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O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990 · 2012-01-05 · controvérsias que gera o...

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UNIVERZITA PALACKÉHO V OLOMOUCI FILOZOFICKÁ FAKULTA Katedra romanistiky - portugalská sekce O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990 Diplomová práce Iva Pátková Vedoucí práce: Mgr. Petra Svobodová Olomouc 2011
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UNIVERZITA PALACKÉHO V OLOMOUCI

FILOZOFICKÁ FAKULTA

Katedra romanistiky - portugalská sekce

O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA

PORTUGUESA DE 1990

Diplomová práce

Iva Pátková

Vedoucí práce: Mgr. Petra Svobodová

Olomouc 2011

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Prohlašuji, že jsem diplomovou práci zpracovala samostatně a uvedla všechny použité

zdroje.

V Olomouci 2. ledna 2012 ........................................

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Gostaría de agradecer a Mgr. Petra Svobodová pela direcção do meu trabalho, pelos seus

conselhos, ajuda e amabilidade, a Dr. Alcides Murtinheira por me ter recomendado a

bibliografia e a leitora do Instituto Camões em Cáceres Teresa Jorge Ferreira por me ter

recomendado os artigos interesantes e pela sua disponibilidade em responder mis

perguntas.

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Obsah

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 6

1. GRAFIA, ORTOGRAFIA E NORMA LINGUÍSTICA ................................................... 8

1.1 Grafia, ortografia ......................................................................................................... 8

1.2 Necessidade duma norma ortográfica.......................................................................... 9

2. BREVE PANORÂMICA E CRONOLOGIA DAS REFORMAS ORTOGRÁFICAS DO

PORTUGUÊS ...................................................................................................................... 11

2.1 Antes de 1911 ............................................................................................................ 11

2.2 A reforma ortográfica de 1911 .................................................................................. 13

2.3 Acordo ortográfico de 1945 ....................................................................................... 13

2.4 Em direcção ao Novo Acordo Ortográfico ................................................................ 14

3. O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 (AO 1990) ......................................... 16

3.1 Enquadramento .......................................................................................................... 16

3.2 Português brasileiro vs. Português europeu ............................................................... 18

3.3 O que muda e o que não muda .................................................................................. 19

4. CONTROVÉRSIAS DE AO 1990 .................................................................................. 24

4.1 A Disparidade dos Critérios ...................................................................................... 24

4.1.1 O Critério Fonético ............................................................................................. 24

4.1.2 O Critério da Facilitação da Aprendizagem ....................................................... 27

4.1.3 O Critério da Obediência da Tradição ................................................................ 28

4.1.5 O Critério da Consagração pelo Uso .................................................................. 30

4.1.6 O Critério da Grafia Dupla ................................................................................. 31

4.1.6 Resumé dos Critérios Aplicados......................................................................... 33

4.2 Objectivos do AO 1990 ............................................................................................. 34

4.2.1 A Unificação ........................................................................................................... 34

4.2.1.1 Prós e Contras da Unificação .............................................................................. 34

4.2.1.2 Obstáculos na Unificação .................................................................................... 35

4.2.1.3 A Unificação na Práctica ..................................................................................... 37

4.2.2 O Prestígio .............................................................................................................. 39

4.3 Erros e ambiguedades do AO 1990 ........................................................................... 40

4.3.1 Estudos não definidos e terminologia inadequada da Nota Explicativa de AO . 40

4.3.2 Erros técnicos e gralhas ...................................................................................... 41

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4.3.3 Ambiguedades do AO 1990 ............................................................................... 42

4.3.4 Resumé ............................................................................................................... 43

5. Reacções ao AO 1990...................................................................................................... 44

5.1 Todas as reformas geram controvérsias .................................................................... 44

5.2 Reacções ao AO 1990 em Portugal, no Brasil e nos Países Africanos ..................... 45

5.3 Reacção dos Jornais Portugueses .............................................................................. 48

5.3.1. O Expresso poupa as palavras.... ....................................................................... 49

5.3.2. O Público ........................................................................................................... 50

6. SITUAÇÃO ACTUAL – as Consequências do AO 1990 ............................................... 51

6.1 Instrumentos da normalização ortográfica ................................................................ 53

CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 55

Lista de Anexos ................................................................................................................... 58

Resumé no inglés ................................................................................................................. 62

Resumé no checo ................................................................................................................. 62

Anotação .............................................................................................................................. 63

Bibliografia .......................................................................................................................... 64

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INTRODUÇÃO

O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (à seguinte só AO 1990) é um

tratado internacional firmado com o objectivo de criar uma ortografia unificada para os

países da língua oficial portuguesa. Foi assinado por representantes oficiais de Angola,

Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe em

Lisboa em 1990, Timor-Leste aderriu ao Acordo em 2004. Em Portugal o Acordo foi

ratificado em Maio de 2008 e entrou em vigor em Maio do ano seguinte, o período de

transição terminará em Maio de 2015. O Acordo Ortográfico provocou muitas críticas1,

foram assinadas petições contra a sua ratificação, até é possível falar sobre certa histéria

quanto à desastre que a ratificação do AO 1990 seguramente causará, vejam os títulos de

livros publicados: O Fim da Ortografia, Acordo Ortogáfico: A Perspectiva do Desastre.2

Não obstante, não se trata da primeira reforma ortográfica do português nem do primeiro

intento de procurar uma oficial uniformização da ortografia portuguesa. A situação da

existência de duas ortografias oficiais da língua portuguesa remonta a 1911, o ano em que

foi adoptada em Portugal a primeira reforma ortográfica que já não foi adoptada no Brasil.

“Língua é um sistema em evolução mas em evolução lenta.” (Gomes 2008: 60) A língua

muda, é uma das características principais das línguas vivas, e como admitimos as

mudanças na fala, devem estas reflectar-se também na escrita (com certo regulamento).

Não obstante, o que o público não deixa em calma não é a reforma, é a sensação de que o

português de Portugal muda só por causa do Brasil. O que mais inquieta os linguistas é

ambiguedade e incoerência do acordo, que em vez de trazer a única ortografia, corre o

risco de trazer muitas mais do que as duas antes existentes.

O objectivo deste trabalho não é decidir se o AO 1990 é bom ou mal, ou seja, se traz mais

vantagens ou desvantagens à língua portuguesa e aos seus usuários. Queremos, por um

lado, apresentar todos os acordos ortográficos do português para deixar claro que as

reformas ortográficos são normais e úteis, por outro lado, queriamos comentar as

controvérsias que gera o Novo Acordo Ortográfico.

1 Vamos concentrar-nos nas críticas feitas em Portugal.

2 Emiliano, António. O Fim da Ortografia (Lisboa: Guimarães Editores, 2008), Moura, Vasco Graça. Acordo

Ortográfico: A perspectiva do desastre (Lisboa: Alêtheia Editores, 2008)

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O trabalho é dividido em seis grandes capítulos. O primeiro representa uma introdução nos

termos grafia, ortografia, norma linguística. O segundo descreve brevemente a cronologia

das reformas da ortografia portuguesa, a terceira é uma apresentação, já mais detalhada, do

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990. O capítulo seguinte vai comentar as

controvérsias do AO 1990. No capítulo cinco vamos comentar as reacções que causou a

ratificação do Acordo, vamos estudar o corpus dos jornais portugueses do ano 2010 e

2011, se os jornais já adoptaram as novas regras ou não, e porque e como o comentaram.

No último capítulo descrevemos as consequências da aplicação do Acordo.

Apesar de que a maior parte deste trabalho será dedicada ao Novo Acordo

Ortográfico será escrita segundo as regras de Acordo Ortográfico de 1945.

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1. GRAFIA, ORTOGRAFIA E NORMA LINGUÍSTICA

Neste capítulo vamos explicar a diferença entre as grafias e ortografias. Depois vamos falar

sobre a norma ortográfica, da sua importância para línguas em geral e para o ensino de

línguas em particular.

1.1 Grafia, ortografia

Não todas as línguas que existem têm a sua representação escrita e nem todas as

representações escritas têm a sua norma. Se existe uma norma (um acordo ortográfico)

falamos sobre ortografias, ou seja grafias correctas. As representações escritas sem uma

norma chamamos só grafias. Um acordo ortográfico, uma norma, definimos como uma

convenção que fixa o modo como se deve representar graficamente uma determinada

língua.3

Conhecemos diferentes sistemas da representação escrita. Em sistemas logográficos

(pictográficos ou ideográficos) um símbolo representa um conceito, nos sistemas silábicos

um símbolo representa uma sílaba e nos sistemas alfabéticos, aqueles que são mais

conhecidos por nós, um símbolo (idealmente mas não sempre) representa um segmento

sonoro, um fonema. Não obstante, a maioria dos sistemas alfabéticos são, imperfeitos e

nem todas as letras (grafemas) correspondem a um som único nem todos os sons são

representados por um único grafema. Há letras que não correspondem a som nenhum e há

sons que são representados por conjuntos de letras (dígrafos) ou por grafemas diferentes.

Esta discrepância explica como é possível que o alfabeto português tem (segundo o Novo

Acordo Ortográfico) 26 letras mas o português tem 35 sons.

A maioria dos sistemas da escrita alfabética reflecte dois critérios. O primeiro, fonético-

fonológico, representa uma correspondência entre símbolo e som e o segundo, etimológico,

contém os aspectos relacionados com a forma da palavra na língua de origem. Há várias

propostas de classificação de diferentes sistemas da escrita alfabética segundo a sua maior

ou menor transpârencia e regularidad fonética.4

3 www.iltec.pt/.../cd2_ortografia_quadro-geral.pdf, 10 de Noviembre de 2011

4 Por exemplo, a classificação de Seymour de 1997: 1. Finlandés, italiano, espanhol (mais transparente) 2.

Grego, alemão 3. Português, holandês 4. Islandês, norueguês 5. Sueco 6. Francês, dinamarquês 7. Inglês

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Nenhum sistema ortográfico pode ser de um único tipo (só fonético, só etimológico, só

filosófico).5 Por exemplo, a ortografia checa está baseada em três critérios principais:

fonético, morfológico (para evitar as incogruências aparentes) e etimológico.

1.2 Necessidade duma norma ortográfica

A questão da necessidade e utilidade duma norma linguística (seja ortográfica seja

sintáctica,) sempre foi bastante controversa. Primeiro, é preciso de apontar que a norma

pode variar numa mesma comunidade linguística, “mobilidade é uma das características

básicas das línguas vivas e a tentativa de establecer a norma única resulta “artificial”6

Assim, também é verdade que “o que a língua deve ser (segundo as regras gramaticais e

ortográficas) é muitas vezes bem longe do que, de verdade, é (segundo a fala e a escrita da

gente.)”7 É verdade que a norma existe sobretudo nos livros e não na vida real. Não

obstante, apesar disso é importante. Outro argumento contra uma (qualquera norma

linguística) pode ser que a língua deve ser o meio da comunicação (da educação) e não o

seu objetivo. Não obstante, mesmo para ser um meio eficaz é preciso ter e seguir certas

regras.

Não obstante, o ensino da gramática (da qual a ortografia faz parte) seja, em comparação

com o ensino da gramática checa, bastante subestimado no ensino e aprendizagem do

português em Portugal e a gramática quase não se ensina e se se ensina é mais da forma

não consciente. Até que se divulgaram as ideias de que a ortografia não faz parte da língua

e de que o erro é traumatizante, se é assinalado.8 Assim os alunos chegam ao 10° ano sem

conhecer as unidades linquísticas, não sabem que fonema e grafema não é a mesma coisa.

Também por isso a maioria dos erros dos alunos portugueses são os erros ortográficos. 9

(menos transparente) de http://www.iltec.pt/divling/_pdfs/cd2_ortografia_quadro-geral.pdf , p.5, 10 de

Noviembre de 2011

5 http://www.iltec.pt/pdf/wpapers/2006-mhmateus-ortografia_portuguesa.pdf, 8 de Diciembre de 2011

6 Pátková, Iva. Os Erros dos Portugueses no Português. (Olomouc: 2009)

7 Pátková, Iva. Os Erros dos Portugueses no Português. (Olomouc: 2009)

8 veja Lavouras Lopes, António J. “A gramática: como ensiná-la” Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, 6

June 2005, 19 April 2009 <http://www.ciberduvidas.pt/ensino.php?rid=1816> 9 Segundo o meu trabalho concentrado nos erros dos portugueses no português 52% dos erros eram os

ortográficos quais ainda dividimos em quatro grupos: erros de acento, troca de letras, erros na conjugação dos

verbos e outros. O grupo mais numeroso era erros do acento.

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Ortografia representa uma parte abstracta da língua e como outras normas é bem

importante sobretudo para o ensino da língua, “A língua materna (particularmente na sua

dimensão escrita), para ser bem conhecida, practicada e amada, tem de pasar por uma

fase de explicitação e de (re)flexão, o que pressupõe a existência de um conjunto de regras

simples, dotadas de um alto grau de sistematicidade.” (Gomes 2008: 60)

A norma é necessária. Quem não sabe as normas de correcção, fala ou escreve dando

“pontapés na gramática” o que pode dificultar a comunicação e causa-lhe certa perda do

prestígio social e cultural.10

No entanto, a correcção linguística não pode ser vista só como

“uma questão de boas maneiras”, entendidas como uma marca de superioridade social para

omprimir os outros. O que por vezes acontece com a gramática, a sintaxe e a ortografia que

em vez de ser instrumentos que é bom conhecer para o nosso trabalho, são instrumentos de

opressão social: “Agrade-nos ou não, a ortografia sempre foi, é e, provavelmente, será

uma pedra de toque do sucesso escolar e social.(...) Quantos estudantes já perderam

empregos porque os documentos que apresentavam (Curriculum Vitae e outros) estavam

inundados de erros ortográficos! A ortografia é um problema eminentemente social.”

(Gomes 2008: 29) Não obstante, o objetivo educativo e público devia ser dar a

oportunidade a gente de conhecer melhor o seu instrumentos linguístico para servir melhor

as suas necessidades.

10

veja Marquez, António. Tento na Língua!...1. (Liboa: Plátano Editora, 2005) 100

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2. BREVE PANORÂMICA E CRONOLOGIA DAS REFORMAS

ORTOGRÁFICAS DO PORTUGUÊS

O ano de 1911 é uma marca importante na cronologia das reformas ortográficas do

português. É o ano da ratificação do primeiro acordo ortográfico do português que

terminou (com excepções) com as variedades gráficas da mesma palavra em Portugal.

Dado que o Brasil não ratificou o Acordo Ortográfico de 1911, as ortografias ficaram

bastante diferentes, Portugal tinha uma ortografia bastante simplificada, enquanto o Brasil

continua a usar “a antiga” baseada no critério etimológico. Já pouco depois da ratificação

deste primeiro acordo surgiram as tendências de unificar as ortografias do Brasil e de

Portugal. Foram publicados e ratificados outros acordos sem atingir o objectivo. Depois de

terem conseguido a sua indepêndencia, os países africanos lusófonos também começaram a

participar na elaboração (ou pelo menos aprovação) do acordo ortográfico único.

Apesar de que, o primeiro acordo ortográfico fosse ratificado em 1911, as primeira

menções da ortografia portuguesa apareceram já no século XVI.

2.1 Antes de 1911

Os primeiros textos escritos em português são datadas no século XII11

, dado que estes

primeiros textos foram escritos na altura em que não existia uma ortografia a escrita

tentava quanto mais possível imitar graficamente a pronúncia da língua. Então, até meados

do sécula XVI falamos do período fonético. Trata-se do período com grande pluralidade

das grafias, com muita variação que reflectiam, por veces, diferenças da pronúncia entre

regiões. Não obstante, já nesta altura começaram a establecer-se certas tradições gráficas,

por exemplo: utilizava-se a letra “ch” para a consoante fricativa [tʃ] enquanto a letra „x“

designava a palatal [ʃ].12

A partir do Renascimento notou-se uma influência das formas etimológicas (por vezes, não

bem interpretadas). Assim, eram no português introduzidas as letras existentes nos étimos

latinos ou gregos, por exemplo o “c” na palavra “facto”, o “i” foi substutuído pelo “y”:

“lythografia”, “lyrio” e outros. Começaram a usar-se consoantes duplas e os dígrafos “ph”,

“ch”, th” e “rh” que em algumas palavras sobreviveram até o ano de 1911 (por exemplo:

11

O português foi adaptado como a língua oficial de Portugal em 1297.

