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Capítulo VIII Biocombustíveis líquidos para transporte: etanol ......Produção e Uso do...

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42 Apoio Energias renováveis alternativas Fatores como segurança energética, melhoria da qualidade do ar em grandes cidades e até mesmo o aumento da oferta de empregos por meio do cultivo da biomassa têm levado alguns países a adotarem políticas de incentivo à produção e uso de biocombustíveis. Principalmente em países em desenvolvimento estas iniciativas, desde que sejam realizadas de forma sustentável e não haja competição com alimentos, podem reduzir a pobreza, sendo uma oportunidade para desenvolvimento rural, além de reduzir a dependência de petróleo importado e aumentar o acesso a serviços de energia moderna. Os biocombustívei englobam uma grande variedade de matérias-primas, tecnologias de conversão e usos finais. De forma geral, são mais utilizados no setor de transportes e para geração de eletricidade. Entre os biocombustíveis líquidos, destacam-se o etanol e o biodiesel. Biodiesel O biodiesel é definido pela American Society for Testing Materials (ASTM) como um “combustível líquido sintético, originário de matéria-prima renovável e constituída pela mistura de ésteres alquílicos de ácidos graxos de cadeias longas, derivados de óleos vegetais ou gorduras animais”. Também pode ser definido como “derivado de biomassa renovável que pode substituir, parcial ou totalmente, combustíveis de origem fóssil em motores a combustão interna ou Por Vanessa Garcilasso, Beatriz Lora, Renata Grisoli e Suani Coelho* Capítulo VIII Biocombustíveis líquidos para transporte: etanol, biodiesel e tecnologia de segunda geração para geração de outro tipo de energia”, de acordo com a definição para biodiesel adotada na Lei nº 11.097, de 13 de janeiro de 2005, que o introduziu na matriz energética brasileira. A partir da lei mencionada, foi determinada a adição de biodiesel ao diesel mineral consumido no país. Segundo o governo federal, essa estratégia tinha por objetivo promover o desenvolvimento regional, gerar emprego e renda no campo, além de reduzir a necessidade de importação de diesel. A partir da publicação da lei, até o ano de 2007, a mistura de 2% (B2) de biodiesel ao diesel mineral foi autorizada de forma voluntária. O período de obrigatoriedade da mistura B2 iniciou-se em janeiro de 2008, tendo de passar a 5% (B5) até 2013. No segundo semestre de 2008, o governo elevou a mistura para 3% (B3) e no segundo semestre de 2009 para 4% (B4). Embora a mistura B5 estava prevista inicialmente para vigorar em 2013, durante o ano de 2009 esse prazo foi revisto, antecipando a obrigatoriedade de B5 a partir de janeiro de 2010, conforme Resolução nº 6/2009 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 26 de outubro de 2009. As matérias-primas vegetais utilizadas para a produção do biodiesel são derivadas de óleos vegetais como soja, mamona, colza (canola), palma, girassol, entre outros, e as de origem animal, provenientes do sebo bovino, suíno e de aves. Como alternativa
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Fatores como segurança energética, melhoria da

qualidade do ar em grandes cidades e até mesmo o

aumento da oferta de empregos por meio do cultivo da

biomassa têm levado alguns países a adotarem políticas

de incentivo à produção e uso de biocombustíveis.

Principalmente em países em desenvolvimento

estas iniciativas, desde que sejam realizadas de forma

sustentável e não haja competição com alimentos,

podem reduzir a pobreza, sendo uma oportunidade para

desenvolvimento rural, além de reduzir a dependência

de petróleo importado e aumentar o acesso a serviços

de energia moderna.

Os biocombustívei englobam uma grande

variedade de matérias-primas, tecnologias de

conversão e usos finais. De forma geral, são mais

utilizados no setor de transportes e para geração

de eletricidade. Entre os biocombustíveis líquidos,

destacam-se o etanol e o biodiesel.

Biodiesel O biodiesel é definido pela American Society

for Testing Materials (ASTM) como um “combustível

líquido sintético, originário de matéria-prima renovável

e constituída pela mistura de ésteres alquílicos de

ácidos graxos de cadeias longas, derivados de óleos

vegetais ou gorduras animais”. Também pode ser

definido como “derivado de biomassa renovável que

pode substituir, parcial ou totalmente, combustíveis

de origem fóssil em motores a combustão interna ou

Por Vanessa Garcilasso, Beatriz Lora, Renata Grisoli e Suani Coelho*

Capítulo VIII

Biocombustíveis líquidos para transporte: etanol, biodiesel e tecnologia de segunda geração

para geração de outro tipo de energia”, de acordo com

a definição para biodiesel adotada na Lei nº 11.097,

de 13 de janeiro de 2005, que o introduziu na matriz

energética brasileira.

