoas tinham na sua

20 No feudalismo, um feudo é a terra ou uma fonte de renda concedida por um suserano ao vassalo, em troca de fidelidadee ajuda militar.

Page 51: Mengyao Ren - UMinho

38

composição uma alusão a estes animais. Por exemplo, o filho mais novo do Imperador de

Qinshihuang chamava-se 胡亥 (Hú Hài), cujo significado é 'porco', o que hoje em dia não é

considerado tão auspicioso (Sima, 1982: 87).

Existiu também uma dinastia, chamada Han (associada à evolução da língua chinesa e

ao seu sistema de escrita baseado nos carateres), que promoveu o pensamento de Confúcio;

dessa forma começaram a aparecer os primeiros funcionários que administraram a China

durante séculos. O papel foi inventado na China e muito contribuiu para a educação.

Comparado com a cultura de antroponímia antes da Dinastia Qin, o nome na dinastia

Han mudou muito. Palavras como veneração, bondade, mérito, virtude e assim por diante

tornaram-se nas primeiras escolhas das pessoas. Com base nos quatro carateres de 伯 (bó),

仲 (zhòng), 叔 (shū), 季 (jì), que eram comummente usados pelos povos pré-Qin, eles

acrescentaram 元 (yuán), 长 (zhǎng), 次 (cì), 幼 (yòu), 少 (shào), 公 (gōng), 翁

(wēng), 君 (jūn ), 臣 (chén), 侯 (hóu), 宾 (bīn), 士 (shì), 民 (mín), 郎 (láng), etc.

(Liang, 2017: 33).

Por exemplo, o compilador de 盐铁论 21 (Yántiělùn, Teoria do Sal e do Ferro), cujo

nome é 桓宽 (Huán Kuān ) ou 次公 (Cì Gōng), que indica que ele é o segundo filho em

casa; um dos nove ministros22 do governo imperial chama-se 翁子 (Wēng Zǐ), e o seu

significado é 'homem velho'.

A caraterística da antroponímia mais marcante da dinastia Han é que, seja um membro

da família real ou um cidadão comum, é nomeado com um único caráter, como o Imperador

Gaozu de Han, 刘邦 (Liú Bāng); o Imperador Huidi de Han, 刘盈 (Liú Yíng) e o Imperador

Wendi de Han, 刘恒 (Liú Héng). Entre os 24 imperadores da dinastia Han, apenas o

Imperador Zhaodi de Han, 刘弗陵 (Liú Fúlíng) assumiu um nome com dois carateres, mas

depois de ser entronizado retirou o caráter 陵 (líng), ficando só com o caráter 弗 (fú).

Depois do reinado do Imperador Zhaodi, de facto, o trono imperial esteve sujeito à

turbulência resultante de conflitos palacianos. Esses graves conflitos ocorriam sempre que os

parentes do herdeiro do trono tentavam legitimar a sua ascensão política por meio de golpes

ou assassinatos, e não havia mecanismos eficientes para impedi-los. O Segundo Imperador,

por exemplo, foi responsável pela morte do próprio irmão. A imperatriz 吕 (lǚ), esposa de

21 Um livro muito famoso na dinastia Han Ocidental, que narra os debates políticos, económicos, militares, diplomáticos eculturais dessa dinastia.22 Que dirigiam um ministério especializado e subordinados aos Três Conselheiros de Estado.

Page 52: Mengyao Ren - UMinho

39

Gaozu, aproveitou a morte do marido para conduzir a corte visando os interesses da sua

família. Foram apenas necessários quinze anos para que, por ocasião de sua morte, toda a

sua família fosse assassinada numa contenda palaciana.

王莽 (Wáng Mǎng) era parente da imperatriz 王 (wáng) — membro da família

imperial 刘 (liú) —, que controlou a corte por um tempo considerável durante a viuvez. Ele

serviu como regente durante o governo de imperadores menores e, no ano 9 d.C., assumiu o

título imperial e fundou a dinastia Xin (ou “Nova” dinastia). Chamado por muitos de

“usurpador”, 王莽 (Wáng Mǎng) era um grande conhecedor da filosofia confuciana e

realizou reformas administrativas orientado pelos clássicos. Durante o seu governo

funcionários foram renomeados, templos construídos e custos supérfluos cortados. Ele

também acreditava que o nome devia conter apenas um caráter, que fosse uma etiqueta

antiga, e que devia ser herdado e levado adiante. Portanto, sob a influência de "respeito ao

clássico", o nome com apenas um caráter tornou-se cada vez mais popular (Meng, 2016:

390).

前汉书·匈奴传 (Qián hànshū ·xiōngnúzhuàn) regista:

时莽奏令中国不得有二名,因使使者以风(讽)单于,宜上书慕化,为一名,汉

必加厚赏。单于从之。

Shí mǎng zòulìng zhōngguó búdéyǒu èrmíng, yīnshǐ shǐzhě yǐfēng( fěng) Chán Yú, yíshàngshūmùhuà, wéi yīmíng, hàn bìjiā hòushǎng. Chán Yú cóngzhī.Naquela época, Wang Mang ordenou que os povos nas Planícies Centrais não permitissem doiscarateres nos seus nomes, e enviou mensageiros para a área dos hunos, sugerindo que o líderdos hunos 单于 (Chán Yú) também cumprisse essa ordem. 单于 (Chán Yú) temia o castigode sua majestade e queria obter uma recompensa generosa, então mudou de imediato o seunome para um caráter.

春秋公羊传·哀公十三年 (Chūnqiū gōngyáng zhuàn · āigōng shí sānnián) também regista:

二名非礼也。

Èrmíng fēi lǐ yě .O nome que contém dois carateres não está de acordo com a lei.

(Huang & Zeng, 2016: 12).

Desde então, o período dos Três Reinos, a Dinastia Jin Ocidental e nos seguintes cerca

de trezentos anos, os nomes de um caráter prevaleceram.

Depois das Dinastias do Sul e do Norte, o estilo do nome com dois carateres ficou na

moda de forma gradual, e os nomes começaram a aparecer com duas caraterísticas

principais: primeiro, a palavra auxiliar 之 (zhī) tornou-se cada vez mais popular; segundo,

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40

não prestem enorme atenção à relação de hierarquia entre pessoas.

A Dinastia Sui foi uma dinastia imperial de pequena importância. Os Sui unificaram as

dinastias do Norte e do Sul e reinstalaram o governo da etnia Han na China, bem como as

antigas minorias no seu território. No meio da dinastia Sui, o império recém-unificado entrou

numa era de prosperidade, com um vasto excedente agrícola que sustentava o crescimento

agudo da população. Amplas reformas e projetos de construção foram realizados para

consolidar o estado recém-unificado, com influências duradouras além do curto reino

dinástico. À dinastia Sui sucedeu-se a dinastia Tang, que herdou largamente a sua fundação.

A dinastia Tang, geralmente, é considerada como um ponto alto na civilização chinesa e

uma era de ouro da cultura cosmopolita. O seu território, adquirido através das campanhas

militares dos seus primeiros governantes, rivalizava com o da dinastia Han, e a capital dos

Tang, Chang’an (atual Xi’an), era a cidade mais populosa do mundo. Naquele tempo, o paço

mantinha um sistema de serviço civil ao recrutar autoridades académicas por meio de

exames padronizados e recomendações para o cargo. A cultura chinesa floresceu e

amadureceu ainda mais durante a era Tang; considerada a maior época da poesia chinesa.

Dois dos poetas mais famosos da China, 李白 (Lǐ Bái) e 杜甫 (Dù Fǔ), viveram nessa

época, assim como muitos pintores famosos, como 韩滉 (Hán Huàng), 张萱 (Zhāng Xuān)

e 周昉 (Zhōu Fǎng). Houve muitas inovações notáveis durante a dinastia Tang, incluindo o

desenvolvimento da impressão em xilogravura.

A antroponímia na dinastia Tang tem uma característica interessante: prevaleceram os

nomes com carateres duplos. Por exemplo, em 敦煌文献研究 (Dūnhuáng wénxiàn yánjiū,

'Os escritos póstumos de Dunhuang'23) (Zhou, 1995: 103).

米和和、贾憨憨、曹娘娘、郑王王、杜是是、令狐仙仙、索来来、权龙龙

Mǐ Héhé, Jiǎ Hānhān, Cáo Niángniáng, Zhèng Wángwáng, Dù Shìshì, Lìnghú Xiānxiān, SuǒLáilái, Quán Lónglóng

De acordo com a pronúncia do chinês, os nomes com carateres duplos não só soam

muito íntimos, mas também são facilmente lembrados.

23 Os escritos póstumos de Dunhuang, também conhecidos como literatura de Dunhuang ou manuscritos de Dunhuang, sãoos nomes gerais de um grupo de livros encontrados na Gruta n.º 17 de Dunhuang Mogao em 1900, referindo-se aos antigosescritos e gravuras de Dunhuang do século II ao XIV.

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41

2.2.3. Da Dinastia Song à dinastia Qing

A Dinastia Song foi uma época importante na história chinesa que começou em 960 e

continuou até 1279. Sucedeu ao período das Cinco Dinastias e Dez Reinos, e foi seguida pela

Dinastia Yuan. Foi o primeiro governo na história do mundo a emitir cédulas bancárias ou a

autenticar o papel-moeda nacionalmente, e o primeiro governo chinês a estabelecer uma

marinha permanente. Esta dinastia também viu o primeiro uso conhecido da pólvora, bem

como a primeira indicação do norte verdadeiro usando uma bússola. Os comerciantes persas

e árabes levaram a bússola para a Europa, onde esse invento chinês desempenharia um

importante papel nas Grandes Navegações dos séculos XV-XVI (Chen, 2016: 4).

A Dinastia Song pode ser dividida em dois períodos distintos: Song do Norte (960-1127),

que se refere ao período em que a capital do Império chinês estava na cidade setentrional de

Bianjing (atual Kaifeng); e Song do Sul (1127-1279), que começou quando o Império perdeu

o controlo da sua metade norte para a dinastia 女真 (nǚ zhēn), nas Guerras 宋金 (sòng

jīn). Durante esse período, a corte Song recuou para sul do Yangtze e estabeleceu a sua

capital em Lin’an (agora Hangzhou). Embora a dinastia Song tenha perdido o controlo do

tradicional “berço da civilização chinesa” ao longo do rio Amarelo, a economia Song ainda

era forte, pois o império Song do sul contava com uma extensa população e terras agrícolas

produtivas.

