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Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba,de 1991. Tais informações estão...

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Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil* Microhabitats of Aedes albopictus (Skuse) in the Paraíba Valley region of the State of S. Paulo, Brazil Almério de Castro Gomes**, Oswaldo Paulo Forattini**, Iná Kakitani**, Gisela Rita A. M. Marques***, Cristiano C. de Azevedo Marques***, Daniel Marucci**, Marylene de Brito*** GOMES, A. de C. et al. Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba Estado de São Paulo, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 26: 108-18 , 1992. Objetivou-se determinar o nível de disseminação de Ae. albopictus na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil. Foram realizadas coletas de larvas e pupas em seis locais distintos, segundo transecto com 10 km de extensão. O alvo principal foi oco de árvores, tendo sido também incluídos artefatos antrópicos. As espécies Ae. terrens e Ae. albopictus foram as únicas do gênero Aedes presentes e, algumas vezes, coexistiram no mesmo microhabitat natural. A segregação de sete espécies da comunidade de oco variou de acordo com os macro e microhabitats examinados. Assim, a distribuição de Ae. albopictus envolveu as zonas rural, rural-urbana e urbana, porém a segunda área foi a mais preferida. Como fator favorável à infestação de Ae. albopictus na região, destacou-se a vacância de nichos ecológicos naturais resultante da influência antrópica. As chuvas foram relevantes no "input" de larvas e pupas e os ocos, com volumes superiores a 600 ml, foram os mais produtivos. A abundância desses dois estádios ocorreu nas estações verão-outono, sendo o pico máximo alcançado nos meses de março-abril. Essa sazonalidade foi comum em bambu experimental e recipientes artificiais. Os dados de temperatura média sugeriram a faixa de 23 a 17°C como o período mais favorável ao desenvolvimento larvário. Face a isso, a cepa de Ae. albopictus estudada parece ser oriunda da Ásia tropical e, portanto, se reveste de elevada importância epidemiológica pela possibilidade dessa espécie vir a exercer, além do dengue, papel vetorial para a febre amarela no Brasil. Descritores: Aedes. Ecologia de vetores. * Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP - Processo n o 89/0548-3. ** Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo - São Paulo, SP - Brasil. *** Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN). Taubaté, SP-Brasil. Separatas/Reprints: A. de C. Gomes - Av. Dr. Arnaldo, 715 - 01246-904 - São Paulo, SP - Brasil. Publicação financiada pela FAPESP. Processo Saúde Coletiva 91/4994-0 Introdução No que concerne às pesquisas sobre mosquito Culicidae vetores de doenças nas Américas, os es- tudos dos últimos cinco anos passaram a ter de le- var em conta a situação do Aedes albopicíus. Neste breve espaço de tempo, esse mosquito tem amplia- do significantemente sua distribuição geográfica, somando-se às outras importantes populações veto- ras de arboviroses em nosso meio (PAHO 16 ,1987 e Buralli e col. 2 , 1991). É sabido que Ae. albopictus tem origem asiática e seu espectro de distribuição espacial envolve gradiente que vai da floresta à área urbana. Seus microhabitats naturais são oco de árvore, internódio de bambu e gama diversificada de recipientes artificiais (Hawley 7 ,1988) sem, con- tudo, tornar-se tão dependente do homem como Aedes aegypti (Moore e col. 12 ,1988). A imigração de Ae. albopictus para o Continente americano tem envolvido latitude norte e sul (PAHO 16 ,1987) e seu sucesso no Brasil dependerá de adaptação às condições ecológicas peculiares da- qui ou de sua habilidade em competir pelas fontes de alimento e espaço. Neste sentido, apesar da suposta expectativa de sua fixação definitiva em território brasileiro, o prognóstico dos problemas que esta in- festação possa trazer continua sendo uma incógnita. Observações iniciais levadas a efeito no Estado de São Paulo (Brito e col. 1 , 1986 e Gomes e col. 5 , 1988) induzem à suposição de que esta espécie se encontre amplamente disseminada na região do Vale do Paraíba. Assim sendo, surgiu a necessidade de se avaliar essa situação, identificando as con-
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Page 1: Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba,de 1991. Tais informações estão registradas na Su-perintendência de Controle de Endemias (SU-CEN)-Regional Taubaté. Além

Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do Paraíba,Estado de São Paulo, Brasil*

Microhabitats of Aedes albopictus (Skuse) in the Paraíba Valley region of theState of S. Paulo, Brazil

Almério de Castro Gomes**, Oswaldo Paulo Forattini**, Iná Kakitani**, Gisela Rita A. M.Marques***, Cristiano C. de Azevedo Marques***, Daniel Marucci**, Marylene de Brito***