12 http://pt.wikipedia.org/wiki/Ortografia_da_l%C3%ADngua_portuguesa, 15 de Dezembro de 2011

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12

pharmacia, Matheus, etc.) e ainda continuava a existir muitas variantes das grafias. Este

período chamamos (pseudo)etimológico. Nos séculos seguintes a ortografia tinha o seu

lugar nas gramáticas e foi bastante discutida. Diferentes gramáticos defendem posições

distintas, uns defendem grafias mais simples de base fonética, outros defendem grafias

mais etimológicas. Por exemplo o defensor da grafia mais simples João Barros (1540) “A

primeira e principal régra da nóssa ortografia é escrever toda las dições com tantas

lêteras com quantas â[s] pronunçiamos, sem poer consoantes oçiosas, como vemos na

escritura italiana e francesa...”13

Duarte Nunes de Leão na sua obre de 1576 Ortographia

defende a grafia mais etimológica: “Porem ainda que pareça esta aspiração ociosa, pola

não pronunciarmos, he porem necessaria, para guardar a ortographia dos nomes Latinos,

& Gregos, para per ellas se conhecer a origem, &etymologia dos vocabulos…“14

E nem

todos os escritores eram a favor da ortografia etimológica, por exemplo, Francisco Manuel

de Mello escreveu em 1649 a sua obra Segundas Três Musas de Melodino com uma

ortografia simplificada, em que por a combinação “ph” foi substituída por “f” etc. No

século XVIII Luís António Verney também na sua obra O Verdadeiro Método de Estudar

de 1746 defendeu a aproximação da ortografia à articulação fonética das palavras e

mesmo Almeida Garrett no prefácio ao se poema “Camões” alertou para a inexistência de

uma verdadeira norma ortográfica: “Sobre ortografia (que força cada um fazer a sua entre

nós, porque a não temos) direi só que segui sempre a etimologia em razão composta com a

pronúncia; que acentos, só os pus onde sem eles a palavra se confundiria com outra; e que

boamente seguirei qualquer método mais acertado, apenas haja algum geral e racionável

em português: o que tão fácil e simples seria se a nossa Academia e Governo em tão

importante coisa se empenhassem.”15

Com o papel cada vez mais importante da imprensa no século XX sentia-se muito a falta

de uma norma. Em 1907 em Portugal e no Brasil (sem nenhum contacto entre eles)

juntaram-se os linguistas para estudar a questão da ortografia, para simplificá-la e também

para dar a uniformidade à grafia. A proclamação da república portuguesa tornou tudo mais

rápido, o primeiro Acordo Ortográfico do português (aprobado só em Portugal) entrou em

vigor em 1911, apartir deste momento falamos do período reformado.

13

http://www.filologia.org.br/revista/artigo/5(14)37-48.html, 15 de Dezembro de 2011

14 Nunes de Leão, Duarte. Origem e Ortographia da Língua Portuguesa. (Lisboa: Tipographia do Panorama,

1861) 15

http://correiodaeducacao.asa.pt/214818.html, 14 de Dezembro de 2011

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13

2.2 A reforma ortográfica de 1911

O novo governo republicado enfocou-se no alargamento da escolaridade e no combate ao

analfabetismo. Nomear uma comissão para establecer uma “ortografia simplificada” foi

um dos primeiros passos deste governo. Dado que, em 1910 cerca de 75% dos portugueses

eram analfabetos.16

A reforma ortográfica de 1911 foi oficializada no dia 1 de Setembro de

1911 e foi permitido um período de transição de três anos. Apesar de que no Brasil já

existisse uma forte corrente a favor duma ortografia “foneticista”, o acordo não foi seguido

pelo Brasil e os dois países ficaram com as ortografias completamente diferentes: Portugal

com uma ortografia reformada, o Brasil com a velha ortografia da base etimológica.

A reforma ortográfica de 1911 simplifica a ortografia portuguesa que até essa altura era

bastante etimológica, por exemplo: elimina todos os dígrafos de origem grega substituindo-

os por grafemas simples: th por t, ph por f, ch (com valor de k) por c ou qu, rh po r ou rr:

pharmacia –farmacia, chimica – quimica, catholica- católica, theatro – teatro, rheumatico

–reumatico. Também elimina y, substituindo-o por i: syntaxe – sintaxe, lagryma – lagrima,

etc. Reduz as consoantes geminadas a simples (com excepção de rr, ss) officio – oficio.

Reduz sc a c: sciencia – ciencia. Elimina algumas consoantes mudas que não influem a

pronúncia da vogal precedente: assignatura – assinatura, asthma – asma, etc. E introduz o

acento nas palavras proparoxítonas: graphica – gráfica.

2.3 Acordo ortográfico de 1945

O Brasil ficou fora da reforma de 1911 não por algumas antipatias a Portugal ou viceversa,

mas mais por culpa da rapidez com que o Acordo de 1911 teve de ser aprovado. Já no ano

de 1924 a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras começaram

juntamente procurar uma ortografia comum. Em 1931 a Academia Brasileira de Letras

estabeleceu o Acordo Ortográfico de 1931, aprovado mais tarde como o Formulário

Ortográfico de 1943. Mas a Academia das Ciências de Lisboa não concordou com o

Acordo de 1931, sobretudo com a supressão das consoantes mudas. Segundo este Acordo,

todas as consoantes que não se proferissem foram abolidas, assim, a ortografia brasileira

(até essa altura baseada sobretudo na etimologia) ultrapassou a portuguesa na aproximação

à pronúncia. Não obstante, as reuniões continuavam e deram origem ao Acordo ortográfico

de 1945. Este acordo tornou-se lei em Portugal no mesmo ano, no Brasil foi aprovado mas

depois não ratificado pelo Congresso Nacional, então, os brasileiros continuavam a aplicar

16

http://www.cidadeimaginaria.org/bib/Portugal10-40.pdf, p.4, 10 de Novembro de 2011

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14

o Formulário Ortográfico de 1943. Este Acordo (de 1945) pretendia voltar a incluir “as

consoantes mudas” já abolidas no Brasil e a acentuação assinalaria a sílaba tónica mas não

já o seu timbre (o “cênico” brasileiro passaria a escrever-se como em Portugal “cénico”

apesar de o seu “e” ser pronunciado como fechado e não semi-fechado como em Portugal).

Por isso, a final não podia ser ratificado no Brasil.

2.4 Em direcção ao Novo Acordo Ortográfico

O seguinte encontro sobre a unificação da língua portuguesa ocorreu em 1967 em

Coimbra, aqui encontrou-se a elite da linguística e da cultura da língua portuguesa. Falou-

se sobre o “problema” das consoantes não articuladas e sobre a sua eliminação a favor da

ortografia unificada. Também foi proposta a supressão dos acentos gráficos nas esdrúxulas

para unificar as acentuações diferentes em palavras tipo: fenómeno/fenômeno. Nessa altura

ainda tudo ficou só em papel.

Em 1971, no Brasil, e em 1973 em Portugal, foram promulgadas leis que reduziram

divergências ortográficas entre os dois sistemas ortográficos. A variante brasileira deixa de

grafar com o acento circinflexo palavras como “êle” ou “flôr” e em Portugal deixam de

escrever com os acentos graves os advérbios terminados em “–mente” (amàvelmente →

amavelmente) e os diminutivos terminados em “–inho” (sòzinho → sozinho). Na

continuação, em 1975, foi elaborado o novo projecto de Acordo entre Portugal e o Brasil.

Este projecto não foi ratificado – em parte devido ao período duma tensão política em

Portugal (“Verão Quente”).

Num congresso brasileiro de 1981 falou-se outra vez de uma ortografia unificada e

simplificada. No mesmo ano, Lindley Cintra, um dos mais importantes filólogos

portugueses, em entrevista ao semanário Expresso disse que os portugueses deveram de

“habituar-se” a escrever ativo, adotar, objeto, correção.17

Em Maio de 1986 surgiu o

encontro no Rio do Janeira no qual se encotraram, pela primeira vez, não só representantes

do Brasil e de Portugal mas também dos cinco novos países africanos lusófonos. O

resultado deste encontro foi o Acordo Ortográfico de 1986. Este acordo aboliria os acentos

gráficos em todas as palavras esdrúxulas e em muitas palavras graves, por exemplo: album,

facil. Sumprimiria quase totalmente hífen, creando assim as palavras como bemestar,

malingua, etc. E eliminaria os consoantes não pronunciadas em grupos consonánticos cç,

ct, pç, pt, etc. Mas que podriam ser escitas (facultativamente) quando articuladas. A

17

VENÂNCIO, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89.

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15

assinatura deste Acordo levantou as reacções rejeitadoras, mesmo Cintra, um dos que

participaram no encontro do Rio, se distanciou dele.18

A final, o Acordo de 1986 foi

retirado para ser repensado.

Já no ano de 1988 foi elaborado um “Anteprojecto de Bases da Ortografia Unificada da

Língua Portuguesa” atendendo as críticas feita à proposta do Acordo Ortográfico de 1986.

Em 1990 foi assinado o Acordo Ortográfico pelas delegações de Angola, Brasil, Cabo

Verde, Galiza, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal.

18

VENÂNCIO, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89.

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16

3. O NOVO ACORDO ORTOGRÁFICO DE 1990 (AO 1990)

Até este ano foi o Acordo Ortográfico de 1990 ratificado em cinco países (de oito): no

Brasil, em Portugal, em Timor-Leste, na Guinea-Bissau e no Cabo-Verde. Neste capítulo,

vamos primeiro falar sobre os acontecimentos anteriores à firma do acordo, depois

mencionamos a situação actual em cada país. No todo o AO 1990 está presente a ideia da

unificação das ortografias portuguesa e brasileira, neste capítulo vamos, então, brevemente

resumir as principais diferenças nestas duas ortografias. No final, descrevemos as

principais mudanças ortográficas de AO 1990.

3.1 Enquadramento

Como já dissemos, o novo acordo ortográfico começou a ser discutido em 1986 e, depois

da sua aprovação, foi assinado pelos representantes de sete países lusófonos a 16 de

Dezembro de 1990. Os países signatários acordam que aprovaram o Acordo Ortográfico da

Língua Portuguesa que contem o anexo I - Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

(1990) e o anexo II - Nota explicativa do Acordo ortográfico da Língua Portuguesa (1990)

na qual os autores do AO 1990 explicitam e justificam as diversas alterações em relação às

grafias anteriores. Também, prometem elaborar até 1 de Janeiro de 1993 “um vocabulário

ortográfico comum da língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão

normalizador quanto possível, no que se refere às terminologias científicas e técnicas.” (O

Acordo Ortográfico, Artigo 2°) e a adaptar todas as medidas para que o data da entrada em

vigor seja cumprida. Acordam também que o AO 1990 entra em vigor em 1 de Janeiro de

1993, após de ser ratificado por todos os estados signatários.

Dado que até o ano 1998 AO 1990 não entrou em vigor (por não ser ratificado por todos os

países signatárias) foi em Julho de 1998 assinado O (primeiro) Protocolo Modificativo ao

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa em que os estados signatários redactaram os

primeiros artigos de AO 1990, assim desapareceu o data límite para ter preparado o

vocabulário ortográfico. Em Julho de 2004 foi assinado Segundo Protocolo Modificativo

ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa que possibilitou a adesão entre os países

signatários à República Democrática de Timor-Leste que recuperou a sua independência

em 2002. Ademais, este protocolo modificou o artigo sobre as condições para a entrada em

vigor do Acordo establecendo que para a entrada em vigor basta que o AO 1990 seja

ratificado em três dos países signatários.

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17

O primeiro em ratificar o Acordo (em 1995) e o Segundo Protocolo Modificativo (em

2005) foi o Brasil. Depois de AO 1990 ser ratificado também por Cabo Verde (2005) e

São Tomé e Príncipe (2006) podia já ser aplicado, no entanto o Brasil decidiu esperar por

Portugal. A notícia da aprovação do Segundo Protocolo em Portugal foi recebida com

grande satisfacção e o governo brasileiro imediatamente começou a preparar um

cronograma para a implantação do Acordo. O AO 1990 entrou em vigor a 1 de Janeiro de

2009 e imediatamente foi adoptado pelos principais jornais brasileiros. A previsão é que

todos os livros didácticos brasileiros estejam adaptados às novas regras até 2012 e desde

2013 as novas regras ortográficas serão obrigatórias no Brasil.

A situação em Portugal foi mais complicada, Portugal ratificou o AO 1990 como primeiro

em 1991 mas depois tardou 17 anos em ratificar o Segundo Protocolo Modificativo, e

porque muitos países esperavam pela reacção de Portugal, todo o processo ficou atrasado.

Guinea-Bissão (ratificou o AO em Novembro 2009) e São Tomé e Príncipe (ratificou o AO

1990 em Novembro 2006), estavam sempre a favor vendo em AO 1990 uma ortografia

mais simplificada e considerando-o bom instrumento para a aquisição da escrita. Não

obstante, também aqui surgiram algumas objecções como a falta do debate sobre o assunto

e certo “sobrevalorização do AO 1990” porque “não é por haver palavras que se escrevem

de forma diferente que não nos conhecemos bem, que não conhecemos, por exemplo, a

literatura dos outros países lusófonos. Falta vontade política, faltam iniciativas

diplomáticas, falta disponibilidade por parte das editoras.” diz Inocência Mata19

Ou seja,

o Acordo Ortográfico não vai solucionar o problema da certa ignorancia a outros países

lusofonos. Também Cabo Verde foi um dos primeiros a ratificar o AO apesar de que os

cabo-verdianos comuniquem no dia a dia em crioulo e o português use-se só nas relações

oficiais e protocolares. Angola, apesar de admitir que o AO é mais importante para ela do

que para o Brasil ou Portugal, ainda não o ratificou, a ratificação é prevista para o ano de

2013. Nem Moçambique ratificou o AO 1990, mas como disse o vice-ministro da

Educação e Cultura de Moçambique, o historiador Luís Covane Moçambique vai ratificar e

tem de ratificar o AO 1990 “para não ficar atrás”20. A ratificação é prevista para o ano de

2012.

19

Murtinheira, Alcides. O Novo Acordo Ortográfico: O novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa.

[online]. [cit. 2011-12-28]. Dostupné z: http://www.clpic-viena.com/html/at-lp-ao.htm

20 http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_de_1990, 5 de Novembro 2011

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18

3.2 Português brasileiro vs. Português europeu

Uma das diferenças é o uso de trema para assinalar que o “u” nas combinações “que”,

“qui”, “gue” e “gui” deve ser pronunciado. Porém, a maior parte das diferenças é causada

pelos tal chamadas consoantes mudas que foram oficialmente eliminadas da ortografia

brasileira pelo Formulário Ortográfico de 1943. Não obstante, em português de Portugal as

consoantes mudas têm a sua função fonética ( que não têm no Brasil). O “a” em actual soa

mais aberto do que, por exemplo, na palavra nação (ambos “a” são átonos). Essa abertura é

indicada por aquele “c”, no português brasileiro não acontece isto, as suas vogais

pretónicas de atual e nação soam idênticas. Outras diferenças representam as palavras em

quais as vogais pronunciam-se abertas em Portugal, mas fechadas no Brasil. Por exemplo:

bebé, bebê, canapé, canapê, prémio, prêmio, etc. Então, como a ortografia do português é

bastante fonética, a existência de duas ortografias diferentes têm a sua justificação, já que o

português do Brasil e português de Portugal têm o sistema vocálico diferente.

Além das diferenças ortográficas, existem também outras: 1) Quanto à fonética, os

brasileiros, em geral, pronunciam as vogais da forma mais aberta que os portugueses. Além

disso, há mais nasalização no português do Brasil do que no português europeu, o que se

nota sobretudo antes de consoantes “m” e ”n” seguidos por um vogal.

O português brasileiro tende a desfazer os encontros consonanteis (se a primeira consoante

não é “r”, “s” ou “l”) insertando neles a vogal epentética “i”. Assim, por exemplo, a

palavra “opção” pronuncia-se no português brasileiro como [ɔpi´s ]. Enquanto os “s” e

“z” em final de palavras em Portugal pronunciam se como [ʃ] e [ʒ], no Brasil não ocorre a

palatalização e “s” e “z” finais pronunciam-se como [s] e [z]. Ao contrário, o português do

Brasil palataliza “di” e “ti” (o português europeu não) pronunciando “noite” como [nojtʃi],

etc. Na maioria das regiões do Brasil, o som de “r” no início da palavra ou do dígrafo “rr”

é mais fraco do no português europeu, até se parece ao som [h] e o “r” no fim de palavras

costuma ser suprimido.