A Dinastia Song do Norte foi uma época de extraordinária peculiaridade e

desenvolvimento desigual. Por um lado, embora possuísse um grande exército, a sua força

militar não era forte e por isso estava em desvantagem quando confrontada com Liao24 e Xi

Xia; embora a economia fosse muito próspera, o governo da Dinastia Song do Norte não tinha

riquezas suficientes para conseguir sobreviver. Como a Dinastia Song do Norte era “fraca”

nas forças armadas e “pobre” na economia, ficou considerada pelos historiadores como “a

dinastia mais fraca da história chinesa”. No entanto, por outro lado, foi uma das dinastias da

história da China com a tecnologia mais desenvolvida, a cultura mais florescente e a arte

mais próspera. Apareceram muitas invenções respeitáveis. Nos séculos XI e XII, o nível de

vida era equiparável ao de qualquer outra cidade no mundo. Os cidadãos reuniam-se para ver

e trocar obras de arte preciosas, a população juntava-se em festivais públicos e clubes

privados, e as cidades tinham animadas áreas de entretenimento. A disseminação da

24 Liao e Xi Xia pertenciam ambos ao países minoritários.

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42

literatura e do conhecimento foi reforçada pela rápida expansão da impressão em xilogravura

e pela invenção, no século XI, da impressão do tipo móvel. Tecnologia, ciência, filosofia,

matemática e engenharia floresceram ao longo desse tempo. Filósofos como 程颐 (Chéng

Yí) e 朱熹 (Zhū Xī) revigoraram o confucionismo com novos comentários infundidos em

ideais budistas e enfatizaram uma nova organização de textos clássicos, destacando a

doutrina central do neoconfucionismo. Embora a instituição dos exames do serviço civil

tivesse existido desde a dinastia Sui, tornou-se muito mais proeminente no período Song

(Chen, 2016: 455).

Além disso, a antroponímia da dinastia Song mostrou uma tendência diversificada, e as

características ficaram mais fáceis de resumir. Primeiro de tudo, os nomes têm uma

tendência de “volta à antiguidade”: aparecem neles frequentemente os carateres chineses

que costumavam significar respeito pelos mais velhos, 老 (lǎo),叟 (sǒu),翁 (wēng) e

assim por diante.

Por exemplo, o autor do livro 东京梦华录 (Dōngjīng mènghualù) chamava-se 孟元

老 (Mèng Yuánlǎo)e o autor do livro 鹤山堂 (Hèshāntáng) chamava-se 魏了翁 (Wèi

Liǎowēng).

Em segundo lugar, além de considerar a tradicional etiqueta um tabu, as pessoas

também prestavam atenção aos 五行 (wǔxíng, 'cinco elementos'), 阴 (yīn) e 阳 (yáng)25,

e 生辰八字 (shēngchén bāzì, 'o nascimento dos oito carateres'). Entre eles, “o nascimento

dos oito carateres” e os “cinco elementos do Yin e Yang” são os mais populares.

A teoria dos cinco elementos do horóscopo chinês — Fogo, Terra, Metal, Água e Madeira

simbolizam as energias cíclicas do universo. Os cinco elementos são componentes

importantes da astrologia chinesa tradicional e estão em constante interação e

relacionamento. Eles seguem, opõem-se e dão à luz um ao outro.

Os chineses acreditam que todos nós temos os cinco elementos nos nossos corpos e ao

nosso redor. A falta ou o excesso deles em nós pode ser equilibrado com a alimentação,

objetos ou atividades físicas que são relacionados com as suas características deles (Qi, 2010:

133).

A terceira grande mudança no nome durante a dinastia Song foi a popularização da

“nomeação segundo a geração”. A genealogia mais completa da família Kong foi editada na

25 Yin e Yang, os dois princípios opostos na natureza, o anterior representa feminino e coisas negativas, e o últimorepresenta masculino e coisas positivos.

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43

Era de Yuan Feng, Dinastia Song do Norte. Observe-se o arquivo 孔氏家族族谱 (Kǒngshì

jiāzú zúpǔ, 'Genealogia da família Kong')26:

Da 56ª à 65ª geração:27

希(士)、言(伯)、公(文)、彦(朝)、 承(永)、 宏(以)、闻(质)、

贞(用)、 尚(之)、衍(茂)

xī(shì), yán(bó), gōng(wén), yàn(cháo), chéng(yǒng), hóng(yǐ), wén(hì), zhēn(yòng), shàng(zhī),yǎn(mào)

Da 66ª à 75ª geração:兴(起)、毓(钟)、传(振)、继(体)、 广(京)、 昭(显)、宪(法)、

庆(泽)、 繁(羽)、祥(瑞)

xīng(qǐ), yù (zhōng), chuán(zhèn), jì (tǐ), guǎng(jīng), zhāo(xiǎn), xiàn(fǎ), qìng(zé), fán(yǔ),xiáng(ruì)

Da 76ª à 85ª geração:令、德、维、垂、佑、钦、绍、念、显、扬。

lìng, dé, wéi, huí, yòu, qīn, shào, niàn, xiǎn, yáng 20 carateres adicionados:

建、道、敦、安、定,懋、修、肇、彝、常、裕、文、焕、景、瑞、永、锡、世、

绪、昌

jiàn, dào, dūn, ān, dìng, mào, xiū, zhào, yí, cháng, yù, wén, huàn, jǐng, ruì, yǒng, xī, shì, xù,chāng

Da 86ª à 105ª geração:宏、闻、贞、尚、衍、兴、毓、传、纪、广、昭、宪、庆、繁、祥、令、德、维、

垂、佑、钦、绍、念、显、扬、鼎、新、开、国、运、克、服、振、家、声、建、

道、敦、安、定、懋、修、肇、益、常、裕、文、焕、景、瑞,永、锡、世、绪、

hóng, wén, zhēn, shàng, yǎn, xìng, yù, chuán, jì, guǎng, zhāo, xiàn, qìng, fán, xiáng, lìng, dé,wéi, chuí, yòu, qīn, shào, niàn, xiǎn, yáng, dǐng, xīn, kāi, guó, yùn, kè, fú, zhèn, jiā, shēng,jiàn, dào, dūn, ān, dìng, mào, xiū, zhào, yì, cháng, yù, wén, huàn, jǐng, ruì, yǒng, xī, shì, xù,chāng

Imediatamente após a Dinastia Song, a Dinastia Yuan foi estabelecida por Kublai Khan

(nome mongol na época, em chinês 忽必烈 (hūbìliè), líder do clã mongol Borjigin (em

chinês 博尔济吉特 bóěrjìjítè). Embora os mongóis tivessem governado territórios que

incluíam o atual norte da China há décadas, foi somente em 1271 que Kublai Khan

proclamou oficialmente a dinastia no estilo tradicional chinês. O seu reino estava, nessa

altura, isolado dos outros canatos, e ele controlava a maior parte da China atual e seus

arredores, incluindo a moderna Mongólia e a Coreia. Foi a primeira dinastia estrangeira a

26 Não se trata de um livro, mas de um arquivo privado, mantido pelos Arquivos Nacionais da China.27 Fonte: Douban, encontrados em https://www.douban.com/note/671618323/

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governar toda a China e durou até 1368; depois, os governantes Genghisid (em chinês 成吉

思汗 chéngjísīhán) retornaram à sua pátria mongol e continuaram a governar a dinastia

Yuan do Norte. Alguns dos imperadores mongóis Yuan dominavam a língua chinesa, enquanto

outros usavam apenas a sua língua nativa, o mongol.

Além do Imperador da China, Kublai Khan (em chinês 忽必烈 hūbìliè) também

reivindicou o título de Grande Khan (em chinês 汗国 hánguó), supremo sobre os outros

khans sucessores: o Chagatai (em chinês 察合台汗国 cháhétái hánguó), a Horda de Ouro

e o Ilkhanate (em chinês 伊利汗国 yīlì hánguó). Como tal, o Yuan também era conhecido

como o Império do Grande Khan (em chinês 汗国 hánguó).

Quanto à antroponímia, de todas as dinastias, o uso de nomes numéricos foi mais

popular na dinastia Yuan. Por exemplo, 张士诚 (Zhāng Shìchéng), um dos líderes do

exército rebelde no final da dinastia Yuan, cujo nome original era 九四 (jiǔ sì, 'novo e

quatro'), e 士诚 (shìchéng, 'pessoa honesta') foi-lhe posteriormente dado por um letrado

(Zhang, 2015: 11).

De facto, esse costume de usar números como nomes está realmente relacionado com

a política da corte. Na Dinastia Yuan, os chineses de etnia han, as pessoas comuns e as

pessoas sem ocupação não podiam receber nomes com um significado real, só podiam ser

chamados pelas posições das suas famílias, a idade dos seus pais, a data dos seus

nascimentos e assim por diante.

Por exemplo, quando uma criança nascia, se o seu pai tivesse 29 anos e a sua mãe

tivesse 25, a soma era 54. Portanto, a criança era chamada de 五十四 (wǔshísì, 'cinquenta

e quatro'). Se o pai tivesse 23 anos, a mãe tivesse 22 e a soma da idade dos pais fosse 45

anos, a criança podia ser chamada de 四十五 (sìshíwǔ, 'quarenta e cinco') ou 五十九

(wǔshíjiǔ, 'cinquenta e nove'), pois quando cinco é multiplicado por nove resulta em quarenta

e cinco. Há também uma maneira especial de nomeação, que é o nome constituído pela

idade do avô quando a criança nasceu. Se a criança nasceu quando o seu avô tinha 73 anos,

será nomeada como 七十三 (qīshísān, 'setenta e três') (Chayulanshi28, 2018).

A Dinastia Qing foi a última dinastia imperial da China, tendo durado 268 anos (de 1644

até 1912), com uma breve restauração abortada em 1917. Foi precedida pela dinastia Ming e

sucedida pela República da China. Foi formada pela etnia manchu minoritária, povo nómada

28 Pseudónimo de um escritor em App. Douban.

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45

originário da região leste da Ásia, que atualmente inclui o extremo nordeste da China,

também chamado de Manchúria Interior, e uma parte da Sibéria. O seu fundador foi Aisin

Gioro (em chinês 爱新觉罗 àixīnjuéluó), líder do clã manchu da região nordeste da China.

