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Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

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MASARYKOVA UNIVERZITA Filozofická fakulta Ústav románských jazyků a literatur Portugalský jazyk a literatura Eva Kachnáčová ALGUMAS DAS FESTAS RELIGIOSAS EM PORTUGAL Bakalářská diplomová práce Vedoucí práce: Mgr. Maria de Fátima Baptista Néry-Plch Brno 2016
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Page 1: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

MASARYKOVA UNIVERZITA

Filozofická fakulta

Ústav románských jazyků a literatur

Portugalský jazyk a literatura

Eva Kachnáčová

ALGUMAS DAS FESTAS RELIGIOSAS EM PORTUGAL

Bakalářská diplomová práce

Vedoucí práce: Mgr. Maria de Fátima Baptista Néry-Plch

Brno 2016

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Prohlašuji, že jsem diplomovou práci vypracovala

samostatně s využitím uvedených pramenů a literatury.

Prohlašuji, že tištěná verze práce se shoduje s verzí

uloženou v archivu v Informačním systému MU.

.................................................................. V Brně, 30.6.2016 Podpis autora práce

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3

Ráda bych poděkovala vedoucí práce Mgr. Fátimě Néry-Plch za vstřícný

přístup, cenné rady a připomínky, a také za čas, který mi věnovala.

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Índice

1. Introdução………………………………………………………………………..……….…….5

2. A religião no território onde hoje se encontra Portugal……………………………..….……....7

3. As festas religiosas em geral………………………………………………...……………...…16

3.1. Dos rituais primitivos às festas religiosas………………………………….……………....16

3.2. Festas religiosas da Igreja Católica durante os séculos……………………………………18

4. O Ano e o Calendário Litúrgico Católico Romano…………………………...………...…….20

4.1. O Calendário Litúrgico Católico Romano 2016…………………………………………..22

5. Festas religiosas…………………………………………………………………...…….….…25

5.1. Festa do Corpo de Deus……………………………………………………………………25

5.2. Festas dos Santos Populares……………………………………………………………….33

5.2.1. Festa de Santo António………………………………………………..………………..34

5.2.2. Festa de São João…………………………………………………..……..…………….41

5.2.3. Festa de São Pedro……………………………………………………..….……………50

6. Conclusão…………………………………………………………………………...…………54

7. Bibliografia……………………………………………………………………...…………….57

8. Anexo…………………………………………………………………………………….……63

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1. Introdução

Este trabalho é dedicado a algumas festas religiosas de longa história, realizadas com

grande devoção pelo povo português. Portugal foi um país, durante os séculos ocupado e

influenciado por vários povos que o habitaram. Assim formaram a sua imagem como hoje a

conhecemos. Os seus vestígios remontam aos ibéricos, fenícios, gregos, cartagineses, romanos,

tribos germânicas e também aos árabes. Cada uma destas nações de alguma maneira contribuiu

para a formação da identidade portuguesa em vários aspetos como a arquitetura, a cultura, a

língua, a ciência ou para nós mais importante, a religião, que passou a ser um aspeto importante

na identidade portuguesa.

Para abordarmos a origem, desenvolvimento e as próprias festas religiosas, o trabalho,

além do capítulo da introdução, está dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo analisa

brevemente a religião ao longo dos séculos no território que hoje é Portugal. O aparecimento de

sinais de algumas ideias espirituais na pré-história, desde religiões pagãs politéistas, até

cristianismo, passando pelo judaísmo e também pelo islão. Esboça-nos a relação entre a

monarquia e a Igreja, posteriormente, o Estado Novo e a Igreja, tentando mostrar como o

cristianismo se tornou a religião reconhecida do país.

O objetivo seguinte é descrever o surgimento das festas religiosas. O princípio das

celebrações inicia-se já nos tempos antigos e, na verdade, têm a sua origem nos primeiros rituais

pagãos ligados aos elementos naturais, danças ou algumas práticas mágicas através que

comunicavam com divindades para pedirem a sorte na caça ou na boa colheita. Outro tema

abordado é a relação entre as manifestações teatrais nas festas religiosas e a Igreja. O esforço da

Igreja suprimir as tradições pagãs e populares e manter o caráter mais religioso e devoto.

Tendo presente que o trabalho apresentado se foca nas festas religiosas católicas, no

capítulo seguinte caracterizamos o sistema do Calendário Romano Católico. Descrevemos a

estrutura e divisão do ano católico e delineamos as festas mais importantes em geral válidas para

todos os países.

O último capítulo deste trabalho dedica a sua atenção às próprias festas religiosas

escolhidas. Para escolher as festas que descrevemos, usámos a divisão do ano católico delineado

no capítulo anterior. De Temporal damos atenção à festa do Corpo de Deus e de Santoral

orientamo-nos nas festas juninas que incluem festas dos santos: Santo António, São João e São

Pedro. Em cada festa, trecho por trecho, focamo-nos em: o que deu origem às festas, como eram

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celebradas no passado, como são celebradas hoje e eventualmente referimos alguns dos seus

elementos.

O trabalho é finalizado pela conclusão. Esta resume toda a informação que fomos

adquirindo e desenvolvendo ao longo do trabalho. O anexo apresenta algumas imagens

representativas das festas escolhidas para este trabalho.

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2. A religião no território onde hoje se encontra Portugal

Ao longo dos milénios, o território da República Portuguesa foi continuamente ocupado

por muitas civilizações diferentes. Essas civilizações trouxeram diversas religiões. Os primeiros

sinais de algumas ideias espirituais apareceram já nos tempos pré-históricos. Encontramos já no

final da Idade da Pedra vestígios de uma cultura megalítica1. Até hoje não se sabe exatamente

para que foram usadas estas grandes construções. Presumindo-se que para a astronomia ou para

algumas cerimónias como enterros ou sacrifícios.

Nos séculos seguintes a área foi povoada por ibéricos, os primeiros habitantes locais

conhecidos (mas não os habitantes mais antigos). No século XII a.C. a riqueza dos metais atraiu

também os fenícios que fundaram fortificações e se orientaram para o comércio. Posteriormente,

no século VI. a.C. chegaram os celtas, que ao longo do tempo se assimilaram aos ibéricos, dando

origem aos celtibéricos.2

As religiões destes povos podemos classificar como religiões politeístas porque cada tribo

/ colónia teve os seus deuses e cultos. O típico sinal foi o culto das forças naturais. As cerimónias

de veneração realizavam-se principalmente em santuários nas montanhas, em lugares sagrados,

perto dos elementos naturais considerados sagrados. Adoraram a água, árvores e pedras. Além

disso, celtas e fenícios realizavam sacrifícios de sangue de animais ou também de humanos.3

Típico para a religião dos celtas foi o culto da Grande Mãe: totemismo e culto dos heróis

(os antecessores mortos significativos). Para veneração usavam várias estátuas pequenas de

madeira ou bronze, máscaras e outros objetos de madeira ou metais. Os três deuses principais

eram Teutates, Esus e Taranis que foram venerados pelo sacrifício do afogamento, pendurada e

queima.4

1 Cultura megalítica – a cultura pré-histórica das grandes construções de pedra estende-se do território da Escandinávia até ao território do Mediterrâneo, incluindo a Bretanha e a Península Ibérica. Podemos encontrar, na atualidade, no território português as construções mais pequenas como o dólmen, menir ou cromlech. Por exemplo perto do Aveiro, em Crato, Ponte de Barca, perto de Castelo de Paiva ou Penafiel… KLÍMA, Josef. Dějiny Portugalska. Praha: NLN, s. r. o., Nakladatelství Lidové noviny, 1996. p. 8

2 Idem, KLÍMA, p.9

3 VLČKOVÁ, Jitka. Encyklopedie keltské mytologie. Praha: Nakladatelství Libri, 2002. [online] [cosultado em 2015-12-3]. Disponível na Internet: http://www.libri.cz/data/pdf/169.pdf; ABINSKÝ, Tomáš. Fénície, Kultura. [online] [consultado em 2015-12-03]. Disponível na Internet em: http://starenarody.cz/asie/fenicie/kultura/ 4 FILIP, Jan. Keltská civilizace a její dědictví. Nové, rozšířené vydání. Praha: Academia, 1995. [online] [cosultado em 2015-12-3]. Disponível na Internet: https://aryanrebel.files.wordpress.com/2008/03/filip-jan-keltska-civilizace-a-jeji-dedictvi.pdf p. 150-157

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Típico para os fenícios é também a trindade divina. Os nomes de deuses variam em

diferentes áreas, mas o esquema é o mesmo. Um deles é um deus, padroeiro da cidade, a segunda

é uma deusa que é o símbolo da terra fértil e o último é um deus jovem cuja morte e posterior

ressurreição simboliza os ciclos do crescimento.5

O povo que em seguida ocupou o território português foram os gregos, mas eles não

intervieram de forma significativa e foram rechaçados desta área pelos cartagineses que ficaram

aqui cerca 30 anos, até 206 a.C.6

Muito mais influência nesta área tiveram os romanos. Depois da segunda Guerra Púnica

(218-201)7, quando conquistaram Cartago, dominaram toda a península ibérica. Naquela época

viviam lá tribos de celtas e lusitanos (ibéricos ou celtiberos de cultura celta). Apesar da sua

resistência ao domínio romano, não conseguiram resistir à pressão e os romanos conquistaram

todo o território e iniciaram a romanização. A romanização incluiu por exemplo a construção de

estradas, o pagamento dos impostos para as cidades que resistiram durante a conquista. Mas o

que é mais importante para nós, começaram se a enraizar as palavras latinas, normas legais e

principalmente os hábitos, novas escolas de pensamento e a religião, o cristianismo.

A difusão do cristianismo não foi fácil porque as religiões antigas estavam fortemente

implantadas. Ainda no século V foram construídos novos templos a divindades antigas. Além

disso, o cristianismo foi, no início, perseguido. Mas, „provavelmente, já entre os anos 64 a 66,

São Paulo estava a pregar na Hispania. Segundo a tradição também São Tiago estava agir

ali.“8 O primeiro centro do cristianismo foi Braga (mais tarde Évora, Lisboa e Faro).

Quando, no século IV começaram os ataques das tribos germânicas, o poderio da Igreja

começava a crescer e começava a tomar parte em atos estatais. Uma grande „onda“ do

cristianismo veio de Itália para Portugal através os comerciantes. Em 313, foi lançado O Édito de

Milão pelo imperador Constantino I. Esse édito representou a liberdade para todas as religiões,

5 BABINSKÝ, Tomáš. Fénície, Kultura. [online] [consultado em 2015-12-03]. Disponível na Internet em: http://starenarody.cz/asie/fenicie/kultura/ 6 Idem, KLÍMA, p. 9 7 Guerras Púnicas – as guerras por território entre os romanos e cartagineses. Primeira Guerra foi entre anos (264-241). Idem, KLÍMA, p.10 8 Traduzido de: Idem, KLÍMA, p. 14. O nome de São Jacó (Santiago) tem uma ligação ao lugar de romaria de Santiago de Compostela. Segundo a lenda o corpo de S. Jacó encontra-se ali. Razão pela qual, Santiago de Compostela é o lugar mais impotante de peregrinação na península ibérica. Idem, KLÍMA, p. 14

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incluindo o cristianismo. A posição da Igreja tornou-se ainda mais forte quando em 391 o

cristianismo foi declarado como o religião estatal.9

Em 395 o Império Romano foi dividido em duas partes: a parte Oriental e a parte

Ocidental. Graças à agressão dos Hunos inicia-se a migração das nações. Durante o

enfraquecimento e o finalmente completo colapso do Império Romano em 476, o território foi

colonizado pelos povos germânicos – sulos, visigodos, vândalos, alanos, suevos. O rei suevo,

Requiário, promoveu o cristianismo e tornou-se o primeiro rei católico na Europa. Isso não

mudou nem com a chegada e domínio dos visigodos, os quais passaram também para as fileiras

dos cristãos. Os povos germânicos, “fundamentalmente um conjunto de bandas de guerreiros”10,

não destruíram o sistema, promoveu a organização do território – rede das freguesias e não

conhecendo o latim, precisaram do apoio dos bispos. Assim, a influência da Igreja Católica,

aumentada já no tempo dos romanos, crescia, ganhava mais vigor e obtinha também o

monopólio da educação.11

As lutas pelo poder foram responsáveis pelo enfraquecimento e instabilidade do reino, e

disso aproveitaram os árabes. Em 711 no combate com os muçulmanos foi morto o último rei

visigodo, Rodrigo, e o território foi conquistado pelos mouros.12 Durante vários anos eles

dominaram quase toda a Península Ibérica, exceto a zona das Astúrias no Norte, e trouxeram a

sua cultura, cujos aspetos podemos encontrar na cultura portuguesa até hoje (na língua

portuguesa foram assimiladas muitas palavras árabes ou podemos encontrar os restos

arquitetónicos – palácios, Mesquita de Mértola e a arte decorativa como por exemplo azulejos),

novas ciências e principalmente a nova religião, o Islamismo.

Os árabes toleraram o cristianismo, também o judaísmo e outras religiões. „A

organização cristã não foi liquidada pelo afiliação ao califado, a dominação muçulmana só

causou enormes deserções de massas à nova religião. Os islamizados não eram obrigados a

pagar os impostos e aqueles que eram anteriores os escravos, ganharam a liberdade. Os

moçárabes, que insistiam no cristianismo, pelo contrário, tinham que pagar impostos

pesados.“13 Os cristãos moveram-se mais para o norte, onde ficava o reino cristão, Reino das

Astúrias. Aqui o rei D. Afonso II mandou construir uma capela em cima da sepultura de

9 Idem, KLÍMA, p. 14 10 MATTOSO, José. História de Portugal. Volume 1, Antes de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, Lda. e Autores, 1992. p. 303 11 Idem, MATTOSO, p.326-327 12 Idem, KLÍMA, p.17

13Traduzido de: Idem, KLÍMA, p.17

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Santiago, dedicada ao culto do apóstolo e que se tornou famoso lugar de peregrinação. Santiago

foi proclamado como patrono da luta cristã contra os infiéis.

Já nos anos anteriores ocorreram combates entre os mouros e cristãos, mas a reconquista

propriamente dita do território inicia-se em 1045 a norte por García Sánchez III e durou até

1249, na altura do reinado do D. Afonso III.14 Nestes combates lutaram os cruzados mas

também as ordens religiosas como por exemplo os Templários, os quais foram, mais tarde,

depois da reconquista acabada, abolidos pelo Papa e substituídos pela Ordem de Cristo. Assim

começou um período em que, mais uma vez, o cristianismo se tornou a religião principal.

Esforço para cristianizar e espalhar essa religião continuou no território português e foi

acabado por conquista do Algarve. Na altura dos descobrimentos ultramarinos, no século XV, foi

um esforço propagar o cristianismo também nas colónias ultramarinas pelos franciscanos,

dominicanos e mais tarde jesuítas. Os jesuítas fundaram as escolas e estavam a tentar propagar a

educação, cultura e a cristianizar os povos indígenas. Até ao século XV podemos dizer que

estava em vigor uma tolerância religiosa. Em 1478 foi criada a Inquisição em Castilha,

controlada pelo Papa, com o objetivo de unir o país em todos os aspetos. Em 1492 foi

proclamado que todos os judeus ou se convertiam, ou saíam, ou morriam.15 Entretanto em

Portugal D. João II permitia que os judeus entrassem no país para se aproveitar da sua riqueza.

Permitindo-lhes entrar sob a condição de pagarem uma taxa e no prazo de oito meses

abandonarem o país ou serem vendidos como escravos. Lançou um apelo à conversão, ainda não

obrigatória, e ainda proibiu os ataques armados contra os judeus.16

Mas isso mudou na virada do século XV e XVI durante o reinado de D. Manuel I e de D.

João III. Apesar de estes apoiarem o desenvolvimento da cultura, das artes, também da educação

e do estudo no exterior, permitem também o aparecimento de correntes da contrarreforma

promovida principalmente pelos jesuítas. Começaram as arguições da heresia e perseguições

religiosas. A burguesia tornou-se rica graças aos descobrimentos ultramarinos. Chegaram as

influências exóticas de África, América do Sul, Oceânia e Ásia o que resultou em

desmoralização.17

Por outro lado D. Manuel I, interessado em casar-se com Isabel, princesa espanhola, filha

dos Reis católicos da Espanha, é posto, perante a condição para o casamento se realizasse, de 14 Idem, KLÍMA, p.19-32 15 Prof. SARAIVA, José Hermano (Retrospectivas de Portugal). História de Portugal – Volume III. [online] [consultado em 2015-12-27]. Disponível na Internet: https://www.youtube.com/playlist?list=PLKlohqa8oPcspyyINrMU-5fqvt8tft0NN 16 Idem, Prof. SARAIVA. 17 Idem, KLÍMA, p.76-77

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expulsar todos os judeus do país. O D. Manuel I expulsou os judeus, mas deu-lhes a

possibilidade de ficar no país sob condição de se converterem ao cristianismo, os chamados

cristãos novos. O rei prometia não investigar estes cristãos novos durante 30 anos seguintes. Mas

mesmo assim eles viviam em guetos, fingiram que se converteram mas continuaram a praticar os

seus ritos religiosos em segredo.

Os judeus formavam uma parte rica da população, pelo que o rei queria impedir a saída

deles. Por isso, em 1499 foi lançada uma proibição de saída dos cristãos novos do país. A vida

deles não foi fácil, graças à sua riqueza foram odiados pelos invejosos e pelos cristãos

afervorados. O que deu origem ao pogrom de Lisboa em 1506 durante o qual foram mortos cerca

de 4000 cristãos novos e se iniciava uma nova diáspora judaica.18 D. Manuel I considerou que a

resolução da questão da religião era um aspeto importante para a consolidação do poder. Por isso

pediu ao papa o estabelecimento da Inquisição em Portugal.