2) Quanto à gramática (sintaxe e morfosintaxe), a maior diferênça é no uso de pronomes

pessoais “tu” e “você”. Enquanto em Portugal “você” utiliza-se em contacto semiformal,

no Brasil o seu uso extendou-se para quase qualquer pessoa e o pronome “tu” quase deixou

de usar-se. Certa excepção são as regiões Norte, Nordeste (excluindo a Bahia e Sergipe),

Sul (excepto Paraná) e o Rio do Janeiro onde “tu” continua a usar-se mas se conjuga com o

verbo na terceira pessoa (com excepção das formas verbais que terminam na sílaba tónica).

O “tu” na forma culta com o verbo conjugado na segunda pessoa aparece ainda menos,

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19

usa-se no Norte e em algumas regiões do Sul (Paraná, Rio Grande do Sul e Santa

Catarina).

Apesar de que a gramática normativa tenha mesmas regras da colocação dos pronomes

pessoais átonas tanto para o português brasileiro como para o português europeu, prefere o

português do Brasil falado mais o uso do proclíse, ou seja, pôr o pronome átono antes do

verbo.

Em vez da construcção “estar + a + infinitivo” usa-se no Brasil a construcção “estar +

gerúndio”: Estou dançando em vez de estou a dançar. Há também outros verbos, por

exemplo “continuar”, “acabar”, etc. que podem combinar-se com o gerúndio no Brasil em

vez do infinitivo preferido em Portugal. Por exemplo: Continua defendendo em vez de

continua a defender.

3) Há também grande diferença entre o léxico do português brasileiro e o do português

europeu. Existe grande influência das línguas indígenas no português brasileiro que não há

no português europeu. Trata-se sobretudo de tal chamados tupinismos palavras que têm

origem no tupí. São os sufixos que funcionam mais como adjectivos: açu (grande), -guaçu

(grande), -mirim (pequeno), etc., os toponimos p.e. Pará, Ipanema e outros, substantivos

que designam fauna e flora p.e. mandioca, jacaracá, etc. No português brasileiro há

também o grande número de africanismos que não encontramos no português europeio.

Além destas palavras, digamos velhas, existem também as palavras novas que se formaram

duma maneira diferente do que em Portugal: ônibus em vez de autocarro, trem em vez de

comboio ou aeromoça em vez de hospedeira de bordo.

3.3 O que muda e o que não muda

Neste capítulo vamos resumir as mudanças que traz o AO 1990. Em geral, podemos dizer

que a ortografia portuguesa torna-se ainda mais fonética. As consoantes “p” e “c” nos

grupos consonánticos “pt”, “ct”, “pç”, “cç”, “pc”, “cc” quando não pronunciados vão ser

suprimidos. Não obstante, quando varia a pronúncia culta varia também a ortografia. A

facultatividade, ou seja, a possibilidade de grafias duplas é o ponto mais controverso deste

Acordo (veja o capítulo 4.1.6). O AO 1990 também reformula o uso de acentos gráficos, as

regras do uso de hífen, o uso de minúscula e maiúscula e modifica também o alfabeto.

3.3.1 Alfabeto

As letras “k”, “w” e “y” são agora oficialmente incluídos no alfabeto português. Estas

letras fazem parte das palavras de origem estrangeira (e seus derivados) ou se encontram-

se em siglas e abreviaturas internacionalmente reconhecidas: Kuwait, Darwin, darwinismo,

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20

kg, etc. Os alunos vão aprender o alfabeto de 26 letras (e não 23 como anteriormente), mas

a situação anterior, na práctica, não muda, ou seja, já antes as letras “k”, “w” e “y”

escreviam-se nas palavras de origem estrangeira ou em siglas e abreviaturas, só

oficialmente não faziam parte do alfabeto português.

3.3.2 Uso de minúscula e maiúscula

Os dias, meses, estações do ano e os pontos cardenais21

passam a escrever-se

obrigatoriamente com minúscula em vez de maiúscula: segunda-feira, terça-feira, janeiro,

fevereiro, primavera, verão, sul, norte, etc. Facultativamente, passam a escrever-se com

minúscula as palavras dentro do títulos de livros e outras obras (excepto quando se trata

dos nomes próprios): O ano da morte de Ricardo Reis ou O Ano da Morte de Ricardo Reis;

os títulos, formas de tratamento e hagiónimos: Senhor Doutor Luís ou senhor doutor Luís;

os nomes de ruas, lugares públicos, edifícios e monumentos: rua de ouro ou Rua de Ouro; e

os domínios de saber: matemática ou Matemática.

3.3.3 Acentuação

São várias as funções do acento gráfico em português, pode 1) marcar uma sílaba que

recebe o acento tónico de forma impresível, 2) marcar uma diferença de timbre (ávido x

âmado) ou 3) se usa para distinguir palavras homógrafas mesmo que o acento tónico seja

regular: pode x pôde, por x pôr, etc.

Segundo o Novo Acordo Ortográfico omite-se o uso do acento gráfico em alguns ditongos.

Por exemplo: o ditongo “ei” (mudança só para Brasil já que em Portugal o ditongo “ei” não

se acentuava graficamente): idéia > ideia, assembléia > assembleia, etc. Também, passa a

escrever-se sem acento o ditongo “oi” quando não se encontra na última sílaba: jibóia >

jiboia mas rói, herói, etc. Desaparecem os acentos gráficos nas vogais tónicas “i” e “u”

quando são antecedidas de um ditongo: baiúca passa a escrever-se baiuca, saiinha em vez

de saiínha. No Brasil, porque em Portugal já não se usava, elimina-se o uso do acento

circunflexo na sequência “oo”, assim vôo passa a ser voo.

Elimina-se, às vezes obrigatoriamente, às vezes facultativamente o uso do acento gráfico

em algumas formas verbais: deixa de escrever-se o acento circunflexo das formas da 3ª

21

Excepto quando são absolutos: Vou para o Norte.

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21

pessoa do plural do presente do indicativo dos verbos crer, ler, ver (creem, leem, veem) e

da 3ª pessoa do plural do presente de conjuntivo de verbo dar (deem). Elimina-se o acento

agudo nas formas verbais terminadas em –que/-gue/-gui(s)/-qui(s) com “u” tónico: adeqúe

> adeque, argúi >argui, apazigúe > apazigue, etc. Continua a escrever-se com acento

agudo a 3ª pessoa plural do presente do indicativo dos verbos ter e vir (têm, vêm) e das

correspondentes formas compostas. É facultativo assinalar com a acento agudo as formas

verbais da primeira pessoa plural do pretério perfeito simples: lavamos ou lavámos.

Quanto ao uso do acento gráfico para distinguir os homógrafos, a maioria destas palavras

deixa de levá-lo. Pára (forma do verbo parar) deixa de ter o acento agudo para distinguir-

se de para (a preposição). Sendo as palavras de diferentes classes gramáticas não é difícil

distingui-las segundo o contexto. A excepção é o verbo pôr que obrigatoriamente mantém

o seu acento circunflexo para distinguir-se da preposição por. Também a forma pôde (a

terceira pessoa singular de pretérito perfeito simples) leva o acento circunflexo para

distuinguir-se de pode (a terceira pessoa plural do presente de indicativo).

Facultativamente, pode o acento circunflexo levar dêmos (a primeira pessoa plural do

presente de conjuntivo) para distinguir-se de demos (a primeira pessoa plural do presente

de indicativo) e fôrma (substantivo) para distinguir-se de forma (a terceira pessoa do verbo

formar, substantivo).

Sendo o critério da pronúncia culta um dos critérios adoptados no AO, são aceites como

variantes palavras com acento agudo e acento circunflexo em vogal antes de consoante

nasal, marcando assim uma diferença do timbre, dado que a pronúncia é diferente no Brasil

e nos restantes países. Na práctica não muda nada: em Portugal, nos PALOP e em Timor

continua a escrever-se tónico, no Brasil mantém-se a forma tônica. No entanto, ambas as

formas passam a ser correctas em todos os países da língua portuguesa. Por exemplo, em

Portugal vai escrever-se: António, convénio, cómico, crónico, ténis, etc. e no Brasil vai

preferir as formas: Antônio, convênio, cômico, crônico, tênis, etc.

A trema desaperece da variante brasileira, conserva-se só, de acordo com a Base I, 3°, em

palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano (de Hübner), mülleriano

(de Müller), etc. É mudança só para o Brasil, já que em Portugal a trema deixou de

escrever-se segundo o Acordo de 1945.

3.3.4 Consoantes mudas

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22

Várias sequências consonánticas deixam de existir segundo o critério da pronúncia. Ou

seja, as consoantes desaparecem sempre quando não são pronunciadas nas variantes cultas

e mantêm-se sempre quando são pronunciadas nas variantes cultas. Como existe, nalguns

casos, variação entre pronúncias cultas do português europeu e do português do Brasil ou

dentro de uma mesma variedade, ou pode surgir uma grafia comum às diferentes

variedades, ou se mantêm as variantes entre variedades ou podem manter-se as variantes

internas a cada variedade. (veja a tabela 1, 2, 3 no anexo 2).

Trata-se das seguintes grupos consonánticos “pt”, “ct”, “pç”, “cç”, “pc”, “cc”. Acção passa

a ser ação, vai escrever-se ótimo em vez de óptimo. Nas sequências “mpt”, “mpc” e “mpç”

o “m” passa a ser escrito “n” quando o “p” não se escreve: perentório por peremptório. A

primeira letra das sequências “gd”, “tm”, “mn” também pode não ser escrita se não é

pronunciada: amígdala/amídala.22

Porém, em todos estes casos, quando a consoante é realizada na pronúncia realiza-se

também na ortografia, então pacto não passa a escrever se “pato” já que o “c” se

pronuncia. Quando a pronúncia culta varia, ambas as formas são possíveis.

O uso de “h” permanece inalterado, ou seja, mantém-se o “h” etimológico em posição

inicial: harmonia, humano, homem, história, etc. e suprime-se o “h” em palavras em que a

supressão é consagrada pelo uso: erva, ervanário, etc. Também continua a omitir-se o “h”

em algumas palavras prefixadas ou compostas: desarmonia, desumano, desonesto, etc. Não

obstante continua a manter-se o h quando é precedido por hífen: anti-héroi, pré-história,

sobre-humano, etc. Então, a mesma palavra pode escrever-se sem ou com “h” dependendo

se é prefixada ou precedida por hífen, por exemplo: harmonia x desarmonia x anti-

harmonia. O que revela inconsequencia do sistema, consagrada já pelo Acordo de 1945.

3.3.5 Hífen

Quanto ao uso do hífen não existia a diferença do uso etre Portugal e o Brasil. Segundo o

estudo dos autores do AO feito nos dicionários, jornais e revistas portuguesas e brasileiras

havia muitas grafias duplas das palavras com hífen tanto em Portugal como no Brasil. Mais

oscilações encontraram-se nas formações pela prefixação e nas formações com

pseudoprefixos de origem grega ou latina. Nem os docentes conheciam as regras (bastante

comlicadas, com muitas excepções) do uso de hífen segundo o Acordo Ortográfico de

22

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/vop.html?&page=crit1, 15 de Dezembro de 2011

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23

1945 e decidiam-se segundo o lema “parece esquisito ou não”. Assim, as regras do uso do

hífen foram reformuladas e simplificadas.

Em geral, não se usa hífen nos compostos e locuções com a estrutura nome-preposição-

nome: fim de semana, cor de vinho, caixa de ar, etc. e com a estructura advérbio-

nome/adjectivo: não alinhado, não fumador, quase dito, etc. Com excepção de nomes de

espécies de animais ou plantas: erva-de-santiago, bicho-de-madeira; e algumas outras

palavras “consagradas pelo uso” que também têm a sua excepção p.e. mais-que-perfeito ou

se permitem grafias duplas: cor de rosa/cor-de-rosa, água de colónia/água-de-colónia, etc.

Não obstante, usa-se o hífen em compostos com além, aquém, recém e sem: além-mar,

aquém-Tejo, recém-nascido, sem-número. Nos compostos com os advérbios bem e mal

usa-se o hífen quando o segundo elemento começa por vogal ou h, para além disso mal (ao

contrário de bem pode aglutinarse com palavras começadas por consoante: malfalante (x

bem-falante).

Quanto às palavras prefixadas, o hífen continua a escrever-se quando a palavra prefixada

começa com h: anti-héroi e quando a última letra do prefixo é igual a primeira letra da

palavra prefixada: contra-ataque. Também os prefixos ex- (com o sentido de

anterioridade), pré- e pró levam sempre hífen. Em todos os outros casos as palavras

prefixadas não são divididas por hífen: co-dependente passa a escrever-se codependente,

etc. Se o segundo elemento começa por r ou s, dobra-se a consoante: anti-sistemático passa

a ser antissistemático, bio-ritmo biorritmo, etc. para manter a pronunciação.

Quanto ao emprego do hífen em ênclise e mesóclise mantêm-se as regras de 1945, não

obstante deixa de usar-se o hífen entre o verbo haver e a preposição de: hei-de será hei de

etc.

Passa a ser obrigátorio (antes era opcional) repetir o hífen na linha seguinte se a

deslineação faz-se onde há um hífen. Canta-||-se, dar-||-se, etc.

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24

4. CONTROVÉRSIAS DE AO 1990

O AO 1990 tem sido criticado pelos escritores, linguistas, políticos e pelos mesmos

falantes do português. Uns o consideram o passo importante para o português, outros “um

instrumento político de má qualidade técnica”23

No capítulo seguinte vamos comentar os

pontos que causaram mais polémicas: os critérios aplicados nas mudanças do AO 1990, os

objectivos principais do Acordo e os argumentos usados para defendê-los e no última parte

deste capítulo mencionamos os erros técnicos e falhas presentes no texto do AO 1990 e da

Nota Explicativa do AO 1990.

4.1 A Disparidade dos Critérios

Os principais critérios aplicados mudanças principais do Novo Acordo Ortográfico são

cinco: o critério fonético, o da obediência da tradição, o da consagração pelo uso, o da

facilitação da aprendizagem e o critério de grafias duplas. Enquanto o ”h” inicial não se

pronuncia mas continua a escrever-se por força da etimologia, o “c” na palavra acção

sendo não pronunciado elimina-se segundo o critério fonético. As regras do uso de hífen

têm o grande número de excepções defendidas pela “consagração do uso”. Em resumé, o

acordo adopta vários critérios sem ser claro qual é o mais importante em qual caso e

porque.

4.1.1 O Critério Fonético

Um dos critérios principais aplicados no AO 1990 é o critério fonético, também chamado o

da pronúncia como se fossem os sinónimos, que na realidade não são. A pronúncia é

individual e varia de um falante a outro dependendo no seu saber linguístico, na sua classe

social, no grão de escolarização, etc. (Emiliano 2008: 15) Ao contário, fonética é

representada por uma transcrição fonética da pronúncia padrão que é possível, às vezes,

encontrar nos dicionários. Assim, a palavra concepção tem infinitas variantes da pronúncia

(dependendo das circunstâncias, de falante, etc.) e duas formas fonéticas básicas, a

europeia (ou melhor dito a euro-afro-asiático-oceânica): [kõsε´s ũ] e a brasileira:

[kuõsepi´s ũ]. (Emiliano 2008: 16)

23

http://fmvalada.blogs.sapo.pt/3194.html, 10 de Setembro 2011

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25

A aplicação deste critério no AO é selectiva, já que, a aplicação geral do critério fonético

seria absurda (o que têm na conta também os autores de AO 1990). Por exemplo, o plural

de artigo masculino teria, então, três formas possíveis: “uj” (os braços), “uz”( os amigos),

“ux” (os papeis) dependendo da letra com que começa a palavra que o segue. O critério

fonético é usado na justificação da supressão ou manutenção das chamadas consoantes

mudas (das consoantes “c”, “p”, “b”, “g”, “m”, “t” em certas sequências consonánticas) e

na acentuação gráfica. Não obstante, já não foi aplicado em caso de “h”, como já dissemos,

onde prevaleceu o critério da etimologia, ou seja, da obediência à tradição, e “h” apesar de

não ser pronunciada continua a escrever-se.

A favor deste critério temos de dizer que pode simplificar a ortografia e que tem como

resultado a certa unificação entre a ortografia brasileira e a portuguesa, o que , em

princípio, não é mal. Ademais já foi usado em acordos anteriores. Por exemplo, o fruto

escrevia-se fructo, a sedução seducção, etc. e se voltamos ainda mais na história

encontramos as palavras como afficção, adducção, diphthongo, etc. Mesmo critério

eliminou no Acordo Ortográfico de 1945 as consoantes “c” e “p” nos casos em que não

eram proferidas.

Não obstante, o critério fonético apoia-se na pronúncia culta que é muito difícil definir.