Nurhachi (em chinês 努尔哈赤 nǔěrhāchì), o seu sucessor, originalmente um vassalo do

imperador Ming, iniciou uma ação de unificação dos clãs da região, conseguindo o seu

intento no final do século XVI. A sua principal estratégia foi a criação do sistema de governo e

a distribuição do poder conhecido como 八旗 29 (bāqí, 'oito bandeiras'), em que todos os

manchus pertenciam a uma das “oito bandeiras”, que uniam o poder civil de uma região

com unidades militares da mesma área (Du, 2015).

Os nomes manchus eram, naturalmente, escritos e pronunciados em língua manchu.

Como mencionado acima, Aisin Gioro (em chinês 爱新觉罗 àixīnjuéluó) e Nurhachi (em

chinês 努尔哈赤 nǔěrhāchì). Com o estabelecimento do regime manchu nas Planícies

Centrais, os funcionários queriam escrever os seus nomes em carateres da etnia Han

(carateres chineses atuais), isto é, escrever os carateres chineses correspondentes de acordo

com a pronúncia Manchu. Portanto, no começo as pessoas só se importavam se a pronúncia

era correta ou não, e não se importavam com o significado dos carateres chineses. Depois

disso, os nomes manchus mudaram rapidamente com o desenvolvimento da sociedade (Du,

2015: 12).

Primeiro, os nomes mostram uma forte adoração natural e ancestral. Por exemplo, o

povo manchu viveu na vizinhança da Montanha Changbai no século XVI de modo

semi-agrícola e semi-selvagem, pelo que costumava usar uma certa parte dos animais como

nome das crianças. Nuerhachi (em chinês 努尔哈赤 nǔěrhāchì) é uma transliteração dos

Nurhaci da língua manchu, que significa 'pele de porco selvagem'. Os seus pais esperavam

que o Nurhaci fosse tão corajoso como o javali na floresta e tão duro como a sua pele. Além

disso, um dos irmãos de Nurhaci chamava-se Surhaci (em chinês 舒尔哈齐 shūěrhāqí),

que significa 'pele de leopardo'; um irmão de Surhaci chamava-se Dorgon (em chinês 多尔

衮 duōěrgǔn), que significa 'texugo', e um filho de Nurhaci chamava-se Dudu (em chinês 杜

度 dùdù), que significa 'pomba' (Base de dados de rede de Fenglin, 2018).

Em segundo lugar, com o aprofundamento da cultura Han, começou-se a moldar a

personagem no nome, expressando o desejo de bênção e auspiciosidade. Por exemplo, o

29 É a forma de organização militar da vida social da dinastia Qing e é também o sistema fundamental da dinastia Qing.

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46

terceiro Imperador da Dinastia Qing, Shunzhi (1638-1661), recebeu como nome próprio 福

临 (fúlín) , que significa 'a vinda da bênção', a sua mulher favorita, 董鄂妃 (Dǒngèfēi), foi

nomeada por imperatriz 孝娴端庄 (xiàoxián duānzhuāng), que significa 'piedosa, garbosa,

digna e generosa', e as suas filhas, 和顺 (héshùn) e 和硕 (héshuò), que significam

'pacífico, suave e rico'.

Em terceiro lugar, o Imperador Kangxi decretou que as deveriam utilizar o nome de

geração, o que aumentou a influência pela assimilação da etnia Han. Por exemplo, todos os

nomes dos filhos do Imperador Kangxi incluem o caráter 胤 (yìn): 胤禔 (yìntí), 胤礽

(yìnréng), 胤祉 (yìnzhǐ), 胤禛 (yìnzhēn), 胤禩 (yìnsì), 胤禟 (yìntáng), 胤䄉 (yìné), 胤

祥 (yìnxiáng), 胤禵 (yìntí) (Yan, 2007).

2.2.4. Após a guerra do ópio (séculos XVIIII-XX)

A época moderna da China teve início em 1840 e perdurou até 1919. O seu principal

símbolo remete para a Guerra do Ópio, ocorrida justamente nesse ano.

No início do século XVIIII, quando a China ainda estava sob o reinado da Dinastia Qing,

Portugal, Espanha, Alemanha, Grã-Bretanha e França já eram potências imperialistas e

controlavam o comércio entre a Ásia e o Ocidente. Mas a China estava fechada para o

comércio internacional, com exceção do porto de Cantão. Assim, Cantão tornou-se um centro

importante de comércio entre a China e o Ocidente. Um dos principais produtos levados para

o país por comerciantes ocidentais foi o ópio, droga que passou a ser muito consumida

naquela altura. Mas o ministro sábio proibiu a sua importação, e o contrabando do ópio

tornou-se um negócio lucrativo para os comerciantes ocidentais, principalmente para os

britânicos.

Devido ao facto de os principais traficantes terem sido expulsos e os interesses

investidos terem sido danificados, a Inglaterra declarou guerra à China, mandou para o país

uma frota de guerra e ocupou Xangai. Em 1842, com inferioridade tecnológica no

armamento, os chineses renderam-se. Por conta da pesada “dívida de guerra”, aceitaram

tratados de comércio injustos, entre eles o chamado Tratado de Nanquim, que forçava a

China a pagar pesadas multas, a abrir cinco portos ao comércio e a ceder Hong Kong aos

britânicos. Depois da 2ª e 3ª Guerras do Ópio, travadas em 1856 e 1858, mais 11 portos

foram abertos aos ocidentais. Durante os anos de 1894 e 1895, a China perdeu Taiwan

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47

numa guerra com o Japão e foi forçada a reconhecer a independência da Coreia. Os países

vitoriosos obrigaram o governo Qing a conceder maiores direitos de comércio e a doar mais

territórios (Zhu, 2011: 143).

Nesse contexto, a falta de força da dinastia Qing para enfrentar as sucessivas

humilhações impostas pelos ocidentais contribuiu para criar um clima favorável à rebelião

das massas. Em 1911, 孙中山 (Sūn Zhōngshān, 'Sun Yat-Sen') dirigiu uma revolução

democrática burguesa que pôs fim à dominação da dinastia em vigor. Assim terminou a

monarquia, que havia durado mais de dois mil anos, e se estabeleceu o Governo Provisório

da República da China. O presidente provisório, Sun Yat-Sen, não conseguiu manter-se

efetivamente no poder e renunciou em 15 de fevereiro de 1911. Assumiu a presidência o

general 袁世凯 (Yuán Shìkǎi, 'Yuan Shin-kai'), que acabou por fazer concessões ainda

maiores aos estrangeiros. Em decorrência disso, Sun Yat-Sen e os outros nacionalistas, que

haviam formado o Partido Nacionalista, levaram a cabo mais uma rebelião. Desta forma, a

Revolução de 1911 (Revolução de Xinhai) eclodiu. Tratou-se de uma grande revolução

democrático-burguesa na sociedade chinesa moderna, derrubando a monarquia feudal que

governou a China por mais de dois mil anos. Depois aconteceram sucessivamente a

Revolução Nacional, o Confronto de Dez Anos entre Partido Nacionalista e Partido Comunista,

a Guerra Anti-japonesa, etc.

Neste contexto, os nomes do povo chinês estão intimamente relacionados com a

situação política da época. Apenas pelo nome, pode-se dizer em que época a pessoa nasceu.

Por exemplo, uma pessoa com o nome 国庆 (guóqìng), 建国 (jiànguó), 国昌 (guóchāng),

国强 (guóqiáng), 建华 (jiànhuá) é provável que tenha nascido nos primeiros dias da

fundação da Nova China, porque os nomes chineses significam, quer uma declaração direta

da ocorrência da fundação da Nova China, quer uma celebração da alegria da nova era.

O significado desses nomes expressa a alegria da fundação da Nova China ou expressa

o incidente de maneira direta. De acordo com o Bureau Nacional de Estatísticas da República

Popular da China (2013), um total de 406 860 pessoas no país têm o nome de 国庆

(guóqìng).

Outras pessoas têm nomes com relação direta com a guerra para resistir à agressão

dos EUA e ajudar a Coreia: 抗美 (kàngměi, 'luta contra os Estados Unidos'), 援朝

(yuáncháo, 'ajuda para a Coreia do Norte'), 反帝 (fǎndì, 'contra o imperialismo'), 卫国

(wèiguó, 'guarda o país').

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48

Pessoas que possuem os nomes 卫星 (wèixīng, 'satélite'), 卫红 (wèihóng, 'protege o

Exército Vermelho'), 卫兵 (wèibīng, 'protege os soldados'), 卫东 (wèidōng, 'protege o

Oriente'), 跃 进 (yuèjìn, 'salto para a frente') nasceram, basicamente, no período da

Revolução Cultural, depois de 1966.

Após a Reforma e Abertura na década de 1980, os nomes começaram a expressar

sentimentos e esperanças pessoais. Os pais estão cada vez mais a dar às crianças um nome

composto por dois carateres. Os meninos são habitualmente chamados 勇 (yǒng,

'coragem'), 伟 (wěi, 'grandeza'), 飞 (fēi, 'voo'), 鹏 (péng, 'esforço'), enquanto as meninas

são chamadas de 丽 (lì, 'lindeza'), 雪 (xuě, 'neve'), 佳 (jiā, 'honra') ou 娜 (nà,

'suavidade'). Os nomes pretendem assim fazer ressaltar as características de homens e

mulheres.

No final do século XX, a nomeação pela pronúncia do nome inglês começou a ser

popular nas grandes cidades. Há vários nomes estrangeiros como 查理 (chálǐ, do inglês

Charlie), 温蒂 (wēndì, do inglês Wendy), 罗斯 (luósī, do inglês Ross) e 安妮 (ānnī, do

inglês Anne) (Censo nacional da China em 2010).

2.2.5. Representação especial do título chinês: Zi, Hao

Na China Antiga, 名 (míng, 'nome próprio'), é utilizado pelos familiares antes da idade

adulta, e 字 (zì) é usado pelos outros depois de atingir a maturidade na sociedade.

《疏》云:“始生三月而始加名,故云幼名,年二十有为父之道,朋友等类不可复呼

其名,故冠而加字。”Shū yún: “shǐshēng sānyuè ér shǐjiāmíng, gùyún yòumíng, nián èrshíyǒu wéifù zhīdào,péngyǒu děnglèi bu kěfùhū qímíng, gùguànér jiāzì.Shu disse: quando a criança tem três meses, os pais dão-lhe um nome que é o nome infantil:quando atinge a idade de 20 anos e se torna pai, os seus amigos não podem chamá-lodiretamente por esse nome, e para resolver esse problema, ele adiciona ozì.