D. João III (1521-1557)19 completou a centralização do domínio – adquiriu o direito de

decidir alguns assuntos religiosos. Na pureza da religião viu a estabilidade e a firmeza de

Portugal. Os judeus e também os muçulmanos que se mantiveram em Portugal, depois da

reconquista, viveram à margem da sociedade. Viveram separados em guetos fortificados,

judiarias e mourarias, que eram fechadas durante a noite. Para se identificar, usavam signos nas

roupas (os judeus tinham a estrela ou roda amarela e os muçulmanos a lua crescente). Eram-lhes

aplicadas muitas proibições.20 Os mouros sucessivamente foram-se para os países islâmicos, mas

os judeus foram violentamente forçados a batizar-se. „Ficaram cristãos por fora mas judeus por

dentro.“21 E em 1536 o Papa Paulo III acedeu os pedidos e deu a permissão para o

estabelecimento da Inquisição em Portugal, teria só extinta em 1773.22

Com a Inquisição começaram as investigações, perseguições e o principal objetivo foram

as confiscações das fortunas dos judeus. Nesta época a corte real fez enormes despesas. „…Mas

18 Idem, KLÍMA, p.63 19 Idem, KLÍMA, p.260 20 Já durante o reinado de João II podemos encontrar as referências de algumas proibições. “Uma postura do século XV refere que nenhum judeu podia vender ou trabalhar entre cristãos, aos domingos, dias dos Apóstolos, dias de Santa Maria, de S.Jorge ou de S.Vicente.” VALE, Teresa Leonor M., Maria João Pacheco Ferreira e Sílvia Ferreira. LISBOA E A FESTA: Celebrações Religiosas e Civis na Cidade Medieval e Moderna. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, Colóquio de História e de História da Arte / ACTAS, 2009. p.27; Comunidades dos judeus e mouros também não puderam participar nas festas. “Uma postura do século XV refere que menhum mouro ou judeu seja “tam ousado que daquy en dyante vaa a voda nem a festa nem a vigillia nem a pinticostes nem a outras nenhuas festas que os christãos fezerem asy na cidade como montes a dançar nem a tamjer nem baillar nem fazer outros jogos e quallquer que o contrairo fazer que por a primeira vez pague quinhentas livras e por a segunda mjll e pague as da cadea e quallquer que os acussar aja a terça.” Idem, VALE, p.29

21 Prof. SARAIVA, José Hermano (Retrospectivas de Portugal). História de Portugal – Volume III. [online] [consultado em 2015-12-27]. Disponível na Internet: https://www.youtube.com/playlist?list=PLKlohqa8oPcspyyINrMU-5fqvt8tft0NN 22 Idem, KLÍMA, p.102

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além das despesas da Índia, havia muitas outras. Era preciso sustentar os milhares de homens

que estavam nas praças do norte da África e para quem era preciso mandar tudo, tudo… Era

preciso pagar ao pessoal em serviço na corte. A corte que tinha tido duzentos servidores na

época de D. João II, e quatro mil na época de D. Manuel. E toda essa gente vivia à custa do que

o rei os dava… “23 Também foram realizados os autos da fé que muitas vezes terminaram com

pessoas a serem queimadas. Na competência da Inquisição estava também a censura da

imprensa, Index Expurgatório era a lista dos livros proibidos.

No tempo da monarquia dualista entre Portugal e Espanha (1580-1640)24, Lisboa e o país

inteiro ficou, pode se dizer, sem rei e sem corte, porque o rei D. Filipe I de Portugal (II de

Espanha) habitou em Espanha. A posição do clero e ordens religiosas intensificou-se. A

Inquisição continuava com a perseguição dos judeus e provocava grande saída do país.

Depois da Restauração, começando pelo governo de D. Pedro II, apareceram as

tendências do governo absolutista. Neste pensamento continuou também D. João V. Durante o

seu reinado empenhou-se na centralização do poder, aumentando o seu poder pessoal como

soberano. Apesar de apoiar a Igreja Católica (em 1717 começou a construção do grande

convento em Mafra), o clero gradualmente perde a sua influência. Suportou o desenvolvimento

da educação, inteligência e reforma da sociedade. Foi uma época marcada pelo maior afluxo de

ouro do Brasil.25

Com a chegada ao poder de D. José I (1750-1777)26 principiou a época pombalina. O

primeiro ministro, Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho e Melo, defensor do

absolutismo real, queria destruir todas as forças que podiam limitar o poder do rei – a nobreza,

clero e jesuítas. Sob o pretexto do atentado contra a vida de D. José I, provavelmente inventado

por Pombal, estabeleceu a subordinação da Igreja ao estado, proibiu os movimentos espirituais

heréticos, centralizou as congregações religiosas e em 1759 aboliu a Ordem dos Jesuítas,

expulsou-os e confiscou as suas propriedades.27 Em 1773 transformou a Inquisição em tribunal

real e colocou os cristãos novos em pé de igualdade com as outras pessoas. Pombal proclamou o

23 Prof. SARAIVA, José Hermano (Retrospectivas de Portugal). História de Portugal – Volume III. [online] [consultado em 2015-12-27]. Disponível na Internet: https://www.youtube.com/playlist?list=PLKlohqa8oPcspyyINrMU-5fqvt8tft0NN 24 Idem, KLÍMA, p.80-86 25 O Portal da História. D. João V. © Manuel Amaral 2000-2015 [online] [consultado em 2015-12-27]. Disponível na Internet: http://www.arqnet.pt/dicionario/joao5.html 26 Idem, KLÍMA, p.261 27 Idem, KLÍMA, p.101-102

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rei como legislador de competência absoluta, devendo este prestar conta das suas ações somente

a Deus.28

A partir da reforma pombalina, a relação entre o Estado e a Igreja tornava-se cada vez

mais conflituosa. Em 1820, no dia de 24 de Agosto29, no Porto ocorreu a revolução liberal; a

legislação da Igreja foi cancelada, os seus bens foram nacionalizados e vários conventos

cancelados.30 Desde 1834 estava novamente em vigor a Carta de 1826, esta cancelou as ordens

religiosas masculinas e nacionalizou as propriedades dos conventos.31 A situação culminou com

a implantação da Primeira República em 1910, depois do regicídio do rei D. Carlos em 1908.32 A

República queria afastar-se de uma forma monárquica de governo. Um dos resultados deste foi

uma atitude negativa contra o rei e a Igreja. Ainda em 1910 foi proibida a educação eclesiástica,

os jesuítas e os membros de outras ordens religiosas foram expulsos. E em 1911 verificou-se a

separação entre o Estado e a Igreja e os bens e propriedades da Igreja foram nacionalizados.33

Por exemplo, entre 1910-1911, foram lançadas as proibições assim à Igreja: „O ensino da

doutrina cristã é abolido, bem como o juramento religioso em actos oficiais. Proibição do

ensino da doutrina cristã no ensino primário. Abolição dos dias santificados. Promulgação da

lei do divórcio. Promulgação da lei da família, com a instituição do casamento civil. Regulação

das associações religiosas, proibindo-se a utilização pública de hábitos.“ 34 etc… Também a

Faculdade de Teologia da Universidade de Coimbra, única escola no verdadeiro sentido da

palavra, foi encerrada.

Neste momento difícil para a Igreja, aconteceu um milagre quando em 13 de Maio de

1917 pela primeira vez, e em seguida várias vezes até Outubro, na freguesia de Fátima, apareceu

a Virgem Maria a três crianças, pastorinhos – Lucia, Francisco e Jacinta.35 A Virgem Maria

revelou-lhes os profecias segredos do futuro: visão do Inferno e ataque mortal ao Supremo da

28 Idem, KLÍMA, p.102 29 Idem, KLÍMA, p.127 30 Idem, KLÍMA, p.129 31 Idem, KLÍMA, p.135 32 Prof. SARAIVA, José Hermano (Retrospectivas de Portugal). História de Portugal – Volume V. [online] [consultado em 2015-12-27]. Disponível na Internet: https://www.youtube.com/playlist?list=PLKlohqa8oPcspyyINrMU-5fqvt8tft0NN 33 Idem, KLÍMA, p.162 34 TORRES, Joana Bento. Igreja e Primeira República, A Implementação do registo civil obrigatório. p.6 [online] [consultado em 2016-01-02]. Disponível na Internet: http://www.iseg.ulisboa.pt/aphes30/docs/progdocs/JOANA%20TORRES.pdf 35 Idem, KLÍMA, p.164

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Igreja – a Igreja mártir.36 Em 1930 as aparições milagrosas foram reconhecidas pelo Vaticano e

Fátima tornou-se um dos mais visitados lugares de peregrinação.37

Devido à instabilidade da Primeira República, esta foi logo substituída pelo regime

militar em 1926, que durou até 1933 e posteriormente substituído mais uma vez pelo regime

autoritário de Salazar.38 Etapa da Ditadura Militar foi mais amigável para a Igreja do que a

Primeira República, porque chegou a termos de „(…) devolução de propriedades à Igreja, em

que o ensino religioso é reintroduzido, em que é autorizada a entrada em Portugal das ordens

religiosas expulsas, e, em que se celebra o Acordo Missionário (1928). Um processo que, em

última análise, tem a sua expressão simbólica na consagração de Portugal ao Sagrado Coração

de Maria (1929), e que explica que a Igreja e os católicos se destaquem entre os primeiros

apoiantes da Ditadura Militar.“39

A posição da Igreja foi ainda mais melhorada na época de Salazar. António de Oliveira

Salazar já em sua juventude era próximo à Igreja porque estudou no Seminário e sempre foi de fé

fortemente católica. O regime de Salazar baseava-se na doutrina social da Igreja e durante a sua

dominação conseguiu a reconciliação entre o Estado e a Igreja quando em 1940 foi assinada a

Concordata entre o Estado e Vaticano.

O salazarismo continuou ainda na época de Marcelo Caetano até o golpe de Estado em

1975. Após a Revolução dos Cravos a posição da Igreja foi incerta porque alguns a culparam de

apoio à ditadura do salazarismo. Ocorreram ataques contra ela e às suas propriedades. A Igreja

sentiu-se comprometida. Algum tempo depois passou para segundo plano e não interferiu

significativamente em assuntos públicos. Ninguém queria uma repetição da situação da Primeira

República. Todos estavam conscientes da influência e do poder que a Igreja tinha mas durante

algum tempo a situação acalmou-se.

Mais tarde, na etapa democrática, em 2001 foi lançada a Lei da Liberdade Religiosa que

definiu a igualdade de direitos para todas as religiões.40 E em 2004 foi assinada a nova

36 Santuário de Fátima, página oficial. [online] [consultado em 2015-12-20]. Disponível na Internet: http://www.fatima.pt/pt/pages/o-acontecimento-de-fatima 37 Santuário de Fátima, página oficial. [online] [consultado em 2015-12-20]. Disponível na Internet: http://www.santuario-fatima.pt/portal/ 38 Idem, KLÍMA, p.161-172 39 REZOLA, Maria Inácia. A Igreja Católica nas origens do salazarismo. Revista de história, Juiz de Fora, 2012. [online] [consultado em 2015-12-28]. p. 74 https://www.academia.edu/7157011/A_Igreja_Cat%C3%B3lica_nas_origens_do_salazarismo_The_Catholic_Church_in_the_origins_of_Salazar_s_Estado_Novo_New_State_ 40 Lei da Liberdade Religiosa. [online] [consultado em 2016-01-03]. Disponível na Internet: http://www.ucp.pt/site/resources/documents/ISDC/LLR.pdf

Page 15: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

15

Concordata entre Portugal e a Santa Sé. A Concordata de 1940 foi atualizada e adaptada para o

presente. E claramente definiu a relação entre o Estado e a Igreja.41

Hoje em dia, está em vigor a Lei da Liberdade Religiosa de 2001, onde está definida a

relação entre Estado e a Igreja. De acordo com os princípios, Portugal não tem uma religião

oficial, todos têm o direito professar qualquer fé que deseje. A Igreja e outras ordens ou

comunidades religiosas são separados do Estado e o Estado não intervém nos assuntos da Igreja,

é não-confessional.42

Hoje em dia, graças também ao desenvolvimento histórico no país, a que religião

dominante é a dos católicos romanos. Segundo o censo de 2011 a grande maioria dos

portugueses são católicos romanos, cerca de 81%. As outras igrejas cristãs são cerca de 3,3% e

as outras religiões cerca de 0,3%. Aproximadamente 3,9% da população está sem expulsão e em

cerca de 9% não expressaram a sua orientação religiosa.43 A região mais católica continua a ser o

norte do país e as áreas rurais. Pelo contrário nas cidades o número dos crentes está a diminuir e

na parte sul do país o número é mais baixo. Apesar de nos últimos anos o número dos fiéis

decrescer ligeiramente, a tradição católica continua a ser uma parte inerente a identidade

portuguesa. As peregrinações continuam a ser importantes, milhares de pessoas todos os anos

tomam o caminho de Fátima onde em 1917 ocorreram as aparições de Virgem Maria. Igualmente

importante são também os feriados e festas religiosos que se realizam durante todo o ano.

Atualmente, Marcelo Rebelo de Sousa, o novo Presidente da República (desde 9 de

Março de 2016) já no primeiro dia do seu cargo pôs em evidência o seu apoio à aproximação

entre culturas e religiões, quando participou numa cerimónia ecuménica na Mesquita central de

Lisboa. “Marcelo Rebelo de Sousa juntou na mesma cerimónia muçulmanos, cristãos de várias

confissões religiosas, budistas, judeus e adventistas, um gesto simbólico com o objectivo de

promover a aproximação entre culturas e religiões.”44 Bem como, na sua intervenção em relação

41 Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa. [online] [consultado em 2016-01-03]. Disponível na Internet: http://www.ucp.pt/site/custom/template/ucptplpopup.asp?sspageid=114&artigoID=2478&lang=1 42 “Artigo 3.º - Princípio da separação: As igrejas e demais comunidades religiosas estão separadas do Estado e são livres na sua organização e no exercício das suas funções e do culto. Artigo 4.º - Princípio da não confessionalidade do Estado: 1 — O Estado não adopta qualquer religião nem se pronuncia sobre questões religiosas. 2 — Nos actos oficiais e no protocolo de Estado será respeitado o princípio da não confessionalidade. 3 — O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes religiosas. 4 — O ensino público não será confessional. Artigo 5.º - Princípio da cooperação: O Estado cooperará com as igrejas e comunidades religiosas radicadas em Portugal, tendo em consideração a sua representatividade, com vista designadamente à promoção dos direitos humanos, do desenvolvimento integral de cada pessoa e dos valores da paz, da liberdade, da solidariedade e da tolerância.“ Lei da Liberdade Religiosa. [online] [consultado em 2016-01-03]. Disponível na Internet: http://www.ucp.pt/site/resources/documents/ISDC/LLR.pdf 43 CENSOS 2011, Instituto Nacional de Estatística. [online] [consultado em 2016-01-03]. Disponível na Internet: http://censos.ine.pt/xportal/xmain?xpid=CENSOS&xpgid=censos2011_apresentacao 44 Presidência da República Portuguesa. Página oficial. Presidente participou em cerimónia ecuménica em nome do diálogo. [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://www.presidencia.pt/?idc=10&idi=103520

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16

da situação atual de combates dos países árabes (12 de Maio 2016), deixando a perceber que

queria contrariar o extremismo das religiões e que irá apoiar os estudantes universitários sírios,

depois do seu comentário, “uma homenagem ao legado histórico, genético, cultural e científico

dos povos árabes que cruzaram estas terras.”45

Resumindo, como referido não queremos mais do que salientar que ao longo dos séculos

o território português foi ocupado por muitas civilizações diferentes. Os seus vestígios remontam

aos ibéricos, primeiros habitantes conhecidos desta região, fenícios, gregos, cartagineses,

romanos que tiveram a maior influência na cultura portuguesa, as tribos germânicas e por último,

mas não menos importantes, os árabes. Todas estas nacionalidades influenciaram de alguma

forma ou em qualquer aspeto a evolução do país, tal como o conhecemos hoje. Um deles em que

nos concentramos foi aspeto religioso que indiscutivelmente completa a identidade portuguesa,

seja bom ou mau sentido.

No território onde hoje encontra-se Portugal encontramos os vestígios desde religiões

pagãs, até cristianismo, passando pelo judaísmo ou islão. „As condições” nos acontecimentos

históricos do país eram afinal mais favoráveis para o cristianismo, que é a religião que hoje neste

país predomina desde a reconquista cristã. E apesar do esforço passado da Igreja lutar, por

exemplo, através a Inquisição e as perseguições contra a religião pagã e os seus elementos como

a superstição ou magia, alguns dos atos litúrgicos ou procissões na verdade têm as suas raízes

nos rituais pagãos, visíveis na sua realização até hoje.46 A situação atual do país recusa o

extremismo religioso, muito pelo contrário, promove a aproximação entre culturas e religiões.

3. As festas religiosas em geral

3.1. Dos rituais primitivos às festas religiosas

As raízes das festas religiosas (juntamente com as raízes do teatro) remontam à história

antiga, mais precisamente pré-história, e estão ligadas com os povos primitivos. Nos tempos

antigos, as expressões culturais das sociedades primitivas incluíam cerimónias e rituais de caráter

religioso com elementos de imitação ou mimetismo. Podemos nomear por exemplo as

45 Presidência da República Portuguesa. Página oficial. Intervenção do Presidente da República na receção aos Embaixadores de Países Árabes [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://www.presidencia.pt/?idc=22&idi=107496 46 MATTOSO, José. História de Portugal. Volume 2, A Monarquia Feudal (1096-1480). Lisboa: Círculo de Leitores, Lda. e Autores, 1993. p. 255-256

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17

festividades agrárias ou funerais, danças de caça, costumes mágicos, etc.47 O desenvolvimento

levou estas danças de caça através da pantomima mágica para o ritual e o mito, onde a função

mágica se tornou numa festividade cíclica. Através destes rituais e mitos, não só, foi lentamente

criado um sistema de valores, relações como também eles ajudaram a descobrir uma

possibilidade de ultrapassar os limites do mundo real. São aqueles primeiros rituais que podemos

considerar como teatro primitivo48, porque tiveram normalmente lugar um espaço específico em

frente do público e incluíam as ações dos indivíduos (orações, histórias,…) que lhes deviam

garantir uma boa colheita ou uma caça bem sucedida. Muitas vezes eram também utilizadas

várias máscaras dos animais que se queria caçar. Temos assim, uma primeira manifestação

ligada à religião quando estes rituais eram usados para a comunicação com a divindade.

Ao longo do tempo esta tradição desenvolveu-se e dividiu-se em duas direções. Numa

linha, com função do divertimento, nasceu o teatro e de outra, com função festiva, nasceu a

celebração religiosa. Assim à medida que o tempo passou, os rituais transformaram-se em

festividades públicas, muitas vezes periódicas e organizadas pelo estado ou Igreja. Mas mesmo

assim as celebrações sempre estiveram em estreita relação com o teatro porque incluíram os

elementos seus como a dança, a música ou até algumas cenas.