Dado que o AO 1990 nunca a define, apesar de que a menciona várias vezes. Faltam “os

instrumentos prescriptivos ou regularizadores sendo as obras de referência neste âmbito

os dicionários ou vocabulários com transcrição fonética ou indicações ortoépicas”24

Também, há-de dizer que a ortografia pertence ao plano abstracto da língua e a relação

entre a oralidade e a escrituralidade não é linear, então, a ortografia não é (nem pode ser) a

transcrição fonética. Além disso, “vinte docentes da Faculdade de Letras de Lisboa,

afirmam que como consequência deste critério é previsível que surjam divergências

ortográficas dentro da mesma variante da língua no mesmo país, dependentes de juízos

aleatórios.” (Moura 2008: 56) O que está interligado com a pronúncia culta dificilmente

definida e com a certa tendência de simplificar o critério fonético na frase: Escreve tão

como falas. Esquecendo que a norma culta não abrange as opções individuais de um

falante ou de um grupo de falantes, mas só aquelas que são registradas em dicionários e

vocabulários com transcrição fonética ou ortoépica.

24

http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf p.4, 10 de Novembro 2011

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26

No caso das consoantes mudas, os autores do AO 1990 ignoraram a sua função fonética

(veja o capítulo 3.2) As consoantes mudas abrem a vogal que lhes precede. Portanto, é bem

provável que a supressão das consoantes mudas vai influir a pronúncia das palavras

afectadas. Há de admitir que há algumas palavras com vogais atonas abertas (ou

semiabertas), por exemplo: além, alerta, aquém, vadio, etc. (Gomes 2008: 81,82).

Apesar de que seja verdade que a aplicação deste critério na supressão de consoantes

mudas já foi aplicada, como já dissemos, e mesmo segundo o Acordo Ortográfico de 1945

as consoantes “c” e “p” nos casos em que são invarialmente mudas nas pronúncias

portuguesa e brasileira (adjuncto, adstricto, aqueducto, etc.) deixaram de escrever-se. Mas,

elas conservaram-se quando: são proferidas; quando são proferidas sendo em Portugal

sendo no Brasil ou quando oscilam entre a prolação e o emudecimento; após as vogais “a”,

“e” e “o”, quando estas pronunciam-se abertas (o “a”) ou semi-abertas (o “o” e o “e”) ou

para conservar a similaridade do português com as demais línguas românicas, ou quando,

embora mudas, devam harmonizar-se com formas afins. Mas estes critérios foram

ignorados no AO 1990, e uma das consequências da aplicação do critério fonético com um

detrimento para o critério etimológico são as chamadas incogruências aparentes, ou seja,

que as palavras apesar de ser da mesma família lexical e semántica perdem a indicação

gráfica e visual deste parentesco. (Emiliano 2008: 77) Por exemplo: Egito, egípcio;

apocalipse, apocalítico, etc. Os autores de AO 1990 argumentam que as incogruências

parecidas existiam já antes do AO 1990, por exemplo: assunção ao lado do assumptivo,

cativo a par de captor, dicionário, mas dicção, etc. (Nota Explicativa 4.3) Os que estão

contra, vêem incogruências aparentes como o resultado duma visão estreita da ortografia e

da língua escrita, de ver uma palavra como uma unidade isolada sem se dar conta do seu

papel na sintaxe e no contexto discursivo.25

A aplicação deste critério também justifica a possibilidade das grafias duplas – quanto às

consoantes mudas e à acentuação gráfica, ou seja, se varia a pronunciação (culta), varia

também a ortografia. Com as grafias duplas os portugueses correm o risco de ter muitas

ortografias, de perder a noção de que é correcto e que já não.26

(Veja o capítulo 4.4.6.)

25

Para acercar a situação a estudantes checos seria o mesmo como escrever sních (porque se pronuncia

assim) mas depois escrever sněhový (porque também se pronuncia assim).

26 http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 12 de Novembro 2011

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27

Em resumé, achamos que o critério da pronúncia podia ser aplicado duma forma mais

restringida e melhor definida. Há várias palavras onde as “consoantes mudas” podem ser

suprimidas, por exemplo conservar uma consoante que não se pronuncia nem tem outra

função fonética para manter a similaridade do português com as outras línguas românicas

não nos parece imprescindível. Não obstante, há casos onde o uso deste critério não era

bem pensado e sem completar as explicações pode causar mais caos do que unificação. Às

vezes parece que os autores se esqueceram de que uma mudança traz outra e cada uma tem

as suas consequências, assim era ignorada a função fonética de consoantes não

pronunciadas, a existência de famílias de palavras e a importância que essas consoantes

têm na unificação gráfica.

4.1.2 O Critério da Facilitação da Aprendizagem

Este critério foi utilizado, em geral, para apoiar o Acordo Ortográfico que pretende

simplificar a ortografia portuguesa: “Uma ortografia complicada não consegue ser

aprendida por população recém-alfabetizada e de nível cultural baixo, até por ter pouco a

ver com a sua oralidade. É esse um dos problemas do ensino do português no Brasil,

assim como é, ou será, em África. E em Portugal, mantendo-se o tipo e o nível do ensino

actual, não tardará muito que as crianças achem na ortografia vigente um obstáculo à sua

adquisição da arte de ler e escrever português.” (Gomes 2008: 83) Também foi aplicado,

em particular, para justificar a reformulação das regras do uso de hífen e para justificar a

supressão das consoantes mudas: “É indiscutível que a supressão deste tipo de consoantes

vem facilitar a aprendizagem da grafia das palavras em que elas ocorriam. De facto, como

é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que uma palavra como concepção,

recepção, a consoante não articulada é um p, ao passo que em vocábulos como correcção,

direcção, objecção, tal consoante é c?” (Nota Explicativa, ponto 4.2)

Este critério foi cumprido no caso da supressão do acento gráfico nas palavras: leem, deem,

joia, etc. que antes suscitaram algumas dúvidas de estudantes. O contrário aconteceu com

as regras do uso de hífen que continuam a ter “muitas excepções e depois excepções dentro

das excepções”27

e seguem complicando a vida de estudantes do português.

Além disso, os autores do AO 1990 se esqueceram de que era difícil apreender uma

ortografia fosse ela qual for. Apreender uma primeira ortografia, apreender a escrever e a

27

http://www.publico.pt/Sociedade/ano-ainda-sera-lectivo-ou-ja-sera-letivo-1525472?p=2, 22 de Dezembro

de 2011

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28

ler representa um grande salto cognitivo. Ademais, “é a aprendizagem da escrita que faz

emergir a consciência fonológica não ao contrário”. (Emiliano 2008: 29) Ou seja,

primeiro temos de apreender escrever para começar a pensar de que talvez algumas coisas

possam escrever-se da outra maneira.28

Devemos ter em conta que ler não é só deletrear.

Apesar de tudo já dito, a verdade é que a maioria dos erros que cometem os alunos

portugueses são os erros ortográficos. Porém, a razão principal não é a complicação da

ortografia portuguesa mas o facto de que o erro ortográfico deixou de considerar-se como o

erro e a gramática e a ortografia quase não se ensinam nas aulas de Português.29

“A

solução não é nem pode ser – obviamente! – mudar a ortografia para se facilitar a vida a

escreventes inábeis: o problema não é a ortografia, mas sim a qualidade do ensino, pelo

qual a solução é melhorar ou reformar o ensino, e não reformar a ortografia.” (Emiliano

2008: 37) Ou seja, no fundo “é tão fácil apreender “haver” com ou sem H, aspecto com ou

sem C, adoptar com ou sem P.” (Emiliano 2008: 31) Mas para isso é necessária a boa

qualidade do ensino e as regras (a norma) bem definida e estavél o que este acordo

ortográfico põe em causa.

O critério da facilitação da aprendizagem parece-nos populista sem nenhuma base

científica, ademais nem sempre foi atingido o objectivo – a simplificação da ortografia.

Não obstante, é interessante que a mesma argumentação se ouve também na República

Checa quando se fala sobre as possíveis mudanças da ortografia checa.

4.1.3 O Critério da Obediência da Tradição

É mesmo este critério que possibilita que também nós podemos sem grandes problemas ler

o livro escrito séculos atrás. Garante a continuiade textual e cultural, a estabilidade no

processo de aprendizagem e transmissão da norma às gerações futuras. Segundo os autores

de AO é este critério conservador e até retrógrado. Mas, as ortografias como qualquer

instituição são conservadoras, pois aspiram à estabilidade e à permanencia. Este critério foi

aplicado a favor da manutenção dos acentos gráficos e a favor da manutenção de “h”.

Sendo os acentos gráficos sempre grande obstáculo na unificação das ortografias da língua

portuguesa, o Acordo Ortográfico de 1986 propôs a sua abolição, o que causou grandes

protestos do público português. Os portugueses protestavam contra a abolição dos acentos

28

Um americano que aprendeu a ortografia americana (ou seja inglesa) vai escrever uma frase checa segundo

as regras ingleses apesar de que as checas são mais fonéticas , então mais simples.

29 Veja: Pátková, Iva. Os Erros dos Portugueses no Português. (Olomouc: 2009)

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29

gráficos por ir contra a tradição ortográfica e não por ir contra a práctica ortográfica. A

reacção do público português surpeendeu-nos já que em textos muitos portugeses

esquecem-se de acentos gráficos ou os escrevem mal. Segundo o trabalho Os Erros dos

Portugueses no Português de todos os erros ortográficos o 56% eram os erros no uso do

acento30, nos trabalhos estudados aparecem sem acento as palavras tão comum como já,

céu, família e também.31

Não obstante, os autores de AO 1990 repensaram o assunto e, no fim, reconheceram a

existência de uma tradição ortográfica portuguesa e os acentos gráficos eram mantidos. A

unificação foi conseguida pela consagração da grafia dupla. Outro argumento usado a

favor da manutenção de acentos gráficos era a eventual influência da língua escrita sobre a

língua oral. Ou seja, existe o perigo de que as palavras se tornem paroxitónicas (os que

terminam em um vogal) ou graves (os que terminam em um consoante). Ademais, a

supressão dos acentos gráficos podia dificultar a apreender correctamente a pronúncia dos

termos de âmbito técnico, científico e de todas as palavras adquiridas através da língua

escrita. Porém, também dificultaria bastante a aprendizagem do português como língua

estrangeira, já que seria complicado definir as regras de colocação do acento tónico. Além

disso, sem acentos gráficos se alargariam as homografias do tipo de análise

(substantivo)/analise (verbo).

Estamos de acordo com estes critérios. Só há-de dizer que os mesmos argumentos seria

possível aplicar também a favor da manutenção das consoantes mudas, ou seja, certamente

existe a tradição ortográfica de escreves estas consoantes, também há perigo de que a sua

supressão modifica a pronúncia da palavra32, além disso a manutenção das consoantes

mudas evitaria o aumento das incogruências aparentes, conservando uma ortografia das

palavras da mesma família léxica. Quanto ao argumento sobre o alargamento dos casos de

homografia, há-de dizer que os homógrafos são, através do texto de AO, usados tão como

convém. Ou como uma justificação de não mudar nada para não aumentar o número destes

ou como uma justificação da reforma porque o número dos homográfos não importa já que

o sentido duma palavra se reconhece do contexto.

30

Pátková, Iva. Os Erros dos Portuguêses no Português, (Olomouc. 2009) 54

31 Pátková, Iva. Os Erros dos Portuguêses no Português, (Olomouc. 2009) 31

32 Com que os autores do AO 1990 não estão de acordo, já que há palavras com as vogais pre-tónicas abertas

(ou semiabertas) sem a presência de nenhum consoante não pronunciado na palavra: corar, padeiro, oblação,

pregar. (Nota Explicativa do AO 1990, Ponto 4.2)

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30

Resumindo, há de dizer que aplicando este critério em geral não seria possível nenhuma

reforma ortográfica e assim, os portugueses ainda no século XXI escreveriam por força da

etimologia latina: rheumatico asthma, etc. Além disso, cada língua viva muda e a

ortografia deve, da certa forma controlada, mudar também reflectindo a evolução da dada

língua.

4.1.5 O Critério da Consagração pelo Uso

Este critério é usado sobretudo para justificar as excepções das regras gerais no uso de

hífen e na supressão de h inicial. Porém, o hífen não se usa nas locuções de qualquer tipo

salvo algumas excepções já consagradas pelo uso, por exemplo: cor-de-rosa, arco-de-

velha, pé-de-meia, etc. (Acordo Ortográfico de 1990 Base XV, 6°) Igualmente , o “h”

mantém-se por força de etimologia mas não se escreve quando a sua supressão está

consagrada pelo uso: erva em vez de herva. (Acordo Ortográfico de 1990 Base II, 2°)

Por um lado, através deste critério a ortografia pode reflectir as mudanças da língua, ou

seja, seguir a língua que, de verdade, se usa ou, ao contrário, impedir a uma mudança

substituindo assim um pouco o critério da etimologia.

Por outro lado, a aplicação deste critério, sem defini-lo bem, pode ser até perigosa. Do

texto de AO 1990 não é claro o que é a consagração pelo uso, ou seja “quantas

ocorrências e em que contextos e por que sujeitos de escrita são suficientes para

determinar a existência de um novo uso?” (Emiliano 2008: 41) Sem a definição clara a

consagração pelo uso pode tornar-se uma boa excusa para as novas ortografias, já que

“todas as formas ortográficas em uso estão, por natureza, consagradas pelo uso.”

(Emiliano 2008: 42) Não obstante, não tudo o que se usa é ortograficamente correcto, ou

seja, não tudo o que se usa deve fazer parte da norma.33

Não obstante a tradição deve

respeitar-se. É importante definir a fronteira entre uma forma ortográfica estabilizada,

tradicional e então, consagrada pelo uso, e entre uma disparidade de que todos sabem que

não é correcta (apesar de ser usada com frequencia).

O problema, pois, não vemos no mesmo critério mas na sua má definição, ou seja, no facto

de que não é bem definido, e assim suscita dúvidas e incertezas. Assim, não se sabe porque

33

Há pouco jornais checos estavam cheias das notícias sobre a possível reforma da ortografia checa. Mais se

falava sobre possível validação ortográfica da forma abysme (agora o correcto é só abychom) a pesar de que

quase todos usam a forma abysme sabem que é incorrecta e (segundo as reacções) não querem que seja

consagrada como correcta.

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31

o hífen, por causa da consagração pelo uso, foi mantido em cor-de-rosa, mas suprimido em

cor-de-laranja que nos parece tão consagrado pelo uso como a palavra anterior.34

4.1.6 O Critério da Grafia Dupla

A consagração de grafias duplas em três domínios da ortografia (manutenção de

consoantes mudas, acentuação gráfica e capitalização) é o aspecto mais controverso de AO

1990. No caso de consoantes mudas a grafia dupla é o resultado da aplicação do critério da

pronúncia seguindo a regra geral que “o que se pronuncia deve também escrever-se” e se

varia a pronúncia culta, varia, então também a ortografia. Quanto às grafias duplas na

acentuação, há muitas palavras em quais as vogais pronunciam-se abertas em Portugal,

mas fechadas no Brasil. Por exemplo: António, Antônio, etc. O exemplo parecido é

também a primeira pessoa plural de pretérito perfeito simples dos verbos terminados em

“ar”: amamos (português do Brasil) x amámos (português europeu). Já que o timbre da

vogal tónica é aberta só no português luso-africano. Assim, a acentuação gráfica era

sempre um obstáculo à unificação da ortografia portuguesa. A solução possível seria ou

cancelar o uso do acento gráfico (o que foi proposto no AO de 1986) ou permitir mais

grafias possíveis (o que escolheram os autores de AO de 199é) para atingir a unificação

desejada (ou seja “unificação” porque como já vemos na realidade não muda quase nada,

no Brasil continuam a escrever segundo as suas regras e viceversa. Veja o capítulo 4.2.1)

Já menos compreensíveis são outras excepções facultativas na acentuação gráfica:

“Assinalam-se com acento circunflexo facultativamente, dêmos, primeira pessoa do plural

do presente do conjuntivo, para se distinguir da primeira pessoa plural do pretérito

perfeito simples demos; fôrma (substantivo) distinta de forma (substantivo; terceira pessoa

singular do ou a segunda pessoa do singular do imperativo do verbo formar).” (Acordo

Ortográfico de 1990 Base IX, 6°b) Talvez a mais absurda seja a grafia dupla no caso da

capitalização: antes os títulos dos livros escreviam-se com maiúscula (O Ano da Morte do

Ricardo Reis) agora é possível escrever os títulos dos livros ou em minúscula ou em

maiúscula (O ano da morte de Ricardo Reis ou O Ano da Morte de Ricardo Reis) o mesmo

passa com os domínios de saber.