A partir da lei mencionada, foi determinada a

adição de biodiesel ao diesel mineral consumido no

país. Segundo o governo federal, essa estratégia tinha

por objetivo promover o desenvolvimento regional,

gerar emprego e renda no campo, além de reduzir a

necessidade de importação de diesel.

A partir da publicação da lei, até o ano de 2007,

a mistura de 2% (B2) de biodiesel ao diesel mineral

foi autorizada de forma voluntária. O período de

obrigatoriedade da mistura B2 iniciou-se em janeiro de

2008, tendo de passar a 5% (B5) até 2013. No segundo

semestre de 2008, o governo elevou a mistura para 3%

(B3) e no segundo semestre de 2009 para 4% (B4).

Embora a mistura B5 estava prevista inicialmente para

vigorar em 2013, durante o ano de 2009 esse prazo foi

revisto, antecipando a obrigatoriedade de B5 a partir

de janeiro de 2010, conforme Resolução nº 6/2009

do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE),

publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 26 de

outubro de 2009.

As matérias-primas vegetais utilizadas para a

produção do biodiesel são derivadas de óleos vegetais

como soja, mamona, colza (canola), palma, girassol,

entre outros, e as de origem animal, provenientes

do sebo bovino, suíno e de aves. Como alternativa

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Figura 1 – Participação das matérias-primas utilizadas para a produção de biodiesel no Brasil. Fonte: ANP, 2012.

Outros*: equivale a 0,29% de gordura de porco, 0,71% de óleo de fritura usado e 1,88% de outros materiais graxos.

de matéria-prima inclui-se o óleo utilizado para a cocção de

alimentos (fritura).

Em abril de 2012, no Brasil, o óleo de soja representou 77,35%

da matéria-prima utilizada para produzir biodiesel, seguido por

16,11% de gordura bovina e 3,66% de óleo de algodão, conforme

mostra a Figura 1 (ANP, 2012).

Os produtores da cadeia de soja exerceram papel fundamental

para promoção do biodiesel, pois, quando o programa foi lançado,

esse setor de produção de óleo de soja era o que se encontrava mais

bem preparado para atender o mercado, uma vez que já produzia

em escala e era competitivo no mercado internacional.

Com relação às outras matérias-primas, o biodiesel produzido

a partir de óleo que apresenta viscosidade elevada, como o

óleo da mamona, pode comprometer o bom desempenho e a

durabilidade dos motores. Por isso, esses tipos de óleos devem

ser misturados a outros óleos para obtenção de melhor qualidade

no produto final. É importante lembrar que a Resolução 7/2008

da ANP estabeleceu limites para a viscosidade do biodiesel puro

(B100), de 3,0 mm2/s a 6,0 mm2/s, revogando a Resolução 42/2004

dessa mesma agência, que não fixava limites de viscosidade para

o B100, mas estabelecia que a mistura teria de atender aos limites

de viscosidade do diesel mineral. Dentre os diversos métodos

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utilizados para a produção de biodiesel, destacam-se os processos

de transesterificação e de esterificação.

A transesterificação dos óleos vegetais ou gordura animal com

álcool é a forma mais usual de produção de biodiesel. A reação de

transesterificação é a etapa de conversão, propriamente dita, do

óleo vegetal ou gordura animal, em ésteres metílicos ou etílicos

de ácidos graxos, que constitui o biodiesel. A reação acontece na

presença de um catalisador ácido, básico ou enzimático, e de um

álcool de cadeia curta (metanol – tóxico e originário de fontes

fósseis ou etanol – álcool de cana, mais ecológico e propício para

seu uso no Brasil).

De modo geral, a transesterificação é um processo químico

cuja finalidade é modificar a estrutura molecular do óleo vegetal ou

gordura animal, deixando-os com as mesmas características físico-

químicas do óleo mineral. A grande vantagem do óleo ou gordura

transesterificados é a possibilidade de substituir o diesel mineral

sem que haja necessidade de modificar os motores.