A pedra basilar das festas religiosas é a crença. Teófilo Braga no seu livro49 divide as

crenças em dois grupos: restos de religiões extintas e religião do estado. Os restos de religiões

extintas são as crenças dos povos antigos que viveram no território português e que

sobreviveram a influência e opressão da crença da religião do estado que foi crença oficial

“apropriando-se dos elementos míticos e culturais anteriores já desnaturando-os, já

perseguindo-os.”50 E estes dois elementos, o sagrado e o profano, ao longo do tempo

interpenetraram, o que é até hoje evidente nas festas religiosas católicas que incluem e mantêm

alguns elementos, tradições ou práticas supersticiosas das crenças originais antigas.51

47 LOZORČÁKOVÁ, Tatjana. Dějiny světového divadla 1, od antiky po renesanci. Olomouc, 2013. [online] [consultado em 2015-10-20]. Disponível na Internet: http://www.filmadivadlo.cz/coergahdfgf/uploads/2015/05/Lazorcakova-Dejiny-svetoveho-divadla-1.pdf 48 REBELLO, Luiz Francisco. O Primitivo teatro português. 1.ª ed. – Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, Biblioteca Breve / Volume 5 ,1977. 49 BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Volume II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Gráfica Barbosa e Santos, Lda., 1986. p.15

50 BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Volume II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Gráfica Barbosa e Santos, Lda., 1986. p.15 51 Quando se fala de perseguição em relação ao cristianismo, a toda a gente vem imediatamente à mente uma palavra, Inquisição ou auto da fé. Isabel Drumond Braga diz, que também auto da fé podemos considerar como uma festa religiosa. “Enquanto espectáculo religioso, ritual e grandioso, convertia-se numa festa com aspectos sacros e profanos, presenciada por pessoas de todos os estratos sociais.“ O próprio conceito de festa religiosa chama um “instrumento de poder e de ostentação”. Mesmo como outras festas, também o auto da fé incluiu as preparações que duravam dias ou meses - preparação do espaço público,

Page 18: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

18

A festa tornou-se um momento que celebrou e assim marcou como um testemunho alguns

acontecimentos ou momentos importantes da sociedade civil ou religiosa. Como festas podemos

considerar não só a adoração dos santos, mas também as celebrações do casamento, as

celebrações funerais ou também autos da fé, como já referimos, etc. Tornou-se um momento

excecional na vida das pessoas, refletindo a sua vida diária e em geral a cultura do país.52

3.2. Festas religiosas da Igreja Católica durante os séculos

É natural que as fases do desenvolvimento das festas religiosas acompanham o

desenvolvimento histórico da Igreja, delineado no capítulo anterior. Mas ainda há factos que vale

a pena mencionar.

Na época do Império Romano, em 313, foi lançado o Edito de Milão e em 391 o

cristianismo foi promulgado como a religião estatal.53 Por esta altura, frequentemente, as

representações religiosas apresentavam-se durante um tempo lado a lado com as representações

teatrais. Visto a Igreja estar interessada em manter a moralidade ou converter as pessoas à fé,

começou a defender o seu espaço por não compartilhar os mesmos valores que o teatro tinha. O

objetivo do teatro era divertir o público. Por isso, os jogos ganharam frequentemente um tema

difamatório, muitas vezes depreciativo, desmoralizante, incluindo mitos de religiões antigas e

elementos profanos. Enquanto isso a Igreja promovia mais os mistérios, as moralidades ou os

milagres, que representavam a vida de Cristo ou de outros santos e levavam o homem a fazer o

bem e a fortalecer a fé. E assim a Igreja começou a combater jograis, atores e o teatro em geral.

Foram lançados várias proibições de dança ou canto, os atores foram excomungados da Igreja e

as cerimónias eclesiásticas teriam que estar de caráter estreitamente litúrgico.54

É mais do que claro que os rituais religiosos estiveram sempre em contacto direto com as

manifestações teatrais. Já no século XIII podemos encontrar sinais deste facto em textos

eclesiásticos. É paradoxal o que especificamente se referiu nos decretos, proibições ou censuras

mobilização dos cuidados (inquisidores) e também uma procissão dos réus ou a pregação do sermão… O auto da fé foi “uma festa religiosa e, sobretudo, uma representação teatral da fé”. VALE, Teresa Leonor M., Maria João Pacheco Ferreira e Sílvia Ferreira. LISBOA E A FESTA: Celebrações Religiosas e Civis na Cidade Medieval e Moderna. Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa, Colóquio de História e de História da Arte / ACTAS, 2009. p.87-98

52 Idem, VALE, p.13-14 53 Idem, KLÍMA, p.14 54 „No ano de 1207 (para não falar já de proscrições e anátemas anteriores como aqueles que em 314 o Concílio de Arles fez desabar sobre jograis, saltimbancos e actores) o Papa Inocêncio III proibia, no interior dos templos, todas as manifestações que não se revestissem de um carácter estritamente litúrgico.“ REBELLO, Luiz Francisco. O Primitivo teatro português, Venda Nova – Amadora – Portugal: Biblioteca Breve / Volume 5, 1977. P.21

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19

de arcebispos ou reis, os quais proibiram estas representações na igreja ou no mosteiro.55 „A

Igreja tenta disciplinar as festas, controlar as manifestações carnavalescas, alterar o sentido

dos rituais mágicos, atribuindo ao demónio as forças sobrenaturais negativas e aos santos as

forças positivas, usar a pregação para inculcar os seus ensinamentos morais.56

Também, por exemplo, no princípio do século XVIII, em 1732, a Igreja no conjunto com

o decreto real proibiam as manifestações profanas, como danças ou figuras gigantescas nas

procissões religiosas para retornar-lhes um caráter estritamente religioso, caráter de grande

solenidade e veneração.57

Como já referido, outro importante ponto da rotura tornou-se o ano 1910, foi o ano do

fim da monarquia e o começo da Primeira República. A Igreja era separada do Estado e já no

início foi lançado o decreto que anulou todos os feriados, incluindo religiosos, tornando-se em

dias de trabalho e em seguida substituídos por cinco feriados nacionais novos.58 Os feriados

foram aumentando ao longo do tempo com mais dias nacionais. Tendo sido os feriados religiosos

oficialmente restabelecidos durante o Estado Novo, em 1940 depois da assinatura da Concordata

entre o Estado e a Santa Sé. Apesar de a Igreja ter uma posição forte nesta época, os feriados

foram celebrados como festividades cívicas para manter a separação do Estado e da Igreja.59

Em 2004 foi assinada uma nova Concordata atualizada, onde os dias festivos Católicos

são discutidos nos artigos 3° e 30°. Como feriados religiosos são declarados: Ano Novo e Nossa

Senhora, Mãe de Deus, Corpo de Deus, Assunção, Todos os Santos, Imaculada Conceição e

Natal.60 Mas devido à crise económica nos últimos anos discutiu-se a redução dos feriados

nacionais para aumentar a produtividade e criar o desenvolvimento económico. Em 2012, depois

das negociações com a Santa Sé sob os feriados religiosos, foi decidido reduzir quatro feriados, 55 Uma destas proibições é do arecobispo de Braga, D. Frei Telo, e tem originário de 1281. Outra censura é datada em 1436, proclamada pelo rei D. Duarte que discordou com a dança, o canto e jogos e disse que tudo isso é só „instigação diabólica“. Idem, REBELLO, p.33-34 56 MATTOSO, José. História de Portugal. Volume 2, A Monarquia Feudal (1096-1480). Lisboa: Círculo de Leitores, Lda. e Autores, 1993. p.267 57 COSTA, Soledade Martinho. Festas e tradições portuguesas, Junho. Rio de mouro: Printer portuguesa, 2002. p.125

58 NETO, Vitor. Centenário da República: A primeira república portuguesa e religião. Publicado em Dossier, Outono 2010, No1713. [online] [consultado em 2015-12-11]. Disponível na Internet: http://www.searanova.publ.pt/pt/1713/dossier/162/Centen%C3%A1rio-da-Rep%C3%BAblica-A-primeira-rep%C3%BAblica-portuguesa-e-a-religi%C3%A3o.htm

59 Diário de Notícias, Portugal. [online] [consultado em 2016-01-07]. Disponível na Internet: http://www.dn.pt/portugal/interior/a-historia-dos-feriados-do-mais-antigo-ao-mais-recente-2151741.html 60 „Artigo 3.º —Reconhece o Domingo e outros dias festivos Católicos. (…); Art. 30.º — Determinação dos feriados religiosos.

Enquanto não for celebrado o acordo previsto no artigo 3, são as seguintes as festividades católicas que a República Portuguesa reconhece como dias festivos: Ano Novo e Nossa Senhora, Mãe de Deus (1 de Janeiro), Corpo de Deus, Assunção (15 de Agosto). Todos os Santos (1 de Novembro), Imaculada Conceição (8 de Dezembro) e Natal (25 de Dezembro).“ Concordata entre a Santa Sé e a República Portuguesa. [online] [consultado em 2016-01-03]. Disponível na Internet: http://www.ucp.pt/site/custom/template/ucptplpopup.asp?sspageid=114&artigoID=2478&lang=1

Page 20: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

20

dois civis e dois religiosos. Os dois religiosos concretamente foram Corpo de Deus e Todos os

Santos. Esta decisão seria válida por cinco anos e depois seria novamente revalidada. No entanto,

em 2016 foi aprovada na Assembleia da República a reposição destes quatro feriados.61

Como referindo não queríamos salientar mais do que as festas religiosas têm as suas

raízes na tradição pagã. Os povos das antigas religiões realizavam os rituais como danças,

fogueiras ou alguns costumes mágicos para comunicar com a divindade ou alguma força superior

natural para pedirem a caça bem-sucedida ou boa colheita, etc. Estes rituais, ou podemos dizer

autos primitivos (teatro primitivo), ao longo dos tempo desenvolveram-se e transformaram-se

nas festividades públicas, muitas vezes anualmente repetidas e foram a pedra basilar para o teatro

e principalmente para as festas religiosas.

Apesar dos vários esforços da Igreja, ao longo dos séculos, separar o sacro do profano,

manter um caráter puramente religioso e eliminar as práticas da magia, da superstição, feitiçaria

ou práticas teatrais como dança ou máscaras, pelas várias proibições até pela função da

Inquisição, as festas religiosas sempre interpenetravam com estas práticas originais gentílicas.

Ainda hoje os ritos pagãos fazem parte nas festas ou procissões religiosas, incluindo por exemplo

os elementos da terra – a água, o fogo, etc. E apesar das celebrações religiosas serem várias

vezes interditas ou “banidas” do espaço público, devido ao sistema estatal, sempre retornaram

com ainda maior grandeza e sublimidade.

4. O Ano e o Calendário Litúrgico Católico Romano

„Em todos os povos que se elevaram à organização civil, as festas religiosas foram um objecto de

acção comum, e ao mesmo tempo o meio de fixar em dadas épocas do ano o termo dos contratos, o

começo dos mercados, o fim das magistraturas electivas, a concorrência aos jogos públicos e a

comemoração das datas históricas que interessavam à comunidade.“62

Em tempos remotos as pessoas não tinham calendários, nem sabiam ler e o tempo era

determinado de forma diferente do que é hoje. Para esta orientação no tempo ajudaram as festas

religiosas.

61 Diário de Notícias, Portugal. [online] [consultado em 2016-01-07]. Disponível na Internet: http://www.dn.pt/portugal/interior/a-historia-dos-feriados-do-mais-antigo-ao-mais-recente-2151741.html 62 BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Volume II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Gráfica Barbosa e Santos, Lda., 1986. p.180-181

Page 21: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

21

O ano litúrgico é o sumário dos dias festivos religiosos que se repetem num ciclo anual.

Contém duas estruturas mutuamente interpenetrastes, Temporal e Santoral. Temporal é superior

a Santoral e introduz a celebração litúrgica da ação pública de Jesus Cristo durante o ano

litúrgico. A maioria destas festas é móvel. Santoral é conjunto das pessoas veneradas, dias de

festas dos santos, que não são móveis mas têm datas fixas. O Calendário Romano Geral contém

as festas que são dadas para todos os países, além disso cada igreja ou diocese no país tem as

suas próprias festas importantes.63

O ano litúrgico pode ser dividido em duas vezes, nos tempos fortes e no tempo comum.

Entre os tempos fortes se alinha o Advento, Natal, Quaresma e Páscoa. Os tempos fortes também

podemos dividir em dois círculos, círculo do Natal e círculo da Páscoa e o tempo da preparação

deles. Este período celebra todo o mistério da vida de Cristo, a partir da encarnação e nascimento

dele até a espera da sua segunda vinda. Tempo Comum é dividido em duas partes, primeira está

entre Natal e Quaresma e segunda está entre Páscoa e Advento. Juntamente dura 33/34 semanas

e não mantém qualquer mistério particular de Cristo, mas celebra-o de uma maneira geral.64

Como o começo do ano litúrgico considera se o Advento. Advento começa quatro

domingos antes do Natal, exatamente com as Vésperas do primeiro domingo e é o período da

espera e preparação para o nascimento de Salvador. Depois Advento segue o Natal que decorre

desde as Vésperas do Dia de Natal, de 25 de Dezembro, e dura até ao domingo depois da

Epifania. A seguir começa a primeira parte do tempo comum e após a Quaresma. A Quaresma

começa 40 dias antes da Páscoa na Quarta-feira de Cinzas, entre 8 de Fevereiro e 7 de Março, e

termina no Domingo de Ramos, com a Missa da Ceia do Senhor. A Quaresma é o tempo de

arrependimento e no final deste período lembra-se a traição, captura, julgamento, crucificação e

enterramento de Jesus Cristo e prepara-nos para a Páscoa. Páscoa é uma festa principal do ano

litúrgico porque comemora a ressurreição de Cristo. Sempre se realiza no período entre 26 de

Março e 22 de Abril, no primeiro domingo depois da lua cheia da primavera.65

„A Páscoa é o ponto de partida por onde se regula a celebração das festas da Ascensão, de

Pentecostes, da Trindade, denominadas móveis, por variarem na sucessão de vinte e cinco

dias.“ 66

63 ADAM, Adolf. Liturgika: Křesťanská bohoslužba a její vývoj. Praha: Vyšehrad, 2008. p. 347-354 64 RICHTER, Klemens. Liturgie a život. Co bychom měli vědět o mši, o církevním roku a smyslu liturgie. Praha: Vyšehrad, 1996. p.148-149 65 ADAM, Adolf. Liturgický rok: historický vývoj a současná praxe. Praha: Vyšehrad, 1998. 66 BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Volume II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Gráfica Barbosa e Santos, Lda., 1986. p.181

Page 22: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

22

Festa da ascensão realiza-se 40 dias depois da Páscoa e Pentecostes 50 dias depois da Páscoa.

Mas a festa fundamental que é comemorada durante todo o ano é o domingo. Aos

domingos são com regularidade realizadas as missas que comemoram a eucaristia e a expectativa

cristã do futuro – celebram somente as solenidades e as festas do Senhor. Por isso, neste dia se

não pode determinar permanentemente qualquer festa.67

4.1. O Calendário Litúrgico Católico Romano 2016

Para saber o que acentuar na celebração da liturgia, os dias litúrgicos são divididos em

três níveis da importância: solenidade, festa e memória (memórias obrigatórias ou facultativas).

As solenidades são as mais importantes e são iniciadas pelas Vésperas, que é vigília noturna no

dia anterior.68

De seguida serão alinhadas apenas solenidades e festas. As memórias obrigatórias ou facultativas

não serão incluídas.

Janeiro

1. (Oitava do Natal); Solenidade de Maria, Santíssima Mãe de Deus

6. Solenidade da Epifania do Senhor

10. Festa do Batismo do Senhor

25. Festa da Conversão de São Paulo, apóstolo

Fevereiro

2. Festa da Apresentação do Senhor

10. Festa da Quarta-feira de Cinzas

22. Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo

Março

19. Solenidade de São José marido da Virgem Maria

20. Solenidade de Domingo de Ramos da Paixão de Senhor

24. Solenidade da Quinta-feira Santa

25. Solenidade da Sexta-feira Santa

67 Liturgia. [online] [consultado em 2016-01-10]. Disponível na Internet: http://www.liturgia.pt/documentos/ano_lit.php 68 RICHTER, Klemens. Liturgie a život. Co bychom měli vědět o mši, o církevním roku a smyslu liturgie. Praha: Vyšehrad, 1996. p. 180-181

Page 23: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

23

27. Solenidade da Páscoa; (Oitava da Páscoa)

(28. - 31. Oitava da Páscoa)

Abril

(1.-2. Oitava da Páscoa)

3. (Oitava da Páscoa); Solenidade de Domingo da Divina Misericórdia (Festa)

4. Solenidade da Anunciação do Senhor

25. Festa de São Marcos Evangelista

Maio

3. Festa de Santos Filipe e Tiago, Apóstolos

5. Solenidade da Ascensão do Senhor

14. Festa de São Matias Apóstolo

15. Solenidade de Pentecostes

22. Solenidade da Santíssima Trindade

26. Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo (Corpo de Deus)

31. Festa da Visitação da Virgem Maria

Junho

3. Solenidade de Coração Sagrado de Jesus

24. Solenidade do Nascimento de São João Baptista

29. Solenidade de Santos Pedro e Paulo, Apóstolos

Julho

3. Festa de São Tomé Apóstolo

25. Festa de São Tiago, apóstolo

Agosto

6. Festa de Transfiguração do Senhor

10. Festa de São Lourenço diácono e mártir

15. Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria

24. Festa de São Bartolomeu Apóstolo

Setembro

8. Festa de Nascimento de Virgem Maria

14. Festa do Triunfo de Santa Cruz

21. Festa de São Mateus Evangelista, Apóstolo

Page 24: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

24

29. Festa de Santos Miguel, Gabriel e Rafael, Arcanjos

Outubro

18. Festa de São Lucas Evangelista

28. Festa de São Simão e São Judas, apóstolos

Novembro

1. Solenidade de Todos os Santos

2. Solenidade do Dia de Finados

9. Festa da Dedicação da Basílica de Latrão

20. Solenidade de Cristo Rei

30. Festa de Santo André Apóstolo

Dezembro

8. Solenidade de Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria

25. (Oitava do Natal); Solenidade de Natal do Senhor

26. (Oitava do Natal); Festa de Santo Estevão, primeiro mártir

27. (Oitava do Natal); Festa de São João Apóstolo e Evangelista

28. (Oitava do Natal); Festa de Santos Inocentes, mártires

(29. Oitava do Natal)

30. (Oitava do Natal); Festa de Sagrada Família

(31. Oitava do Natal)69

As datas em negrito são simultaneamente feriados nacionais em Portugal, introduzidos na

Concordata de 2004.