GOMES, A. de C. et al. Microhabitats de Aedes albopictus (Skuse) na região do Vale do ParaíbaEstado de São Paulo, Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 26: 108-18 , 1992. Objetivou-se determinar onível de disseminação de Ae. albopictus na região do Vale do Paraíba, Estado de São Paulo, Brasil.Foram realizadas coletas de larvas e pupas em seis locais distintos, segundo transecto com 10 km deextensão. O alvo principal foi oco de árvores, tendo sido também incluídos artefatos antrópicos. Asespécies Ae. terrens e Ae. albopictus foram as únicas do gênero Aedes presentes e, algumas vezes,coexistiram no mesmo microhabitat natural. A segregação de sete espécies da comunidade de ocovariou de acordo com os macro e microhabitats examinados. Assim, a distribuição de Ae. albopictusenvolveu as zonas rural, rural-urbana e urbana, porém a segunda área foi a mais preferida. Comofator favorável à infestação de Ae. albopictus na região, destacou-se a vacância de nichos ecológicosnaturais resultante da influência antrópica. As chuvas foram relevantes no "input" de larvas e pupas eos ocos, com volumes superiores a 600 ml, foram os mais produtivos. A abundância desses doisestádios ocorreu nas estações verão-outono, sendo o pico máximo alcançado nos meses demarço-abril. Essa sazonalidade foi comum em bambu experimental e recipientes artificiais. Os dadosde temperatura média sugeriram a faixa de 23 a 17°C como o período mais favorável aodesenvolvimento larvário. Face a isso, a cepa de Ae. albopictus estudada parece ser oriunda da Ásiatropical e, portanto, se reveste de elevada importância epidemiológica pela possibilidade dessaespécie vir a exercer, além do dengue, papel vetorial para a febre amarela no Brasil.

Descritores: Aedes. Ecologia de vetores.

* Pesquisa financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo (FAPESP - Processo no 89/0548-3.

** Departamento de Epidemiologia da Faculdade de SaúdePública da Universidade de São Paulo - São Paulo, SP -Brasil.

*** Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN).Taubaté, SP-Brasil.

Separatas/Reprints: A. de C. Gomes - Av. Dr. Arnaldo, 715 -01246-904 - São Paulo, SP - Brasil.

Publicação financiada pela FAPESP. Processo Saúde Coletiva91/4994-0

Introdução

No que concerne às pesquisas sobre mosquitoCulicidae vetores de doenças nas Américas, os es-tudos dos últimos cinco anos passaram a ter de le-var em conta a situação do Aedes albopicíus. Nestebreve espaço de tempo, esse mosquito tem amplia-do significantemente sua distribuição geográfica,somando-se às outras importantes populações veto-ras de arboviroses em nosso meio (PAHO16,1987 e

Buralli e col.2, 1991). É sabido que Ae. albopictustem origem asiática e seu espectro de distribuiçãoespacial envolve gradiente que vai da floresta àárea urbana. Seus microhabitats naturais são oco deárvore, internódio de bambu e gama diversificadade recipientes artificiais (Hawley7,1988) sem, con-tudo, tornar-se tão dependente do homem comoAedes aegypti (Moore e col.12,1988).

A imigração de Ae. albopictus para o Continenteamericano tem envolvido latitude norte e sul(PAHO16,1987) e seu sucesso no Brasil dependeráde adaptação às condições ecológicas peculiares da-qui ou de sua habilidade em competir pelas fontes dealimento e espaço. Neste sentido, apesar da supostaexpectativa de sua fixação definitiva em territóriobrasileiro, o prognóstico dos problemas que esta in-festação possa trazer continua sendo uma incógnita.

Observações iniciais levadas a efeito no Estadode São Paulo (Brito e col.1, 1986 e Gomes e col.5,1988) induzem à suposição de que esta espécie seencontre amplamente disseminada na região doVale do Paraíba. Assim sendo, surgiu a necessidadede se avaliar essa situação, identificando as con-

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dições ambientais favoráveis à sua adaptação na-quele Estado, bem como, em relação às barreirasnaturais impostas à infestação por esse mosquito.

Dado que Ae. albopictus é habitante natural dosocos das árvores na Ásia, sua presença em áreaurbana da região do Vale do Paraíba enseja oportu-nidade para saber se essa espécie terá o mesmocomportamento aqui. Assim sendo, o objetivo desteestudo dirigiu-se ao exame desses microhabitats ede artefatos antrópicos, encontrados em transectoque tem duas florestas e uma área urbana como li-

mites extremos. Simultaneamente, foi observadasua colonização em internódios de bambus experi-mentais. Além da descrição dos tipos de microhabi-tats utilizados por essa espécie, fez-se avaliação docomportamento sazonal de larvas e pupas emrelação aos ambientes e microhabitats preferidos.

Região estudada

A região do Vale do Paraíba, escolhida para apresente pesquisa, situa-se entre os dois maiores

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centros urbanos do Brasil, representados por SãoPaulo e Rio de Janeiro (Fig. 1). As interligações ter-restres existentes se fazem pela Rodovia PresidenteDutra (via Dutra) e Rede Ferroviária Federal (RFF).