Além do biodiesel, no processo de transesterificação, há a

produção de glicerina, como subproduto, que pode ser utilizada,

principalmente, na indústria de cosméticos. A esterificação

consiste na obtenção de éster (biodiesel) a partir da reação entre

um ácido graxo e um álcool de cadeia curta (metanol ou etanol),

com formação de água como subproduto.

Neste processo, para sintetizar um éster, um ácido graxo

reage com um álcool, produzindo o éster e água. Na reação de

esterificação não há formação de glicerina. Esta reação, quando

processada em temperatura ambiente, pode ser lenta, mas pode ser

acelerada com o emprego de aquecimento e/ou catalisador, que

pode ser recuperado ao final da reação.

Seis anos após o lançamento do Programa Nacional de

Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), o Brasil se consolidou como

o quarto maior produtor de biodiesel do mundo. A produção

brasileira em 2011 foi de 2,7 milhões de m3, enquanto os Estados

Unidos e a Alemanha produziram, cada um, 3,2 milhões de m3, e

a Argentina ficou na terceira posição, com uma produção de 2,8

milhões de m3.

Além desse excelente resultado em 2010, em função do

crescimento da demanda de biodiesel no país em 2011, o Brasil

se tornou o principal mercado consumidor de biodiesel no mundo.

Atualmente existem 64 plantas produtoras de biodiesel autorizadas

pela ANP para operação no país, correspondendo a 19.533,95 m3/

dia de capacidade total autorizada.

Há ainda dez novas plantas de biodiesel autorizadas para

construção e oito plantas autorizadas para ampliação da

capacidade. Com o término das obras e autorização para operação,

a capacidade autorizada poderá aumentar em 4.775,79 m3/dia.

Existem também seis solicitações de autorização para construção

de novas plantas produtoras de biodiesel e dez solicitações de

autorização para ampliar a capacidade de plantas já existentes

(ANP, 2012).

A produção e o uso do biodiesel no Brasil propiciam o

desenvolvimento de uma fonte energética sustentável sob os

aspectos ambiental, econômico e social e também trazem a

perspectiva da redução das importações de óleo diesel.

Além da diminuição da dependência do diesel importado,

o biodiesel traz outros efeitos indiretos de sua produção e uso,

como o incremento a economias locais e regionais, tanto na etapa

agrícola como na indústria de bens e serviços. Com a ampliação

do mercado do biodiesel, milhares de famílias brasileiras serão

beneficiadas, principalmente agricultores do semiárido brasileiro,

com o aumento de renda proveniente do cultivo e comercialização

das plantas oleaginosas utilizadas na produção do biodiesel.

Outro benefício para a sociedade, resultante da ampliação

do uso do biodiesel, é o efeito positivo sobre o meio ambiente,

acarretando a diminuição das principais emissões veiculares em

comparação ao diesel derivado do petróleo.

Etanol de cana-de-açúcar Diante das necessidades globais de redução do uso de energia de

origem fóssil e esforços dos países neste sentido, os biocombustíveis

ganharam destaque dado que são a fonte de energia alternativa de

maior praticabilidade para o setor de transportes.

Os países desenvolvidos vêm utilizando cada vez mais os

biocombustíveis em suas matrizes energéticas, guiados por uma

combinação de diversos fatores, dentre eles: substituição do MTBE

(Éter metil terc-butílico) como aditivo da gasolina (para aumento

da octanagem do combustível e como aditivo oxigenado); adoção

de estratégias para a redução/limitação das emissões dos gases

precursores do efeito estufa; redução da dependência de derivados

de petróleo; além de incentivos à agricultura e às indústrias locais.

Nesse contexto, o Brasil se destaca pelo histórico de produção

de etanol a partir da cana-de-açúcar, que apresenta uma das

maiores taxas de conversão fotossintética entre as culturas

comerciais de grande escala e possui o balanço energético mais

favorável quando comparado com outras biomassas para produção

de biocombustíveis de primeira geração.

O país domina o ciclo completo da produção de etanol, desde

a lavoura de alta produtividade até a instalação dos equipamentos

para as destilarias que estão gerando esse biocombustível, a partir

da fermentação do caldo extraído da cana-de-açúcar.

De acordo com Coelho et al. (2005), os subsídios aplicados ao

programa brasileiro Proálcool no passado permitiram a expansão

do setor e a modernização das tecnologias de produção, tornando

a produção economicamente competitiva com custos de produção

relativamente baixos. Dessa maneira, o etanol brasileiro tornou-se

completamente competitivo à gasolina no mercado internacional.