69 Fontes de datas: Calendário Da Liturgia Católica 2016. [online] [consultado em 2016-01-10]. Disponível na Internet: http://www.vercalendario.info/pt/evento/liturgia-catolica-ano-calendario-2016.html#Setembro-2016; Liturgia. [online] [consultado em 2016-01-10]. Disponível na Internet: http://www.liturgia.pt/agenda/; A Santa Sé. [online] [consultado em 2016-01-13]. Disponível na Internet: http://w2.vatican.va/content/francesco/pt/events/year.dir.html/2016.html

Page 25: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

25

5. Festas religiosas

Como podemos verificar nos capítulos anteriores, Portugal não tem uma religião oficial

única. No país estão representadas diversas religiões, judaísmo, islão, outras igrejas cristãs. No

entanto, a religião reconhecida durante toda a história foi quase sempre a religião católica. Por

esta razão escolhemos para este trabalho analisar algumas das festas religiosas ligadas à Igreja

Católica.

Na escolha das festas em que nos vamos orientar, tomamos como base a ideia de que o

ano litúrgico contém duas estruturas mutuamente interpenetrastes: Temporal e Santoral. As

festas do Tempo forte do Temporal são, na maioria dos casos, bem conhecidas de todos, também

para os não crentes. Estas festas estão mais enraizadas em costumes populares e embora as

pessoas não sejam crentes, de alguma forma muitas vezes sabem o significado delas. Nós

escolhemos as festas de cada estrutura (excluindo as mais comuns como Natal, Páscoa e as

celebrações ligadas a estas festas), provavelmente para nós menos conhecidas mas também

bastante importantes em Portugal. De Temporal escolhemos uma festa muito típica para

Portugal, o Corpo de Deus. E de Santoral escolhemos também festas bastante típicas e

associadas a Portugal: as festas juninas que incluem a festa de Santo António, a festa de São João

e a festa de São Pedro, também conhecidas como Festas dos Santos Populares.

5.1. Festa do Corpo de Deus

„Festa da Igreja Católica para louvar a Consagração do Triunfo do Amor de Cristo

Sacramentado.“ 70

A festa do Corpo de Deus, também conhecida como Corpus Christi, é uma festa religiosa

da Igreja Católica. O nome, que vem do latim, é alusivo ao propósito desta celebração: celebrar a

presença do Jesus Cristo na Hóstia de Deus através o corpo de Cristo. Este é recebido por todos

os que desejarem durante a Eucaristia na forma de pão e vinho tinto, que representa o corpo e o

sangue de Jesus Cristo.

O Corpo de Deus é o feriado móvel e o seu lugar no calendário tem sempre na primeira

quinta-feira depois da comemoração da Santíssima Trindade, 60 dias depois do Domingo de

Páscoa. Ou na quinta-feira a seguir ao primeiro domingo, depois do Pentecostes. Por isso, move-

70 COSTA, Soledade Martinho. Festas e tradições portuguesas, Junho. Rio de mouro: Printer portuguesa, 2002, p.14

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se na passagem de Maio a Junho. A festa devia simbolizar a Última Ceia de Jesus Cristo, que

aconteceu na quinta-feira Santa e é o momento em que instituiu a Santa Eucaristia e pediu aos

apóstolos para a difundir em sua memória. Uma vez que marca um momento muito importante e

fundamental, a Igreja criou essa festa para honrá-lo.71

„(…) o Senhor Jesus, na noite em que ia ser entregue, tomou o pão e, dando graças, partiu-o e

disse: “Isto é o meu Corpo, entregue por vós. Fazei isto em memória de Mim. Do mesmo modo,

no fim da ceia, tomou o cálice e disse: “Este cálice é nova aliança no meu Sangue. Todas as

vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim”. Na verdade, todas as vezes que comerdes

deste pão e beberdes deste cálice, anunciareis a morte do Senhor, até que Ele venha.”72

Em 2012, depois da redução dos feriados nacionais, Corpo de Deus foi um dos dois

feriados religiosos que foram reduzidos. Previsivelmente esta decisão estaria em vigor durante

cinco anos, entre 2013 e 2017, data em que a decisão seria de novo avaliada. Por isso, no período

em que não foi feriado nacional, celebrou-se no domingo seguinte. Em 2015 a festa foi celebrada

em 4 de Junho (domingo, 7 de Junho). Em 2016 Corpo de Deus voltou a ser um feriado nacional

e foi celebrado em 26 de Maio.73

Origem da celebração

As raízes desta tradição remontam ao século XIII, quando em 1208, em Liège, na Bélgica

a priora da Abadia Juliana de Mont Cornillon teve as visões de um astro semelhante à lua dois

anos seguidos, cujos significado uma voz celestial explicou-lhe após na sua visão74:

„A lua representa a Igreja e suas festas, e a incizura significa a falta da solenidade, cuja

instituição eu desejo, para despertar a fé dos povos e para o bem espiritual dos Meus eleitos.

Quero que uma festa especial seja estabelecida em honra ao Sacramento do Meu Corpo e do

Meu Sangue.“ 75

71 Idem, COSTA, p.15 72 (a primeira narrativa da Ceia do Senhor, trecho de São Paulo) Patriarcado de Lisboa. Página oficial. Homilia na Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. [online] [consultado em 2016-05-27]. Disponível na Internet: http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=6591

73Diário de Notícias, Portugal .OLIVEIRA, Octávio Lousada. Aprovado. Quatro feriados regressam este ano. [online] [consultado em 2016-01-10]. Disponível na Internet: http://www.dn.pt/portugal/interior/aprovado-quatro-feriados-regressam-este-ano-4969988.html 74 RTP Arquivo (Retrospectivas de Portugal). Corpo de Deus. [online] [consultado em 2015-10-10]. Disponível na Internet: https://www.youtube.com/watch?v=PEI-hMXcITU 75 Site Católico Apostólico Romano. [online] [consultado em 2015-10-20]. Disponível na Internet: http://www.paginaoriente.com/anoeclesiastico/juliana0504.htm

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27

Juliana, como a servidora direita de Cristo, começou a comunicar com as autoridades

religiosas (um deles foi também bispo Jacque de Pantelón) e estava a tentar tornar o seu desejo,

satisfazer o pedido de Jesus, numa realidade. Em 1246 o bispo Dom Roberto de Thourotte ficou

impressionado quando a ouviu e concedeu a aprovação. Inclusivamente determinou uma data no

ano seguinte em que a festa deveria de ser realizada. Mas nunca a celebrou porque morreu ainda

no mesmo ano. Mesmo assim, alguns anos depois, em 1258, o dominicano Cardeal Cher em sua

Diocese em Liège, deu a base deste feriado, quando realizou uma festa em honra do mistério da

Eucaristia.76

Depois da morte de Dom Roberto estava no poder o Superior Geral Roger. O Superior

não compartilhava as opiniões do seu antecessor. Pelo contrário, estava no lado da oposição que

não acreditava nas visões de Juliana e considerava que tudo foi inventado. Por isso, Juliana foi

duas vezes expulsa.77

Contudo, depois das eleições, o novo Papa Urbano IV, antes bispo Jacques de Pantaleón,

o mesmo Jacque de Pantaleón com que Juliana comunicou, chegou ao poder no ano 1261. E logo

depois de sua eleição em 1264, ocorreu o milagre eucarístico, „Milagre de Bolsena“.

O Milagre de Bolsena foi um ponto fundamental no caminho para o estabelecimento e

divulgação da festa. Aconteceu quando um sacerdote de Boemia, Pedro de Praga, regressava de

um encontro com Papa Urbano IV em Itália. Antes de voltar para seu país celebrou a Santa

Missa em Bolsena na Igreja de Santa Cristina. Embora ele fosse sacerdote, duvidava que a

presença de Jesus na Eucaristia fosse real. Durante a missa quando começou a talhar o Pão, viu

que o sangue dele a correr. A Hóstia transformou se em corpo real de Cristo. Isso aconteceu para

que os que não acreditavam, como o sacerdote Pedro de Praga, passassem a acreditar. Isto

confirmou as visões de Juliana.78

Após este milagre, o Papa Urbano IV não precisava de mais incentivos. Logo após

receber esta notícia, convenceu-se com os seus próprios olhos e aprovou a autenticidade do

milagre. E em honra deste milagre estabeleceu a festa Corpo de Deus no dia 8 de Setembro em

1264 pela publicação da bula Transiturus. Os objetos milagrosos foram levados em grande

procissão para Orvieto, onde o papa Urbano IV tinha a sua corte, em 19 de Junho de 1264 – na

76 RTP Arquivo (Retrospectivas de Portugal). Corpo de Deus. [online] [consultado em 2015-10-10]. Disponível na Internet: https://www.youtube.com/watch?v=PEI-hMXcITU 77 77 Site Católico Apostólico Romano. [online] [consultado em 2015-10-20]. Disponível na Internet: http://www.paginaoriente.com/anoeclesiastico/juliana0504.htm 78 Milagre Eucarístico de Bolsena, Itália 1264. Edizioni San Clemente, 2006. [online] [consultado em 2015-10-11]. Disponível na Internet: http://www.therealpresence.org/eucharst/mir/portuguese_pdf/PORTU-bolsena.pdf

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primeira procissão oficial eucarística.79 É paradoxal que Juliana de Mont Cornillon, embora

supostamente estivesse no início de tudo, nunca conheceu a festa porque morreu poucos anos

antes. (Hoje a relíquia é conservada em Orvieto, onde também podemos ver o cálice e a pedra do

altar de Bolsena com o sangue de Cristo.)

Para maior solenidade e imponência da celebração, Urbano IV queria que houvesse

cânticos durante a cerimónia e por isso escolheu o São Tomás de Aquino para escrever o hino

„Lauda Sion Salvatorem“ juntamente com as leituras e os textos litúrgicos, que até hoje são

usados durante a celebração.80

A bula foi um passo importante mas logo depois da publicação o papa Urbano IV ainda

no mesmo ano morreu. Por isso, o impacto não foi tão extenso como era suposto. A festa recebeu

a devida atenção no ano 1311, quando o novo papa Clemente V a relembrou no Concílio geral

em Viena e depois em 1317 foi estendida a toda a Igreja Universal, quando foi incluída nos

resumos das leis „Decretos Clementinos“ do papa João XXII.81

A procissão, atualmente a tradição que pertence à festa, não foi dada como a parte

integrante da celebração, mas já do século XIV, mesmo assim, tornou-se comum. Em pouco

tempo a festa expandiu para muitos outros países como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos,

França, Bélgica, Itália, etc.

A procissão, o símbolo da caminhada do povo de Deus:

„A procissão de Corpus Christi lembra a caminhada do povo de Deus, que é peregrino, em

busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi alimentado com o maná, no

deserto e hoje, (com a instituição da eucaristia) ele é alimentado com o próprio corpo de Cristo.

Durante a missa, o celebrante consagra duas hóstias, sendo uma consumida e a outra

apresentada aos fiéis para adoração, como sinal da presença de Cristo vivo no coração de sua

Igreja.“82

79 Milagre Eucarístico de Bolsena, Itália 1264. Edizioni San Clemente, 2006. [online] [consultado em 2015-10-11]. Disponível na Internet: http://www.therealpresence.org/eucharst/mir/portuguese_pdf/PORTU-bolsena.pdf 80 Presbiteros. Um site de referência para o clero católico. © Presbiteros 2010. [online] [consultado em 2015-10-15]. Disponível na Internet: http://www.presbiteros.com.br/site/historia-da-solenidade-de-corpus-christi/ 81 Presbiteros. Um site de referência para o clero católico. © Presbiteros 2010. [online] [consultado em 2015-10-15]. Disponível na Internet: http://www.presbiteros.com.br/site/historia-da-solenidade-de-corpus-christi/ 82 Pagina oriente. Corpus Christi. [online] [consultado em 2015-10-15]. Disponível na Internet: http://www.paginaoriente.com/anoeclesiastico/corpuschristi.htm

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A festa do Corpo de Deus em Portugal

Corpus Christi é celebrado em Portugal desde o século XIII, durante o reinado de D.

Afonso III. Neste tempo não era oficialmente acompanhada de procissão. A cerimónia da

procissão foi estabelecida mais tarde pelo papa João XXII em 131683 e em Portugal ordenada

pelo D. Dinis em 1318.84

O Corpo de Deus sempre foi uma das maiores e mais importantes e grandiosas festas da

Igreja Católica em Portugal, segundo o padre Francisco da Fonseca instituída em Évora já no ano

1265.85 É extraordinária a abundância não só dos símbolos pitorescos e realizada em todas as

cidades de alguma importância. Por exemplo, no século XVIII em Nisa decidiu-se, para maior

grandiosidade, que todos de cada casa, de alguma forma tinham que estar envolvidos na

preparação das festividades. As raparigas tinham que dançar acompanhadas pelos músicos.

Existiam também ferreiros, jardineiros, sapateiros, moleiros… Cada um tinha „o seu lugar“.

Quando alguém não cumprisse as suas tarefas, recebia uma multa de mil Réis e dez dias no

cárcere. Mas alegadamente isso nunca foi usado.86

As primeiras e as maiores procissões tiveram lugar em Lisboa. A grande importância

ganhou já durante o reinado do D. João I que em 1387 no cortejo incorporou a figura de São

Jorge, que se tornou mais tarde o patrono do cortejo.87 A festa foi sempre iniciada no Castelo de

São Jorge pelo cortejo acompanhado por trombetas ou tambores, que percorreu as ruas de Lisboa

e terminou na Sé de Lisboa. Em procissão, que depois saiu da Sé, foi incluído também o rei com

a sua corte, os dignidades do exército ou marinho, o clero, o povo e os mestres das corporações

representadas pelas suas bandeiras com o seu patrono ou insígnias e finalmente várias figuras

bíblicas ou alegóricas muitas vezes gigantescas, os santos e apóstolos com os seus atributos,

anjos ou diábolos, etc. Dando assim a base aos autos dramáticos e pequenos episódios teatrais

que iam acompanhar estas procissões.88 E o povo juntava-se para assistir e admirar a pompa do

cortejo, mas antes de tudo, para ver a imagem do santo „colocada sobre um cavalo e percorria

as ruas da cidade guardada pelo seu pajem e pelo seu escudeiro, o „homem de ferro“, que

83 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de. Festividades Cíclicas em Portugal.- 2.a ed. Lisboa: Dom Quixote, Lda., 1995. p.273

84 COSTA, Soledade Martinho. Festas e tradições portuguesas, Junho. Rio de mouro: Printer portuguesa, 2002. p.16 85Idem, OLIVEIRA. p. 273 86 Idem, COSTA, p.17-21 87 A figura de São Jorge tem raízes na Inglaterra e era o defendor dos portugueses na luta pela independência. AMARO, Ana Maria e Fancisco Hermínio Pires dos Santos. O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa. Lisboa: Governo Civil de Lisboa, 1991, p. 424 88 REBELLO, Luiz Francisco. O Primitivo teatro português. 1.ª ed. – Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, Biblioteca Breve / Volume 5 ,1977. p.37

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segurava o estandarte de São Jorge, o padroeiro da cidade e defensor da fé cristã.“89 Depois de

passar pelas ruas da Baixa da cidade voltava para a Sé Catedral, onde a celebração terminava

pela missa solene, presidida pelo Cardeal-Patriarca.90 Como Rebello menciona no seu livro91,

durante as festividades faziam-se jogos, representações, momos, cantigas, danças, bailares,

homens vestiam-se como mulheres, mulheres vestiam-se como homens, tocavam-se sinos nas

campas, órgãos, aludes, guitarras, violas, pandeiros e outros instrumentos.

Mais tarde muitas Câmaras estabeleceram os regimentos para preparação e organização

desta procissão. Durante os séculos a pomposidade da celebração estava a crescer e o seu apogeu

foi atingido no período do barroco, para o qual é pomposidade típica. Ao longo do tempo a festa

continuou com outras manifestações, desde alguns jogos até as touradas, tornando-se mais

profana. Desde o reinado de D. Manuel até o reinado de João V. começou a transformação do

cortejo. Em 1732 o rei tirou as figuras gigantescas e substituiu das folias por andores92 para

devolver o cunho da religiosidade, mas não eliminou completamente os aspetos profanos.93

Como se lê num artigo do Patriarcado de Lisboa,94 durante o reinado de D. João V. as

procissões do Corpo de Deus foram de estilo grandioso e notável. Que é confirmado pelo

comentário dos estrangeiros de ano 1730, onde admiram a pompa e solenidade que ultrapassa

todas as festividades de outros lugares. Admiram também as ruas decoradas e o número imenso

das pessoas. A romaria normalmente incluía todas as pessoas importantes, várias irmandades

como jardineiros, sapateiros, padeiros, diversas Ordens Religiosas e os membros estimados da

Corte e da Câmara Municipal, o bispo e também o rei. O facto que a organização da procissão

envolvia toda a cidade ficava à vista.