A paisagem fisiográfica da região mostraplanície aluvial com altitude variando de 500-600m acima do nível do mar, enquanto que a partemais montanhosa corresponde à encosta ocidentalda Serra da Mantiqueira, à região nordeste da Ser-ra da Bocaina e, mais distante ainda, a Serra doMar (Secretaria de Economia e Planejamento20,1978). A cobertura florestal primária é do tipotropical perenifólia com araucária. Sua extensãofoi grandemente comprometida com as atividadesagropecuárias e com a urbanização. Portanto, oque subexiste são resíduos localizados nas partesmais íngremes do terreno montanhoso. No períodode 1960/80 a floresta foi reduzida de 35% e a pas-tagem ocupava 45% da área cultivada pelo café; alavoura temporária com apenas 10% e, a perma-nente, 2,5% (Marangone e Ortiz9, 1985). Há re-gistro também de aumento da mala secundária de-vido ao reflorestamento, sendo que, de 15.005 haem 1950 passou para 62.083 ha em 1980. Alémdisso, destaca-se a ocorrência comum de arbori-zação das cidades com Delonix regia (flambuaiã).

O clima é mesotérmico, de inverno seco comtemperatura média variando bastante em função dasinfluências topográficas. Os meses mais frios sãojunho e julho, com média inferior a 18C e os maisquentes, janeiro e fevereiro, com média superior a22°C. A distribuição das chuvas guarda relaçãotambém com o relevo. Assim sendo, as médias anu-ais da vertente oceânica está em torno de 2.500 mm;da escarpa da Mantiqueira 2.000 mm; da Serra daBocaina 1.900 mm e na planície de 1.500 mm. Osperíodos secos e úmidos alternados ocorrem respec-tivamente de abril a setembro e de outubro a março(Secretaria de Economia e Planejamento20,1978).

Da região do Vale do Paraíba foi escolhida, parao presente estudo, a localidade de Tremembé, situ-ada a 22°57' de latitude sul e 45°33' de longitudeoeste (Fig. 1). A taxa de urbanização do município éde 80% e, como conseqüência, já existe conurbaçãoTremembé/Taubaté, com a inclusão, em breve, dePindamonhangaba. Mesmo assim, chácaras e sítiossão comuns no município, os quais estão servidospor rede de eletrificação e de abastecimento deágua. No presente estudo, este ambiente foi consi-derado como sendo zona rural-urbana, enquantoque a rural correspondeu aos locais mais afastadosonde predomina a criação de gado ou pastagem.

Os locais fixos de coletas foram distribuídosem transecto de aproximadamente 10 km de ex-tensão (Fig. 1). Cada um dos pontos investigadosforam os seguintes:

Local A - Foi escolhida faixa da cidade de Tre-

membé com cerca de 700 m de extensão. Foraminvestigados o peridomicílio de oito habitações depadrão social elevado; um terreno utilizado comogaragem dos veículos da prefeitura local e umapraça bem arborizada, Todas as residências pos-suíam grandes quintais contendo árvores que pro-duziam sombras (Fig. 1).

Local B - Duas chácaras com dimensões de3.750 e 1.500 m2 foram escolhidas como represen-tantes da área rural-urbana. Uma das chácaras es-tava habitada, enquanto a outra estava completa-mente abandonada. A vegetação dessas chácarasformava conjunto com formação de extensas som-bras. Os limites adjacentes laterais também eramchácaras com características semelhantes (Fig. 1).

Local e - A escolha recaiu sobre mata se-cundária com dimensões de 3 ha e localizadapróximo à margem do rio Paraíba (Figs, 1 e 3C).Este local estava circundado por pastagens e váriasolarias muito primitivas. Os indivíduos arbóreoseram de pequeno e médio porte, e várias habi-tações humanas formavam a paisagem domiciliar.

Local D - Um conjunto de árvores de médioporte (Cassia) formava alameda de acesso a umhotel fazenda. Os terrenos laterais à alameda ser-viam como pastagem para bovinos e eqüinos, nosquais haviam dois estábulos e um lago abandona-do (Figs, 1 e 3D).

Local E - Uma mata primária residual distandoapenas 2,5 km do hotel fazenda acima referido foiutilizada como um dos pontos de observações sil-vestres do estudo. Isolada e com ondulações queproduziam declives de várias intensidades, asárvores eram representantes da flora primária nativada região. Sua extensão era de 42,3 ha (Figs, 1 e 3E).

Local F - Este foi o ponto mais distante deCentro urbano da cidade de Tremembé. Consti-tuiu-se em mata primária com área de 68 ha e si-tuada à margem da rodovia SP 123 que liga Cam-pos do Jordão ao Município de Tremembé e viaDutra (Figs, 1 e 3F). Semelhantemente à mata an-terior, apresentava declives variáveis e poucas al-terações. A presença de representantes de arau-cária e outras árvores de grande porte, formava acobertura florestal desse local.