(Sima, 1982)

A partir disto, pode-se concluir que o 名 (míng, 'nome próprio'), é da altura da infância

e é utilizado pelos progenitores, enquanto o 字 (zì) serve para facilitar o tratamento pelos

outros e pode evidenciar polidez e respeito.

O 号 (hào) concentra-se em mostrar a aspiração, a afeição e o ideal da vida. A maioria

das pessoas comuns não possuíam 号 (hào), enquanto os literatos que prestavam atenção

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49

à elegância o tinham. Posteriormente, nas dinastias Ming e Qing, 号 (hào) tornou-se quase

o nome exclusivo das celebridades, por isso, 号 (hào) também se apelida de 雅号

(yǎhào).

O 号 (hào) dos antigos chineses pode ser dividido em 自号 (zìhào), 谥号 (shìhào),

庙号 (miàohào), 法号 (fǎhào), 道号 (dàohào) e assim por diante (Wang, 2011: 125).

1. 自号 (zìhào), é o nome escolhido pelo próprio.

Por exemplo, 陶渊明 (Táo Yuānmíng), também conhecido como 陶潜 (Táo Qián), foi

um distinto poeta e um eminente recluso durante as dinastias Jin Oriental (317-420) e Liu

Song (420-479). É considerado um dos maiores poetas do período das Seis Dinastias30 (em

chinês 六朝 Liùcháo) . Ele referiu-se a si próprio com o 号 (hào) de 五柳先生 (wǔliǔ

xiānshēng, 'Mestre dos cinco salgueiros'), mostrando assim o seu desejo de viver uma vida

tranquila e solitária no interior do país. Sabe-se que 陶渊明 (Táo Yuānmíng) passou a maior

parte do tempo em reclusão, morando numa pequena casa no campo, lendo, bebendo vinho,

recebendo ocasionalmente convidados e escrevendo poemas, nos quais refletia com

frequência sobre os prazeres e dificuldades da vida no campo, bem como na sua decisão de

se retirar do serviço público. O seu estilo simples, direto e incomum encontrava-se em

discordância com as normas da escrita literária do seu tempo.

2. 谥号 (shìhào) é o título póstumo do imperador, imperatriz, nobres, ministros e

outras pessoas de alto escalão, começando na Dinastia Zhou Ocidental.

Os 谥号 (shìhào) dos nobres e ministros eram geralmente concedidos pela corte

imperial após a morte; os 谥号 (shìhào) dos imperadores eram geralmente obtidos por

intermédio do imperador sucessor; o 谥号 (shìhào) do último imperador de uma dinastia

era indicado pelo imperador da dinastia seguinte, ou pelo líder do povo.

De acordo com a experiência de vida dessa pessoa, existem três tipos de 谥号

(shìhào): compaixão, malícia e louvor:

30 As Seis Dinastias (222-589) geralmente referem as seis dinastias do Sul na história da China, dos Três Reinos à DinastiaSui. Isto é, Sun Wu (ou Wu Oriental, Três Reinos Wu), Jin Oriental, Song das Dinastias do Sul (ou Liu Song), Qi das Dinastiasdo Sul (ou Xiao Qi), Liang das Dinastias do Sul e Chen das Dinastias do Sul.

Page 63: Mengyao Ren - UMinho

50

Parte I 悯谥 (Mǐn shì): para expressar compaixão

谥号 (Shì hào) Significadoshāng -伤/殇 Morreu antes de se casar

āi-哀 Perdeu os filhosmǐn-愍 Teve um desastre enormedào-悼 Morreu antes da meia idade

Parte II 恶谥 (È shì:) para expressar malícia

谥号 (Shì hào) Significadolì-厉 Matou muitas pessoas inocentes

zhuāng -庄 Dominou mal o Kung Fulíng-灵 Alcançou o ideal após a morteyōu-幽 Aconteceram distúrbios

Parte III 美谥 (Měi shì:) para expressar louvor

谥号 (Shì hào)) Significadowén-文 Teve uma moral elevadawǔ -武 Possuiu poder militar fortedài -戴 Governou bem o paíshuì-惠 Praticou gentilezas na vida

xiāng-襄 Expandiu-se para novos territórios

Tabela 7 Três tipos de 谥号 (Shì hào)31

3. 庙号 (miàohào) e 谥号 (shìhào) têm um significado semelhante, e ambos se

referem à avaliação da vida que os outros fizeram de alguém após a sua morte. A única

diferença é que o 庙号 (miàohào) é unicamente utilizado para o imperador. O significado de

庙 号 (miàohào) é fixo, por exemplo, 太 祖 (tàizǔ) é empregado exclusivamente pelo

imperador fundador.

31 Fonte: Yi Zhoushu, ‘Livro sobre Imperadores’: capítulo 54.

Page 64: Mengyao Ren - UMinho

51

Nome 庙号 (Miàohào) 谥号 (shìhào)

Chéng Tāng 成汤 太祖 Tàizǔ da Dinastia Shang 武 wǔ

Liú Bāng 刘邦 太祖 Tàizǔ da Dinastia Han 高 gāo

Cáo Cāo 曹操 太祖 Tàizǔ da Dinastia Wei 武 wǔ

Sūn Quán 孙权 太祖 Tàizǔ da Dinastia Wu 大 dà

Sīmǎ Zhāo 司马昭 太祖 Tàizǔ da Dinastia Jin 文 wén

Liú Wèichén 刘卫辰 太祖 Tàizǔ da Dinastia Xia 桓 huán

Liú Yìlóng 刘义隆 太祖 Tàizǔ da Dinastia Song 文 wén

Yáng Zhōng 杨忠 太祖 Tàizǔ da Dinastia Sui 武文 wǔ wén

Yēlǜābǎojī 耶律阿保机 太祖 Tàizǔ da Dinastia Liao大圣大明神烈天

dàshèng dàmíng shénliètiān

Tabela 8 Os 庙号 (Miào hào) dos imperadores

(Wan, 2005: 21)

4. 法号 (fǎhào), o termo búdico, refere-se ao nome dado aos budistas. Ou seja,

quando um monge é mantido após a cerimónia de barbear, ou após a sua morte, este é

nomeado pelo seu mestre.

5. 道号 (dàohào) refere-se ao título de honra taoísta. O 道号 (dàohào) comum é

principalmente terminado com 子 (zǐ), 道 人 (dàorén), 散 人 (sǎnrén) ou 先 生

(xiānshēng).

Por exemplo, 鬼谷子 (guǐgǔzǐ), 纯阳子 (chúnyángzǐ), 玄诚子 (xuánchéngzǐ),

凌 霄 子 (língxiāozǐ), 清 净 子 (qīngjìngzǐ), 无 为 子 (wúwéizǐ), 玄 诚 道 人

(xuánchéngdàorén), 凌霄道人 (língxiāodàorén), etc. Todos os 道号 (dàohào) têm a

ideologia da sua própria escola de pensamento/doutrina (Wang, 2011: 168).

Page 65: Mengyao Ren - UMinho

52

Capítulo 3

Antroponímia e culturas comparadas

Page 66: Mengyao Ren - UMinho

53

3.1. Individualismo versus coletivismo

Essa dimensão é um padrão do nível de ligação entre as pessoas, que se reflete na

auto-consciência dos povos definidos como o “eu” ou o “nós” (Hofstede, 2001: 209).

Do ponto de vista da composição dos antropónimos, o chamado 姓名 (xìng míng,

'nome completo') na China inclui primeiro o 姓 (xìng, 'nome de família') e depois o 名

(míng, 'nome próprio'). O 姓 é o símbolo de ascendência, e os chineses respeitam as suas

ascendências. Em vista disso, colocam o 姓 da ascendência na frente e depois os seus

próprios nomes, o que indica que o indivíduo é em primeiro lugar um membro da família, e

os interesses pessoais estão sujeitos aos interesses da família. Isso mostra plenamente que a

China tem uma orientação de valor coletivista desde os tempos antigos.

Os chineses enfatizam que eles são a herança do sangue, a continuação da família.

Desde os tempos antigos, tem havido um ditado que diz que “行不更名,坐不改姓”

(xíngbùgēngmíng, zuòbúgǎixìng, 'as pessoas não mudam de nome a qualquer momento').

A China tem um total de 5 730 姓 (xìng, 'nome de família'). Os mais comuns são “As

Centenas de Nomes” frequentemente mencionados nos 俗语 (súyǔ, 'provérbios'), num total

de cerca de 100 (Chen, 2008: 12).

Entre eles, os 姓 (xìng, 'nomes de família') de 李 (lǐ), 王 (wáng), 张 (zhāng)

representam, respetivamente, 7.9%, 7.4% e 7.1% do povo chinês, seguidos por 刘 (liú), 陈

(chén), 杨 (yáng), 赵 (zhào), 黄 (huáng), 周 (zhōu), 吴 (wú), 徐 (xú), 孙 (sūn), 胡

(hú), 朱 (zhū), 高 (gāo), 林 (lín), 何 (hé), 郭 (guō) e 马 (mǎ). Estes 19 apelidos

respondem a 50% dos 姓 da população chinesa, mostrando uma concentração de alta

densidade (Chen, 2008: II). Mas a quantidade de 名 (míng, 'nome próprio') do povo chinês

é elevada e qualquer combinação de um ou dois carateres chineses pode compor um nome

próprio completo.

Nos países de língua portuguesa, o nome completo é composto primeiramente de nome

próprio e depois seguido por apelido, o que comprova que as pessoas locais enfatizam a

importância do indivíduo. Eles buscam a liberdade individual e defendem as lutas individuais,

argumentando que o papel do indivíduo é mais importante que o sucesso coletivo.

Ao analisar o significado de apelido, pode-se saber que também pode ser chamado

como sobrenome. O prefixo sobre ilustra a relação posicional, que fica acima do nome.

Page 67: Mengyao Ren - UMinho

54

Também se lhe pode chamar nome de família, demonstrando a relação com a família mas

não enfatizando o parentesco familiar.

Em comparação com a China, o apelido em português teve origem muito tarde. Na

verdade, não há apelido no início, apenas nomes próprios, como Maria, João, Eva, Adão, etc.

Em consequência disso, a taxa de repetição de nomes próprios é muito alta, a fim de melhor

distinguir um dos outros, e as características de identificação do apelido desempenham um

papel importante.

Conclui-se que a cultura da China tem grande tendência para o coletivismo enquanto a

de Portugal tende para o individualismo.