Ao longo do tempo, em meados do século XIX, as celebrações ganharam em

simplicidade. A rotura veio no ano 1910, associado à queda da monarquia e implantação da

Primeira República. Nesse ano as celebrações religiosas, dias santos da Igreja em geral, foram

89Câmara Municipal de Lisboa. Página oficial. Procissões pelas ruas de Lisboa. [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/viver/cultura-e-lazer/patrimonio-cultural/procissoes

90 Câmara Municipal de Lisboa. Página oficial. Procissões pelas ruas de Lisboa. [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/viver/cultura-e-lazer/patrimonio-cultural/procissoes 91 REBELLO, Luiz Francisco. O Primitivo teatro português. 1.ª ed. – Lisboa: Instituto de Cultura Portuguesa, Biblioteca Breve / Volume 5 ,1977. p. 35 92 Idem, OLIVEIRA, p.281 93 Idem, COSTA, p.17-21; AMARO, Ana Maria e Fancisco Hermínio Pires dos Santos. O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa. Lisboa: Governo Civil de Lisboa, 1991, p. 423-425 94 Patriarcado de Lisboa. Corpo de Deus. Lisboa, 2015. [online] [consultado em 2015-10-10]. Disponível na Internet: http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/docs/2015159info_corpo_de_deus_2015.pdf

Page 31: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

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proibidas pela legislação e assim „interrompido o culto público religioso“95. Mas as missas

solenes continuaram sempre a ser realizadas nas igrejas. O regresso dos feriados não demorou

muito e já na época do Estado Novo (1933-1974)96 foram novamente introduzidos.97 Em 1973, a

procissão do Corpo de Deus foi novamente reintroduzida pelo Cardeal-Patriarca D. António

Ribeiro.98

Atualmente, Portugal tem vinte dioceses. Cada diocese tem o seu programa definido,

dependendo dos costumes locais.99 A procissão eucarística não é regulada por nenhuma norma

litúrgica obrigatória. A estrutura principal é mais ou menos semelhante em todos os lugares. É

determinado pelo bispo da cada diocese realizar a festa com respeito.100

O Corpo de Deus é a procissão religiosa mais antiga e mais importante de Portugal.101

Celebrando-se no maior estilo e com mais pompa sempre na capital de Portugal. As preparações

decorrem com um longo tempo de antecedência. Hoje em dia, a própria celebração em Lisboa

começa na quinta-feira, normalmente por volta das 11.30 na Sé Catedral com a missa e

celebração da Eucaristia na Solenidade de Corpo de Deus, presidida pelo Cardeal-Patriarca de

Lisboa. Seguido, às 13.00 até 16.00, pela adoração do Santíssimo Sacramento. Às 17.00 sai da

Sé a Procissão Solene, que depois passa pelas ruas da Baixa da cidade, ornamentadas e

enfeitadas com flores, juncal e outros materiais, em algumas áreas pelos tapetes coloridos. Por

volta das 18.30 retorna ao Largo da Sé onde decorre a bênção final, assistida pelos milhares de

crentes.102 Na procissão participam as dignidades mais altas da cidade, como por exemplo o

presidente da Câmara Municipal de Lisboa, o presidente da Assembleia Municipal, os

vereadores ou o presidente da Junta da Freguesia de Santa Maria Maior, etc. Incluídos estão

também os bispos ou pároco da igreja, membros das várias ordens religiosas ou diversas

95 Patriarcado de Lisboa. Página oficial. Corpo de deus: o simbolismo de uma procissão histórica. [online] [consultado em 2016-05-25]. Disponível na Internet: http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=6587 96 Idem, KLÍMA. p. 270-271 97 AMARO, Ana Maria e Fancisco Hermínio Pires dos Santos. O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa. Lisboa: Governo Civil de Lisboa, 1991, p. 425 98 Patriarcado de Lisboa. Página oficial. Corpo de deus: o simbolismo de uma procissão histórica. [online] [consultado em 2016-05-25]. Disponível na Internet: http://www.patriarcado-lisboa.pt/site/index.php?id=6587 99 Conferencia episcopal. [online] [consultado em 2015-10-30]. Disponível na Internet: http://www.conferenciaepiscopal.pt/v1/dioceses/ 100 Conferência episcopal portuguesa. Sagrada comunhão e culto do mistério eucarístico fora da missa. Segunda edição. [online] [consultado em 2016-01-03]. Disponível na Internet: http://www.liturgia.pt/rituais/CultoEucaristico.pdf, p.83 101 Ver em anexo, Imagem 1 102 Câmara Municipal de Lisboa. Página oficial. Procissões pelas ruas de Lisboa. [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/viver/cultura-e-lazer/patrimonio-cultural/procissoes

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irmandades do Santíssimo Sacramento, cleresia diocesana, as dignidades do exército da polícia e

em geral milhares dos fiéis… 103

Um símbolo típico desta festa, que se realiza em algumas localidades, são os tapetes

coloridos realizados para a passagem das procissões.104 A tradição „decorar as ruas com as

folhas“ veio dos Açores através os imigrantes. Estes tapetes são realizados pelas comunidades

pastorais e pelos crentes nas ruas das cidades. São feitos de materiais naturais. Os materiais mais

comuns para estas imagens são as flores, juncal ou outras plantas, serradura, borra de café e etc.

Já na madrugada as ruas começam a ser decoradas pelos fiéis diligentes. E o resultado desse

trabalho é admirado por milhares pessoas.105

A Festa da Coca

Outro facto interessante é a incorporação de dois elementos nas procissões em algumas

localidades: São Jorge e o Dragão ou a Serpe. Ernesto Veiga de Oliveira acredita que as figuras

gigantescas representando São Jorge e o Dragão, apareceram na procissão do Corpo de Deus em

Évora já por volta do ano 1265.106 O costume tem a sua tradição mais forte no Minho – Monção

e é chamada Festa da Coca. Como afirma o autor no livro „Festas e tradições portuguesas,

Junho107, não se conservaram ou não são conhecidos os materiais históricos que indicavam o ano

exato da origem desta festa, mas este costume provavelmente vem no século XIV. Naqueles dias

os habitantes da área do Minho celebravam a Festa da Coca no mesmo dia como o Corpo de

Deus. A festa foi incorporada nas celebrações e devia apresentar o triunfo do bem sobre o mal,

que é representado pela luta entre São Jorge e o Dragão ou a Serpe, também chamado a Coca.108

É claro, que a luta não podia ter outro resultado do que o santo guerreiro sempre a vencer o

dragão.

Outrora o cortejo era uma combinação de dois elementos - populares e religiosos - e

incluiu danças, músicas, figuras gigantescas (muito divulgadas na Idade Média), etc. A figura

principal era a Coca, um monstro, símbolo do mal.

103 Câmara Municipal de Lisboa. Página oficial. Procissão do Corpo de Deus. [online] [consultado em 2016-05-27]. Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/procissao-do-corpo-de-deus-1

104 Ver em anexo, Imagem 2 105 Idem, AMARO, p. 425; RIBEIRO, António. As Festas, Corpo de Deus. [online] [consultado em 2015-10-27]. Disponível na Internet: https://jornalavem.wordpress.com/2013/03/17/as-festas-iii-corpo-de-deus/; Feriados nacionais.Corpus Christis. [online] [consultado em 2015-10-27]. Disponível na Internet: http://feriados-nacionais.info/corpus-christi.html 106 Idem, OLIVEIRA, p.274 107 Idem, COSTA, p.14-35 108 Ver em anexo, Imagem 3

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„A coca (uma armação de madeira assente em quatro rodas) representa uma figura medindo quatro

metros de comprimento por dois metros e meio de altura, a coberta de lona é pintada de verde. Possui

pescoço recurvo e cabem com uma crista de pontas aguçadas (em folha-de-flandres), boca a citar fumo

vermelho e a deixar à vista uma fieira de dentes afiados, pintados de branco, que abre e fecha accionada

por um homem que se encontra no interior (a movimentar também a cabem da bicha ora para um ora

para o outro lado), língua em forma de lança, asas curtas, rabo comprido e grosso, a terminar em

fateixa, e corpo bojudo recamado de escamas (pintadas), com dois homens de cada lado a permitir que a

coca se desloque com alguma agilidade.“109

A incorporação no Corpo de Deus também podia ser explicada pelo facto de que esta luta

simbólica podia ser interpretada como o triunfo do amor de Cristo sobre o Demónio ou Satanás

que significa o triunfo do Céu sobre o Inferno.

No século XVIII, esta tradição foi por algum tempo cancelada, retornando

posteriormente. No Minho continua até hoje a ser celebrada. Elementos, como por exemplo o

Dragão e a figura de São Jorge, espalharam-se para outros lugares do país. Contrariamente aos

tempos passados hoje a procissão realiza-se em duas partes: a parte profana e a parte religiosa.110

5.2. Festas dos Santos Populares

Festas dos Santos Populares, também chamadas Festas Juninas, provavelmente devido ao

nome do mês Junho em que ocorrem, ou Festas Joaninas que diz respeito ao nome de São João.

Abrangem as festas dos três santos mais festejados em Portugal, de Santo António, de São João e

de São Pedro e celebram-se durante o mês de Junho na sequência das datas 13 de Junho, 24 de

Junho e 29 de Junho. Este trio dos santos é comemorado por todo o país, mas as principais e

mais grandiosas são as festas de Santo António em Lisboa e de São João no Porto e em Braga.

Apesar de serem consideradas como festas da Igreja Católica, têm a sua origem em festas

pagãs de conceito primitivo, comum em todas as nações que comemoravam o solstício de verão,

o dia mais longo do ano. Mencionar podemos os romanos ou germânicos que praticaram os

rituais antigos para venerar várias divindades com os seus atributos. Junho foi um mês em que

termina inverno e começa o verão, mês da abundância, por isso realizam-se os rituais de

fertilidade ou de boa colheita. Até hoje conservam se e fazem a parte as tradições antigas ligadas

109 Idem, COSTA, p. 24-25 110 Idem, COSTA, p. 29

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aos elementos naturais, como o fogo, a água, as plantas e as ervas ou também as danças e os

cânticos. Então, podemos dizer, que as festas de hoje são uma mistura das tradições pagãs e das

tradições cristãs. 111 Mais tarde com profunda implantação do cristianismo a Igreja tenta suprimir

o paganismo, cristianizando as suas celebrações e revestindo-as às festas cristãs comemorando os

santos.

Hoje em dia, as festas são celebradas com grande animação por todo o país. Realizam-se

as vigílias, missas solenes e procissões religiosas em honra dos santos. Programa de

acompanhamento das festas prolonga-se durante várias semanas. As ruas das cidades enfeitam-se

de cores, bandeirinhas de papel, balões e enchem-se do cheiro do manjerico e sardinhas assadas.

A noite inteira toca música ao vivo, nem falta a música típica portuguesa, fado, e os bairros

tradicionais da cidade enchem-se das multidões de pessoas dançando, cantando e aproveitando a

atmosfera única das festas.

5.2.1. Festa de Santo António

Festa de Santo António é veneração da data da morte de António, do santo nascido em

Portugal, em Lisboa.

Santo António de Lisboa

Santo António de Lisboa, também conhecido como Santo António de Pádua, nasceu em

Lisboa, junto da Sé, no dia 15 de Agosto, provavelmente por volta de ano 1195 e morreu em

Pádua no dia 13 de Junho de 1231.112 Era um monge franciscano, teólogo, asceta e notável

orador e pregador.

Santo António, de nome próprio Fernando Martins de Bulhões, é proveniente de uma

família burguesa. Aos quinze anos tomou o hábito dos agostinianos do Mosteiro de São Vicente

de Fora em Lisboa e um pouco depois deslocou-se para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra

111 FERNANDES, Cláudio. "Festas Juninas"; Brasil Escola. [online] [consultado em 2016-05-29]. Disponível na Internet: http://brasilescola.uol.com.br/datas-comemorativas/festa-junina.htm

112 Página oficial da Igreja de Santo António de Lisboa. Cronologia da vida de S. António. [online] [consultado em 2016-04-29].Disponível na Internet: http://santo-antonio.webnode.pt/news/cronologia/

Page 35: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

35

onde permaneceu até aos 25 anos de idade. Recebeu uma educação teológica profunda através da

leitura da Bíblia, mas também dos textos científicos e clássicos.113

O momento importante na sua vida foi o funeral e reverenciamento de cinco missionários

franciscanos que foram martirizados por muçulmanos marroquinos. Por causa deste incidente

decidiu seguir estes missionários e transferiu do agostiniano à ordem franciscana, onde tomou o

nome António e foi para a África para pregar o Evangelho. Mas imediatamente após a chegada

na África adoeceu gravemente e teve que voltar para a Europa. No regresso, o navio apanhou

uma tempestade e foi conduzido até à costa da Sicília. António aproveitou deste fato e foi para

Assis para se encontrar com o fundador da ordem franciscana, São Francisco de Assis. Depois

ficou na Itália num convento pequeno nas montanhas perto de Forli, só com quatro monges.114

Logo depois foi notado o seu talento de oração e retórica, assim a pregação tornou-se o

foco principal do seu trabalho. Ele tornou-se muito popular entre os estudiosos, bem como com

gente humilde. Pregou em igrejas, nas praças, até mesmo nos prados ou outros lugares abertos,

porque a igreja não teve capacidade para as multidões de pessoas que queriam ouvi-lo. Passou

pelo norte da Itália, foi também no sul da França. Pelos seus sucessos foi mais tarde chamado

„martelo de heréticos“115. Professou o ascetismo, ensinou que a pobreza, obediência e paciência

é o caminho certo e evitou a riqueza e os presentes caros.

Há lendas e milagres associados ao este santo. Um deles é milagre de Rimini. Uma vez

que Santo António pregou em Rimini, as pessoas não o ouviam ou afastavam-se dele. Então ele

foi para o rio e começou a chamar os peixes. De repente os peixes puseram as cabeças de fora da

água e escutaram a pregação dele que na realidade foi dirigido às pessoas. E as pessoas se

reuniram para ouvir os sermões incomuns.116

Em 1231, exausto por suas viagens missionárias e problemas de saúde, estabeleceu-se na

fazenda em Campo di San Pietro na Itália. Morreu em 1231, aos 36 anos na periferia de Pádua.

Em 1232, onze meses e 17 dias após a sua morte, foi canonizado por bula do papa Gregório IX,

113 Ensina RTP. Página da internet de Rádio e televisão de Portugal. Santo António: nascido em Lisboa, reclamado pelo mundo [online] [consultado em 2016-04-30]. Disponível na Internet: http://ensina.rtp.pt/artigo/santo-antonio-nascido-em-lisboa-reclamado-pelo-mundo/ 114 Igreja de Santo António de Lisboa. Página oficial. [online] [consultado em 2016-04-29].Disponível na Internet: http://santo-antonio.webnode.pt/santo-antonio/vida-do-santo/ 115 CHLUMSKÝ, Jan. Světci k nám hovoří… Sv. Antonín z Padovy. [online] [consultado em 2016-04-30].Disponível na Internet:http://catholica.cz/index.php?id=2592 116 Ensina RTP. Página da internet de Rádio e televisão de Portugal. Santo António: nascido em Lisboa, reclamado pelo mundo. [online] [consultado em 2016-04-30]. Disponível na Internet: http://ensina.rtp.pt/artigo/santo-antonio-nascido-em-lisboa-reclamado-pelo-mundo/

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o que se tornou o processo mais curto de canonização na história da Igreja de sempre.117 Em

1263 foi construída basílica dedicada a Santo António em Pádua para onde foram trazidos os

seus restos mortais. E em 1946 papa Pio XII proclamou-o Doutor da Igreja, „Doutor

Evangélico“.118 Hoje é um dos santos mais populares na Igreja Católica, venerado por todo o

mundo. Em Lisboa foi construída a igreja dedicada a ele, no lugar onde supostamente estaria

situada a casa do seu nascimento. Nem só em Lisboa, mas por todo o país construíram se

templos, igrejas ou monumentos em seu louvor. E desde a sua morte fazem-se as peregrinações

ao seu sepulcro em Pádua.

É considerado um patrono do casamento, dos enamorados, das mulheres grávidas e do

parto, das mulheres e crianças, das coisas perdidas, das pessoas pobres, dos idosos, dos

marinheiros e viajantes, dos franciscanos, dos animais, contra a doença, contra a guerra e todos

os males, etc.119 Os seus atributos são o livro, lírios, hóstia, caixa com tesouro, o peixe, bebé

Jesus e crucifixo.120 Geralmente é representado pregando aos peixes ou com bebé Jesus nos seus

braços.

Festa de Santo António em Lisboa

A devoção de Santo António é celebrada no dia 13 de Junho e inclui as homenagens

oficiais, cerimónias litúrgicas e festas populares. As festividades mais notáveis em Portugal têm

o seu lugar em Lisboa, na cidade natal do santo. Em 1934 foi também proclamado como o santo

padroeiro desta cidade pelo papa Pio XI. 121

Logo após a morte do Santo António é suposto terem acontecido muitos milagres o que

chamou a grande atenção do público e deu-lhe ainda mais importância. Provavelmente é também

um das razões para que a sua memória seja adorada por todo o mundo. As maiores celebrações

foram e até hoje são realizadas em Pádua, cidade em Itália, onde morreu e em Lisboa, cidade

onde segunda a lenda portuguesa nasceu. Antes do século XVII, as festividades foram limitadas

117 Ensina RTP. Página da internet de Rádio e televisão de Portugal. Santo António: nascido em Lisboa, reclamado pelo mundo. [online] [consultado em 2016-04-30]. Disponível na Internet: http://ensina.rtp.pt/artigo/santo-antonio-nascido-em-lisboa-reclamado-pelo-mundo/ 118Igreja de Santo António de Lisboa. Página oficial. [online] [consultado em 2016-04-29].Disponível na Internet: http://santo-antonio.webnode.pt/news/cronologia/ 119 Há um costume de acordo com o qual as pessoas escreveram qualquer um dos seus pedidos ou desejos e entregarem-los ao Santo na sua igreja. Os pedidos, ás vezes, até mesmo foram além dos limites da lei. Idem, BRAGA, p. 209 120 CHLUMSKÝ, Jan. Světci k nám hovoří… Sv. Antonín z Padovy. [online] [consultado em 2016-04-30].Disponível na Internet:http://catholica.cz/index.php?id=2592 121 Idem, COSTA, p.67

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37

só a importantes atos litúrgicos.122 As procissões litúrgicas foram realizadas na véspera das festas

do santo. Nesta altura ainda não saíam da Igreja de Santo António, mas da Igreja de São

Francisco com os andores das imagens de Santo António e de São Francisco e passavam pelas

ruas para a Igreja de Santo António, à Sé. Ao longo dos tempos, no século XVII, a estes atos

litúrgicos foram lentamente adicionadas as manifestações pagãs, como por exemplo as touradas,

teatro, música, danças, fogo-de-artifício, etc. Estes divertimentos, juntamente com os arraiais ou

feiras, tiveram lugar no Rossio e no Terreiro do Paço e deixaram de ser realizados após o

Terramoto de 1755.123

Para aproximar-nos a festa em Lisboa na virada dos séculos XVIII e XIX, Teófilo Braga no seu

livro cita a descrição de Lord Beckford nas suas Cartas: “Em toda a noite, tamanho era o

estrondo do fogo artificial, das labaredas estridentes das fogueiras, das gaitadas das buzinas em

louvor da festa… vi a sua imagem à porta de quase todas as casas, e até das barracas desta

populosa capital, colocada em altar e adereçada com profusão de velas de cera e de flores.”124

Depois do Terramoto as festas perderam a sua autenticidade e algumas das tradições que

inseparavelmente pertenceram a esta procissão e as festas deixaram a ser realizadas. Como diz o

autor do livro “O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa“, por exemplo

“como a célebre distribuição do bodo de Santo António e a oferta das condeças. Sem a mesma

animação de outrora, ainda subsistem os arraiais, armados nos bairros populares, e

esporádicos tronos de Santo António armados pelas crianças às portas das casas; mas já caiu

em desuso o hábito que tinham as crianças dos bairros pobres de tocarem os seus apitos e

trombetas, convocando a população para a festa do mais popular dos santos de Lisboa. ”125

No século XIX as festas em honra do Santo António foram realizadas duas vezes por um

ano – em 12 e 13 de Junho, como se costumam realizar atualmente. Fizeram-se grandes

cerimónias religiosas em todo o país e na Igreja de Santo António em Lisboa foi presente

também a realeza e a edilidade. “As cerimónias tinham início treze dias antes, com a trezena a

Santo António, realizada à tarde na Sé de Lisboa (…). Na tarde do dia 12 tinha lugar um solene

Te Deum na Santa Sé (festivamente engalanada com flores e luminárias – lamparinas, ou

122 AMARO, Ana Maria e Fancisco Hermínio Pires dos Santos. O Trabalho e as Tradições Religiosas no Distrito de Lisboa. Lisboa: Governo Civil de Lisboa, 1991. p. 422

123Idem, AMARO, p.422

124 BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Volume II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Gráfica Barbosa e Santos, Lda., 1986. p. 210

125 Idem, AMARO, p.422-423

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38

lanternas), ao qual assistia a edilidade em trajo de gala, enquanto na manhã do dia 13 era

celebrada uma missa pontificial (igualmente na Sé), culminando as cerimónias religiosas à

tarde, com a Procissão de Santo António – constituída por treze andores (…).”126 Mas além de

Junho, o santo honrou-se também em Abril. Abril é um mês da transladação do corpo de Santo

António para a Catedral de Pádua e nesta ocasião foram celebradas as missas solenes.