Quanto aos antecedentes que justificaram a es-colha do Vale do Paraíba para sediar o presente es-tudo, estão o registro de presença de Ae. albopic-tus, envolvendo 32 municípios da região, e 610casos suspeitos de dengue não autóctones, com 85deles confirmados entre 1987 e primeiro trimestrede 1991. Tais informações estão registradas na Su-perintendência de Controle de Endemias (SU-CEN)-Regional Taubaté. Além disso, a infestaçãodomiciliar já atingiu 20 municípios, sendo que em12 a taxa de urbanização é superior a 80% e so-brepõem ao eixo da Via Dutra e RFF.

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Material e Método

O procedimento sistemático das observaçõesimplicou a escolha dos ocos das árvores em todosos locais anteriormente mencionados. Nessa opor-tunidade foi determinada a capacidade volumétri-ca e a profundidade individual de cada oco, colo-cando água destilada no oco até o limite máximopermitido, seguido da introdução de régua atéatingir a parte mais profunda. A retirada completada água dava a medida do volume máximo decada oco e a régua a profundidade. A localizaçãodos ocos estudados distribuiu-se preferencial-mente na região correspondente ao ecótono e emraio inferior a 100 m para o interior da mata.Ocos que retiveram água neste exame foram nu-merados e visitados sistematicamente durante 12meses e com intervalo de tempo não uniformepara as seis localidades.

O exame de cada oco para a determinação dainfestação por mosquito Culicidae foi feito sifo-nando a água nele contida através de auxílio debomba de sucção controlada manualmente (Fig.2). Para certificar-se do número de formas imatu-ras existentes no microhabitat, foram feitas duaslavagens seguidas à retirada da água original, comágua destilada, segundo técnica preconizada porLounibos e col.8 (1981). Após contagem de cadaestágio de desenvolvimento das formas imaturasou exame negativo, as larvas e a primeira água fo-

ram retornadas ao oco. Antes porém, foi retiradaamostra de larva não superior a 5% do númeroexistente, para que fosse confirmado no labo-ratório a identificação feita no campo.

Nas duas chácaras foram colocados internódiosde bambu para verificar se Ae. albopictus iria uti-lizá-los como criadouros. Dez unidades foram uti-lizadas, sendo que 5 tinham 20 cm de profundidadee outros 5 com 40 cm. Todos eram abertos e ti-nham diâmetro da boca correspondente a 10,5 cm.Nos menores foi mantido volume de 500 ml e nosmaiores 1.000 ml. A cada exame desses micro-habitats, o volume foi quase sempre corrigido e, naconduta para exame larvário, seguiu-se o mesmoprocedimento empregado nos ocos de árvores.

Na área urbana a pesquisa de formas imaturasocorreu nos ocos das árvores e artefatos antrópicosde diversa natureza. O material encontrado foitodo transportado para o laboratório.

O ritmo de atividade levado a efeito nas seis lo-calidades foi de 4-6 dias para as chácaras, quinze-nais para as matas e alamedas e mensais para aárea urbana.

Para o cálculo da produtividade sazonal oumensal de formas imaturas foram escolhidos cin-co ocos, os quais foram responsáveis pela pro-dução de aproximadamente 70,5 e 88,2%, respec-tivamente de larva (L 1 ) e pupa. O rendimentodesses indivíduos por coleta foi calculado atravésda média geométrica de Williams, transformadas

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em porcentagem (Forattini e col.4, 1981). Oíndice de Breteau utilizado no presente estudo foifornecido pela SUCEN-Regional Taubaté. Osíndices pluviométricos e as temperaturas médiasmensais foram fornecidas pelo Departamento deÁguas e Energia Elétrica (DAEE), estação cli-mática de Pindamonhangaba, situada a 12-15 kmde distância dos pontos investigados.

Resultados

Microhabitats naturais: Foram catalogados 90ocos de árvores e investigados sistematicamentedurante um ano. Mostraram-se muito heterogêneose, para facilitar a análise qualitativa e quantitativada produção de larvas e pupas, foram agrupadosem três categorias (Tabela 1). De forma geral, es-ses microhabitats foram relativamente pequenos,pouco freqüentes, e muitos recebendo insolaçãodireta (Figs. 3A e B). Predominou o tipo aberto,formado pela bifurcação do caule e sujeito aoacúmulo de folhas mortas (Fig. 3A). A decompo-sição dessas folhas, provocada por microorganis-mos diversos, e a presença de formas imaturas deinsetos não Culicidae produziram, muitas vezes,cheiro fétido na água do criadouro, particular-mente quando as chuvas foram bem espaçadas.