A produção de etanol cresceu de 0,6 milhões de metros cúbicos

em 1975, no início do Proálcool, para quase 18 milhões de metros

cúbicos na safra 2006/2007, com aumento na produtividade

agrícola e industrial. Na safra 2009/2010, a produção de etanol

bateu os 25,7 bilhões de litros.

Os investimentos em melhores práticas e aumento no

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rendimento continuam ocorrendo e tais melhorias podem ser

notadas nos setores agrícola e industrial: em 1998 a produtividade

agrícola média era de 65t/ha e em 2010 a média nacional foi 77,8

t/ha, apesar da redução de 4,5% quando comparado a 2009.

O álcool produzido pelo setor sucroalcooleiro do Brasil

pode ser classificado em três categorias: o álcool etílico anidro

carburante, sendo o etanol anidro composto por um teor alcoólico

mínimo de 99,3° INPM e utilizado como aditivo aos combustíveis,

enquanto o etanol hidratado (com teor alcoólico mínimo de 92,6°

INPM) é utilizado diretamente nos carros movidos a álcool ou flex

fuel, e o álcool neutro, que é utilizado na fabricação de bebidas,

cosméticos, produtos químicos e farmacêuticos.

O uso de etanol em veículos leves pode ocorrer de forma pura

(etanol hidratado – 96% em volume), em mistura com a gasolina

(no Brasil, de 20% a 25% de etanol anidro – 99,5% em volume);

ou ainda em misturas de qualquer porcentagem com a gasolina em

carros bicombustíveis ou flex fuel.

Os veículos com os motores flexíveis (flex fuel) foram lançados

no Brasil em 2003 e, em 2010, já representavam 91% dos veículos

leves novos comercializados no país.

A tecnologia veicular à base de etanol evoluiu bastante e os

automóveis flexíveis possuem emissões totais comparáveis ou até

menores do que aqueles que utilizam a mistura de gasolina com

até 25% de etanol anidro. Os acetaldeídos emitidos pelo uso de

etanol são menos tóxicos que os formaldeídos decorrentes do

uso da gasolina.

Por mais de três décadas (meados da década de 1970 até 2006),

o Brasil foi o maior produtor e consumidor de etanol combustível

Figura 2 – Produção nacional de etanol. Fonte: Dados CONAB, 2011.

do mundo. Atualmente, os Estados Unidos aparecem em primeiro

lugar com 41 bilhões de litros produzidos em 2009 (REN 21, 2010).

Cabe destacar que, quando se trata de etanol de cana-de-açúcar, o

Brasil figura na 1ª posição.

Na safra 2009/2010, a produção brasileira foi de 25,8 bilhões

de litros, conforme mostra a Figura 2.

A possibilidade de mistura de biocombustíveis e o uso de

veículos flex-fuel fizeram com que a demanda nacional de etanol

crescesse cada vez mais. No mundo, diversos países vêm adotando

mandatos de misturas de etanol, principalmente o E10 (10% de

etanol mistura a gasolina) como ponto de partida para a introdução

do produto em seus mercados.

Por ser altamente eficiente e com baixo custo de produção, o

etanol de cana é hoje uma das melhores opções para mitigar as

emissões de gases de efeito estufa pela queima de combustíveis

fósseis. O balanço energético é extremamente favorável, atingindo

8,9:1 com emissões evitadas de 2,86 e 2,16 t CO2 eq./m³ para o

etanol anidro e hidratado respectivamente.

A consequência é o extraordinário desempenho do setor,

evitando emissões de GEE equivalentes a 13% das emissões de

todo o setor de energia no Brasil (base 1994). Para cada 100 Mt

de cana adicionais, nos próximos anos, poderiam ser evitadas

emissões de 12,6 Mt CO2 eq., com etanol, bagaço e com a energia

elétrica excedente adicional.

O etanol produzido em outros países a partir de milho ou de

trigo não atinge a grande eficiência do etanol de cana-de-açúcar,

chegando ao balanço de 1,5:1, o que leva o etanol brasileiro a ser

considerado um importante instrumento de mitigação de emissões.

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Figura 3 – Balanço energético do etanol. Fonte: Macedo, Seabra e Silva, 2008; UK DTI, 2003; USDA, 1995.

De todas as matérias-primas potenciais para produção de etanol,

aquelas cujo balanço energético mais se aproxima do balanço da

cana-de-açúcar são as baseadas em materiais lignocelulósicos

(Figura 3). No entanto, as tecnologias para sua conversão ainda

estão em desenvolvimento e não há unidades produtoras de etanol

em larga escala.