Depois de vários anos sem realização, a procissão de Santo António foi novamente

retomada nos anos noventa.127 Hoje em dia, as cerimónias litúrgicas ocorrem anualmente no dia

13 de Junho. Desde a manhã, das sete horas até meio-dia, são de hora a hora realizadas as missas

na Igreja de Santo António. Neste tempo em frente da igreja alguns dos fiéis costumam acender

velas e à porta da igreja vendem-se recordações religiosas e o "pãozinho de Santo António", que

são pequenos pãezinhos embrulhados em papel com imagem do santo.128 Às doze horas é

realizada a missa solene com a relíquia de Santo António e a Celebração da Eucaristia com a

bênção final. Depois da missa, às dezassete horas, sai da Igreja de Santo António a procissão

com a imagem do santo e passa por algumas das ruas antigas de Alfama em direção à Sé de

Lisboa.129 Ao longo do caminho do cortejo processionário entram à procissão outros andores

com imagens de São João da Praça, de São Miguel, de Santo Estêvão, de São Vicente e a

imagem de São Tiago, patronos das paróquias. Depois da chegada ao Largo da Sé, em frente da

Sé segue um sermão presidido pelo bispo ou pelo próprio patriarca e um coral cantando Te Deum

Laudamus com a bênção final com a relíquia de Santo António. Depois da bênção final a

procissão regressa à sua igreja de que saiu e retorna-se a imagem de Santo António. As

celebrações litúrgicas são então encerradas pela missa solene às vinte e uma horas. 130

Em Lisboa, neste dia é feriado municipal. Realizam-se as Marchas Populares de Lisboa

em honra de Santo António e arraiais nos bairros antigos da cidade. As festas estendem-se

durante todo o mês de Junho. As ruas e as casas são enfeitadas com bandeirinhas coloridas;

flores são ornamentadas com festões de verdura e balões e vendem-se manjericos com versos

populares. Na noite de 12 para 13 de junho, as ruas enchem-se de milhares de pessoas crentes

bem como não crentes, festejando este dia. Comem-se as sardinhas assadas, caldo verde, pimento

126 Idem, COSTA, p.83 127 Idem, COSTA, p.87 128Irmã Franciscana da Fraternidade da Igreja de Santo António de Lisboa à Sé. Santo António de Lisboa. [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet: http://fratersantoantoniodelisboa.blogspot.cz/search/label/Festas%20de%20Santo%20Ant%C3%B3nio%20%28Lisboa%29 129 Ver em anexo, Imagem 4 130 Câmara Municipal de Lisboa. Página oficial. Procissões. [online] [consultado em 2016-04-25]. Disponível na Internet: http://www.cm-lisboa.pt/viver/cultura-e-lazer/patrimonio-cultural/procissoes; Irmã Franciscana da Fraternidade da Igreja de Santo António de Lisboa à Sé. Santo António de Lisboa. [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet: http://fratersantoantoniodelisboa.blogspot.cz/search/label/Festas%20de%20Santo%20Ant%C3%B3nio%20%28Lisboa%29

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e broa e a música toca durante toda a noite.131 A tradição tem também as touradas, que se

realizam provavelmente já desde século XVI, no Rossio.132 Hoje acontecem na Praça de Touros

do Campo Pequeno.133

O desfile das Marchas Populares134 tradicionalmente acontece na Avenida da Liberdade e

vai em direção a Alfama. Quase todos os bairros da cidade participam. Não é só uma

participação mas também uma competição entre os bairros, de quem tem o melhor desfile.135 Das

marchas antecedem muitas semanas das preparações da costura dos trajes e do treino das

coreografias. Todas as pessoas ou membros da equipa são fundamentais e cada bairro tem

também a sua mascote da marcha.136 Nem o tema das marchas é selecionado casualmente, mas

criou-se o Concurso Grande Marcha de Lisboa em que o júri escolhe o melhor tema. „Os

critérios de selecção foram mais uma vez, a simplicidade, o enquadramento e articulação dos

temas da letra, a criatividade, genuinidade e efeito da música e ainda, a correlação entre os

dois, sempre considerando a qualidade total.“137 A composição do vencedor é depois realizada e

interpretada por todas as marchas que participam no desfile. Em 2015 o tema escolhido foi

“Lisboa, Cidade de Tradições”.

Durante o tempo da implantação da República as festas foram várias vezes interrompidas,

mas a partir de ano 1925 regressam a Lisboa e ao longo do tempo ganharam grandeza. Incluindo

os pequenos bailaricos, músicas e arraiais principalmente nos bairros históricos e também

novamente começaram a ser feitos os tronos de Santo António. Desde ano 1932, com algumas

interrupções, fazem parte das festas as marchas populares (desde ano 1934 organizadas pela

Câmara Municipal de Lisboa), no mesmo ano foi instituído também o prémio que devia

estabelecer a melhor marcha da cidade.138 No início, neste primeiro ano oficial da competição

131 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Milhares encheram bairros de Lisboa na noite de Santo António. [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/noticias/pais/milhares-encheram-bairros-de-lisboa-na-noite-de-santo-antonio_v836442 132 Idem,AMARO, p.422 133 Idem, COSTA, p.81 134 Ver em anexo, Imagem 5 135 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Viagem ao Centro da Minha Terra: Especial Santos Populares. [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/programa/tv/p31023

136 O vencedor das marchas do último ano 2015 foi bairro do Alto do Pina, no segundo lugar ficou Alfama e no terçeiro Alcântara. Rádio e televisão de Portugal (RTP). Bairro do Alto do Pina foi o vencedor das marchas populares de Lisboa [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet:http://www.rtp.pt/noticias/cultura/bairro-do-alto-do-pina-foi-o-vencedor-das-marchas-populares-de-lisboa_v836388 137 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Sardinhas e marchas 2013. [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/antena1/apoios/apoio-a1-festas-de-lisboa-2013_5913 138 Idem,COSTA, p.86

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foram só seis marchas que participam mas com cada ano o número das participantes cresceu. Em

2015 o número subiu para vinte participantes.139

Uma tradição pertencente às festas lisboetas são os Tronos de Santo António.140 Este ano

de 2016, é já o segundo ano, que se renova com o apoio do Museu de Santo António e EGEAC

(empresa municipal).141 Os tronos ou altares foram pequenos tronos dedicados ao santo,

normalmente feitos das caixas ou caixotas forradas do papel com as flores, velas ou figurinhas

alusivas, criados pelas crianças, que lhes colocam nos banquinhos ou às portas das casas pedindo

“cinco reisinhos” para a cera do santo. A tradição nasceu após o Terramoto em 1755, quando a

Igreja de Santo António foi destruída. Os devotos habitantes da cidade realizam vários peditórios

para ganharem o dinheiro para reconstrução da igreja. As crianças quiseram participar e ajudar,

por isso criaram estes Altares de Santo António para pedirem o tostão tradicional de Santo

António.142 Hoje na criação dos tronos pode participar qualquer pessoa, seja criança ou seja

adulto.

Dos costumes de tronos de santo em Lisboa, menciona Braga a descrição de Teixeira Bastos: “As

crianças de famílias pobres armam o trono à porta da rua, e desde os primeiros domingos de

Maio até ao dia da festa, assaltam os traseuntes com bandejas ou pires pedindo esmola para a

cera do Santo.”143

Desde 1958 às celebrações antoninas pertencem também a tradição dos casamentos e as

“noivas de Santo António”. Santo António, também chamado o santo casamenteiro, é o patrono

dos casamentos, dos enamorados e auxilia a encontrar namorado e casar. No dia 13 de Junho

realizavam-se vários casamentos de Santo António declarando o amor em conjunto numa única

cerimónia religiosa. O costume foi em 1973 interrompido por alguns anos e retomado em 1997,

realizando-se até hoje no dia 12 de Junho.144

Como „símbolo“ destas festividades pode também ser considerada a sardinha. Em 2003 a

sardinha tornou-se „um símbolo oficial“ das festas de Lisboa, representada pela imagem. Nos

anos seguintes foi apresentada em muitas formas, estilos e cores diferentes pelos ilustradores e 139 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Bairro do Alto do Pina foi o vencedor das marchas populares de Lisboa [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet:http://www.rtp.pt/noticias/cultura/bairro-do-alto-do-pina-foi-o-vencedor-das-marchas-populares-de-lisboa_v836388 140 Ver em anexo, Imagem 6 141 A Notícia de Portugal. TRONOS DE SANTO ANTÓNIO’16. [online] [consultado em 2016-04-30]. Disponível na Internet: http://www.anoticia.pt/pt/201604/Cultura/155/TRONOS-DE-SANTO-ANT%C3%93NIO%E2%80%9916%7C-EXPOSI%C3%87%C3%83O-DE-RUA--INSCRI%C3%87%C3%95ES-AT%C3%89-15-DE-MAIO.htm 142 Idem, COSTA, p.89 143 BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições, Volume II. Lisboa: Publicações Dom Quixote, Gráfica Barbosa e Santos, Lda., 1986. p. 211 144 Idem, COSTA, p.88

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artistas plásticos. „O símbolo“ da sardinha tornou-se tão popular que a partir de ano 2011 foi

instituído o Concurso da Criatividade das Sardinhas de Lisboa em que qualquer pessoa pode

participar. A melhor criação é depois escolhida pelo júri e representa as festas lisboetas.145

5.2.2. Festa de São João

Festa de São João é uma festa única católica e celebra o nascimento do santo.

São João Batista

São João Batista, o Santo Precursor146. Segundo Cristo, o maior de todos os profetas.

Como está escrito no Novo Testamento, nasceu por volta do ano 1 d.C., foi o filho de Isabel,

prima afastada de Maria, mãe de Jesus, e de Zacarias que foi um sacerdote judeu a quem o

arcanjo Gabriel predisse para que o seu filho nascesse. Zacarias relutou em acreditar no que o

arcanjo lhe disse e por isso foi castigado com a mudez temporária. A sua voz voltou após a

circuncisão do seu filho.147

Com vinte e quatro anos João partiu para o deserto da Judeia, vivendo uma vida ascética

e alimentando-se só de mel, gafanhotos e raízes das ervas e pregando para preparar o povo para a

vinda do Messias. Os seus seguidores foram batizados nas águas do rio Jordão, na Palestina,

incluindo Cristo. Por causa das suas críticas dirigidas ao rei Herodes Antipas pela sua relação de

adultério com a mulher do seu irmão, Herodíade, foi colocado na prisão. Herodíade queria

descartar-se de João e por isso utilizou-se da sua filha Salomé, princesa judia. Herodes foi

encantado por sua sobrinha Salomé e prometeu-lhe que cumpriria qualquer desejo que tivesse.

Assim Salomé a conselho de sua mãe pediu a Herodes a cabeça de João. Herodes tinha que pagar

promessa, e assim João foi decapitado, no ano 31.148

Geralmente, o santo costuma ser representado com atributos de crucifixo, cordeiro, rio ou

„cingido por uma pele de carneiro – trajo dos profetas extáticos (com períodos de êxtase) e

145 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Sardinhas e marchas 2013. [online] [consultado em 2016-04-27]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/antena1/apoios/apoio-a1-festas-de-lisboa-2013_5913 146 „por ter anunciado e preparado a vinda de Cristo“ Idem, COSTA. p. 105 147 CHLUMSKÝ, Jan. Página da Internet: Světci k nám hovoří… sv. Jan Křtitel. [online] [consultado em 2016-04-27]Disponível na Internet: http://catholica.cz/?id=2657

148 Idem, COSTA, p.105

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emblem dos Essénios (sectários judeus cuja doutrina se assemelhava à dos primeiros

cristãos).”149 É patrono das celebrações do batismo e dos frades, também de Malta, Borgonha,

Provence, Florença, e muitas profissões, como tecelão, peleiro, alfaiate, limpador de chaminé,

ferreiro, lavrador, vinheiro, canteiro, pedreiro, arquiteto, carpinteiro, pastor, músico, cantor,

dançarino, etc.150

Existiram também cultos extáticos associados com veneração do santo (o culto de Sidi

Yahya = São João), festejando rituais extáticos acompanhados com banhos santos e danças. Estes

cultos podiam ser encontrados principalmente no Norte de África, praticados pelas antigas

comunidades judaicas ou Judeus convertidos ao Islamismo.151

Festa de São João

Festa de São João é de longa tradição, celebrada em Junho152 e estendida em quase todos

os países do mundo, também em povos de cultura muçulmana. Mas é natural, que cada nação

adaptou a celebração às suas tradições e sua cultura própria. Inicialmente tratava-se de uma festa

pagã, fundada nas antigas festas naturalísticas, e talvez por isso existe grande variedade de

aspetos e as suas significações já deste sempre tradicionalmente pertencentes a essas celebrações.

Entre algumas, as virtudes das ervas, fogo e fogueiras, águas, o orvalho e banhos rituais etc., que

muitas vezes durante essa noite recebiam as qualidades sobrenaturais ou mágicas e deviam

ajudar as pessoas a alcançar a felicidade, boa saúde, a beleza ou conseguir encontrar namorado.

Tais práticas divinatórias com rituais mágico-profiláticos aproximam-se às cerimónias religiosas.

Mais tarde a Igreja cristianizou esta festa e atribui-lhe e “revestindo” na figura do padroeiro São

João. 153

„A festa de São João Baptista em todos os povos europeus está ligada a um fenómeno

astronómico, o solstício do verão, em 24 de Junho. “(…) Combate de verão expulsando o

inverno.”154 Este combate também pode ser interpretado por translação do sentido como a

149 Idem, COSTA, p.105 150 CHLUMSKÝ, Jan. Página da Internet: Světci k nám hovoří… sv. Jan Křtitel. [online] [consultado em 2016-04-27] Disponível na Internet: http://catholica.cz/?id=2657 151 ESPÍRITO SANTO, Moisés. Origens orientais da religião popular portuguesa. Ensaio sobre toponímia antiga. Lisboa: Assírio & Alvim, 1988. p. 177-178

152 A Igreja celebra duas datas ligadas a este santo – festa no dia de 24 de Junho, dia do nascimento de São João e memória de 29 de Agosto, o dia da degolação de São João. 153 OLIVEIRA, Ernesto Veiga de. Festividades Cíclicas em Portugal.- 2.a ed. Lisboa: Dom Quixote, Lda., 1995. p. 119

154 Idem, BRAGA, p.211

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“relação” entre Cristo e São João, em sentido que o santo foi primeiro olhando como um Cristo,

mas depois do aparecimento de Cristo, diminuiu. O mesmo como os dias: diminuem e vão

aumentando de duração durante o ano.155

Já no século IV existem memórias litúrgicas de São João no Oriente e no Ocidente, e no

século VI é testemunhada a missa da vigília da festa.156 As raízes das festas joaninhas remontam

ao passado muito distante, podemos encontrar algumas referências ou alguns esboços da

influência dos outros povos que viveram no território português, como os germânicos ou árabes.

