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Masarykova univerzita
Filofick fakulta
stav romnskch jazyk a literatur
Portugalsk jazyk a literatura
Radek imk
Os Judeus na Sociedade Portuguesa dos sculos XIV e XV
Bakalsk diplomov prce
Vedouc prce: Mgr. Silvie pankov
2009
Prohlauji, e jsem bakalkou diplomovou prci vypracoval samostatn s vyuitm uvedench pramen a literatury
Velmi rd bych podkoval Mgr. Silvii pankov za vnovan as, vcn pipomnky a pedevm za trplivost pi veden m bakalsk prce. M podkovn si zaslou i Clara Oliveira a Eduardo Serra za pomoc pi opravch m prce.
1
I. NDICE
I. NDICE ................................................................................................................................... 1
II. INTRODUO ..................................................................................................................... 2
III. O JUDASMO ...................................................................................................................... 4
IV. OS PRIMEIROS JUDEUS EM PORTUGAL ..................................................................... 6
IV.I. ASQUENAZITAS E SEFARDITAS ............................................................................ 6
IV.II. OS PRIMEIROS JUDEUS EM PORTUGAL ............................................................. 6
IV.III. COMUNA E JUDIARIA ............................................................................................ 7
V. OS JUDEUS NA SOCIEDADE PORTUGUESA NOS SCULOS XIV E XV ................ 12
V.I. PRIVILGIOS, SERVIOS E OBRIGAES DOS JUDEUS .................................. 12
V.II. OS JUDEUS DENTRO DA SOCIEDADE PORTUGUESA - CRIST .................... 14
V.III. DEFINIO DE JUDEU DENTRO DA SOCIEDADE PORTUGUESA ............... 16
V.IV. OS JUDEUS DENTRO DA PRPRIA SOCIEDADE ............................................. 19
VI. A INFLUNCIA DOS JUDEUS NA CINCIA E NA CULTURA PORTUGUESAS ... 22
VI.I. CULTURA (LITERATURA, PRESENA NA LNGUA PORTUGUESA) ............. 22
As obras literrias produzidas pelos autores judeus em Portugal .................................... 22
A reflexo sobre os Judeus nas obras de autores portugueses os cristos ..................... 24
Influncia judaica na lngua portuguesa ........................................................................... 25
VI.II. CINCIA (MATEMTICA, ASTRONOMIA, CINCIA NUTICA, MEDICINA E
FARMCIA) ........................................................................................................................... 26
VII. CONCLUSO .................................................................................................................. 30
VIII. BIBLIOGRAFIA, FONTES ............................................................................................ 32
VIII.I. BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 32
VIII.II. FONTES ELECTRNICAS DA INTERNET ........................................................ 33
2
II. INTRODUO
O mundo contemporneo as vezes chamado o ps-moderno sofre influncia de
muitos factores. Alguns deles so o fruto da vida s portas do sculo XXI e os outros so, em
sentido verdadeiro, tradicionais. Entre estes pertencem indiscutivelmente religies e sua
influncia na civilizao global. Todos os dias, somos testemunhas de vrios conflitos ou dos
confrontos de opinio em nome de vrias religies ou correntes eclesisticas. Sem dvida h
religies que desaprovam qualquer violncia da sua prpria base (essncia) mas ao mesmo
tempo outras h que no hesitam utilizar a violncia para aumentarem a sua influncia
religiosa ou, simplesmente, para defenderem a sua f, o seu espao ou a prpria existncia. Os
exemplos mais evidentes podiam ser o Islo e o Judasmo. Nomeadamente a segunda destas
correntes universais influi a nossa civilizao desde h muito tempo e encontramos apenas
poucas reas onde no se sente a influncia do Judasmo. No Cristianismo, parte do Judasmo,
como no Islo podemos encontrar as personalidades idnticas como no Antigo Testamento,
ou seja, muitos dos profetas encontramos a.
Toda a civilizao ocidental foi influenciada pelo Judasmo durante os sculos no s
cultural e socialmente mas tambm os judeus desempenharam o papel integrante e importante
na histria e na economia. A sua situao mudava, ao longo de tempo, incessantemente. As
pocas desabafadas, ligadas ao desenvolvimento econmico-cultural alternaram-se com as
que eram cheias de perseguies e assassnios apontados para a comunidade judaica.