Formas imaturas de Culicidae: Foram identifi-cadas larvas e pupas de culicídeos em todos os mi-crohabitats examinados, pertencentes às seguintesespécies: Ae. albopictus, Ae. terrens, Culex quin-quefasciatus, Cx. dolosus, Haemagogus leucoce-laenus, Cx. irridiscens e Toxorhynchites sp. Ae. al-bopictus foi assinalado em oco de árvore dosseguintes gêneros: Delonix (flambuaiã), Persea(abacateiro), Tibouchina (quaresmeira), Bauhinia(mão de vaca), Cassia (Cigarreira), Clitoria e Stil-lingia. Na Tabela 2 constam os locais onde Ae. al-bopictus foi encontrado nos respectivos micro-

habitats pesquisados. Neste particular, os micro-habitats existentes na cidade e chácaras (Locais Ae B) tiveram a colonização dessa espécie em nívelde até 100%. No geral, Ae. albopictus esteve pre-sente uma ou mais vezes em cerca de 1/3 dos mi-crohabitats naturais pesquisados. Quanto às cate-gorias aqui consideradas, a Tabela 2 registra que amaior positividade de Ae. albopictus ocorreu emocos com volume superior a 600 ml e profundi-dade entre 7-15 cm. Contudo, a espécie foi capazde colonizar todos os tipos, desde que contivessemágua por algum tempo, curto ou prolongado. Oprimeiro caso, refere-se à presença de larvas embrácteas de palmeira caídas ao solo.

Composição nos microhabitats: Ae. albopictusfoi habitante solitário na maioria dos ocos existentesnos locais A e B, enquanto que no D (Alameda) es-teve sempre associado a Ae. terrens (Tabela 3). Em19 microhabitats naturais investigados na mata se-cundária (Local C), apenas em quatro deles situadosno ecótono e com número reduzido de larvas foiconstatada sua presença. Nas matas primárias (E, F)esta espécie não foi detectada. Nesses doisambientes verificou-se as seguintes composições:Ae. terrens/Sabethes purpureus; Ae. terrens/Cx. do-losus; Ae. terrens/Toxorhynchites sp; Ae. terrenslHg. leucocelaenus/Toxorhynchites sp. e Hg. leuco-celaenus/Toxorhynchites sp. Os artefatos an-trópicos das chácaras e da área urbana foram osúnicos com presença de formas imaturas de Ae. al-bopictus e Cx. quinquefasciatus. Esses microhabi-tats foram em número e tipo extremamente diversi-ficados, conforme descrição da PAHO 16 (1987).

Composição nos bambus: formas imaturas deAe. albopictus e Cx. quinquefasciatus foram assi-naladas nesse tipo de microhabitat (Tabela 3). Aprimeira espécie foi mais regularmente presentenas coletas, e somente em raras vezes foi constata-da a ocorrência simultânea das duas espécies (Ta-bela 3). O bambu com 40 cm e com 1.000 ml foi

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proporcionalmente o microhabitat mais procuradodo que o de 20 cm.

Condições climáticas: as condições climáticasrepresentadas pela temperatura media do macro-habitat, chuva e sua influência no volume de águaestocado em cinco ocos de árvores, constam daTabela 4.

Durante o período das chuvas foi comum o en-contro de até 100% dos ocos contendo água . Fora

desse período, os microhabitats foram gradativa-mente secando. Entretanto, mesmo com a reduçãodos índices pluviométricos, alguns ocos retiveramágua de chuva em volume suficiente para garantiro desenvolvimento de Ae. albopictus. Assim sen-do, e também em função da constituição indivi-dual de cada um, os microhabitats alternaram-seentre secos e contendo algum volume de água,particularmente, no período de julho a novembro

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(Tabela 4). Notou-se, ainda, que durante as chuvasmais pesadas e prolongadas houve aumento donúmero de criadouros efêmeros de Ae. albopictus,como foi o caso de tocos de bambu, brácteas depalmeiras e pequenos recipientes artificiais. NaTabela 4 também estão registradas as temperaturasmédias mensais do macroambiente.

Produtividade de formas imaturas: no períodode janeiro a maio os microhabitats com volumesentre 200-600 ml foram positivos com até 100 for-mas imaturas por coleta, enquanto que os abaixosde 200 ml raramente ultrapassavam o número de

10 indivíduos. Fora deste período, somente os pri-meiros foram capazes de apresentar positividadede 1 a 25 exemplares em apenas três oportuni-dades. Com relação aos criadouros de Ae. albopic-tus, com volume acima de 600 ml, observou-seque de janeiro a maio o rendimento da coleta/ocoesteve nos limites de 50 a 900 formas imaturas,sendo que o número médio esteve em torno de250. Esclarece-se que esses valores somente foramalcançados quando os níveis de água dos ocos nãoforam inferiores a 3/4 de sua capacidade máxima,e que o número elevado de formas imaturas se de-

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veu à predominância invariável de L1 e L2. Nosmeses de julho a novembro a redução do númerode forma imaturas foi extremamente elevada, mes-mo que chuvas eventuais elevassem o nível deágua dos microhabitats naturais.