Os autores de AO 1990 argumentam que o número das palavras com grafias duplas é

pequeno, de cerca de 0,5% do vocabulário,“o que é pouco mais de 575 palavras em cerca

de 110 000” (Nota Explicativa, ponto 4.1) Não obstante, há de dizer que entre as palavras

34

http://www.publico.pt/Sociedade/ano-ainda-sera-lectivo-ou-ja-sera-letivo-1525472?p=2 18 de Dezembro

de 2011

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32

com grafia dupla há alguns de uso muito frequente. Além disso, argumentam que os casos

de grafia dupla existiam já antes. Por exemplo, na ortografia brasileira já antes eram

possíveis as formas: subtil e sutil, amígdala e amídala, entre outros. Não obstante, a

maioria de linguistas e filólogos considera as facultatividades ortográficas como um

contrasenso e como uma representação da ”destrucção da ortografia” e da “abolição do

conceito de norma em Portugal.” (Emiliano 2008: 51) Isabel Pires de Lima, professora

catedrática de Literatura, deputada do Partido Social e ex-Ministra da Cultura, destaca que

“a facultatividade é, por definição contrária à própria ideia de normalização gráfica – de

ortografia.” (Emiliano 2008: 51)

Além disso, quando combinamos os tipos de facultatividades em certas palavras, em vez

de ter as grafias duplas, podemos ter ainda mais do que duas grafias correctas. Por

exemplo, a palavra electrónico que segundo o AO 1990 pode escrever-se ou com “c” ou

sem “c” e ou com o acento circunflexo ou com o agudo vai ter quatro grafias correctas:

electrónico-electrônico-eletrónico-eletrónico. O número de grafias pode ainda crescer no

caso de expressões complexas, locuções, fraseologias, colocações ou designações. Assim,

“a designação de um hipotético curso ou hipotética disciplina de “Electrotecnia e

Elecrónica” terá 32 formas correctas:35

1. Electrotecnia e Electrónica

2. electrotecnia e electrónica

3. Electrotecnia e Electrônica

4. electrotecnia e electrônica

5. Eletrotecnia e Eletrónica

6. eletrotecnia e eletrónica

7. Eletrotecnia e Eletrônica

8. eletrotecnia e eletrônica

9. Electrotecnia e Eletrónica

10. electrotecnia e eletrónica

11. Electrotecnia e Eletrônica

12. electrotecnia e eletrônica

13. Eletrotecnia e Electrónica

14. eletrotecnia e electrónica

35

http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.com/2008/06/fixar-o-caos-ortogrfico-2-electrotecnia.html, 15

de Novembro de 2011

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33

15. Eletrotecnia e Electrônica

16. electrotecnia e electrônica

17. Electrotecnia e electrónica

18. electrotecnia e electrónica

19. electrotecnia e Electrônica

20. electrotecnia e electrônica

21. Eletrotecnia e eletrónica

22. eletrotecnia e eletrónica

23. eletrotecnia e Eletrônica

24. eletrotecnia e eletrônica

25. Electrotecnia e eletrónica

26. electrotecnia e eletrónica

27. electrotecnia e Eletrônica

28. electrotecnia e eletrônica

29. Eletrotecnia e Electrónica

30. eletrotecnia e electrónica

31. eletrotecnia e Electrônica

32. electrotecnia e electrônica

Outra vez parece que os autores de AO 1990 se esqueceram das consequências possíveis

das mudanças introduzidas pelo Acordo, que possibilitando as facultatividades vai surgir

várias grafias possíveis, ou seja, correctas, o que vai levar o caos sobretudo no ensino da

língua portuguesa.

4.1.6 Resumé dos Critérios Aplicados

Em resumé, a aplicação total de um dos critérios mencionados seria absurdo, então, é

lógico que eram combinados vários critérios como o fonético ou o da obediência da

tradição.36

Já não é tão lógico que como critérios eram usados também os “pseudocritérios”

sem nenhuma base científica (e gostemos ou não uma língua é uma ciência) como

facilitação da aprendizagem e consagração pelo uso ou que o AO 1990 tornou possível as

grafias duplas. Além disso, os critérios eram aplicados inconsistenciamente: os critérios

usados a favor da manutenção dos acentos gráficos já não valem no caso das consoantes

mudas, e com excepções absurdas. Por exemplo, o verbo pôr continua a levar o acento

36

Por exemplo, a ortografia checa combina três critérios principais: fonético, morfológico (para evitar as

incogruências aparentes) e etimológico.

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34

gráfico para distinguir-se da preposição por. Apesar de que a maioria dos homógrafos

(sendo cada um da diferente classe gramatical) que levavam o acento gráfico só para

distinguir-se entre eles deixasse de levá-lo. Igualmente, não faz sentido manter o acento

circunflexo para se evitarem homografias, e suprimi-lo ou prohibi-lo noutros, apesar da

existência verificada de homografias do mesmo tipo.

O resultado da disparidade dos critérios aplicados e da argumentação usada é uma reforma

ortográfica cujas consequências ninguém conhece e todos subestimam, sobre tudo as suas

consequências no ensino da língua. “Como se fará o ensino da ortografia nas escolas?

Cada professor ensinará as grafias facultativas ou opcionais que preferir? Cada aluno

usará as grafias de que gostar mais? Que acontecerá aos livros ortograficamente

obsoletos das escolas e das bibliotecas frequentadas por crianças e jovens em idade

escolar?” (Emiliano 2008: 52) As perguntas que ninguém perguntou antes de assinar e

ratificar, “não se fizeram os estudos de avaliação ambiental estratégica, nem estudos de

viabilidade económica, técnica e cultural do Acoro Ortográfico. Não se fez um modelo ou

uma projecção do impacto da facultatividade gráfica no ensino, nem se propôs uma

metodologia didáctica” (Emiliano 2008: 53) e tudo está a ressolver-se agora quando as

novas regras ortográficas já se ensinam nas escolas básicas.

4.2 Objectivos do AO 1990

O AO de 1990 foi apresentado como um instrumento essencial para a unidade da língua

portuguesa e para o seu reconhecimento internacional. Neste capítulo vamos comentar

estes objectivos, os argumentos que eram utilizados para defendê-los e se os objectivos

eram cumpridos ou não. Salvo a unificação e o forçamento do prestígio internacional, os

autores falam também sobre a simplificação da ortografia da língua portuguesa como um

dos objectivos do AO 1990. Este objectivo já comentámos no capítulo 4.1.2.

4.2.1 A Unificação

O Acordo Ortográfico de 1990 pretende ser o acordo ortográfico que unifica as ortografias

de todos os países da língua portuguesa oficial (de Angola, de Moçambique, de Cabo

Verde, de Guiné-Bissau, de Timor-Leste e de São Tomé e Príncipe). Neste capítulo vamos

comentar os argumentos usados a favor deste objectivo, qual eram os obstáculos em atingir

o objectivo e se, no fim, a unificação foi alcançada ou não.

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35

4.2.1.1 Prós e Contras da Unificação

A língua portuguesa é falada por cerca de 220 milhões de pessoas no mundo, o que a

coloca na quinta posição entre as línguas mais faladas do mundo. Entretanto, era o único

idioma ocidental a adotar duas grafias oficias. O AO 1990 não é o primeiro acordo que

pretende unificar as ortografias do português, já os acordos de 1945 e 1986 intentaram

unificá-las. Tentaram impor uma unificação absoluta (até 99,5% do vocabulário geral da

língua) à custa da grande simplificação do sistema da acentuação gráfica. O que foi uma

das razões dos seus fracassos.

A defesa da unidade como um dos objectivos principais é invocada no próprio preâmbulo

de AO 1990 que pretende “constituir um passo importante para a defesa da unidade da

língua portuguesa.” A Nota Explicativa até fala sobre o risco de “desagregação da

unidade essencial da língua portuguesa resultante de emergência de cinco novos países

lusófonos.” (Nota Explicativa, Ponto 2) E existem outros defendores: Lauro Moreira, o

diplomata brasileiro, dá um exemplo da importância da uniformização das regras: “O

Brasil, que faz 350 milhões de livros didácticos por ano, mandou uma grande quantidade

para Angola. Os angolanos ficaram muito satisfeitos, mas de repente deram-se conta de

que não podiam distribuí-los. As diferenças ortográficas iam causar uma grande confusão

nas crianças.” O mesmo responsável resume assim as diferenças entre o português dos

dois lados do Atlântico: “No Brasil fala-se de 'bonde' e aqui diz-se 'eléctrico'. Isso é

óptimo: ter várias palavras para designar um objecto só enriquece a língua. O que é ruim

é a palavra 'eléctrico' escrever-se de uma maneira aqui e de outra no Brasil. Nesse

aspecto, os falantes de espanhol estão muito à nossa frente, porque escrevem da mesma

maneira em qualquer latitude que estejam.”37 Também Tony Bellotto, o músico brasileiro

e o apresentador do programa Afinando a Língua cree que “a unificação do português tem

um sentido político positivo.”38

Parece que a diferença na ortografia representa um

problema mais grave do que as diferenças léxicas. Com que não estamos de acordo, já que

as diferenças ortográficas não impedem à compreensão, ao contrário das diferanças no

vocabulário. Ademais, usar uma palavra “brasileira” no contexto do português europeio

parece-nos tão inadequado como usar neste contexto a ortografia brasileira.

4.2.1.2 Obstáculos na Unificação

Apesar de que o AO 1990 pretende unificar as ortografias de todos os países da língua

portuguesa oficial, depois de ler o AO 1990 fica uma noção de que se trata de um

37

http://www.ciberduvidas.com/noticias.php?rid=1354, 10 de Outubro de 2011 38

http://veja.abril.com.br/120907/p_088.shtml, 5 de Dezembro de 2011

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36

“negócio” só entre o Brasil e Portugal, já que os outros países são mencionados só poucas

vezes.

Tão como todas as línguas vivas, também o português contém diferentes variantes e

variedades. O português falado em Portugal continental e na Madeira e Açores é diferente

do português do Brasil e dos outros países da língua portuguesa oficial. No Acordo fala-se

sobretudo das variedades brasileira e portuguesa, cada variedade ainda contém várias

variantes internas. As variedades dos outros países da língua portuguesa oficial não estão

tão estudadas e não se conhecem bem as suas normas cultas. Na realidade, nem as normas

brasileira e portuguesa são bem definidas. Claro, existe mais estudos e trabalhos sobre este

assunto mas trata-se mais das gramáticas descriptivas do que as normativas. A situação é

ainda pior no caso do português dos países africanos da língua portuguesa oficial e de

Timor-Leste onde nem há uma norma bem definida nem há estudos do português falado

ali.

Achamos impossível unificar o português de todos os oito países se não se conhecem as

suas normas. Não é possível reformar algo que se desconhece, nem se pode aplicar o

critério da pronúncia se se desconhece a pronúncia culta o que se reflete no facto do que o

AO 1990 nem aceitou nenhuma regra para a ortografia das palavras adoptadas das línguas

africanas39, já integradas em português. Então, por exemplo o Novo Dicionário Universal

da Língua Portuguesa da Texta Editora contem três grafias para a moneda angolana:

cuanza, kuanza, kwanza, duas grafias para a dança angolana kizomba ou quizomba, mas só

uma forma a uma língua angolana quimbundo.

A variedade de Portugal é também designada como variedade luso-africana, como

contraposta à variedade brasileira. Porém, a designação “o portuguêsluso-africano ou a

variedade luso-africana” é “do ponto de vista linguístico, incorrecta.”40

Já que o português

falado em Portugal, como sistema linguístico, é diferente do português de cada um dos

países da língua portuguesa oficial. Há uma aproximação luso-africana na norma

ortográfica, mas também aqui há diferenças, principalmente no uso do apóstrofo e no uso

das letras “k”, “w” e “y”.

E como entre as variedades existem diferenças não só na ortografia, mas também no

léxico, na pronúncia, na prosódia, na morfossintaxe e na sintaxe (veja o capítulo 3.2), não é

39

O mesmo vale também para as palavras provenientes do concanim, ou de chinês , ou de tétum que ifluem o

léxico em Goa, Macau e Timor-Leste.

40 http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 10, 10 de Dezembro 2011

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37

possível unificar o português só através do acordo ortográfico. Dado que, um acordo

ortográfico apenas regula a forma como se escreve, já não altera a pronúncia (ou pelo

menos, não deveria) das palavras nem gramática nem pode obrigar os portugueses a usar as

palavras que se usam no Brasil e viceversa. Além disso, dado que os portugueses brasileiro

e europeio têm cada um o sistema vocálico diferente, principalmente diferentes timbres das

vogais, nem a aplicação do critério fonético no AO 1990 garante a unificação das suas

ortografias.

Alguém pode pôr objecções que os que participaram nos encontros sobre o novo acordo

ortográfico eram as pessoas de reconhecida qualidade científica como João Malaca

Casteleiro, professor, filólogo e linguista português, Lindley Cintra, professor da

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e um dos mais importantes linguistas

porugueses, Antônio Houaiss, intelectual brasileiro, autor do Dicionário Houaiss da Língua

Portuguesa, então, supõe-se que não deveriam ter aceitado algo sem “lógica linguística”.

Não obstante, aceitaram. O que Fernando Venâncio na revista Ler explica com a ideia da

Lusofonia dizendo que “a nossa Academia (a portuguesa) funciona já cronicamente em

modo “lusófono. Os políticos não quiserem ficar atrás, e foram assinando de cruz tudo

quanto prometesse mais “lusofonia”.41

Apesar de que já no ano de 1989 Eduardo

Lourenço, professor e filósofo português, revele em Imagem e Miragem da Lusofonia a

verdade deste mito dizendo que “A comunidade luso-brasileira é um mito inventado

apenas pelos portugueses. Nunca formaremos um conjunto.”42

E acrescenta: “Para o

nosso (luso-brasileiro) presente mútuo seria urgente rever, de uma ponta à outra, toda

essa história imaginária, hipócrita e nefasta nos efeitos produzidos, que se esconde sob a

etiqueta de relações culturais entre Portugal e o Brasil.”43

Ou seja, não existe nenhuma

língua portuguesa comum que há-de defender como acabamos de explicar.

4.2.1.3 A Unificação na Práctica

O AO 1990 promete unificar ortograficamente 98% do vocabulário geral44

do português.

Em alguns casos a unificação é um resultado da reforma ortográfica, digamos, natural, por

exemplo, a supressão das consoantes mudas em alguns contextos. Noutros casos é o

resultado de ter possibilitado as grafias duplas. Possibilitar as grafias duplas é uma maneira

41

Venâncio, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89. 42

Venâncio, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89. 43

Venâncio, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89.

44 A falta da definição desta designação comentamos no capítulo 4.3.2

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38

como mudar a ortografia sem mudar nada. O que muda é o conceito de ortografia. (Veja o

capítulo 4.1.6) Assim, os autores do AO 1990, de facto, admitem que a unificação é

impossível, já que não se pode atingir à unificação através das facultatividades.

Também a rétorica dos autores do AO vai mudando: o AO 1990 diz que todas as variedade

são correctas em todos os países da língua potuguesa oficial. Já na Nota Explicativa se

escreve que vão existir os dicionários da língua portuguesa que vão registrar as duas

formas em todos os casos de dupla grafia, mas também vão a esclarecer tanto quanto

possível sobre o alcance geográfico e social desta oscilação da pronúncia. (Nota

Explicativa do AO 1990, Ponto 4.4) Na página de portal da Língua Portuguesa45

numa lista

das mudanças que AO traz se escreve: “assim detectar será aceite no Brasil, mas nos

restantes países a norma aconselherá detetar.”46

O que indica explicitamente que as

diferenças de pronúncia equivalerão a diferenças da grafia com determinados alcances

geográficos, ou seja, as ortografias nacionais (também se fala das “subortografias

nacionais”47) serão diferentes dependendo do território

48. Assim se evitará uma grande

variação interna de cada espaço nacional.49

Em geral, podemos dizer que os dicionários portugueses mencionam como primeira a

versão portuguesa e os brasileiros, logicamente, a brasileira. Por exemplo, o dicionário

brasileiro online Michaelis continua a existir sem conhecer a palavra facto (fato na norma

brasileira).50

A Priberam lançou dois correctores ortográficos distintos, um para o

português europeu e um para o português brasileiro. “O corrector ortográfico para o

mercado do português europeu” vai incluir só as variantes portuguesas e ao revés. “Esta

opção justifica-se pela manutenção das prácticas ortográficas das duas normas e evita

excepções que possam confundir os utilizadores e gerar ainda mais dúvidas

ortográficas.”51

É impossível utilizar num documento diferentes grafias. Então, num

documento, por exemplo, não pode aparecer um verbo na primeira pessoa plural do

pretérito perfeito do indicativo com o acento gráfico e um sem o acento gráfico.