Como um exemplo podemos mencionar alguns tipos de danças mouriscas, que se praticam em

algumas aldeias até hoje ou uma Mouriscada, realizada nos Açores - “auto dramático popular,

em que mouros e cristãos dão relevo histórico à conceção mítica (…)”157

Segundo Ernesto Veiga de Oliveira, São João é considerado “o santo casamenteiro” (tal

como Santo António) ou por vezes “brejeiro”. Estas duas denominações são depois explicadas

pelo facto, que o objetivo fundamental das festas joaninhas é a felicidade até em relação ao

casamento, que é a versão cristianizada.158

Os elementos naturais

Noite sagrada de São João - “Noite em que tudo pode acontecer.”159 Há lendas e muitas

superstições associadas à noite de São João. Alguns dizem que os elementos da terra, águas,

plantas, fogos, durante esta noite recebem um poder mágico. Ou aparecem algumas forças

invisíveis, mas nem sempre benéficas. Outra lenda, típica para esta noite, fala de mouras

encantadas ou peças de ouro que apareçam nas fontainhas, cantando, dançando ou tocando

debaixo da terra.160

O fogo

Um elemento das festas joaninas é o fogo. As fogueiras simbolizam o Sol pela sua luz e

calor, e serviam espantar os maus espíritos. Foram típicas para as festas gentílicas que

155 Idem, BRAGA, p.211 156 ADAM, Adolf. Liturgický rok: historický vývoj a současná praxe. Praha: Vyšehrad, 1998. p. 222

157 Idem, BRAGA, p.216 158 Idem, OLIVEIRA, p.120-121 159 Idem, COSTA, p.113 160 Idem, OLIVEIRA, p.129-131

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antecederam as cristãs. Podemos dividi-las em grandes fogueiras, que normalmente são

coletivas, ou pequenas/ particulares que as pessoas fazem às portas das casas.161

Antigamente, as pessoas acreditavam que os fogos tinham alguns poderes mágicos, por

exemplo deviam afastar de coisas más e ajudar contra as doenças. Hoje são simbolizados pelo

fogo-de-artifício; balões, que deviam trazer a sorte ou levar os pedidos ao santo; ou fogueiras

preparadas com ervas aromáticas como manjerico, rosmarinho ou alecrim, onde o fumo devia

ajudar contra as doenças. Ainda hoje, em alguns lugares, existem os tradicionais saltos sobre as

fogueiras, a rapariga que salta mais alto, tem maior certeza que se casará.162 E às vezes ocorre

também o costume de dançar ao redor da fogueira. Com as fogueiras estão também associados os

sacrifícios humanos ou animais através os quais queriam, por exemplo os druidas, assegurar a

luz do Sol… 163 Existiu uma tradição na qual se queimava um gato vivo, esta realizava-se na

Beira Alta.164

A água

O elemento da água iclui as águas do rio, água do mar, água das fontes ou o orvalho. A

água, em geral, segundo Moisés Espírito Santo, considera-se como uma das estruturas

fundamentais da religião popular e pode ter duas simbologias, feminina ou masculina.165 É um

elemento muito importante porque “está na origem de todo o tipo de vida, de toda a

prosperidade; se a seca se prolonga, tudo morre.”166

São João é um dos santos associados aos rios, mas este facto provavelmente resultou

duma cofundação com Domuzus, o divino da antiga religião fenícia e hebraica, que morreu em

Junho.167 Durante a noite joaninha a água tem poder mágico de dar beleza, dar a força aos

idosos, rejuvenescer e prolongar as vidas ou ajudar contra as doenças, principalmente doenças de

pele (também se aplica nas animais). Alguns destes costumes ligados à água podemos encontrar,

por exemplo, durante a festa no Porto, onde as pessoas vão à fonte da Alameda das Fontainhas

161 Idem, OLIVEIRA, p.136 162 Idem, OLIVEIRA, p.132-136 163 Idem, COSTA, p.106 164 Idem, OLIVEIRA, p.122 165 ESPÍRITO SANTO, Moisés. Origens orientais da religião popular portuguesa. Ensaio sobre toponímia antiga. Lisboa: Assírio & Alvim, 1988. p. 12 166 Idem, ESPÍRITO SANTO, p.12 167 Idem, ESPÍRITO SANTO, p.17

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para lavar a cara com a água benta ou também os banhos no rio Douro ou no mar nas praias da

Foz na madrugada.168

As plantas e ervas

Na noite de São João algumas das plantas são consideradas sagradas. Principalmente na

véspera do dia de São João, durante a madrugada ou à meia-noite. Às vezes também ao meio-dia,

mas na maioria dos casos é importante que o sol não os toca. As plantas colhem-se e deviam

ajudar na saúde ou trazer amor e felicidade. Predominam as ervas aromáticas, as mesmas que se

usam nas fogueiras, por exemplo, o manjerico, o alho-porro, o rosmarinho, o alecrim, o

malmequer, mas além dessas, também o trevo de quatro folhas – o símbolo da felicidade, a rosa

– o elemento feminino, etc. O alho-porro é bem conhecido por bater nas cabeças para ter boa

sorte e o manjerico que se vende em quantidade durante as festas com as bandeirinhas com

versos populares para ajudar encontrar o amor.169

Festa de São João em Portugal

As festas populares de São João de maior exuberância realizam-se no Norte de Portugal,

nas cidades do Porto e de Braga.

A cidade do Porto

No Porto as festas têm lugar na noite de 23 para 24 de Junho, mas o programa e as

atividades de acompanhamento das festas joaninas ocorrem durante mais do que um mês,

exatamente seis semanas. Incluem as animações, arraiais e bailaricos, concertos das bandas ou

cantores populares, as ações desportivas e no fim são encerradas pelo fogo de artifício. São João

é festejado desde o século XIV, mas não é padroeiro da cidade, é o santo popular do Porto e

desde ano 1911, este dia tornou-se o feriado municipal.170 Por esta razão não ocorrem nenhuns

atos litúrgicos que seriam particularmente importantes, a festa é mais de modo popular.

168 Porto canal. Página oficial. Porto Alive – São João_pt1 [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://videos.sapo.pt/VFYPwJfE2nwbYbQPsTae 169 Idem, OLIVEIRA, p.142-146 170 Porto canal. Página oficial. Porto Alive – São João_pt1 [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://videos.sapo.pt/VFYPwJfE2nwbYbQPsTae

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Bem como durante a festa de Santo António em Lisboa, neste tempo o centro, os bairros

e as ruas da cidade do Porto são enfeitadas, ornamentadas e iluminadas, cheias da gente

festejando e aproveitando a festa. Quer sejam fiéis quer não, todos participam com alegria e

espontaneidade. Há muitas tradições, criam-se os altares ao São João que incluem a imagem dele

e são colocados em igrejas ou as cascatas de São João que são pequenos recintos, com a imagem

do santo e decorados com figurinhas das casas, plantas, paisagem, simplesmente de fantasia de

cada pessoa. Normalmente são feitas pelas crianças (isso hoje não é a regra), colocadas às portas

ou no passeio público. A cascata mais conhecida é cascata da Alameda e tem lugar nas

Fontainhas.171 Nas ruas são vendidas as ervas aromáticas – os vasos de manjericos com as

quadras nas bandeirinhas, cravos, rozmarinho e principalmente os alhos-porros (tendo

originariamente um símbolo fálico). As pessoas usam estes alhos-porros para baterem nas

cabeças, suavemente e reciprocamente um ao outro ou simplesmente as pessoas que passam em

“desejo” de boa sorte. Hoje usam-se cada vez mais também os martelos de plástico, introduzidos

nos anos sessenta, tendo o mesmo objetivo.172

Durante a noite lançam-se os lampiões de ar quente e à meia-noite o espetáculo de fogo-

de-artifício tem lugar na Ribeira do Porto, na ponte Dom Luís I e no rio Douro. No dia 25 de

Junho, nas Fontainhas realizam-se as Rusgas de São João, o desfile das sete freguesias da cidade

nos costumes tradicionais, com milhares as pessoas a assistir. Durante todo o dia são comidas

sardinhas assadas com pimento verde e caldo verde. Nas casas “ceia-se o manjar ceremonial da

data – o carneiro ou anho assado com batatas ou arroz de forno.”173 A festa dura até

madrugada, mas além disso, muitas pessoas continuam a noite pelo passeio à praia Foz do

Douro, onde estão à espera de nascer do sol e alguns deles realizam os banhos rituais.174

No Porto as celebrações realizam-se provavelmente já desde século XIV. Inicialmente

nos bairros da cidade, mas depois, nos anos quarenta do século XIX, juntam-se na Lapa e no

Bonfim onde ocorreram animações maiores. As festas são realizadas anualmente, retomadas em

1924, após alguns anos sem se realizarem.175

171Idem, OLIVEIRA, p.155 ;Idem, COSTA, p.137; Ver em anexo, Imagem 7 172 Idem, COSTA, p.135 173 Idem, OLIVEIRA, p.175 174 Porto canal. Página oficial. Porto Alive – São João_pt1 [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://videos.sapo.pt/VFYPwJfE2nwbYbQPsTae; Porto canal. Página oficial. Porto Alive – São João_pt2 [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://videos.sapo.pt/SseYioT2ht2FUl8eGT19

175 Idem, COSTA, p.135-136

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A cidade de Braga

Em Braga, a festa de São João é celebrada mais de modo religioso e tradicional. É uma

das mais antigas e maiores festas saojoaninas em Portugal. A data exata do início destas festas é

incerta, mas em 1150 foi fundada a igreja dedicada ao São João176 e no século XV aparecem as

primeiras referências que aconteciam as celebrações em honra do santo, provavelmente já em

grande estilo principalmente em atos litúrgicos. Realizava-se a procissão e missas solenes na Sé.

“Canto de Vésperas; missa no dia 23 pela manhã e missa cantada; sermão e procissão no dia 24

(organizada pela Confraria de São João), sendo o cortejo religioso acompanhado por música e

danças.”177 Nem só os habitantes da cidade participavam nas celebrações litúrgicas, mas também

as pessoas das aldeias mais pequenas costumavam deslocar-se a pé para venerar o santo.178

Originariamente festejam-se duas festas de São João - São João do Souto e São João da

Ponte que foram juntadas em 1893 pela primeira comissão de festas, no mesmo ano criada.179

Para as festas bracarensas são típicos elementos como a Corrida do Porco Preto, a Dança do Rei

David, a criação das cascatas, Quadros Bíblicos180 - auto de batismo de Jesus Cristo por São João

Baptista, exposto na margem esquerda do rio Este181; o Carro dos Pastores ou Gigantones e

Cabeçudos182 que são pessoas com máscaras enormes de várias figuras, por exemplo máscara de

freira ou de monge, geralmente de caráter caricatural e na maior parte das vezes seguidos por

Zés-Pereiras.183 Anteriormente nas festas também fazia parte o cortejo do candeleiro, festejado

na véspera da festa.184

176 São João Braga. Página oficial. A História. [online] [consultado em 2016-05-21]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/sobre/a-historia/

177 Idem, COSTA, p.119 178 Porto canal. Página oficial. Porto Alive – São João_pt2 [online] [consultado em 2016-05-13]. Disponível na Internet: http://videos.sapo.pt/SseYioT2ht2FUl8eGT19 179 São João Braga. Página oficial. A História. [online] [consultado em 2016-05-21]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/sobre/a-historia/ 180 Ver em anexo, Imagem 8 181 Idem, COSTA, p.127 182 As figuras gigantescas têm sua origem já na Idade Média fazendo a parte dos cortejos civis ou religiosos importantes, também na procissão do Corpo de Deus. Idem, OLIVEIRA. 285-286; Desde ano 1989, anualmente realiza-se em Braga „O Encontro de Gigantones e Cabeçudos”, onde se encontram dezenas dos grupos do Norte do país ou também da Espanha. São João Braga. Página oficial. Gigantones e Cabeçudos. [online] [consultado em 2016-05-27]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/sobre/gigantones-e-cabecudos/; Ver em anexo, Imagem 9 183 Idem, OLIVEIRA, p.285-286 184„…,consistia primitivamente (de acordo com algumas versões) numa espécie de andor vistosamente ornamentado, com a imagem de São João Baptista entre flores, tochas e anjos, suspenso depois no interior da igreja e a fazer parte depois do préstito processionário.” Idem, COSTA. p. 119; Outra versão diz que este costume, onde a luz desempenha um papel importante, foi tomado da religião judaica. Besea-se na cerimónia de acender a “luz” - uma laterna ou vela votiva, trazida em procissão solene à Sé. Posteriormete fez parte da procissão religiosa de São João. COSTA, p. 119-120

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Já desde século XV, faziam parte das festas as cavalhadas, no caso de Braga “a corrida do

porco preto”, realizadas em louvor do santo. Anteriormente espalhadas um pouco por todo o

país, agora só se realizam em alguns lugares, simbolizando o combate entre o Verão e o

Inverno.185 A corrida realizou-se normalmente na véspera da festa. Oliveira no seu livro descreve

assim esse evento:

“Aí, nessa data, se põe a cavalo a gente principal na cidade: e, passando o rio d´Este, junto ao

qual foi a martírio dos Santos e se faziam os jogos de Ceres e Silvano, fingem que emprazam um

porco: - e gastada a tarde em festa, vão no dia do santo pela manhã fazer nova montaria com

um porco negro que lá têm aparelhado: - e soltando-o lhe seguem o alcance ao som de cornetas

e vozes, que representam uma verdadeira montaria, e o vêm seguindo contra a cidade todo o

tropel de gente: - e se ao passar do rio se lança ao vau, e passa pela água, o dão aos moradores

das azenhas que há na mesma ribeira: - e tomando a ponte, fica da gente da cidade.”186

Costa187 menciona as corridas do porco do século XVI (mais tarde, em 1614, proibidas e

eliminadas das festividades), onde os dois grupos que competiram entre si, foram os cavaleiros

ou sapateiros contra os moleiros, mas o princípio da corrida foi o mesmo. Quem ganhou a

corrida, saboreou a carne do porco preto.

Nas procissões fez parte também a Dança do Rei David188, até ao século XV, conhecida

como “dança do rei mouro” ou “Mourisca”, aparentemente uma tradição muito antiga. Devido às

semelhanças dos trajes, do estilo da música e de danças árabes, foi provavelmente iniciada pelos

mouros que viviam nesse região e estendida por todo país.189 Depois da proibição dos elementos

profanos nos atos litúrgicos, no século XV, a figura do rei mouro foi substituída pela figura

bíblica do patriarca David, mais satisfatória para a Igreja. A dança, acompanhada pela música de

violas e violinos, consiste das treze participantes dançando, do rei David que está no centro e ao

redor dele dançam os outros.190

Outro elemento típico para as procissões do santo é o Carro dos Pastores, uma tradição

medieval, provavelmente do século XVI191. Inclui o carro, tradicionalmente decorado com

verdura, ervas e flores, anteriormente puxando por bois. “Dentro” do carro estão as crianças

185 Idem, OLIVEIRA, p.159-164 186 Idem, OLIVEIRA, p.160 187 Idem, COSTA, p.122 188 Ver em anexo, Imagem 10 189 Idem, COSTA, p.125 190 São João Braga. Página oficial. Carros das Ervas, Pastore e Rei David. [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/sobre/ervas-pastores-e-rei-david/; 191 Idem, COSTA, p.131

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vestidas com trajes tradicionais, como pastores. As crianças realizam pelas danças e canto os

autos teatrais – algumas cenas bíblicas baseadas no Evangelho, como por exemplo o

aparecimento do arcanjo a Zacarias e o nascimento ou apresentação de São João ao povo.192 “O

“carro das ervas”, puxando por bois e cuidadosamente ornamentado com verdura e flores,

seguia na frente do préstito religioso para lançar no chão as flores e as ervas aromáticas que

serviam de tapete perfumado e festivo a dar passagem à procissão…”193

Hoje em dia, mesmo como no Porto, Festa de São João Baptista celebra-se com muita

pompa e animação. A abertura oficial das festividades acontece na Praça Municipal, na parte da

manhã de 23 de Junho. Lança-se o grande lampião de ar quente e depois duram duas semanas

cheias da música, dos concertos das bandas filarmónicas, das exposições, das apresentações dos

grupos folclóricos, dos típicos bombos, dos cavaquinhos, dos gaiteiros e Zés-pereiras, do fogo do

artifício, etc. Realizam-se também vários cortejos – as festas são abertas pelo “Cortejo da

Mordomia” que inclui as dignidades da cidade e eclesiásticas, depois à tarde segue o “Cortejo

das Rusgas”, e esse inclui os vários grupos folclóricos e ranchos das aldeias em torno da cidade

de Braga, vestindo os seus trajes típicos. Surgindo espontaneamente nos tempos antigos, quando

as pessoas das aldeias reuniam-se no centro de Braga para louvar o santo. Há também o “Cortejo

Histórico” ou a “Parada Folclórica”.194 Ruas enfeitam-se das cores e durante a noite inteira é

cantado e dançado, come-se sardinha assada, lançam-se os balões de ar quente, vendem-se

manjericos e alhos-porros, etc.

Já há algum tempo um esforço em revivar as tradições mais antigas como por exemplo

reintrodução das corridas do porco preto ou da figura gigantesca da Serpe. Outro elemento

reintegrado e hoje realizado de grande estilo são os Gigantones e Cabeçudos.

As celebrações religiosas atualmente começam no dia 23 de Junho. Antes da véspera de

São João, leva-se o candeleiro solene à Sé de Braga, depois deste ato segue a primeira missa

vigilar oficiada à meia-noite.195 No próprio dia do santo, a 24 de Junho, seguem missas da

manhã, primeiro na igreja de São João de Souto realiza-se a Eucaristia solene do Nascimento de

São João Baptista. Seguido depois pela missa de Eucaristia solene do Nascimento de São João

Baptista na capela de São João da Ponte, presidida pelo Arcebispo Primaz. Na parte da tarde na

Sé Primaz realiza-se Eucaristia solene em honra de São João Batista e do Largo de São João da

192 Idem, COSTA, p.129-133; São João Braga. Página oficial. Carros das Ervas, Pastore e Rei David. [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/sobre/ervas-pastores-e-rei-david/ 193 Idem, COSTA, p.130 194 São João Braga. Página oficial. [online] [consultado em 2016-05-27]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/ 195 Idem, COSTA, p.122

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Ponte sai em direção à Sé de Braga a grande transladação do andor de São João da Ponte e passa

pelo Largo do Paço, onde é cantado o hino de São João e realiza-se a batalha das flores. Depois

sai a procissão solene de São João da Sé196, trazendo a imagem do santo e passando pelas ruas da

cidade de Braga, incluindo as dignidades religiosas e civis e centenas de participantes. A

procissão religiosa, um momento fundamental das festas, mantém a sua forma mais ou menos

semelhante que tinham desde 1949.197 Ao longo dos anos foram adicionados mais andores dos

vários santos, atualmente tendo nove andores. Por volta das sete horas, a procissão regressa à Sé

e depois o andor de São João de Baptista vai à igreja de São João de Souto e a festa termina com

a missa solene ou seja despedida a São João.198 Também na procissão continua a tendência de

renovação e reintrodução de algumas das antigas tradições já omitidas, como a presença dos

pastores ou do Rei David.

5.2.3. Festa de São Pedro

São Pedro

São Pedro, de seu nome original Simão, nasceu em Betsaida. Vivia com a sua família em

Cafarnaum, em Galileia. Trabalhou como pescador, daqui chamado também ”Santo Pescador”.