A produção de formas imaturas para Ae. albo-pictus através do bambu experimental indicou ha-ver sobreposição nos meses observados para osocos das árvores. Embora o bambu de 1.000 ml ti-vesse apresentado resultado absoluto superior aode 500 ml, o número de indivíduos por coleta fi-cou entre 200 e 300. Já no período de julho a no-vembro, a positividade foi assinalada apenas trêsvezes, com valores de 4,15 e 22 formas imaturas.

A freqüência sazonal calculada apenas para operíodo de dezembro a junho e a referente às lar-vas de primeiro estádio (L1) e pupas constam daFigura 3. Assim sendo, a média de Williams paraAe. albopictus foi calculada a partir dos resultadosobtidos nos cinco microhabitats mais procuradospelo mosquito.

Finalmente, a espécie predominante no ambientenatural foi Ae. terrens e sua maior freqüência ocor-reu nos meses de janeiro a maio. Foram porém re-gistrados encontros esporádicos nos meses de julho,agosto e setembro.

Discussão

Na faixa tropical terrestre existem várias espé-cies de mosquito Culicidae cujos estágios imaturosocupam ocos de árvore (Forattini3, 1962 e Louni-bos e col.8, 1981). Ae. albopictus é notável habi-tante desses microhabitats e também de inúmerosartefatos antrópicos (Hawley7,1988).

No Brasil, os estudos sobre a comunidade deocos de árvore têm sido muito negligenciados. Po-rém, como houve interesse em conhecer os micro-habitats de Ae. albopictus na região do Vale doParaíba e as inter-relações desta espécie com ou-tras autóctones, que dividem igualmente o mesmonível trófico, tornou-se possível explicitar algumasinformações sobre o assunto.

Levando-se em conta a segregação espacial deculicídeos nas áreas estudadas, verificou-se a pre-sença de sete populações Culicidae, sendo que ogênero Aedes esteve presente apenas com Ae. ter-rens e Ae. albopictus. Essa referida segregação sedeveu às preferências para tipo de macro e micro-habitats, pois as espécies autóctones foram assina-ladas quase que exclusivamente no ambiente flo-restal primário. No caso do Ae. terrens, seu raio deação se estendeu até a zona rural (Locais e e D).Neste particular, o encontro anterior foi relatadopor Neves e Faria15 (1977) em ocos de árvore dasmatas periféricas de Belo Horizonte. Ae. albopic-

tus preferiu colonizar microhabitats existentes naschácaras e na cidade (Tabela 2), porém em baixafreqüência e número restrito de indivíduos que al-cançaram a zona rural (Locais e e D). Tais acha-dos concordam com os dados da literatura, sobretu-do no que diz respeito a sua maior preferência porárea rural-urbana ou suburbana (Hawley7,1988).

Foram observadas associações interespecíficasde Ae. albopictus com espécies autóctones (Tabela3). Porém, essa espécie foi predominantementehabitante solitário dos microhabitats naturais daschácaras e da cidade, com 74,5 e 22,5% de positi-vidade por coleta, respectivamente. A exceçãoocorreu na Alameda (Local D) onde esteve sempreassociada com Ae. terrens em 6,4% das coletas(Tabela 3). Não obstante a ocorrência desse fato,os baixos valores de sobreposição aqui observadossugerem a quase inexistência de competidores. Suaassociação com Ae. terrens não evidenciou caráterde competição substitutiva. "A priori", essa cohabi-tação pareceu ser similar à verificada entre Aedestriseriatus e Ae. albopictus em Louisiana, EUA(Schreiber e col.19,1988). Por outro lado, o desapa-recimento da discreta infestação de Ae. aegypti naregião, após detecção de Ae. albopictus, não foi in-vestigada, mas levando-se em conta que a substi-tuição daquele mosquito por este, em algumas lo-calidades americanas ter sido atribuída, em parte, àmelhor adaptação de Ae. albopictus (Moore ecol.12, 1988), pode-se analogamente admitir queeste aspecto deva estar ocorrendo na região estuda-da. Na Tailândia, Ae. albopictus foi encontrado as-sociado com Aedes seatoi (Harrison e col.6,1972).A PAHO16 (1987) cita vários relatos similares naÁsia cujas populações implicadas foram, Ae. ma-layensis, Ae. pseudoalbopictus, Ae. japoniensis eAe. togoi.