45

http://www.portaldalinguaportuguesa.org, 15 de Setembro 2011 46

http://www.portaldalinguaportuguesa.org/index.php?action=novoacordo&page=mudanca, 15 de Novembro

2011 47

http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 28 de Novembro 2011 48

http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 28 de Novembro 2011

49 http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 28 de Novembro 2011

50 http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?typePag=novaortografia, 15 de Novembro 2011

51 http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 4, 28 de Novembro 2011

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39

Parece que o AO 1990 não muda a ortografia tanto como pensávamos. Em vez de unificar

(o que foi o objectivo) mais reconhece a diversidade do português falado em todos os

países da língua portuguesa oficial. A questão é como vai parecer o texto dedicado a todos

os países de língua portuguesa oficial, estará cheio das barras tão como o próprio AO

1990?

4.2.2 O Prestígio

No preâmbulo do AO menciona-se também o prestígio internacional como um dos

principais motivos para a reforma ortográfica: AO 1990 “constitui um passo importante

para a defesa da unidade essencial da língua portuguesa e para o seu prestígio

internacional.” (O Preâmbulo do Acordo Ortográfico de 1990) Mesmo o ministro da

Cultura em 2008 José António Pinto Ribeiro afirmou que a internacionalização e a

afirmação do português só pode realizar-se através de um acordo ortográfico. (Moura

2008: 61) O semanário Expresso vai ainda mais longe e no seu Editorial do dia 1 de

Dezembro de 2007 escreve: “Se Portugal não avançasse para um acordo com Brasil (...)

em breve o português de Portugal não seria mais do que uma bizarria falada por uns

meros 10 milhões de pessoas.” (Moura 2008: 21) Como se sem o acordo ortográfico não

existesse o português.

Uma língua bem consolidada não precisa do acordo ortográfico para fortalecer o seu

prestígio. E o português com certeza é uma língua bem consolidada, já que é a língua

oficial da União Europeia e a língua do trabalho do Parlamento Europeu, na África é a

língua oficial de seis países multilingues e da Organização de Unidade Africana, na

América é língua oficial do Brasil, da Mercosul (Mercado Comum do Sul) e da

Organização dos Estados Ibero-Americanos. (Emiliano 2008: 7) Uma língua pode

fortalecer o seu prestígio através do apoio e melhoria sistémática do ensino de dada língua

e através da sua cultura que é “o factor essencial para o desenvolvimento intelectual, a

qualificação, a competividade e a criatividade, inclusivamente nas ciências exactas e nas

áreas da inovação, para a realização pessoal e para a cidadania.” (Moura 2008: 62) Não

obstante, o ministro da Cultura apostou na internacionalização do português como uma

marca económica. As razões políticas e económicas prevaleceram as culturais e as

científicas.

Além disso, um acordo ortográfico mal preparado, lacunar, ambíguo e cheio das

facultatividades ainda menos pode contribuir para fortalecer o prestígio internacional da

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40

língua. O AO 1990 representa um problema para os falantes nativos e a situação é ainda

mais complicada para falantes que aprendam o português como língua estrangeira. O que,

achamos, vai ferir e não fortalecer o prestígio internacional do português.

E, comentando aindo a citação do Expresso, uma língua tem valor só quando tem o certo

número mínimo (mais grande do que 10 milhões) de falantes? Não. Segundo este critério o

checo seria também só uma bizarria. Não obstante, uma língua faz uma parte importante da

identidade e da cultura nacional e achamos este papel duma língua mais importante do que

“o pragmático”, “o práctico”.

4.3 Erros e ambiguedades do AO 1990

O Acordo Ortográfico de 1990, como já apontamos, tem várias faltas, seja na

argumentação usada, seja nos critérios aplicados. Além disso, há vários erros técnicos e

gralhas no seu texto e no texto da Nota Explicativa, há terminologia inadequada, e estudos

não especificados. Tudo isto vamos comentar nos capítulos seguintes.

4.3.1 Estudos não definidos e terminologia inadequada da Nota Explicativa de AO

Além dos erros técnicos e gralhas aparecem mesmo no texto do AO 1990 e no texto da

Nota Explicativa do AO 1990 estudos não especificados e terminologia mal definida e

pouco científica.

Já comentámos as dificuldades surgidas em definir a norma culta (veja capítulo 4.5.1) que

o AO 1990 menciona várias vezes como base das mudanças mas nunca a especifica. Outra

designação problemática é a expressão “vocabulário geral da língua”. Dado que, os

lexicólogos distinguem entre o vocabulário corrente, vocabulário comum e vocabulário de

especialidade e cada este grupo é bem definido. (Emliano 2008: 60) Então, os linguistas

não usam a categoria de “vocabulário geral” e nem Nota Explicativa o define, é um

término vazio e pouco científico.

Além disso, os autores da Nota Explicativa do AO 1990 usam às vezes uma argumentação

inadequada à natureza do documento. Por exemplo, na parte sobre a justificação da

supressão de consoantes não articuladas diz-se: ”A divergência de grafias existentes neste

domínio entre a norma lusitana, que teimosamente conserva consoantes que não se

articulam em tudo o domínio geográfico da língua portuguesa (...).” (Nota Explicativa do

AO 1990 Ponto 4.2) ou na parte sobre as incogruências aparentes: “Aliás, divergências

ortográficas do mesmo tipo das que agora se propõem foram já aceites nas bases de 1945

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41

(...), que consagram grafias como assunção ao lado do assumptivo, (...) A razão então

aduzida foi a de que tais palavras entraram e se fixaram na língua em condições

diferentes. A justificação da grafia com base na pronúncia é tão nobre como aquela

razão.” (Nota Explicativa do AO 1990 Ponto 4.3) Nem a palavra “nobre” nem

“teimosamente” consideramos adequadas para o documento deste tipo. Já que o Acordo

Ortográfico devia ser um documento científico e objectivo no qual, então, não devem

aparecer estas palavras, que n qo são nem científicas nem objectivas até dão o tono

ofensivo à Nota Explicativa.

Além disso, no segundo caso a justificação é contraditória, no primeiro caso a razão da

existência das incogruências aparentes era a etimologia, agora a razão é o critério fonético

que os autores preferenciam à etimologia. Então, a etimologia é “nobre” só quando

convém. Ou seja, o maior problema de toda a argumentação é que tudo se faz a propósito.

A Nota Explicativa usa em algumas secções argumentos de base quantitativa para justificar

a reforma ortográfica. Por exemplo: Estes estudos baseiam-se numa lista (designada como

corpus) das palavras desconhecidas. “(...) com base no já referido corpus de cerca de

110 000 palavras do vocabulário geral da língua, verificou-se que os citados casos de

dupla acentuação gráfica abrangiam aproximadamente 1,27% (cerca de 1400 palavras).”

(Nota Explicativa do AO 1990 Ponto 5.2.4) Não se sabe que palavras eram escolhidas,

nem porque são só 110 000, já que já o dicionário Houaiss comporta cerca de 228 000

palavras. A Nota Explicativa menciona várias vezes os estudos que foram feitos: “(...) A

questão da acentuação gráfica tinha, pois, de ser repensada. Neste sentido,

desenvolveram-se alguns estudos e fizeram-se vários levantamentos estatísticos com o

objectivo de se delimitarem melhor e quantificarem com precisão as divergências

existentes nesta matéria.” (Nota Explicativa, Ponto 5.1) Mas, já não se diz nada sobre o

tipo, o método e o objectivo destes estudos. Que estudos, por quem foram realizados e

como, onde estão publicados ou onde podem ser consultados ou verificados. (Emiliano

2008: 83)

4.3.2 Erros técnicos e gralhas

A Nota Explicativa e o AO 1990 contêm também os erros técnicos, por exemplo:

1) Na Base II, 2°b confunde a prefixação pela composição, escrevendo que as palavras:

desarmonia, desumano, inábil, etc. surgiram por via de composição, o que não é correcto,

surgiram por via de prefixação.

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42

2) Na Base XIII 2° o AO 1990 designa a terminação “zinho” ou “zito” como um sufixo, na

realidade trata-se do interfixo “z” seguido por um sufixo

3) Na Base X diz-se que o “i” de bainha, moinho, ou rainha constitui sílaba com a

consoante seguinte, porém ninguém conhece uma sílaba “–in”.

4) A Base XX chama aos dígrafos “gu” e “qu” diagramas.

5) Na mesma Base aparece a expressão “ou sejam” em vez de “ou seja”. .(Moura 2008:40)

6) No ponto 5.3 da Nota Explicativa os autores usam a expressão “estructura mórfica” que

não se utiliza no português, trata-se da estructura morfológica ou estructura interna.

.(Emiliano 2008: 88-89)

7) Confundem a sílaba gráfica com a sílaba fonética. .(Emiliano 2008: 88)

8) A Expressão “falsas esdrúxulas” e “verdadeiras esdrúxulas” não se usa na terminologia

linguística portuguesa.(Emiliano 2008: 89)

9) O “de” nas formas de hei-de, há-de, etc. é desginado como uma preposição em vez do

elemento de ligação.

12) Os autores de AO 1990 usam frequentemente terminologia linguística datada, por

exemplo: a expressão “oscilação da pronúncia” é usada tanto para designar a diferença

fonética entre Portugal e o Brasil como para designar a variação fonética em Portugal ou

no Brasil. A designação mais apropriada seria ou diversidade ou variação linguística.

.(Emiliano 2008: 61)

11) O Acordo Ortográfico e a Nota Explicativa de AO usam a norma que estão a

implementar e que defendem, então, se as palavras que têm duas grafias mencionam-se

ambas, p.e.tónica/tônica, erróneo/errôneo mas não sempre aparecem só respetivo, ingénuo,

colónia, etc. Até, às vezes aparecem palavras escritas segundo as regras do Acordo

Ortográfico de 1945, por exemplo: “(...) por que se há-de usar o diacrítico para (...)”

(Nota Explicativa do Acordo Ortográfico de 1990, Ponto 5.4.3)

4.3.3 Ambiguedades do AO 1990

Além dos erros técnicos e gralhas o AO 1990 contém também algumas ambiguedades por

causa das quais e devido a falta de união dos especialistas em torno da matéria a aplicação

do AO 1990 sem os recursos úteis seria bastante difícil. A língua portuguesa assim estava

em risco “de se “desacordar” dadas as divergências de interpretação entre linguistas

portugueses e brasileiros”52

para que alertou também o presidente do Instituto

Internacional da Língua Portuguesa, Godofredo de Oliveira Neto. (veja o capítulo 6.1)

52

http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_de_1990, 10 de Novembro 2011

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43

A Priberam53

no seu documento Critérios da Priberam relativamente ao Acordo

Ortográfico de 1990 (português europeu)54

aponta algumas ambiguedades do AO: Na

Base IX, 3° diz-se que “não se acentuam graficamente os ditongos ei e oi da sílaba tónixa

das palavras paroxítonas” o que significaria retirar também o acento nas palavras: géiser,

Posêidon, destróier ou contêier que assim passariam a ser agudas, então, o dicionario de

Priberam (tanto como o VOP) continua a escrevê-los com o acento gráfico.

Segundo a Base IX, 8° não se acentuam do acento circunflexo a vogal tónica fechada com

a grafia “o”, assim deixariam de acentuarse também as palavras como herôon que assim

passariam a ser agudas. O corrector não segue o AO 1990 nestes casos.

Segundo a Priberam mais ambiguedades há no capítulo do uso do hífen, já que surgiram as

diferenças na interpretação e na aplicação desta parte do AO 1990 de VOP e da

PRIBERAM. Por exemplo, o VOP de ILTEC mantem as duas grafias para as palavras

água-de-colonia, mais-que-perfeito, pé-de-meia que o AO 1990 hifeniza, o corrector de

PRIBERAM admite só a variedade com hífens.

Segundo o AO os compostos verbo + substantivo são geralmente hifenizados, como

excepções o Acordo menciona as palavras mandachuva e paraquedas explicando que

nestes dois casos “se perdeu a noção de composição” o que não obstante está contra a

tradição lixicográfica portuguesa e brasileira, já que em geral estas palavras escrevem-se

hifenizadas. Ademais, a lista de excepções contém “etc.” o que dá uma dúvida se não há

mais excepções (com o verbo parar ou com mandar).

4.3.4 Resumé

Seguramente, não mencionamos todos os erros e ambiguedades do AO 1990, mas achamos

esta lista suficiente para deixar claro que um documento deste tipo mereceria ser preparado

melhor. Nesta lista também se reflecte o facto de que o AO 1990 é mais um documento

político do que linguístico, já que contém tantos erros linguísticos. As gralhas,

ambiguedades, regras lacunares, tudo isto dá uma impressão de grande despreparo e de que

algumas coisas não eram bem pensadas antes de o Acordo ter sido ratificado o que

discredita bastante o AO 1990.

53A Priberam é uma espresa especialista no desenvolvimento de software, principalmente se dedica a quatro

áreas: a linguística, jurídica, motores de pesquisa e a saúde.

54 http://www.priberam.pt/docs/CriteriosFLiPAO.pdf, 28 de Novembro de 2011

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44

5. Reacções ao AO 1990

O AO 1990 provocou muitas críticas, tanto entre os escritores ou expertos da língua

portuguesa (linguistas, professores, etc.) como entre o público português. É interesente,

também, observar como reaccionam os jornais portugueses na mudança da ortografia. As

reacções ao AO 1990 vamos comentar neste capítolo.

5.1 Todas as reformas geram controvérsias

Primeiro, há de dizer que todas as reformas ortográficas sempre provocaram algumas

controvérsias. Dado que no ano da publicação da primeira reforma ortográfica do

português 70% dos portugueses eram analfabetos, as reclamações foram feitas sobretudo

por jornalistas e escritores. Um dos principais oponentes às alterações foi o escritor

Teixeira de Pascoaes: ”Na palavra lágryma, […] a forma do y é lacrymal; estabelece […]

a harmonia entre a sua expressão gráfica ou plástica e a sua expressão psicológica;

substituir-lhe o y pelo i é ofender as regras da Estética.”55

Do mesmo modo pensa sobre a

palavra abysmo: “Na palavra abysmo, é a forma do y que lhe dá a profundidade,

escuridão, mistério... Escrevê-la com i latino é fechar a boca do abismo, é transformá-la

numa superfície banal.”56

Há de dizer que quanto aos escritores “lhes é dada sempre certa

liberdade no uso da língua, por exemplo, Sophia Mello Breyner Andresen escreveu sempre

dansa em vez de dança porque o s lhe parecia transmitir muito melhor o movimento das

bailarinas do que o ç com uma cedilha colhada a chão.”57

Outro exemplo parecido é o

escritor moçambicano Mia Couto, que cria as novas palavras que não é possível encontrar

nos dicionários oficiais, etc.

Também o público costuma estar contra as reformas ortográficas. Normalmente lhe parece

que a reforma anterior é suficiente. A gente conserva certo respeito à língua materna

considerando-a um patrimonio intocável e apesar de não conhecer ou não saber aplicar as

regras, não estão a favor de mudá-las. Há-de dizer que mudar hábitos de escrita implica um

55

http://correiodaeducacao.asa.pt/214818.html, 15 de Dezembro de 2011

56 http://www.ciberduvidas.pt/aberturas.php?id=959, 16 de Dezembro de 2011

57 MURTINHEIRA, Alcides. O Novo Acordo Ortográfico: O novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa.

[online]. [cit. 2011-12-28]. Dostupné z: http://www.clpic-viena.com/html/at-lp-ao.htm

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45

processo de desautomatização e uma reaprendizagem, o que custa. Ademais, nessa altura

têm o seu peso também as consequências económicas. Apesar de que os livros não vão cair

em desuso, os manuais e diccionarios têm de ser reeditados. (Veja o capítulo 6)

Apesar de que sejam os linguistas (nomeamente, a Academia Brasileira de Letras e a

Academia das Ciências de Lisboa58) que estudam a língua e propõem as alterações

ortográficas e então, eles únicos devem estar satisfeitos com as mudanças, não sempre é

assim. Há uns que estão contra uma norma considerando-a artificial (veja o primeiro

capítulo) e no final são os políticos os que têm a última palavra na ratificação dos acordos.

Há-de admitir que língua faz parte da política, até falamos sobre uma política linguística.