3.2. Aversão à incerteza

O índice de aversão à incerteza é definido como “a tolerância de uma sociedade à

ambiguidade”, em que as pessoas abraçam ou evitam um evento de algo inesperado,

desconhecido ou distante da situação atual. As sociedades que obtêm um alto grau nesse

índice optam por códigos rígidos de comportamento, lei ou linha de direção e geralmente

dependem da verdade absoluta ou da crença conhecida. Ao contrário, um grau mais baixo

neste índice mostra uma maior aceitação de pensamentos ou ideias diferentes. Nesse tipo de

sociedade tende-se a impor menos regulamentações, por isso a ambiguidade é mais tolerada

e o ambiente é mais fluido (Hofstede, 2001: 145).

Com respeito à cultura antroponímica em Portugal, é imprescindível mencionar a

religião. Portugal é um país extremamente religioso. As igrejas que podem ser vistas em toda

a parte são a maior prova disso. Um estudo feito pelo Centro de Estudos e Sondagens de

Opinião e pelo Centro de Estudos de Religião e Culturas da Universidade Católica Portuguesa

revelou os dados da religião em Portugal:

Igreja Católica: 79,5% da população;

Protestante e Evangélica: 2,8% da população;

Testemunha de Jeová: 1,5% da população;

As outras religiões minoritárias: 16.2%.

Portanto, os portugueses frequentemente escolhem os nomes das personagens na

Bíblia para nomear os seus filhos, a fim de expressar a adoração e sublinhar a fé em Deus.

Page 68: Mengyao Ren - UMinho

55

Em Portugal, as pessoas também costumam usar os nomes das personagens de obras

literárias e de filmes conhecidos. Por exemplo, Romeu e Julieta, personagens da tragédia do

amor do poeta William Shakespeare, fazem parte do ranking de nomes mais populares das

personalidades literárias.

Com o intuito de comemorar as personagens extraordinárias ou expressar admiração

por elas, os portugueses costumam usar os nomes de heróis antigos ou pessoas

historicamente influentes para nomear os seus filhos, esperando que herdem as virtudes dos

grandes homens. Ao mesmo tempo, os nomes de reis, presidentes e ídolos do país também

são altamente respeitados, assim como Afonso, Henrique, Isabel, Mariza, Cristiano, etc.

Além disso, em Portugal as crianças também podem ter o mesmo nome dos seus pais,

avós ou parentes, e os portugueses acham que esse comportamento não é considerado nada

estranho nem feio. Pelo contrário, algumas pessoas ficam muito felizes em deixar os seus

filhos e netos seguirem os nomes de antepassados e orgulharem-se deles. Para diferenciar o

pai e o filho com o mesmo nome, normalmente os portugueses adotam um segundo nome.

Por exemplo, se o pai do bebé tem o nome de Luís, podendo o avô ter o nome de Miguel,

unindo os dois nomes fica “Luis Miguel”. Se o bebé for menina, podendo o nome da mãe

combinar com o da avó, pode também criar um nome composto para ela.

Claro, isso também depende de cada família. Podem usar diminutivos para o mais novo

ou dizer, por exemplo, João Júnior, Lucas Filho, Carlos Neto e outros.

Tal situação é absolutamente proibida na China, porque a hierarquia social tradicional é

muito distinta: os nomes dos pais, os nomes dos parentes, os nomes dos funcionários do

governo ou outros dignitários são tabus para os povos chineses comuns. Ninguém se atreve a

usar esses nomes para nomear crianças. Um princípio orientador da etnia Han é “Evite o

mesmo”, pelo que existem muito poucos exemplos de uso de nomes existentes como nomes

novos.

Os princípios distintos na antroponímia têm a ver com o facto de a cultura chinesa

pertencer ao conjunto das culturas com o grau mais alto de aversão à incerteza e Portugal

ter uma cultura com o grau mais baixo de aversão à incerteza.

Page 69: Mengyao Ren - UMinho

56

3.3. Distância relativamente ao poder

A definição de distância relativamente ao poder dentro das Dimensões Culturais de

Hofstede refere-se ao grau de consideração com que as pessoas se comportam perante os

seus superiores hierárquicos, bem como o grau em que se sente a indispensabilidade de ter

respeito e deferência pelos seus chefes e subalternos. Para a maioria dos países asiáticos,

uma pontuação baixa representa uma distância de baixa potência, onde a igualdade pode ser

percebida, e isso pode ser observado principalmente nos países europeus (Hofstede, 2001:

79).

Na China, os 姓氏 (xìngshì, 'nomes de família') são símbolos de clã e marcas de

comunidade. Como diz o ditado, “ 五百年前是一家 ” (wǔbǎiniánqián shì yījiā, 'duas

pessoas com o mesmo apelido eram uma família quinhentos anos atrás'). Ao mesmo tempo,

os 名字 (míngzì, 'nomes próprios') também podem refletir o conceito de clã dos chineses, e

a sua manifestação concreta é o nome comum da geração. Por exemplo, o livro intitulado

清 稗 类 钞 (Qīng Bài Lèi Chāo, 'Compilação da Dinastia Qing') descreve a árvore

genealógica de descendentes 孔 (kǒng). A partir dessas posições diferentes, é possível

decobrir a hierarquia da família.

Nas áreas rurais da China, a maioria das pessoas tem o mesmo 姓 (xìng, 'nome de

família'), e no mesmo clã, quando as pessoas da aldeia dão nomes à geração mais jovem, o

caráter do meio pode indicar a sua hierarquia nessa família. Tomemos minha família como

exemplo: o caráter do meio da geração do meu avô é 文 (wén), do meu pai é 朝 (cháo), e

da minha geração é 梦 (mèng). É muito comum que pessoas da mesma idade pertençam a

gerações diferentes. Consoante a hierarquia, às vezes, os mais velhos devem chamar às

pessoas mais novas tio ou até mesmo avô. Cada família tem a sua árvore genealógica

própria, narrando a história da família, transmitida de geração em geração e conservada por

uma pessoa especial.

À medida que a sociedade se desenvolve e as populações se movimentam mais, os

membros da mesma família estarão espalhados por todo o mundo. Se encontrarmos uma

pessoa com o mesmo 姓 (xìng, 'nome de família') numa cidade estranha, cuidaremos uns

dos outros, porque viemos da mesma família centenas de anos atrás.

Em Portugal não existe tal princípio rigoroso de nomenclatura que mostre o nível de

hierarquia, há até fenómenos em que o pai e o filho, o avô e o neto têm o mesmo nome.

Page 70: Mengyao Ren - UMinho

57

Além disso, na cultura antroponímica chinesa, mesmo para os parentes muito chegados é

incorreto chamar pelos seus nomes diretamente. Porém, na cultura antroponímica

portuguesa esse comportamento não tem nenhuma conotação negativa.

Isso mostra que a China tem a distância mais elevada enquanto que Portugal tem a

distância mais baixa.

3.4. Masculinidade versus feminilidade

Esta medida de ponderação está em conformidade com as características comuns das

culturas masculinas e femininas. Na visão a que as pessoas estão acostumadas, os homens

são duros, fortes e assertivos, enquanto as mulheres são delicadas, amáveis e submissas,

por isso, na sociedade com alta masculinidade, as pessoas são estimuladas pela

concorrência e pelo êxito, o povo segue o lema de “viver para trabalhar e centra-se na

ambição. Numa sociedade com alta feminilidade, os povos prestam mais atenção a manter

um bom relacionamento e assegurar a qualidade de vida quotidiana. O lema é “trabalhar

para viver” e ser vencedor não é tão importante, sendo preferível procurar uma sensação de

bem-estar na vida (Hofstede, 2001: 279).

Em termos da cultura antroponímica, a China faz parte das sociedades com alta

masculinidade, ao passo que Portugal pertence às sociedades com alta feminilidade.

Na sociedade matriarcal da China há muitos carateres com 女 (nǚ, 'feminino') como

radicais.

《说文解字》: 姓,人所生也。古之神圣人,母感天而生子,故称天子。因生以为

姓,从女生。

Shuō Wén Jiě Zì: Xìng, rénsuǒ shēngyě. Gǔzhī shénshèngrén, mǔgǎntiān ér hēngzǐ, gùchēngtiānzǐ. Yīnshēng yǐwéi xìng, cóng nǚshēng .Análise Aos Carateres: apelido é o símbolo de nascimento da pessoa. O santo antigo nasceuporque a sua mãe foi influenciada pelo céu, portanto, ele foi chamado o filho do céu. Essa é aorigem de caráter 姓 (xìng, 'apelido'). E 姓 faz parte do ideograma32, a parte esquerda 女

significa ‘feminino’ e a parte direita 生 (shēng) significa 'nascimento'.

Portanto, pode-se dizer que o 姓 (xìng, 'apelido') começa na sociedade matriarcal e é

o produto essencial dessa sociedade. Depois, o 氏 (shì, 'definições semelhantes ao apelido

32 Na China, existem quatro categorias para métodos de criação de sinogramas, são respetivamente pictograma, ideograma,deictograma e ideofonograma. E o ideograma é um símbolo gráfico utilizado para representar um conceito abstrato.

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58

em português') apareceu. Os dois conceitos gradualmente unificaram-se com o

desenvolvimento da sociedade. Essa mudança é um sinal da transição de uma sociedade

matriarcal para uma sociedade patriarcal (Tian, 1998: 334-374).

Depois da Dinastia Tang, a tendência para enfatizar os homens sobre as mulheres

tornou-se cada vez mais desenfreada e muitas mulheres não tinham nome. Esta situação é

particularmente grave na China rural. Muitas mulheres são chamadas 李大妞 (Lǐ Dàniū) -

Lǐ é o seu nome de família, Dàniū só tem o significado de 'feminino'; 张三妹 (Zhāng

Sānmèi) - Zhāng é o seu nome de família, sān significa que é a 'terceira filha' na sua família,

e mèi significa 'irmã'; 丑丫 (chǒu yā, 'menina feia'), entre outros.

Depois de se casarem, adicionam o caráter 氏 (shì) após o 姓 (xìng, 'apelido') do

marido e do pai para formar o seu nome. Por exemplo, 李大妞 (Lǐ Dàniū) se casasse com

um homem de apelido 孙 (sūn), podia ser chamada 孙李氏 (Sūn Lǐshì ) (Wang, 2011:

92).

Tal situação também existe em Portugal. No fim do século XIX, o costume de a mulher

mudar de nome após o casamento começou a espalhar-se nas classes superiores, sob a

influência francesa, e depois da década de 40 tornou-se mais ou menos socialmente

obrigatória. A não aceitação da tradição era vista como prova de concubinato, em especial

até à década de 1970.