Na região do Vale do Paraíba, a infestação deAe. albopictus guardou relação direta com a ativi-dade antrópica, uma vez que a comunidade Culici-dae de ocos de árvore foi praticamente eliminada.Daí, resultando a vacância de nichos ecológicosnaturais. Assim sendo, se Ae. albopictus não estáencontrando competidores autóctones o processopara sua adaptação tornou-se mais favorecido,quer pelas condições ecológicas referidas querpela sua flexibilidade genética (Rai17, 1986). Eco-logicamente, isto significa admitir que a infestaçãodesse mosquito no Vale do Paraíba ocorre sem o-brigatoriedade de novas inter-relações. Essafeição, em parte, parece justificar a rápida dissemi-nação de Ae. albopictus no Estado de São Paulo,conforme relato de Buralli e col2. (1991). Poroutro lado, sua ausência no ambiente florestalprimário poderá ser questão de tempo ou de barrei-ras naturais ainda não vencidas.

Não obstante o encontro de formas imaturas de

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Ae. albopictus em gama diversificada de micro-habitats naturais, os ocos com volumes superioresa 600 ml e profundidades entre 7 e 15 cm foram ospreferidos (Tabela 2). Aliás, a maior produção delarvas e pupas nesses criadouros sugere ter havidovárias oviposições, sobretudo, por eclosões quepossibilitaram a coleta, por vezes, de até 900 lar-vas de primeiro estádio. Tal característica é com-patível com o padrão Stegomyia cujas eclosões aoprimeiro estímulo podem alcançar taxas de 50 a95% (Lounibos e col.8, 1981). Além disso, estacondição favorece também a existência de cria-douros com baixa estocagem de água, comoaqueles com volumes até 200 ml (Tabela 2). Daí arazão pela qual Lounibos e col.8 (1981) conside-raram que a ocupação de ocos de árvores, comgrandes volumes "versus" pequenos, não estão ne-cessariamente correlacionados com qualquerpadrão de eclosão. Sinsko e Craig21 (1981) obser-varam que a produtividade de 23% dos ocos cor-responderam a 83% de pupa de Ae. triseriatus, en-quanto que Yates22 (1979) observou que o númerode adultos emergentes de Aedes geniculatus foiobtido em criadouro com grande volume de água.Lounibos e col.8 (1981) verificaram que a cepa sil-vestre de Ae. aegypti de Makabara (África) é favo-recida pelos grandes ocos, Mori13 (1979) notouque ovos de Ae. albopictus eclodem simultanea-mente após chuva e, por vezes, mais de 600 larvaspuderam ser vistas em garrafas de 500 ml. No pre-sente estudo, apenas 17,7% dos ocos que tinhamvolumes superiores a 600 ml e limite máximo de5.455 ml, foram assinalados com larvas e pupasde Ae. albopictus (Tabela 2). O resultado obtidocom internódio de bambu com volumes de 500 e1.000 ml evidenciaram taxas de positividade de57,7 e 62,5%, respectivamente. Dessa forma, estainformação complementar parece confirmar ten-dência da espécie para microhabitats com grandesvolumes de água, particularmente pela condiçãofavorável à manutenção de água por período detempo mais prolongado. Ademais, a oviposiçãoem microhabitats com baixa chance de produziradultos poderá significar característica adicionalde excelente invasor.

De maneira geral, foi coincidente o padrão deabundância estacionai de culicídeos em micro-habitats naturais com a época das chuvas (Tabela 4e Fig. 4). Porém, os meses de chuvas mais pesadasnão foram simultâneos com o período produtivomais significativo para Ae. albopictus. E, issoporque, como a Figura 4 mostra que as eclosõestiveram início no mês de dezembro e o pico máximode larvas e pupas no período de março-abril, quandoo índice pluviométrico no mês de abril correspon-deu à metade da ocorrida em fevereiro (Tabela 4).De julho a novembro, larvas de Ae. albopictus for-

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am coletadas em quantidade e em número reduzidode ocos. Comparativamente, o resultado do bambuexperimental foi semelhante, exceto quanto ao picoisolado de pupa no mês de fevereiro, quando ocor-reu maior índice pluviométrico, i. é., 156,2 mm.Sinsko e Craig 21 (1981) observaram que as chuvaspesadas influenciaram diretamente na produção depupas de Ae. triseriatus, o que coincide parcial-mente com o comportamento da cepa paulista deAe. albopictus. Assim sendo, os resultados obtidosno presente trabalho confirmam a estação verão eoutono como períodos de "input" de larvas e pupas.Da mesma forma, os resultados conseguidos no am-biente urbano através do índice de Breteau e nospresentes resultados obtidos foram sazonalmente si-multâneos (Fig. 4 ). Em Singapura, Ae. albopictusapresentou três picos estacionais, ou seja, dezem-bro, abril-maio e agosto-setembro (PAHO16,1987).Portanto, é lícito pensar que esse comportamentopadrão apresentado pela cepa paulista, embora comdivergência sazonal, sugira origem da Ásia tropical.