Por exemplo, quando as antigas colónias portuguesas independizaram-se, foi a decisão

política e não linguística adoptar o Português como a língua oficial. E são os políticos que

a final ratificam ou rejeitam o acordo ortográfico. Não obstante, uma das coisas que mais

se reprocha ao AO 1990 é ser sobretudo um acordo político sem que fossem nem escutados

opiniões de especialistas.

5.2 Reacções ao AO 1990 em Portugal, no Brasil e nos Países Africanos

Também no caso do AO 1990 há muitos escritores contra o novo acordo ortográfico,

mencionemos mesmo Mia Couto que deixou claro que não aceitaria que as suas obras

fossem publicadas de acordo com a nova ortografia. Em 2008 acrescentou que “o acordo

ortográfico tem tanta excepção, omissão e casos especiais que não traz qualquer mudança

efectiva”.59

A escritora portuguesa Inês Pedrosa também considera o AO 1990

completamente inútil.60

Não obstante, há também escritores que estão a favor do AO 1990.

Por exemplo, a escritora brasileira Lya Luft, autora de Perdas & Ganhos e colunista de

VEJA acha que “a a unificação já devia ter ocorrido antes. É uma medida civilizada. A

diferença na escrita dos países que falam português atrapalha o intêrcambio econômico e

editorial. Como toda reforma, essa proposta tem suas falhas. Mas acho ótimo, por

exemplo, o fim do trema. Sou a favor de tudo que vai no sentido da simplificação.”61

Ou os

que talvez não gostassem da reforma mas admitem que a unificação é bem importante,

58

Academia das Ciências de Lisboa é uma academia indisciplinária, ao contrário, da Academia Brasileira de

Letras que cuida só a “cultura da língua oficial”. 59

http://canais.sol.pt/paginainicial/cultura/interior.aspx?content_id=79999, 15 de Dezembro de 2011

60 http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/lazer/cultura/acordo-ortografico-e-completamente-inutil, 16 de

Dezembro de 2011

61 http://veja.abril.com.br/120907/p_088.shtml, 5 de Dezembro de 2011

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46

como o gramático brasileiro Evanildo Bechara: “Do ponto de vista político, a unificação

ortográfica é importante. Implica numa maior difusão da língua portuguesa nos seus

textos escritos. Mas a reforma poderia ter avançado mais e de forma mais inteligente na

racionalização dos acentos e do hífen. As regras ainda são pouco acessíveis para o

homem comum.”62

Ou seja, o gramático está de acordo com a unificação, mas as regras

ainda lhe parecem bastante complicadas e não muito bem pensadas.

O AO 1990 despertou muitas protestas em Portugal, segundo uma sondagem realizada pelo

jornal Correio de Manhã em Março de 2009 57,3% dos portugueses estavam contra a

aplicação do Acordo Ortográfico e 66,3% dos inquiridos afirmaram que não pretendiam

alterar a sua forma de escrever.63

Mais de 126 mil pessoas64

assinaram o Manifesto em

Defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico, a página “Não ao Acordo

Ortográfico” do Facebook congregou até agora 116 134 adesões.65

Há-de dizer que no

Facebook existe também a página “Eu sou a FAVOR do Novo Acordo da Língua

Portuguesa”, não obstante há muitos mais grupos contra o acordo do que a favor.

Os especialistas queixam-se de ser ignorados pelo governo português. Dos livros

criticantes mencionemos, pelo menos, os seguintes: Acordo Ortográfico: a Perspectiva do

Desastre de Vasco Graça Moura, O Fim de Ortografia de António Emiliano e Demanda,

Desastre, Deriva de Francisco Miguel Valada. Além disso, o debate ainda (três anos depois

da ratificação do AO 1990 em Portugal) vive nos blogues pessoais, no jornal Público e no

“Ciberdúvidas da Língua Portuguesa”.

No Brasil o AO 1990 era aceitado com mais calma do que em Portugal. Dado o facto de

que as mudanças vai atingir mais as palavras portuguesas (1,6% das palavras portuguesas

são afectadas pelo Acordo) do que as brasileiras (0,5%).66

Além disso, a reforma mais

discutida em Portugal, a supressão das consoantes mudas, já está em vigor na ortografia

brasileirá desde o ano de 1931. Ademias, muitos brasileiros tem a sensação do que o

português de Portugal deixará de existir em favor do o brasileiro, o que está interligado

com o objectivo da unificação (veja o capítulo 4.2.1). Então, os brasileiros são

surpreendidos ou contentos e os portugueses ficaram assustados. A verdade é que saíram

62

http://veja.abril.com.br/120907/p_088.shtml, 5 de Dezembro de 2011 63

http://blogtailors.blogspot.com/2009/03/correio-da-manha-resultados-da-sondagem.html, 10 de Novembro

de 2011 64

VENÂNCIO, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89. 65

VENÂNCIO, Fernando. Visita guiada ao reino da falácia. Ler. 2011(105), 36-40, 88-89. 66

http://pt.wikipedia.org/wiki/Acordo_Ortogr%C3%A1fico_de_1990, 6 de Dezembro 2011

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47

muitos artigos mistificantes quanto a este tema, por exemplo: Portugal curva a espinha de

Marcos de Castro67

no qual ele expresa a sua surpressa de Portugal ter assinado o AO

1990. Segundo ele assim o português de Portugal deixa de existir, dado que aos

portugueses o AO 1990 afecta-os muito mais do que aos brasileiros, já que as palavras

como facto e acto vão escrever-se sem “c”, apesar de ser pronunciado nestas palavras em

Portugal, o que não é verdade.68

Também, nas letras dos leitores há muitas indignadas

proclamando que nunca vão escrever “fato” em vez de “facto”. Têm razão, não vão, sendo

que o “c” na palavra facto (o acontecimento) é em Portugal sempre pronunciado, vai

também manter-se na escrita. Vasco Graça Moura considera o acordo como uma grande

pérdida para Portugal e para os países africanos da língua portuguesa oficial, até fala dum

tipo de neocolonialismo da parte do Brasil: “A adopção do Acordo redundará em total

benefício do Brasil. Os PALOP e Timor ficarão completamente dependentes da edição e

das indústrias culturais brasileiras. E Portugal lá chegará. No resto do mundo, o Acordo

não fará aumentar numa só página a quantidade de peças traduzidas, numa só pessoa o

número de estudantes ou falantes da língua e num só forum internacional a utilização

dela.” (Moura 2008: 62)

Quanto aos países africanos, o maior problema é que o acordo não é bem debatido. Como

aponta Ondjaki: “Houve debate em cima de uma decisão que já estava tomada, não houve

um debate que conduziu à decisão.”69

E como não havia ampla divulgação ou debate

público, são esporádicas também as reacções do público. Os que protestam são sobretudo

os escritores, como já mencionados Ondjaki, Mia Couto. Outra escritora moçambicana

Pauline Chiziane sublinha as consequências económicas do acordo ortográfico: “Quantos

dicionários Moçambique terá de comprar de novo? Quantos livros de escola terão de ser

refeitos, em nome de um acordo ortográfico? Será que valerá a pena sacrificar tanto

dinheiro dos pobres só para tirar um “c” ou um “p”? (…) Este Acordo é uma bola que

está a ser jogada dos dois lados do Atlântico: Portugal e Brasil. É claramente a estes dois

países que o assunto interessa, nomeadamente às suas editoras. (…) É um jogo de

potências para o qual não sei se nós, moçambicanos, estamos preparados. Acho que

somos demasiado pobres para perdermos energias com isso, quando devemos fazer muito

67

http://www.educacionista.org.br/jornal/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=1695, 10 de

Setembro 2011

68 Acto vai continuar a escrever-se ato, mas o c não se pronuncia nesta palavra e facto vai continuar a

escever-se com c, já que esta está a pronunciar-se

69 http://www.hojelusofonia.com/ondjaki-contra-o-acordo-ortografico/, 25 de Dezembro de 2011

Page 48: O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990 · 2012-01-05 · controvérsias que gera o Novo Acordo Ortográfico. 1 Vamos concentrar-nos nas críticas feitas em Portugal.

48

mais.”70

Ou seja, para muitos o AO 1990 significa só custos com poucos benefícios. Sobre

as consequencias do AO 1990 na vida real vamos ainda falar no capítulo 6.

5.3 Reacção dos Jornais Portugueses

Quanto à reacção dos jornais é possível dividi-los em três grupos: os do primeiro grupo

estão abertamente a favor do acordo ortográfico, já estão a usar a ortografia nova, fazem a

promulgação do AO 1990 e criticam os que criticam o AO 1990. Neste grupo pertence

todo o grupo Imprensa: JL71, Expresso, Visão e Visão Junior. O segundo grupo, o oposto

ao primeiro, é representado pelo jornal Público que está abertamente contra a aplicação do

novo acordo ortográfico. O terceiro grupo, o mais numeroso, são os jornais que continuam

a escrever segundo a ortografia antiga mas prometem a aplicar a novo pronto sem dizer

quando e sem, na realidade, dizer abertamente a sua opinião.

Assim, o semanário Expresso adaptou a nova ortografia já no ano 2010, exactamente no 25

de Junho de 2010 com o artigo titulado “Expressa poupa letras e adota acordo”, no mesmo

ano adoptou a nova ortografia o desportivo Record. A adopção do novo acordo ortográfico

previram para este ano (2011) o Sol, o DN, o JN, “i” e “A Bola”. Não obstante, a sua

promessa não cumpriu nenhum deles.72

O caso diferente é o do “Público” que já desde o

ano 2009 segue declarando que não aceitará o AO 1990.

Dado que o período de transição para a nova ortografia terminará no Maio de 2015 e

durante este é possível usar ambas as ortografias (mas não se podem misturar) o Expresso

nem os outros jornais podem obrigar os seus cronistas a usar uma ou outra ortografia, nem

o fazem. Então, se algum cronista quer escrever segundo a nova ortografia num jornal que

ainda não o adaptou, pode e debaixo do seu artigo só aparece uma frase em negrito ou

itálico: i :"Texto escrito segundo o novo acordo ortográfico", JN e DN: “Este texto da

agência Lusa foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico” ou no Correio de Manhã:

“Coluna segundo as regras do Acordo Ortográfico”73

Nem o Público que está contra o

AO desde o ínicio proíbe aos seus cronistas usar as regras do AO 1990 se querem e põe

debaixo dos seus artigos esta frase: “A pedido do autor, este artigo respeita as normas do

70

http://mocmagazine.blogspot.com/2008/06/acordo-ortogrfico-cria-me-confuso-1.html, 16 de Dezembro de

2011

71 Jornal de Letras, Artes e Ideias

72 Segundo as suas páginas de web de 24/11/2011

73 http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/opiniao/animais-com-carinho, 23 de Novembro de 2011

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49

Acordo Ortográfico.” Ou ao revés, nos jornais que já estão a aplicar as regras de AO 1990

estão debaixo de alguns artigos frases deste tipo: “(....) escreve de acordo com a antiga

ortografia” (Expresso, Visão). Mas não sempre.... Por exemplo: JL segue a nova

ortografia, mas de vez em quando aparece o artigo escrito segundo a antiga ortografia sem

marcá-lo, por exemplo: A corragem de corrigir de Vasco Graça Moura (número 1058).

Interesante é ver também como falam os jornais sobre a ortografia que não segue as regras

do Novo Acordo Ortográfico, enquanto o Expresso (o Visão e outros) chamam-na a

ortografia antiga, o que pode ter algumas conotações más, o Público utiliza o adjectivo

tradicional, que evoca mais algo correcto e valioso.

5.3.1. O Expresso poupa as palavras....

“Atualizámos a grafia. Mãe já teve i, açúcar ja foi com dois ss e sozinho levava acento.

Agora atuamos sem c mas admitimos excepções em alguns cronistas. Tentamos ser

ótimos.” Assim, presentou o Expresso no dia 25 de Julho o primeiro número do seu

semanário escrito segundo as regras do AO 1990.74

Tão como o Público rejeita desde o iníco o Novo Acordo Ortográfico, o semanário

Expressa o apoia, assim, o Expresso explica que aderiu à nova ortografia porque “entende

ser esta a melhor defesa da língua portuguesa”. Também os outros jornais do Grupo

Impresa: Expresso, JL, Visão, Visão Junior, etc. escrevem segundo o AO 1990.

Utiliza o humor ligeiro: “Pode dizer-se que o acordo ortográfico alterou um pouco a

imagem do outrora espectador. Ao libertá-lo do “c” tornou-o um misto de bandarilheiro

de tourada com um chefe de espetadas madeirenses.” Ou falando de espetáculos de verão ,

livres já de c inútil e sem o relevo dado pela maiúscula à estação estival, que os marca com

calor e pó. As letras (algumas) foram siplesmente “despedidas”. E segue apoiando a

transição para o nova ortografia, por exemplo, durante a primeira semana de Setembro

deste ano, o VISÃO, o Expresso e o Visão Junior lançaram o Guia do Novo Acordo

Ortográfico e completaram-no com o vídeo “duma história” como “o coletivo perdeu um

c, a minissaia ficou maior, o alfabeto ganhou mais três letras e leem perdeu o chapéu,...”75

Explicando, assim, as mudanças duma forma não científica, acessível a todos, e através de

“representações” tão como defendem as suas grafias os escritores e poetas.

74

http://aeiou.expresso.pt/expresso-poupa-letras-e-adota-acordo-ortografico=f590263, 25 de Novembro 2011 75

http://aeiou.visao.pt/visao-e-visao-junior-oferecem-guia-do-novo-acordo-ortografico=f619305, 25 de

Novembro 2011

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50

Visão Junior intenta aproximar a reforma ortográfica também às crianças : “A forma como

os portugueses e os brasileiros (e o resto?) escrevem deixa de ser tão diferente, mas isso

não significa nenhuma alteração no respeito à pronúncia ou ao léxico utilizado nos dois

lados do Atlântico.”76

O que não é tão certo, como já comentamos no capítulo 4.1.1.

5.3.2. O Público

O jornal Públicou declarou já no seu editorial do 30 de Dezembro de 2009 que não ia pôr

em práctica o novo Acordo Ortográfico e segue defendendo a sua posição. “Nós, no

PÚBLICO, sobretudo não compreendemos para que serve [o acordo ortográfico] e,

incapazes de entender a necessidade e as vantagens de uma norma global para o

português, decidimos não o adoptar.”77

E como o ponto mais fraco do Acordo Ortogrífico

consideram a facultatividade de algumas regras. “Para que serve então um acordo global

se, afinal, é indiferente escrevermos António ou Antônio?” O Público é decidido defender

a sua posição e não aplicar o AO 1990 enquanto tal for possível. Ainda crê que é possível

inviabilizar o acordo.78

A questão é o que passa depois de acabar o período de transição e o

AO torna-se o lei, vai o Pública começar a seguir as suas regras? Ou não, e então “Haverá

multas? Processos judiciais?”79

Não se sabe. O que se sabe é que o Público têm grande

apoio entre os seus leitores.80

76

http://aeiou.visao.pt/acordo-ortografico-porque-vamos-mudar=f623305, 25 de Novembro 2011

77 http://blog.criticanarede.com/2009/12/jornal-publico-nao-adopta-acordo.html, 15 de Setembro 2011

78 http://blogues.publico.pt/provedordoleitor/2011/06/27/esta-ainda-nao-e-a-aldeia-de-asterix/, 28 de

Setembro 2011

79 http://blogues.publico.pt/provedordoleitor/2011/06/27/esta-ainda-nao-e-a-aldeia-de-asterix/, 28 de

Setembro 2011

80 Seria interessante fazer os inquéritos se alguns simpatizaoders do Expresso deixaram de comprá-lo por

causa do uso da nova ortografia. Não achamos. Não obstante, o Público Ou se algum apoiante de Record

compra em vez dele a Bola que ainda continua a escrever segundo a “antiga ortografia”.

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51

6. SITUAÇÃO ACTUAL – Consequências do AO 1990

Como já dissemos o AO 1990 foi ratificado em Maio de 2008 mas até o ano 2010 não se

fez quase nada. Portugal por ter tardado tanto em aplicar o AO foi criticado pela linguista

portuguesa Malaca Casteleiro que sublinha que a ortografia não se pode mudar de um dia

para outro.