Os principais efeitos do uso do etanol (puro ou em mistura

com gasolina) nos centros urbanos foram: a eliminação dos

compostos de chumbo na gasolina; a redução nas emissões

de monóxido de carbono; a eliminação de enxofre e material

particulado; emissões menos tóxicas e fotoquimicamente reativas

de compostos orgânicos.

Dessa forma, a utilização de etanol em motores flexíveis

contribui positivamente para a melhoria da qualidade do ar nas

grandes cidades, na medida em que reduz consideravelmente o nível

de emissões prejudiciais advindas do uso de combustíveis fósseis.

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Tecnologias de 2ª geração para produção de biocombustíveis líquidos

Enquanto a produção de biocombustíveis de primeira geração é

a convencional, realizada em grande escala no mundo, há algumas

décadas, impulsionado por fatores como, preocupação global com

as emissões GEE provenientes do uso de fontes não renováveis e uso

de biomassa não alimentares para produção de biocombustíveis, a

tecnologia de segunda geração surge como alternativa para atender

a essas necessidades.

As principais características da tecnologia de segunda geração

para os biocombustíveis, quando viável em grande escala e

produzida de modo sustentável, são: aumento da produtividade

de biocombustível a partir de uma mesma área plantada, o

que pode indicar uma redução nas emissões de GEE nesta

etapa; utilização de madeira, resíduos orgânicos e resíduos de

culturas, como matéria-prima; possibilidade para que países que

não tenham condições climáticas favoráveis para o cultivo das

culturas convencionais possam utilizar a biomassa para produção

de biocombustível (IEA, 2010).

Atualmente, existem várias rotas tecnológicas de conversão

para produção de biocombustíveis líquidos ou gasosos de

segunda geração, a partir de biomassa sólida. No entanto, até o

momento não há nenhuma tecnologia que tenha atingido o estágio

inteiramente comercial. Apesar da possibilidade de produção de

diversos combustíveis, o segmento que vem recebendo maiores

investimentos é a produção de etanol lignocelulósico. Neste

contexto, há a divisão de dois grupos com relação às tecnologias

de conversão: rotas bioquímicas ou rotas termoquímicas.

De forma geral, a rota termoquímica é por meio da pirólise e/

ou gaseificação da biomassa, com a obtenção de gás de síntese,

seguido de síntese catalítica ou fermentação do gás. Enquanto para

a rota bioquímica há, a partir de um pré-tratamento da biomassa,

Figura 4 – Produção e projeção mundial de etanol por matéria-prima. Fonte: OECD-FAO (2010).

a hidrólise, que pode ser química ou enzimática, e posterior

fermentação dos açúcares. Observa-se um maior destaque e

investimentos para rota bioquímica, diante dos custos e dos

entraves técnicos, em comparação a termoquímica (IEA, 2008).

No entanto, o principal obstáculo para biocombustíveis de

segunda geração ainda é o elevado investimento e alto custo de

produção, quando comparado com os combustíveis fósseis ou

mesmo com os diversos biocombustíveis de primeira geração.

Ainda assim, apesar desses desafios, da reduzida produção

atual e da crise financeira global, as projeções indicam um aumento

desses biocombustíveis de segunda geração, principalmente

baseado nas políticas estabelecidas pelos Estados Unidos (U.S.

Renewable Fuels Standard) e pela União Europeia (Directive

2009/28/EC, para incentivar a produção nos próximos anos (EPA,

2009; EC, 2009), conforme indicado na Figura 4.

No Brasil, a tecnologia de segunda geração ainda está muito

relacionada aos centros de pesquisa e universidades, principalmente

por que atingir a viabilidade comercial será muito mais complexo,

pois dificilmente no curto prazo será possível alcançar os patamares

econômicos da primeira geração, que apresenta o menor custo de

produção do mundo.

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Continua na próxima ediçãoConfira todos os artigos deste fascículo em

www.osetoreletrico.com.brDúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados para o

e-mail [email protected]

*MSc Vanessa Pecora Garcilasso, MSc Beatriz Acquaro Lora, MSc Renata Grisoli e Profa. Dra. Suani Teixeira Coelho são pesquisadoras do Centro Nacional de Referência em Biomassa do Instituto de Eletrotécnica em Energia da Universidade de São Paulo (CENBIO/IEE/USP).

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