Quanto à relação da temperatura média do ma-croambiente com o desenvolvimento larvário, ve-rificou-se que o aparecimento desses indivíduosteve início a 23°C, mas com significativo desen-volvimento até 17°C. Igualmente ao ocorrido comas chuvas, a estação verão, que foi a mais quente,produziu menor número de larvas do que o outono(Tabela 4 e Fig. 4). Portanto, a faixa mais adequa-da ao desenvolvimento larvário pareceu situar-senos limites de 23 a 17°C. Tal resultado é oposto aoverificado para cepas com distribuição no Hemis-fério Norte (Nawrocki e Hawley14, 1987). Corro-bora com aquela situação, as observações labora-toriais que revelaram a incapacidade aparente dacepa brasileira de Ae. albopictus para realizar dia-pausa (Craig Jr. apud Moore e col.12, 1988). Con-seqüentemente, essas informações sugerem, tam-bém que Ae. albopictus do Vale do Paraíba sejacepa tipicamente tropical.

Do ponto de vista epidemiológico, a infestaçãoe adaptação de Ae. albopictus em distintos gra-dientes ecológicos situados no transecto estudado,assemelha-se ao observado no sudeste asiático.Por isso, há possibilidade desta espécie preencherelo necessário ao intercâmbio de agentes sel-váticos com o ambiente urbano e vice-versa ouservir de reservatório vertical de vírus importados,face às comprovações experimentais de Mitchell eMiller10, 1990 e Rosen18, 1987. Por outro lado,essa infestação também ocorre entre os doismaiores centros demográficos e econômicos doBrasil, com intenso intercâmbio rodoviário, ferro-viário e aéreo. Logo, a comprovação clínica de ca-sos importados de dengue na região, não deixa deser ameaça e, nesse sentido, são atuais as preocu-pações referidas por Monath11 (1986).

Conclusões

Diante das considerações e análise levadas aefeito neste trabalho pode ser possível emitir as se-guintes conclusões:

1. A cepa de Ae. albopictus presente no Vale doParaíba mostrou qualidade de excelente invasor,ao utilizar intensamente a vacância de nichosecológicos naturais, sem deixar de lado a ocu-pação de inúmeros outros de natureza antrópica.

2. A área rural-urbana (chácaras) pareceu ser oambiente ecológico preferido, semelhantemente aoobservado no sudeste da Ásia.

3. A abundância de larvas e pupas ocorreu nasestações verão e outono, com o pico máximo cor-respondente ao mês de abril.

4. O presente conhecimento conduz à suposiçãode que a cepa de Ae. albopictus presente no Valedo Paraíba, seja originária da Ásia tropical.

5. Epidemiologicamente, essa infestação repre-senta impacto à saúde pública, face ao risco poten-cial de Ae. albopictus vir a exercer, além do dengue,papel vetorial para diversas outras arboviroses, taiscomo febre amarela e outras, até então consideradaexclusivamente selvática cm nosso meio.

Agradecimentos

À SUCEN pelas facilidades proporcionadas,sobretudo pela sua equipe de campo, e ao Sr.Daniel C. Flores, pela execução do mapa da regiãoestudada.

GOMES, A. de C. et al. [Microhabitats of Aedes albo-pictus (Skuse) in the Paraíba Valley region of the Stateof S. Paulo, Brazil]. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 26:108-18, 1992. The objective of this study was the deter-mination of extent of the spacial distribution of Aedesalbopictus in the Paraíba River Valley, State S. Paulo,Brazil. Thus, collections of larvae and pupae mosqui-toes were carried out at six sites distributed along a tran-section with a 10-km extension. The target was the tree-holes but artificial containers were also used in thisinvestigation. Aedes terrens and Ae. albopictus were theonly species of genus Aedes present in the treeholesmentioned. The segregation of seven species of the tree-hole community was undertaken in the light of macro-habitat and microhabitat features. Thus, the distributionof Ae. albopictus was found to cover the rural, rural-urban and urban zones, but the rural-urban held the pref-erence. Ae. albopictus never present in the residual andprimary forest. The favorable factor to infestation withAe. albopictus in lhe Paraíba Valley seems to have beenthe large number of natural niches made vacant by hu-man influence. The rain has been important in the pro-duction of larvae and pupae, but the rainfall period doesnot coincide with the maximum production on them.

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The treeheles whose volume exceeded 600 ml were themost productive breeding places. The abundance ofthese two stages occurs in the summer and autunm.However, the highest peak was observed in the monthsof March and April. These seasonal variations werefound to be common in both the bamboo trap and the ar-tificial container. The temperature data suggest a limit offrom 17 to 23°C for the best development of larvae. Inthe light of this, the strain of Ae. albopictus studiedseems to have originated in tropical Asia. Just as hap-paned with Ae. aegypti it may become an important epi-demiological vector for the dengue fever and providelinks for yellow fever transmission in Brazil.

Keywords: Aedes. Ecology, vectors.

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Recebido para publicação em 26/8/1991Aprovado para publicação em 26/3/1992


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