Quanto às consequencias do AO 1990 na vida real podemos dividi-los em três grupos:

pedagógicos, económicos e culturais. Quanto ao ensino ainda em Junho de 2010 o governo

não estava decidido quando ia aplicar o AO 1990 nas escolas nem como vai fazê-lo, se em

três anos lectivos começando com o primeiro ciclo ou todos no mesmo tempo. No dia 9 de

Dezembro foi aprovado que o AO será aplicado no sistema educativo no ano lectivo

2011/2012. 81

Agora, no final do 1.° período nas escolas não se observa nem grande entusiasmo, nem

grande rejeição. Alguns professores já penazilam os erros, alguns querem fazê-lo quando

isso for feito nas provas de avaliação externa, ou seja no ano 2013/2014 para o ensino

básico e 2014/2015 para o ensino secundário.82

Ainda pervivem dúvidas sobre certas

regras, os professores queixam-se sobretudo das regras de hifenização mas ninguém se

queixa de falta de material de apoio. Apesar de que neste momento seja possível que os

alunos tenham o manual do Português actualizado e o da História não.83

Já mencionamos que o AO 1990 pode significar as dificultades também para estudantes de

português das principais comunidades da emigração portuguesa nos Estados Unidos, no

Canadá, em França, na Alemanha, etc. já que muitas palavras portuguesas segundo as

novas regras perdem uma relação gráfica com vocábulos das línguas. (Moura 2008: 111)

O governo também tardou bastante em aprovar o vocabulário que serviria como a norma

do português europeu, o que está interligado com a lenta aplicação do Acordo no ensino.

Neste momento, tanto o Brasil como Portugal já elaboraram os seus próprios diccionários

81

http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1731084, 10 de Setembro de 2011

82 http://www.publico.pt/Sociedade/ano-ainda-sera-lectivo-ou-ja-sera-letivo-1525472?p=1, 17 de Dezembro

de 2011

83 http://www.publico.pt/Sociedade/ano-ainda-sera-lectivo-ou-ja-sera-letivo-1525472?p=1, 17 de Dezembro

de 2011

Page 52: O ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA DE 1990 · 2012-01-05 · controvérsias que gera o Novo Acordo Ortográfico. 1 Vamos concentrar-nos nas críticas feitas em Portugal.

52

ortográficos84, o que ainda faz falta é elaborar o vocabulário ortográfico unificado. Os

existentes recursos úteis do AO 1990 vamoc comentar na segunda parte deste capítulo.

O AO 1990 tem também consequências económicas. Todos os dicionários e livros

escolares tem de ser reeditados. Milhões de livros do Plano Nacional de Leitura e nas

bibliotecas escolares tornar-se-ão inúteis para os estudantes. O que vai significar custos

adicionais não só para os estados mas também para as famílias que terão de comprar novos

materiais. O AO 1990 representa muitos mais custos do que benefícios e estes custos são

ainda mais caros para os países como Moçambique ou Guiné-Bissau. Os políticos

asseguram que os livros não vão ser tirados. Probablemente não mas todos utilizados nas

escolas terão de ser (ou pelo menos, deviam ser) rapidamente reeditados, o que custa o

dinheiro que nem o Portugal tem.

No dia 9 do Dezembro de 2010 foi aprovado que o AO será aplicado na administração

pública85

a partir de 1 de Janeiro de 2012. Os jornais portugueses começaram a adoptar a

nova ortografia apartir do ano de 2010. No que se refere às televisões, a aplicação do AO

está dependente de um entendimento comum entre os operadores, o que até ao momento

não se verificou.86

Ademais, há-de rever todos os documentos de todas as instituições, empresas e

universidades. Além das consequências já mencionadas, o AO 1990 pode influir também

os nomes de empresas, revistas, jornais. E depende de eles se vão ficar com o nome já bem

consolidado mas escrito contra as regras ortográficas ou se vão muda-lo segundo a nova

ortografia. Por exemplo, a revista Activa do Grupo Impresa já aderiu à nova ortografia mas

decidiu não mudar o seu nome, ao contrário do suplemento do semanário Expresso Actual

que com a aplicação das regras do AO 1990 também mudou o seu nome para Atual. A

situação é mais complicada para as empresas portuguesas (com o nome português) que tem

as suas sucursais no estrangeiro e cuja língua do trabalho é inglés. Já que a supressão de

uma letra para os que não falam português pode tornar o nome irreconhecível. O que

significaria para a empresa a perda da tradição e fama.

84

Vocabulário Ortográfico do Português desenvolvido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional

(ILTEC),, Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa de 2009 da Academia Brasileira de Letras

85 http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1731084, 10 de Setembro de 2011

86 http://www.jn.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1731084, 10 de Setembro de 2011

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53

6.1 Instrumentos da normalização ortográfica

Já mencionamos a importancia dos instrumentos da normalização ortográfica para que o

acordo seja aplicado bem e sem divergências da interpretação. Os recursos mais úteis são

vocabulários ortográficos, vocabulário de mudança, correctores ortográficos, prontuários

ortográficos e dicionários. No ensino é importante também a formação dos professores, os

instrumentos didácticos, adaptação de manuais e sobretudo a explicitação e treino

sistemático das mudanças. Mesmoo Artigo 2° do AO 1990 fala sobre a necessidade da

elaboração de um Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Por que são tão

necessárias? O acordo ortográfico é um documento abstracto, então, não considera nem

pode considerar todos os casos possíveis e ademais, há certas zonas duvidosas no texto de

AO 1990. (veja o capítolo 4.3)

Primeiro, pensava-se na colaboração entre a Academia das Ciências de Lisboa (ACL) e a

Academia Brasileira de Letras. Em Abril 2009, o então ministro da Cultura português José

António Pinto Ribeiro propôs que o Vocablário Ortográfico da Língua Portuguesa fosse

feito por outra entidade que ACL87

.

O primeiro em publicar as obras segundo o Novo Acordo Ortográfico foi a editorial Texto

Editores que já no Maio de 2008 publicou um guia e os dois dicionários sob a coordenação

do professor, linguista e investigador João Malaca Casteleiro e do linguista e investigador

Pedro Dinis Correia. A Porto Editora, apesar de ser bastante crítica a AO 1990

considerando-o “uma má estratégia para a língua portuguesa”88

, publicou em Junho de

2008 um dicionário duplo com as palavras escritas como com a grafia de AO de 1945

como com a grafia de AO 1990 e um guia ortográfico. No ano seguinte a Porto Editora

renovou a sua colecção de dicionários, e todos (os bilingues incluindo) já seguem as regras

de AO 1990.89

Em Janeiro de 2010 foi publicado no Portal da Língua Portuguesa o

Vocabulário Ortográfico do Português, com cerca de 150 mil entradas.90

Este dicionário,

produzido pelo Instituto de Linguística Teorética e Computacional e financiada pelo Fundo

da Língua Portuguesa, acabou ser adoptado como a obra de referência oficial em Portugal.

87

http://www.publico.pt/Cultura/ministro-da-cultura-quer-brevidade-na-conclusao-do-vocabulario-da-lingua-

portuguesa-1377854, 15 de Novembro de 2011 88

http://www.publico.pt/Cultura/novo-dicionario-para-acordo-ortografico-1328251, 15 de Novembro de

2011 89

http://www.portoeditora.pt/imprensa/index/detalhe/noticia/nova_imagem_mesmo_rigor ,15de Novembro

de 2011 90

http://www.publico.pt/Cultura/vocabulario-ortografico-do-portugues-disponivel-na-internet_1421780, 15

de Novembro de 2011

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54

Outros recursos muito úteis são os conversores ortográficos: o de FLiP (Priberam) é um

dicionário de português contemporâneo contém cerca de 105 000 palavras e a presente

versão permite consulta de acordo com a norma do português europeu ou de acordo com a

do português do Brasil, com ou sem as alterações gráficas segundo o Acordo Ortográfico

de 1990: http://www.priberam.pt/dlpo/. Entre outros conversores mencionamos ainda o da

Porto Editora: http://www.portoeditora.pt/acordo-ortografico/conversor-texto/ e o LINCE

que é possível descargar gratuitamente na página de Instituto de Linguística Teórica e

Computacional http://www.portaldalinguaportuguesa.org.

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55

CONCLUSÃO

As reformas ortográficas são importantes “para manter o equilibrio de um dado sistema”

(Gomes 2008: 26), para que a língua escrita não fique demasiado longe da língua falada.

Apesar disso, as reformas ortográficas sempre suscitam as reacções negativas. O Acordo

Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 não é excepção.

O objectivo deste trabalho não foi decidir se o AO 1990 é bom ou mal. Não obstante,

achamos que este Acordo podia ser preparado melhor. Dado que: Os textos do mesmo

Acordo e da Nota Axplicativo do Acordo Ortográfico de 1990 contêm erros técnicos,

gralhas e ambiguedades que suscitam dúvidas na interpretação das mudanças, como

comentámos no capítulo 4.3.

Outro problema vemos na disparidade dos critérios usados o que comentámos no capítulo

4.1. Como maior problema consideramos o facto de que os critérios se utilizam a

propósito, como o convém, não como é lógico ou linguisticamente correcto. Assim, por

exemplo, os mesmos argumentos que foram usados para manter os acentos gráficos já não

foi usados para manter as consoantes mudas. O AO 1990 tinha dois objectivos principais,

defender a unidade da língua portuguesa e o seu prestígio social. Como comentámos no

capítulo 4.2, nenhum deles foi atingido. Não existe nenhuma língua portuguesa unificada

que há de defender. E quanto ao prestígio, não é através dum acordo ortográfico como se

defende o prestígio duma língua.

Na ratificação do Acordo prevaleceram os argumentos políticos: a ortografia é

representada como um problema que há-de solucionar, ter a língua portuguesa unificada é

politicamente positivo para que o português seja a língua oficial da ONU e para ter mais

falantes e portanto, maior força no campo internacional; os argumentos linguísticos: não

existe nenhuma língua portuguesa unificada nem é possível unificá-la através da

possibilitação de grafias duplas e através de regras facultativas. Além disso, nem se

conhecem bem as normas de todas as variedades da língua portuguesa e a diferença entre

as variedades não consiste só na ortografia. O resultado é, assim, um documento político

em vez de linguístico e um documento político não devia chamar-se “acordo ortográfico”.

Os erros, ambiguedades, argumentos populistas, critérios não bem especificados, tudo isto

discredita o AO 1990 e dá uma noção de impreparação. Esta noção é ainda multiplicada

pela reacção irresponsável do governo português que ratificou o Acordo em Maio de 2008,

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56

porém até o ano de 2010 não fez nada para pôr as novas regras em práctica. Não se sabia

quando as regras novas vão ser aplicadas no ensino nem quando nos documentos oficiais.

Os únicos que reaccionaram eram as editoriais em publicar os dicionarios duplos com as

palavras escritas como com a ortografia segundo o Acordo Ortográfico de 1945 como com

a grafia segundo o AO 1990. No entanto, o governo tardou até o ano de 2010 em designar

qual dos dicionários editados seria a obra de referência oficial em Portugal.

Além disso, o AO 1990 é um documento, por um lado, subestimado pelos seus autores que

não valoraram suficientemente as consequências pedagógicas, económicas e culturais do

AO 1990, o que comentámos mais no capítulo 6. Por outro lado, é sobrestimado pelos seus

criticantes que acham a unificacão do português possível e portanto, tem medo de que o

português europeio deixe de existir e será substituído pelo português brasileiro.

No entanto, se abandonamos a ideia da unificação o AO 1990 pode representar um passo

importante em reconhecer a diversidade do português, para dizer “nós escrevemos desta

maneira, vocês doutra e está bem assim.” Dado que cada país continua a escrever segundo

a sua própria norma, tendo assim a sua subortografia nacional. Ou, se os autores insistem

na língua unificada, então, podem “criar” o portugês unificado (sem as grafias duplas).

Uma língua que ninguém na realidade fala mas que pode servir à diplomacia. Isso talvez

seria possível atingir mas não só através dum acordo ortográfico.

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Lista de Anexos

1) Cronograma de ratificações do AO 1990

2) Consoantes Mudas

3) Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

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Anexo 1: Cronograma de ratificações do AO 1990

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Anexo 2: Consoantes mudas

Grafia comum às diferentes variedades (Português do Brasil, Português europeo):

Tabela 1

Manutenção de consoante:

convicção

fricção

adepto

pacto

Supressão de consoante:

reacção > reação

actual > atual

acta > ata

adopção > adoção

óptimo > ótimo etc.

Manutenção de variantes entre variedades:

Tabela 2

Português europeu: Português brasileiro:

+

facto

contactar

-

fato

contatar

+

súbdito

subtil

indemnizar

omnívoro

corrupção

+/-

súbdito/súdito

subtil/sutil

indemnizar/indenizar

omnívoro/onívoro

corrupção/corrução

-

defetivo

conceção

receção

infeção

+

defectivo

concepção

recepção

infecção

+/-

conceptual/concetual

antisséptico/antisético

+

conceptual

antiséptico

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Manutenção de variantes internas a cada variedade:

Tabela 3

Português europeu:

Séptico/sético

Conceptual/concetual

Eclíptica/eclítica

Português do Brasil:

Súbdito/súdito

Baptismo/batismo

Bissectriu/bissetriz

Desafectar/desafetar

Português europeu + Português

do Brasil:

Acupunctura/acupuntura

Apocalíptico/apocalítico

Caracter/carater

Circunspecto/circunspeto

Etc.

Anexo 2: O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990

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Resumé no inglés

The work is concerned in the Portuguese Language Orthographic Agreement of 1990 (O

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990), AO 1990. First, the work briefly

describes the history of the Portuguese Orthography and orthographic agreements from

1911 to present. Than the work is focused on AO 1990 and the changes which the adoption

of the new orthography will cause. AO 1990 intends to improve the international status of

Portuguese language, make simpler the portuguese orthography and first of all establish a

single official ortography for the Portuguese language. One whole chapter is dedicated to

controversial points of this agreement like the utilitarian aplication of arguments, mistakes

in the text of AO 1990 and the aims which was not accomplished. The two last chapters are

dedicated to the comments of reactions which the ratification of AO 1990 caused and the

consequences of AO 1990.

Resumé no checo

Práce se zabývá Pravopisnou reformou portugalského jazyka z roku 1990 (O Acordo

Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990), dále jen AO 1990. Nejprve stručně popisuje

dějiny portugalského pravopisu a jednotlivé pravopisné reformy portugalštiny od roku

1911 až po současnost. Následně se práce zaměřuje na samotný AO 1990. Na jednání,

která přijetí této dohody předcházela a na pravopisné změny, které tato reforma přináší.

Cílem AO 1990 mělo být posílení reputace portugalštiny na mezinárodním poli,

zjednodušení pravidel a především sjednocení pravopisu brazilské a evropské

portugalštiny. Celá jedna kapitola je věnována kontroverzním bodům této reformy jako je

účelové používání argumentů, gramatické a technické chyby v samotném textu reformy.

Práce rovněž hodnotí cíle reformy, kterých nebylo dosaženo. Poslední kapitoly jsou

zaměřeny na reakce, které ratifikace AO 1990 způsobila, a dopadům AO 1990 v

praktickém životě.

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Anotação

Jméno a příjmení autora: Iva Pátková

Název fakulty a katedry: Filozofická fakulta, Katedra romanistiky

Název diplomové práce: O Acordo Ortográfico de 1990

Vedoucí bakalářské diplomové práce: Mgr. Petra Svobodová

Počet znaků: 118 522

Počet příloh: 3

Počet titulů literatury a internetových zdrojů: 46

Klíčová slova: pravopisné reformy, ortografie, portugalština, lingvistická norma

Abstrakt: Práce se zabývá Pravopisnou reformou portugalského jazyka z roku 1990 (dále

jen AO 1990). Nejprve stručně popisuje dějiny portugalského pravopisu a jednotlivé

pravopisné reformy portugalštiny od roku 1911 až po současnost. Následně se práce

zaměřuje na samotný AO 1990. Na jednání, která přijetí této dohody předcházela a na

pravopisné změny, které tato refroma přináší. Cílem AO 1990 mělo být posílení reputace

portugalštiny na mezinárodním poli, zjednodušení pravidel a především sjednocení

pravopisu brazilské a evropské portugalštiny. Celá jedna kapitola je věnována

kontroverzním bodům této dohody jako je účelové používání argumentů, gramatické a

technické chyby v samotném textu reformy. Práce rovněž hodnotí cíle reformy, kterých

nebylo dosaženo. Poslední kapitoly jsou zaměřeny na reakce, které ratifikace AO 1990

způsobila, a dopadům AO 1990 v praktickém životě.

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completamente-inutil>

Visão

VISÃO e VISÃO Júnior oferecem Guia do Novo Acordo Ortográfico. 26 de Agosto de

2011.

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<http://aeiou.visao.pt/visao-e-visao-junior-oferecem-guia-do-novo-acordo-

ortografico=f619305> 25 de Novembro 2011

Acordo Ortográfico – Escrever corretamente. 20 de Setembro 2011.

<http://aeiou.visao.pt/acordo-ortografico-porque-vamos-mudar=f623305>

25 de Novembro 2011


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