Se um casal tem o mesmo nome de família, tal regra não tem efeito prático. E a outra

situação complicada é, por exemplo, quando uma mulher chamada Maria de Gama da Silva

se casa com um homem que se chama João de Gama. O seu nome pode ser legalmente

Maria de Gama da Silva de Gama.

Na atualidade, poucas mulheres adotam, mesmo oficialmente, os nomes de família dos

seus maridos e, entre as que o fazem oficialmente, é muito normal não o utilizarem na vida

informal.

Em Portugal, desde 1977, a mulher possui a escolha de mudar ou não de nome depois

do casamento, e no mesmo ano, o marido também pode adotar o nome de família da mulher.

Conforme investigação do Instituto de Registos e Notariado, 2076 homens escolheram

acrescentar o apelido da mulher em 2007, o que representa cerca de 4% dos homens que se

casaram nesse ano. Quanto às mulheres, 23 721 (49,15%) adotaram o apelido do marido.

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59

3.5. Orientação de curto prazo versus longo prazo

Esta dimensão também pode ser chamada de “Dinamismo Confuciano”, e não existe na

primeira versão das dimensões culturais do modelo de Hofstede. Como a definição sugere,

há mais ligações com Confúcio e a China. Ele associa-se a ações e desafios do passado com

o presente e o futuro. Geralmente, a sociedade com uma orientação de curto prazo dá

importância a construir uma realidade perfeita e tem uma grande preocupação em respeitar

as tradições populares. Numa sociedade com uma orientação a longo prazo, os povos

consideram que não existe o facto absoluto, tudo pode ser mudado dependendo da situação,

do tempo, do lugar e da pessoa (Hofstede, 2001: 351).

Se esta dimensão está ligada à nossa cultura antroponímica, que tipo de resultado terá?

Para responder a essa pergunta, deve-se primeiro entender o principal ensinamento de

Confúcio.

O confucionismo compõe-se de lições sobre ética sem conteúdo religioso, ou melhor, de

regulamentos práticos para a vida diária, que foram retirados da história chinesa, tais como

五达道 (wǔ dá dào) e 三达德 (sān dá dé) (Zhu, 2012: 27).

五达道 (wǔ dá dào) significa 'cinco avenidas de vida', ou seja, 'cinco princípios éticos

que todos devem respeitar'.

1. 君臣有义 (jūn chén yǒuyì): 'Cumprir a relação hierárquica entre o monarca e o

ministro';

2. 父子有亲 (fù zǐ yǒuqīn): 'Cumprir a obrigação devida entre pais e filhos';

3. 夫妇有别 (fū fù yǒubié): 'Cumprir as regras de casamento entre marido e mulher';

4. 长幼有序 (zhǎng yòu yǒuxù): 'Cumprir a ordem familiar entre idosos e jovens';

5. 朋友有信 (péng yǒu yǒuxìn): 'Cumprir as promessas entre amigos'.

Esses cinco regulamentos estão em completo acordo com o sistema hierárquico contido

no nome chinês que enfatizamos anteriormente. A submissão e a obediência à hierarquia

estão profundamente impressas na cultura tradicional chinesa e nos corações do povo chinês.

A ordem geral é colocar em primeiro lugar os homens mais velhos, seguidos dos homens

mais jovens e, a seguir, as mulheres mais velhas, depois as mulheres mais jovens. Isso é a

razão radical por que se usa o nome de família do pai como seu apelido, por que aparecem

Page 73: Mengyao Ren - UMinho

60

árvores genealógicas e nomes de geração e por que algumas mulheres não têm nomes

próprios.

三达德 (sān dá dé) refere-se às três qualidades notáveis refletidas no cumprimento

das cinco normas éticas acima.

1. 知 (zhī): 'inteligência';

2. 仁 (rén): 'clemência';

3. 勇 (yǒng): 'ousadia'.

Essas excelentes qualidades são as boas expetativas dos pais para o futuro

desenvolvimento dos filhos, também são as bases teóricas para os pais darem às crianças

um nome que seja rico de significado.

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61

Capítulo 4

O estado atual da atribuição e receção do

nome em português e chinês

Page 75: Mengyao Ren - UMinho

62

4.1. Critérios atuais da seleção do nome em chinês

Há um ditado na China que diz “美名如美女 ” (měimíng rú měinǚ), o que quer

expressar que, 'tal como 'uma mulher com aparência bonita, voz suave e conhecimento

considerável' pode ser considerada uma verdadeira beleza, do ponto de vista da linguagem e

dos carateres, um bom nome também precisa de três características: primeiro, ter um

significado elegante; segundo, ter uma pronúncia melodiosa e terceiro, ter uma configuração

linda.

4.1.1. Semânticos ou relativos ao “poder” do nome

Prestar atenção à semântica é um costume tradicional do povo chinês. Em outras

palavras, em termos de costumes, os chineses habituam-se a nomear de acordo com os

significados dos carateres, isto é, de acordo com os diferentes conceitos estéticos, de os

diferentes desejos e vontades, as diferentes personalidades e afeições (Tian, 1998).

Portanto, pôr ênfase na semântica é o requisito mínimo para um bom nome completo.

Nomes criados após uma análise cuidadosa e uma seleção minuciosa têm principalmente as

seguintes características:

Em primeiro lugar, o sentido central tem de ser compreensível. O “sentido central” é o

núcleo que o nomeador quer expressar, ou seja, o princípio ou a conotação em esboço, mas

isso não quer dizer que a criação possa ser vulgar e pomposa. Os chineses não apenas

consideram o significado literal do nome como também atribuem uma grande importância ao

significado simbólico por detrás do caráter.

Por exemplo, 志坚 (zhì jiān) significa 'vontade de ferro'. Os pais querem que o seu

filho seja uma pessoa de mente forte no futuro; 秀丽 (xiù lì) significa 'beleza sem senão'. Os

pais querem que a sua filha seja uma pessoa muito bonita e afável.

Em segundo lugar, a combinação de 姓 (xìng, 'apelido') e 名 (míng, 'nome próprio')

tem de ser harmoniosa. Com o intuito de superar o problema de um nome vulgar, deve-se

diversificar a semântica do nome, isto é, deixar o nome versátil ou multidimensional. A

estrutura dos carateres que compõem o nome pode ser complicada e os 姓 podem estar

envolvidos nos termos para formar um relacionamento de múltiplas camadas.

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63

Por exemplo, o nome 白雪 (Bái Xuě , 'neve branca') é uma combinação ótima de 姓

(xìng, 'apelido') e 名 (míng, 'nome próprio'). Como um 姓 (xìng, 'apelido') 白 (bái,

'branco') apenas pertence a um cor, não significa nada, mas a combinação dele com 雪

(xuě, 'neve') constitui um significado muito elegante, profundo e perfeito, 'branco como a

neve'. Quando as pessoas ouvirem esse nome terão prazer espiritual.

Pelo contrário, se não se considera a combinação, é fácil cometer um erro. Por exemplo,

o nome próprio mais comum entre o povo chinês é 虎 (hǔ, 'tigre'), que simboliza a coragem.

Se combinado com o apelido 马 (mǎ, 'cavalo'), o significado geral torna-se 'descuidado'.

4.1.2. Fonéticos ou estéticos

Em geral, um nome chinês é composto por dois ou três carateres. Cada caráter tem o

seu próprio tom, e quando se combinam determinados carateres chineses, produz-se um

efeito fonético geral. Se se substitui um ou alguns deles, o seu efeito provavelmente mudará

muito. Portanto, sentiremos que os nomes de algumas pessoas soam bem e outros nem por

isso. Às vezes os nomes são escritos, mas com mais frequência são chamados, então, o

ponto mais importante para um nome ser bom ou não é que a sua correspondência sonora

seja razoável. Isso requer que se preste atenção à fonética e à estética do nome.

O efeito de fala produzido pela combinação de 声母 (shēngmǔ, 'consoante inicial de

uma sílaba chinesa') e 韵母 (yùnmǔ, 'vogal simples ou composta de uma sílaba chinesa')

influencia diretamente a qualidade da pronúncia. Os especialistas acreditam que os carateres

com a mesma 声母 que são colocados juntos são um pouco difíceis de ler. Caso as 韵母

sejam as mesmas, o esforço será mais profundo(Regras básicas da ortografia chinesa de

pinyin, 2013). Os trava-línguas são baseados nesse princípio. Nomes como 南乃兰 (Nán

Nǎilán ), 李尼莉 (Lǐ Nílì ), 蔡纯宗 (Cài Chúnzōng), 孙存春 (Sūn Cúnchūn ), 俞玉竽

(Yú Yùyú ), 英莹映 (Yīng Yíngyìng ), etc., são muito parecidos com trava-línguas.

O som alto e poderoso está no último caráter do nome, então o nome fica mais

estentório e bonito. Se o som do caráter é alto ou não, isso depende da 韵母 (yùnmǔ, 'vogal

simples ou composta de uma sílaba chinesa').