Foi convidado juntamente com seu irmão André por Jesus Cristo para que O seguissem e de

Jesus tomou o nome Pedro, que em grego significa “a rocha”. Jesus chamou-o assim, porque se

devia tornar uma rocha ou uma das pedras basilares sobre os quais toda a Igreja e religião cristã

seria construída.199

Quando o rei Herodes Agripa viu o número crescente dos fiéis, começou a perseguição

dos seguidores de Cristo e aprisionou e condenou Pedro à morte, mas ele foi mais tarde

milagrosamente libertado por um anjo, que Deus enviou para o ajudar. Agiu depois na Galileia,

na Ásia Menor ou em Roma, onde se tornou o primeiro bispo e o primeiro papa. Durante o

reinado de Nero lavrou um grande incêndio em Roma que durou seis dias. Não se sabe ao certo

quem ateou o fogo, mas Nero utilizou este facto para acusar cristãos e assim começou a grande

196 Ver em anexo, Imagem11 197 São João Braga. Página oficial. Brochura 2016 [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/PDF/Brochura2016.pdf p. 37-38 198 São João Braga. Página oficial. Brochura 2016 [online] [consultado em 2016-05-26]. Disponível na Internet: http://saojoaobraga.pt/PDF/Brochura2016.pdf p. 37-38

199 CHLUMSKÝ, Jan. Página da Internet: Světci k nám hovoří… sv. Petr a Pavel. [online] [consultado em 2016-05-23] Disponível na Internet: http://catholica.cz/index.php?id=2698

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perseguição deles. São Pedro foi novamente preso. Em 64 d.C. foi martirizado, a seu próprio

pedido crucificado de cabeça para baixo, em Roma, Vaticano. Disse, que não merecia ser

crucificado da mesma forma como Jesus Cristo, também porque originalmente queria escapar da

morte.200 No lugar da sua sepultura foi construída a Basílica de São Pedro pelo imperador

Constantino I, que se tornou um lugar da peregrinação.201

Após da morte de Cristo, tornou-se o primeiro de doze apóstolos, testemunhos oculares

dos acontecimentos de Cristo Jesus, e durante a sua vida realizou vários milagres em nome de

Cristo. Pedro tem importância especial porque foi o escolhido por Jesus como pedra basilar da

Igreja, e foi a ele que Cristo pela primeira vez apareceu e a ele entregou as chaves do Reino dos

Céus, segundo a Bíblia.202

Assim é venerado como o chaveiro celestial e patrono da Igreja. Também é considerado o

santo patrono dos pescadores, adorado em várias vilas piscatórias; dos papas e das muitas

profissões como: os bateleiros, os peixeiros, os homens do talho, os vidreiros, etc.203 E os

atributos de São Pedro são as chaves do Céu (uma, duas ou três), a barca, o peixe, o galo, a cruz

de três ramos e a cruz invertida.

Festa de São Pedro

A festa da Igreja romana festeja-se já desde século IV, na Itália e no Norte de África.

Depois, nos séculos V e VI estendeu-se para outros países ocidentais.204 A festa de São Pedro

compartilha a mesma data com São Paulo e celebra-se no dia 29 de Junho.

As festividades de São Pedro são a continuação e também, podemos dizer, o

encerramento das festas juninas. São menos populares do que as de Santo António ou São João.

Por isso, não se festejam em tão grandes proporções, mas mais frequente em cidades mais

pequenas, um pouco por toda a parte no país. Em geral as festividades têm as mesmas

características como as outras duas festas juninas. Incluem as tradições ligadas aos elementos

naturais como fogo e fogueiras com ervas aromáticas e fogo-de-artifício; as ruas são decoradas 200 CHLUMSKÝ, Jan. Página da Internet: Světci k nám hovoří… sv. Petr a Pavel. [online] [consultado em 2016-05-23] Disponível na Internet: http://catholica.cz/index.php?id=2698; Idem, COSTA, p.183-186 201 ADAM, Adolf. Liturgický rok: historický vývoj a současná praxe. Praha: Vyšehrad, 1998. p. 224-225 202 ADAM, Adolf. Liturgický rok: historický vývoj a současná praxe. Praha: Vyšehrad, 1998. p. 224

203 CHLUMSKÝ, Jan. Página da Internet: Světci k nám hovoří… sv. Petr a Pavel. [online] [consultado em 2016-05-23] Disponível na Internet: http://catholica.cz/index.php?id=2698

204 ADAM, Adolf. Liturgický rok: historický vývoj a současná praxe. Praha: Vyšehrad, 1998. p. 225

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com ervas, flores e juncal, realizam-se as missas solenes e procissões em honra do santo; em

alguns lugares acontecem as feiras dançantes, toca música e muitas vezes reintroduzem-se as

marchas populares, etc. Em Nisa, por exemplo, as celebrações duravam três dias. “Da parte

religiosa constava O Canto de Vésperas na Capela de São Pedro, com a participação de todos

os lavradores, que para ali se dirigiram com três portabandeiras, a principal levada pelo

lavrador que nesse ano “dava a festa” e outra pelo que a tomava a seu cargo no ano seguinte.

No dia 29 havia missa cantada e sermão na igreja matriz, para onde a imagem do santo era

conduzida em procissão, voltando depois à sua capela.”205 Parte religiosa era naturalmente

acompanhada por uma parte mais lúdica que era de tradição oferecida pelo último lavrador como

a celebração do seu “segundo casamento” com a mesma esposa. E festejava-se com bailes,

música, fogo-de-artifício e também um cortejo. Noutros lugares ou aldeias do país realizam-se as

rusgas, romarias, missas solenes, procissões, há também, entre outras, a tradição de fazer coroas

de flores que se colocam na cabeça do santo.

Como já dissemos, apesar de as festas de São Pedro não serem de tão grande estilo como

as de Santo António e de São João, que marcam grandes festividades do calendário, vale a pena

mencionar pelo menos as, que se realizam por exemplo em Madeira, nos Açores na Ilha de São

Miguel, no Montijo, em Torres Vedras ou na Póvoa de Varzim.

Na Ilha de São Miguel, na Ribeira Seca e na Ribeira Grande, as festas são caraterizadas

pelas cavalhadas e as marchas, aparecidas desde século XVI.206 A marcha começava depois da

missa solene no largo da igreja de São Pedro. Na frente ia sempre o cavaleiro principal vestido

de traje preto com chapéu decorado pelo ouro e com máscara na cara, que representava o Santo

Apóstolo, andando a cavalo também bem enfeitado. Seguido por quinze ou vinte cavaleiros com

os rostos descobertos. Depois seguia a multidão de participantes, as máscaras, os lavradores com

os seus instrumentos, também o gado fazia parte do cortejo, tudo acompanhado por música.

Passando pelas ruas – por todas as casas dos participantes da cavalhada e depois, por volta às

seis horas, regressando ao largo da igreja de São Pedro. Simultaneamente representam-se as

comédias de São Pedro que são sátiras alusivas aos acontecimentos ou às autoridades locais. 207

Segundo uma tradição oral do povo açoriano, o costume da procissão e veneração deste

dia remontam ao século XVI, no tempo das grandes erupções do Pico Sapateiro na ilha de São

205 Idem, COSTA, p.187 206 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Cavalhadas de São Pedro reuniram milhares na Ribeira Seca, da Ribeira Grande (vídeo) [online] [consultado em 2016-05-23]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/acores/cultura/cavalhadas-de-sao-pedro-reuniram-milhares-na-ribeira-seca-da-ribeira-grande-video_15813 207 Idem, BRAGA, p.216-217

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Miguel. Quando um fidalgo e mordomos de Espírito Santo rezaram e prometiam honrar o santo

caso ele lhes poupasse as vidas e bens. E assim começou a procissão à igreja de São Pedro, que

se realiza desde então anualmente com a participação de cada vez mais pessoas. 208 Outra lenda,

que surgiu no mesmo período, diz que erupções vulcânicas destruíram a área de Ribeira Seca,

escapando unicamente a Igreja da Freguesia e imagem de São Pedro, que ficaram perfeitamente

poupadas. Este acontecimento foi considerado como um milagre e até mesmo o rei, com sua

comitiva, foi agradecer ao santo e deste então, realiza-se as procissões em honra do santo.209

A tradição mantém-se até hoje e realiza-se com ainda mais pompa. Prova disso, é o facto,

de o dia 29 de Junho se ter tornado feriado municipal da Ribeira Grande. Também aqui as festas

são acompanhadas por outras atividades culturais, desportivas com a marcha realizada no dia 28

de Junho. A igreja enfeita-se de flores coloridas, principalmente hortênsias azuis e alâmpadas,

que são as decorações feitas de flores e frutas, um símbolo da primavera e fertilidade – a terra

renascida depois das erupções.210 No dia 29 de Junho, tem lugar a procissão211, que agora

acontece já com mais de uma centena de cavaleiros vestidos de trajes onde predomina a cor

branca, vermelha e amarela em cavalos enfeitados, tocando os sinos e acompanhado por música,

Alvorada. Por volta do meio-dia a procissão sai da freguesia da Ribeira Seca, com a figura do rei

à frente, em direção à igreja de São Pedro. No largo da igreja de São Pedro os dois lanceiros

recitam versos, onde realçam a importância da vida de acordo com a religião e depois o rei

declama os versos ao santo e manda pagar as promessas feitas ao santo. Depois, em ritual, os

cavaleiros dão sete voltas ao templo, que simbolizam as promessas dadas ao santo. 212 Também

as Comédias de São Pedro sobreviveram até hoje, tornando-se em pequenos autos teatrais

realizados na rua, muitas vezes sátiras de temas atuais do nosso tempo incluindo a crítica

social.213

208 Idem, COSTA, p.205-212 209 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Cavalhadas de São Pedro reuniram milhares na Ribeira Seca, da Ribeira Grande (vídeo) [online] [consultado em 2016-05-23]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/acores/cultura/cavalhadas-de-sao-pedro-reuniram-milhares-na-ribeira-seca-da-ribeira-grande-video_15813 210Rádio e televisão de Portugal (RTP). Cavalhadas de São Pedro na Ribeira Grande (vídeo) [online] [consultado em 2016-05-23]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/acores/cultura/cavalhadas-de-sao-pedro-na-ribeira-grande-video_47334 211 Ver em anexo, Imagem 12 212 Rádio e televisão de Portugal (RTP). Cavalhadas de São Pedro reuniram milhares na Ribeira Seca, da Ribeira Grande (vídeo) [online] [consultado em 2016-05-23]. Disponível na Internet: http://www.rtp.pt/acores/cultura/cavalhadas-de-sao-pedro-reuniram-milhares-na-ribeira-seca-da-ribeira-grande-video_15813; Câmara Municipal de Ribeira Grande. Página oficial. Festividades [online] [consultado em 2016-05-27]. Disponível na Internet: http://www.cm-ribeiragrande.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=79&Itemid=71 213Câmara Municipal de Ribeira Grande. Página oficial. Festas da cidade. [online] [consultado em 2016-05-27]. Disponível na Internet: http://www.cm-ribeiragrande.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=100&Itemid=138

Page 54: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

54

6. Conclusão

O objetivo deste trabalho foi apresentar algumas das festas religiosas, definir a sua

origem e forma de celebração no passado e hoje. Além disso, tentamos de mostrar da posição da

religião no território português e o surgimento das festas em geral. Para inserir as festas no

contexto atual da celebração da Igreja, ainda brevemente delineamos o sistema e divisão do

Calendário Romano Católico e as festas mais importantes, válidas geralmente em todos os países

de tradição católica.

No primeiro capítulo trata da religião no contexto histórico. Desde os primeiros sinais de

algumas ideias espirituais vindas já dos tempos pré-históricos, até cristianismo, em 391

declarado como a religião estatal, passando pelas religiões pagãs politeístas em que eram

adorados elementos e forças naturais, pelo judaísmo ou pelo islão. Hoje Portugal, embora

maioritariamente católico devido à tradição e circunstâncias históricas, como referindo no

primeiro capítulo, não tem uma religião oficial única e promove a aproximação das culturas e

religiões.

Na primeira parte do segundo capítulo aprendemos que todas as festas têm a sua origem

já na pré-história, nos primeiros rituais ou cerimónias primitivas pagãs dos povos antigos. As

primeiras sociedades usaram os atos de dança, mimetismo ou imitação, que podem ser

considerados como teatro primitivo, para conseguir, por exemplo, uma boa colheita ou

fertilidade. Aqui podemos encontrar os primeiros sinais de alguma tentativa de comunicar com

divindades. E através destes atos, da pantomima mágica para o ritual e mito, criou-se um sistema

de valores que ao longo do tempo se desenvolveu numa festividade, tornando-se posteriormente

numa ação pública festiva, muitas vezes periódica e organizada pelo estado ou no caso das festas

religiosas, pela Igreja e que marcava e marca alguns momentos ou acontecimentos importantes

para a sociedade.

Segunda parte, brevemente, centra a sua atenção na relação das manifestações religiosas e

da Igreja. Se nos inícios, como vimos, as manifestações religiosas se confundiam com

manifestações teatrais, no decorrer dos tempos foram-se afastando devido aos objetivos e valores

que proclamavam. Igreja queria converter as pessoas à fé e fortalecer a fé, surgem assim várias

vezes durante a história, as proibições dos elementos teatrais nas manifestações religiosas e

tentativa de manter as manifestações de caráter estreitamente religioso. Mas apesar disso os

elementos teatrais por fim mantiveram-se sempre em contacto direto com as manifestações

religiosas.

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55

Depois de uma breve referência ao ano litúrgico da Igreja Católica, apresentamos as

festas religiosas escolhidas. Quando comparamos estes dois tipos das festas, ou seja a festa de

Corpo de Deus e as festas juninas, constatamos que já a sua origem ou causa da criação delas é

diferente. Corpo de Deus é uma festa puramente católica enquanto o motivo para sua criação foi

a visão da priora da Abadia Juliana de Mont Cornillon, onde uma voz celestial revelou-lhe o seu

desejo instituir a solenidade em honra ao Sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue.

Posteriormente, em 1264, Papa Urbano IV estabeleceu a festa pela bula Transiturus. As festas

juninas, por outro lado, têm origem nas festas pagãs, que celebravam o solstício do verão, o

tempo de abundância e da colheita. Contudo ao longo dos tempos com o aumento da influência

da Igreja, estas festas são “cristianizadas” surgindo com festas em honra de santos, mas nunca

completamente libertadas dos seus atributos pagãos.

Festa do Corpo de Deus celebra-se em Portugal já desde século XIII, o que a torna uma

das mais antigas festas religiosas e também uma das mais importantes por sua grande pompa,

número dos fiéis presentes e a grande demonstração da fé. Simboliza a presença permanente do

Cristo entre nós através a hóstia - o pão e o vinho. E a procissão é uma expressão da fé. A maior

procissão tinha lugar em Lisboa, em que participava também o rei com a sua corte. No início,

acompanhada por danças e cânticos mas ganhou mais o cunho da religiosidade no reinado de D.

Manuel I. e no século XIX também mais da simplicidade. Depois alguns anos sem realização,

reintroduzida foi novamente em Lisboa em 1973. Hoje a festa é novamente celebrada com

pompa e grandeza da procissão solene ocorrendo em Lisboa.

As festas juninas, apesar de comemorarem os dias dos santos são mais de modo popular.

Não sabemos a data exata quando se começaram a celebrar, mas provavelmente por volta do

século XIV. As festas são o conjunto do sacro e profano e são festejadas com grande animação,

em alguns lugares durante um mês inteiro. O ponto principal destas festas inicia-se no dia

anterior do próprio dia do santo. Nos bairros das cidades acontecem bailes, os arraiais, música

toca durante toda a noite e as ruas são iluminadas e enfeitadas por grinaldas coloridas, balões e

cheias de gente. Realizam-se as marchas populares e vários cortejos em honra do santo. Esta

parte lúdica da festa é complementada no dia do santo por uma festa religiosa que inclui missa

solene, seguida pela procissão que passa pela cidade com andores, trazendo a imagem do santo e

depois retornando à sua igreja matriz. Um aspeto indissociável são os elementos naturais que

durante a noite do São João supostamente recebem o poder mágico.

Page 56: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

56

Embora todas estas festas sejam consideradas religiosas podemos encontrar diferenças

entre elas. Enquanto a festa do Corpo de Deus é um verdadeiro ato da fé, as festas juninas,

devido a sua origem pagã, têm mais cunho popular do que religioso. São acompanhadas com

grande animação e também com inúmeras superstições. Mas sem dúvida, todas as festas, tanto na

sua vertente lúdica como religiosa, em geral, completam-se e são indissociáveis da identidade do

povo português.

Page 57: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

57

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Voznice: LEDA, 2007, 680 p. ISBN 80-85927-38-1.

2. JINDROVÁ, Jaroslava e Antonín PASIENKA. Portugalsko-český slovník. 1a. ed.

Voznice: Leda, 2005, 736 p. ISBN 80-7335-061-0

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lisboa.pt/noticias/detalhe/article/marchas-populares-2014

7. Procissão do Corpo de Deus em Lisboa. Câmara Municipal de Lisboa. Página oficial.

[online] [cosultado em 2016-06-19]. Disponível na Internet: http://www.cm-

lisboa.pt/noticias/detalhe/article/celebracoes-do-corpo-de-deus

8. Procissão de Santo António em Lisboa. Com Jeito e Arte. [online] [cosultado em 2016-

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9. Procissão de São João, Braga (Batalha das Flores). São João Braga. [online] [cosultado

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10. Quadros Bíblicos, Braga, O Rio Este. Flickr [online] [cosultado em 2016-06-19].

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11. Tapetes coloridos do Corpo de Deus, Minho. Minho Digital – Semanário do Alto Minho.

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Page 63: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

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8. Anexo

Imagens:

1. Procissão do Corpo de Deus em Lisboa

2. Tapetes coloridos do Corpo de Deus, Minho

3. Festa da Coca em Monção, São Jorge e o Dragão

4. Procissão de Santo António em Lisboa

5. Marchas Populares de Santo António, Lisboa

6. Tronos de Santo António, Lisboa

7. Cascata de São João das Fontaínhas, Porto

8. Quadros Bíblicos, Braga, O Rio Este

9. Gigantones e Cabeçudos

10. Dança do Rei David, Braga

11. Procissão de São João, Braga (Batalha das Flores)

12. Cavalhada de São Pedro, Ribeira Grande, Açores

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Imagem 1 – Procissão do Corpo de Deus em Lisboa

Imagem 2 – Tapetes coloridos do Corpo de Deus, Minho

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Imagem 3 - Festa da Coca em Monção, São Jorge e o Dragão

Imagem 4 - Procissão de Santo António em Lisboa

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Imagem 5 - Marchas Populares de Santo António, Lisboa

Imagem 6 – Tronos de Santo António, Lisboa

Page 67: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

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Imagem 7 – Cascata de São João das Fontaínhas, Porto

Imagem 8 – Quadros Bíblicos, Braga, O Rio Este

Page 68: Kachnáčová Eva, Algumas das festas religiosas em Portugal

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Imagem 9 – Gigantones e Cabeçudos

Imagem 10 – Dança do Rei David, Braga

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Imagem 11 - Procissão de São João, Braga (Batalha das Flores)

Imagem 12 - Cavalhada de São Pedro, Ribeira Grande, Açores


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