Em baixo estão alguns dos carateres mais comuns com 韵母 (yùnmǔ, 'vogal simples

ou composta de uma sílaba chinesa') nasais:

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64

(1) 前鼻音 (qián bíyīn , alveolar nasal)An: 安 (ān), 凡 (fán), 丹 (dān), 潭 (tán), 南 (nán), 兰 (lán), 占 (zhàn), 山 (shān),善 (shàn)Ian: 年 (nián), 连 (lián), 莲 (lián), 坚 (jiān), 建 (jiàn), 健 (jiàn), 前 (qián), 先 (xiān),仙 (xiān)Uan: 端 (duān), 观 (guān), 宽 (kuān), 欢 (huān), 焕 (huàn), 川 (chuān), 传 (chuán),拴 (shuān)Üan: 渊 (yuān), 原 (yuán), 源 (yuán), 元 (yuán), 园 (yuán), 娟 (juān), 全 (quán), 泉

(quán)En: 恩 (ēn), 芬 (fēn), 奋 (fèn), 根 (gēn), 珍 (zhēn), 贞 (zhēn), 真 (zhēn), 仁 (rén),森 (sēn)In: 宾 (bīn), 斌 (bīn), 民 (mín), 林 (lín), 金 (jīn), 琴 (qín), 芹 (qín), 新 (xīn), 欣

(xīn), 信 (xìn)Un: 伦 (lún), 纶 (lún), 昆 (kūn), 坤 (kūn), 春 (chūn), 纯 (chún), 存 (cún)Ün: 云 (yún), 芸 (yún), 运 (yùn), 蕴 (yùn), 军 (jūn), 均 (jūn), 群 (qún), 勋 (xūn)

(2) 后鼻音 (hòu bíyīn, velar nasal)Ang: 昂 (áng), 邦 (bāng), 芒 (máng), 方 (fāng), 芳 (fāng), 刚 (gāng), 章 (zhāng), 昌

(chāng)Iang: 良 (liáng), 梁 (liáng), 量 (liáng), 亮 (liàng), 江 (jiāng), 强 (qiáng), 香 (xiāng),湘 (xiāng)Uang: 旺 (wàng), 望 (wàng), 光 (guāng), 匡 (kuāng), 煌 (huáng, 庄 (zhuāng), 双

(shuāng)Eng: 鹏 (péng), 孟 (mèng), 梦 (mèng), 风 (fēng), 逢 (féng), 凤 (fèng), 登 (dēng), 衡

(héng)Ing: 英 (yīng), 平 (píng), 萍 (píng), 明 (míng), 婷 (tíng), 宁 (níng), 玲 (líng), 晶

(jīng), 青 (qīng)Ong: 东 (dōng), 同 (tóng), 龙 (lóng), 红 (hóng), 洪 (hóng), 宏 (hóng), 中 (zhōng), 忠

(zhōng)

(Jin, 2011: 73)

A primeira categoria acima é “alveolar nasal” e a segunda é “velar nasal” , que tem um

som mais alto que a anterior.

Além disso, precisa-se de ter cuidado com os quatro tons em chinês. O mandarim

salienta os 平仄 (píng zè , 'tons nivelados e oblíquos'), pois os nomes chineses têm de

respeitar a regra dos 平仄交错 (píngzè jiāocuò, 'tons nivelados e oblíquos alternados')

(Ding, 2009).

O primeiro tom é o mais agudo e constante, como o som da campainha. O segundo tom

sobe gradualmente, parecendo o tom da voz de quando perguntamos no dia-a-dia (ex:

porquê?). O terceiro tom começa baixo, fica mais baixo ainda e sobe até ao alto, como se

estivesse a entrar numa colina. Por fim, o quarto tom começa mais alto e desce rápido, como

quando se diz um palavrão (ex: fogo!).

Page 78: Mengyao Ren - UMinho

65

Figura 5 Os quatro tons em chinês

Aplicam-se estas definições básicas na antroponímia. Por exemplo, os três carateres do

nome 李宇省 (Lǐ Yǔshěng ), são todos carateres de terceiro tom, portanto, não é muito

bonito de se ouvir, mas é mais apropriado se se mudar para 李语清 (Lǐ Yǔqīng ), que tem

os tons mistos.

4.1.3. Configuração dos carateres

Como elemento básico de um nome, a configuração dos carateres não é tão importante

como a semântica e a fonética. No entanto, se não se presta atenção à correspondência das

configurações ao nomear, o nome terá falta de beleza. Especialmente na escrita intuitiva, se

não for devidamente combinada, não se sentirá como um nome perfeito.

Os apelidos chineses diferem no número de traços, sendo os casos menores dois ou

três traços e, em muitos casos, dezenas deles. Portanto, deve-se tomar em conta a

combinação entre carateres de mais traços e menos traços ao nomear, a fim de obter beleza

visual.

A configuração dos carateres pode ser dividida em quatro categorias: carateres fortes,

carateres fracos, carateres cheios e carateres vazios.

Os carateres fortes trazem uma sensação animada, vigorosa e em desenvolvimento,

simbolizando o dinamismo e a vitalidade. Por exemplo: 炎 (yán), 成 (chéng), 威 (wēi),

Page 79: Mengyao Ren - UMinho

66

豪 (háo), 容 (róng); Os carateres fracos conferem uma sensação macia, frágil e delicada,

simbolizando a debilidade, a delicadeza e a languidez. Por exemplo: 斗 (dòu), 平 (píng),

年 (nián), 市 (shì), 帛 (bó).

Os carateres cheios dão às pessoas uma sensação de plenitude e abundância, que

simboliza a riqueza e o poder. Por exemplo: 衢 (qú), 露 (lù), 穗 (suì), 风 (fēng), 基

(jī), 泰 (tài). O sentimento dos carateres vazios é livre e misterioso, simbolizando a falta de

habilidades práticas. Por exemplo: 几 (jǐ), 口 (kǒu), 门 (mén), 穴 (xué), 人 (rén), 方

(fāng).

A força e a fraqueza do nome frequentemente afetam a psicologia dos proprietários. A

partir da configuração do nome, é melhor combinar as quatro categorias dos carateres acima.

Ser demasiado forte, demasiado fraco, demasiado cheio e demasiado vazio não é o indicado

(Jin, 2011: 74).

4.2. Critérios atuais da seleção do nome em português

4.2.1. Lista de nomes permitidos em Portugal

A perceção atual dos nomes como modernos ou antiquados, bonitos ou feios é quase

sempre prioridade, mas o único problema é que o moderno e o bonito são sempre relativos.

Os brasileiros têm a mania de inventar nomes, colocar letras a mais e selecionar alguns

somente por estarem na moda. Por isso, é fácil encontrar alguns nomes muito estranhos. No

entanto, isso não costuma acontecer em Portugal, pois todos os cidadãos devem cingir-se à

lista dos nomes permitidos oficialmente (Padez, 2018: 10). Esta lista é grande e tem sido

atualizada ano após ano. Quando os pais forem registar um filho após o nascimento, no

Balcão Nascer Cidadão, devem obedecer à base de dados e escolher um nome que pertence

à lista de nomes permitidos. E o nome próprio não produz nenhuma dúvida relacionado com

o sexo da pessoa.

Pode-se consultar as informações mais completas no seguinte link: Nomes permitidos –

IRN.33

No momento da declaração de nascimento os pais podem escolher por acordo o nome dacriança. Este deve compor-se no máximo de seis vocábulos gramaticais (simples ou compostos)dos quais só dois podem corresponder ao nome próprio.

33 Fonte: Portal de Nascer Cidadão – IRN.

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67

Os nomes próprios devem ser portugueses ou adaptados gráfica e foneticamente à LínguaPortuguesa e não devem suscitar dúvidas acerca do sexo. Existe uma lista de vocábulosadmitidos e não admitidos como nomes próprios que resulta de despachos a consultasformuladas.

Em conformidade com o resultado da pesquisa divulgada pelo Instituto dos Registos e

do Notariado de Portugal, na tabela abaixo estão os dez nomes mais comuns em Portugal.

Nomes femininos Nomes masculinos

Maria Santiago

Leonor Francisco

Matilde João

Beatriz Afonso

Carolina Rodrigo

Mariana Martim

Ana Tomás

Sofia Duarte

Francisca Miguel

Inês Gabriel

Tabela 9 Nomes mais populares em Portugal no ano de 201734

Além do mais, verifica-se agora um fenómeno interessante: os nomes estão a perder o

género. Várias celebridades têm colocado nomes de menino às filhas e vice-versa. Assim, as

crianças ficam mais livres de estereótipos.

Em Portugal, os nomes neutros também se chamam “nomes unissexo”, ou seja,

aqueles que servem tanto para nomear pessoas do sexo feminino como do sexo masculino,

assim como Alex, que significa 'protetor do homem' ou 'defensor da humanidade'; Iris, que

significa 'mensageira' ou 'arco-íris'.

A razão por que as pessoas preferem escolher um nome unissexo para os seus filhos

prende-se em parte com a busca da igualdade entre os géneros e em parte com a sonoridade,

ou mesmo com o significado que contemplam.

34 Fonte: Instituto dos Registos e do Notariado de Portugal.

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68

Numa entrevista com o Professor Ivo Castro no jornal eletrónico português Observador,

a lei portuguesa diz que o nome tem de ser explícito quanto ao sexo do registando, o que

significa que os nomes que não têm género evidente também não são atribuíveis. Às vezes,

só pelo recurso à gramática não se dá indicação completa sobre o sexo do proprietário do

nome, precisa-se de saber mais informações, porque os portugueses também usam o nome

masculino para chamar a uma mulher em situações informais, assim como a João, o Maria,

baseando-se nos seus entendimentos e compreensões anteriores. Claro que, para distinguir,

um titular será adicionado antes do nome, tal como a excelentíssima, o arquiteto...

Existem, porém, nomes masculinos ou nomes femininos construídos a partir do nome

de outro género, por exemplo, o nome Rito pertence à forma masculina fundado em Rita, o

nome Joana é forma feminina fabricada a partir de João, etc.

4.2.2. Inspiração para o nome perfeito

A inspiração para o nome perfeito pode envolver uma variedade de conhecimentos.

Tradição cultural; herança familiar; confissão religiosa; preferências pessoais; tendências em

voga; nomes curtos, nomes compostos; exotismo e grau de raridade ou vulgaridade do nome;

ordem alfabética, entre outros. Existe uma infinidade de fontes de inspiração (Belo, 1995).

Em primeiro lugar, é necessário dar atenção aos critérios semânticos ou relativos ao

“poder” do nome.

O modelo de excelência é que o nome pode expressar o que se procura na vida. Afinal,

o nome é o símbolo específico dado pelo indivíduo e dá sempre a primeira impressão nas

pessoas, além de conter os desejos e as esperanças auspiciosas dos pais.

Por exemplo, se um casal quer que o seu filho se torne um atleta na idade adulta, pode

escolher um nome que tem relação com a força física e agilidade; se um casal quer que a

sua filha se torne uma professora, pode escolher um nome relacionado com a habilidade

cultural e a sinceridade.

Em segundo lugar, é necessário dar atenção à combinação com o nome de família, e é

melhor ter em conta a correspondência com o grau de raridade ou vulgaridade.

Se alguém tem um nome de família mais comum, tal como Silva (9.44%), Santos

(5.96%), Ferreira (5.25%), pode escolher um nome um pouco menos frequente para fazer

uma combinação agradável.

Agora, os pais da sociedade moderna pertencem à era da informatização, podendo

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69

consultar on-line no Google quantos homónimos os filhos terão antes de os nomear. Se a

ocorrência for muito alta, isso prova que o nome é demasiado vulgar, e o melhor será mudar

para outro. Também precisam de verificar se existe redundância, como Maria Mariana,

Fernanda Fernandes. Se realmente não gostam desse tipo de cacofonia que forma a

expressão, com sons desagradáveis ou ambíguos, o melhor é mudar para outros.

Além do mais, precisam de pensar nos possíveis apelidos, pois há muitos casos em que

alguém é chamado pelo apelido em vez do nome próprio (o Teixeira, a Barros).

Por outro lado, os nomes próprios são frequentemente reduzidos a hipocorísticos ou

nomes familiares. Beatriz, por exemplo, habitualmente vira Bia, mesmo que as pessoas

insistam no nome original. Então, é necessário imaginar todos os resultados que com os

apelidos irão formar.

Em terceiro lugar, deve-se prestar atenção à grafia e à estética.

A grafia do nome mostra-se muito importante e por isso merece atenção por parte dos

progenitores, por exemplo, se o nome da criança for muito extenso irá tornar-se mais difícil e

redundará num processo mais demorado para esta conseguir escrever o seu nome completo.

Também se deve ter em conta a primeira letra do nome, pois em Portugal há muitos casos

em que os nomes surgem por ordem alfabética, como no caso dos exames nacionais. Nos

exames nacionais em Portugal os alunos são distribuídos em salas por ordem alfabética, e

aos alunos cujo nome surge no início do abecedário ser-lhes-á atribuído um professor em

primeiro lugar. Nos exames nacionais de 2013 estima-se que cerca de 90% dos professores

fizeram greve, os alunos encontravam-se na sala de aula para realizar o exame, no entanto,

só aqueles cujo nome surgia no início do abecedário tiveram um professor a vigiar a sala,

enquanto os alunos cujo nome aparece no fim tiveram que fazer o exame noutro dia por

causa da falta de professores. A própria distribuição nas salas de aula é habitualmente feita

começando pelos nomes iniciados por a, pelo que as crianças e jovens do início do alfabeto

poderão ter melhor visibilidade e proximidade do quadro e da frente da sala.

Além disso, também as bibliografias estão dispostas por ordem alfabética, aqueles cujo

o nome começa com a letra “A” têm vantagem sobre os outros, pois aparecem em primeiro

lugar, tornando mais fácil e mais curta a procura.

No que diz respeito à estética, têm que atentar na sigla — as letras iniciais de diversas

palavras. Nunca formar acidentalmente uma expressão com significado malquisto. Por

exemplo, o nome Rui Alexandre Tavares Oliveira forma a sigla RATO, o nome Diana Inês

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70

Amaral Barroso de Oliveira, DIABO. Atualmente, as pessoas são cada vez mais identificadas

pelas iniciais, especialmente nas empresas, escolas ou agências, portanto, esse pequeno

detalhe não deve ser ignorado.

Em quarto lugar, deve-se decidir se se quer ou não seguir os critérios de respeito pelos

antepassados e pela tradição.

Em Portugal há muitas famílias que têm a tradição de dar determinado nome, e alguns

nomes são herdados de geração para geração. Contudo, o século XXI é uma era com mentes

muito abertas, e os portugueses, que estão na vanguarda das tendências da moda, não

gostam de obediência completa, estando mais dispostos a seguir os seus próprios

pensamentos. Para corresponder à pressão de seguir o comportamento familiar mas

também considerar os seus desejos, a melhor solução é usar o nome tradicional da família

como nome do meio.

Em quinto lugar, deve-se atentar se a fonética corresponde à esperança inicial.

Existem muitas maneiras de verificar a sua escolha, por exemplo, repetir o nome

centenas de vezes antes de tomar a decisão final; deixar as pessoas ao redor ouvir a

pronúncia para avaliarem se há algo errado. De qualquer modo, um exercício ótimo é utilizar

as mais variadas entonações e sentidos, com o objetivo de ver se a sonoridade causa agrado

e satisfação.

Em sexto lugar, deve-se ter em atenção que às vezes o exotismo do nome é favorável,

mas outras vezes não. Os benefícios são conhecidos por serem rápidos e fáceis de lembrar e

impressionar em comparação com os nomes comuns. A desvantagem é que, devido à sua

raridade, em muitos casos é fácil tornar-se objeto de atenções. Investigações indicam que as

crianças com nomes “estranhos” são facilmente alvo de brincadeiras de mau gosto nas

escolas durante a infância. Isso tem um grande impacto no crescimento normal da criança.

Finalmente, há que salientar que a tendência do nome é sempre um círculo. Então não

há necessidade de escolher um nome só porque já ninguém se chama assim, ou seja, gostar

de qualquer nome que parece em desuso. A moda está sempre em mudança: os nomes

populares podem ser impopulares um dia, e os nomes impopulares também podem ser

populares um dia. Joaquim, por exemplo, já foi considerado um nome fora de moda e depois

retornou com tudo. Isso muda e não pode ser um fator determinante.

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71

Conclusão

Page 85: Mengyao Ren - UMinho

72

A dissertação que neste momento concluo tem como objetivo dar um contributo, ainda

que geral e pouco aprofundado, para o estudo da evolução da cultura antroponímica em

português e chinês.

Uma língua, como um corpo vivo, que não é estático e fechado, apresenta sempre

variação e mudança, a vários níveis. Desde logo variação social, geográfica e cronológica, ou

seja, variação diastrática, diatópica e diacrónica, respetivamente, as quais são três

manifestações concretas dos fenómenos de mudança linguística. A mudança é um processo

inerente à própria língua natural humana, mas não é só o sistema linguístico que evolui,

também evoluem aqueles que o usam. Sendo a antroponímia um dos mais importantes

recursos verbais humanos, também nessa área existe variação e mudança, embora os

nomes fixem frequentemente palavras comuns da língua.

A antroponímia revela-nos aspetos interessantes de civilizações anteriores e das suas

instituições, na medida em que os nomes são frequentemente concebidos sob o influxo

religioso, político, social e histórico, sob as mais variadas circunstâncias, deixando

transparecer o espírito das sociedades de diferentes épocas e lugares. Portanto, podemos

dizer que estudar a antroponímia e a mudança ou desenvolvimento da linguagem é

inseparável.

Nas origens dos apelidos em português e chinês ambos oferecem exemplos que

derivam de ocupações ou profissões, da toponímia, de posições oficiais, etc. O tributo do

imperador chinês e o batismo do papa português também têm efeitos em comum. Entretanto,

na cultura portuguesa há exemplos de apelidos que descrevem as características físicas,

enquanto na cultura chinesa existem apelidos que representam feudos e tribos.

A antroponímia constitui-se como um tópico que tem relação com os estudos

lexicológicos e é um recurso indispensável para reatar o fio do sistema lexical pretérito. Nesse

entendimento, o vocabulário relevante da antroponímia dá dicas e probabilidades que

permitem investigar o modo como o estágio histórico específico evidenciava o seu sistema de

nomeação e os vários ângulos da situação social para a qual o nome pode remeter. A

mudança histórica envolve inevitavelmente a capacidade de compreensão e aceitação de

práticas que concretizem o desejo de transformação, não apenas o aperfeiçoamento e o

desenvolvimento, como também a decadência e a regressão. Em outras palavras, não

importa como é a situação posterior, para que a mudança aconteça, as pessoas precisam de

ser sensibilizadas para ela. Foi nesse contexto que surgiu o segundo capítulo, tendo por

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73

objetivo avaliar como se caracteriza o processo de construção, adoção e difusão dos nomes

nos diferentes períodos e as possíveis implicações sociais e culturais expressas através da

classificação e identificação da antroponímia.

A ordem dos nomes completos em português e em chinês é diferente, mas a

composição é o apelido mais o nome próprio. Ao mesmo tempo, pode-se descobrir que a

discriminação de género incorporada na composição do nome, ou seja, a mulher após o

casamento deve seguir o apelido do marido, melhorou com o desenvolvimento do movimento

de libertação das mulheres. Além disso, em chinês, o uso de “geração” como nome é único,

ao passo que o uso do nome do meio em nomes portugueses é exclusivo.

As profundas conotações culturais refletidas na antroponímia estão intimamente

relacionadas com mudanças históricas, e ambientes históricos e culturais específicos

produzem tendências diferentes, o que é fator de semelhança entre os dois. No entanto,

devido às diferenças de fonte cultural, os significados abordados são muitas vezes desiguais.

Quase todos os lugares do mundo exprimem atitudes, comportamentos e valores que

diferem de outros lugares. É por esse motivo que cada sociedade tem uma cultura particular.

Existem muitos estudos sobre as diferenças culturais, e a esse respeito é necessário falar de

Hofstede, o grande psicólogo holandês criador da teoria das cinco dimensões de cultura.

As análises de Hofstede comprovaram que algumas características da cultura inerente a

alguns países e regiões afetam o comportamento diário da sua sociedade e organização, e

que o impacto é persistente ao longo do tempo. As características são padrões culturais,

também chamados dimensões culturais.

Há cinco dimensões de cultura. A primeira delas é o individualismo versus coletivismo.

A segunda, a aversão à incerteza, a terceira, a distância relativamente ao poder, a quarta, a

masculinidade versus feminilidade. Há ainda a orientação de curto prazo versus longo prazo.

As sociedades diferentes podem pontuar alto ou baixo em cada dimensão devido às suas

características ou comportamentos. Com base nas cinco dimensões, podemos analisar a

cultura antroponímica em português e chinês, o que deu a inspiração para o terceiro capítulo

deste trabalho.

Depois de identificarmos as semelhanças e diferenças entre a tradição antroponímica

portuguesa e a chinesa, não só em termos linguísticos, mas também históricos e

socioculturais, ainda nos centrámos nas preferências e tabus das pessoas em relação às

denominações de hoje e na influência das crenças religiosas, ambiente ecológico, costumes

Page 87: Mengyao Ren - UMinho

74

especiais, gostos estéticos e formas de pensamento na evolução dos nomes.

Ao simplesmente analisar as semelhanças e diferenças entre a cultura antroponímica

em português e em chinês, espero ter fornecido informações que ajudem a aprofundar a

compreensão das duas línguas e culturas e a promover uma comunicação, integração e

fusão de culturas.

Por fim, retomando o começo desta conclusão, espero que outros investigadores

venham a aprofundar estes tópicos, uma vez que a “cultura antroponímica” merece um

estudo mais amplo e que, no âmbito dos estudos comparativos luso-chineses, não existe

ainda grande apoio bibliográfico a este respeito, o que determinou que o meu trabalho fosse

apenas uma primeira abordagem do assunto.

Page 88: Mengyao Ren - UMinho

75

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