Tentativas da sua converso deram origem ao estabelecimento da Inquisio Ibrica. No
existe outro povo que tenha passado, em contexto geopoltico, por uma evoluo to dinmica
como os judeus. Da mesma maneira, difcil encontrar um pas na Europa em que os judeus
no tenham tido o papel significante, na histria, ou no fossem o elemento influente e
estimulante.
Durante os estudos da lngua portuguesa, respectivamente da histria portuguesa,
encontrei os seus vestgios tambm a. Portanto lgico que o meu interesse sobre o judasmo
em geral e os meus estudos portugueses tenham culminado no tema Os judeus em Portugal
para a minha tese final na qual pretendo acentuar a poca entre os sculos XIV e XV. Embora
se oferea comparao com a histria checa desta poca, bastante influenciada pelos judeus
tambm, no faz parte deste trabalho.
3
Durante os meus estudos na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em
Portugal, frequentei as aulas da disciplina Judeus em Portugal, dadas pela reconhecida
especialista Prof. Elvira Cunha de Silva Mea, que se revelaram bastante teis ao longo da
preparao desta obra. Esta obra concebida como o sumrio dos momentos mais
importantes da poca em causa, servindo como guia durante os estudos mais profundos. O
objectivo desta obra sobretudo, mostrar a influncia enorme dos judeus e do Judasmo na
Pennsula Ibrica, nomeadamente no campo socio-cultural e econmico e acentuar que o
Portugal, em vspera da Inquisio, foi um pas onde a minoria judaica era bem integrada na
sociedade portuguesa medieval e que podia conviver com a maioria crist.
4
III. O JUDASMO
Das trs grandes religies monotestas existentes no mundo, o Judasmo a de razes
mais antigas. Do seu seio surgiu o Cristianismo, ao passo que o Islamismo adoptou vrios
elementos judaicos, reconhecendo Abrao e Moiss como profetas.1 Como ponto
de referncia pode servir-nos a primeira parte da Bblia para entendermos melhor
a complexidade e a riqueza de histria dos judeus, antigamente chamados hebreus. Esta parte
chama-se o Antigo Testamento e segundo a tradio judaica tem as seguintes partes: a Tor ou
Pentateuco, os Livros Histricos, os Livros Sapienciais e os Livros Profticos. A maior parte
do Antigo Testamento ou Tanakh2 foi escrito em hebraico ou aramaico, em alguns dos textos
mais novos, dos ltimos sculos a.C., utilizou-se tambm o latim. Outro texto fundamental da
crena hebraica o Talmud, compilando vrias leis e tradies judaicas e dividindo-se em
4 livros (63 tratados de questes ticas, histricas ou legais). Porm, nem todos os judeus
reconheceram o Talmud como parte legtima por falta de autoridade religiosa, s os judeus
ortodoxos3 e conservadores fazem destacar a importncia de o estudar.
De acordo com o Antigo Testamento, os judeus so descendentes do Abrao4 que
se estabeleceram em Cana (actualmente Israel) h 3800 anos. Por causa da estiagem extrema
por volta de sculo XVII. a.C., os judeus tinham migrado para o Egipto onde depois ficaram
escravizados durante 400 anos. Com a liderana de Moiss5, os judeus tinham sido capazes
libertar-se e, depois da peregrinao, que durou 40 anos, chegaram Terra Prometida.
O Antigo Testamento descreve tambm como os judeus receberam as Tbuas de Leis,
colocadas na Arca da Aliana, construram o seu Templo em Jerusalm e, em 587 a.A., foram
obrigados a sair para Babilnia. S mais tarde, em 538 a.C., os hebreus conseguiriam voltar
Terra Prometida6. J nessa poca, os judeus comearam dispersar-se, estabelecendo os seus
centros no Egipto ou na ndia e estas comunidades encontraram-se, posteriormente, na base
da Dispora7. Em 70 a.C., os Romanos tinham subjugado uma revolta e logo depois as tropas
1 Quidnovi, Guerras e Religies, Judasmo, Matosinhos, 2002, p. 5. 2 Tanakh o acrnimo utilizado dentro do judasmo para denominar seu conjunto principal dos livros sagrados e o equivalente ao Antigo Testamento, porm com outra diviso, Tanakh, [on-line], disponvel em: . 3 Um dos correntes do Judasmo que rene os judeus que seguem escrupulosamente os mandamentos das suas leis. 4 O primeiro patriarca bblico. 5 O grande lder hebreu. 6 Quidnovi, Guerras e Religies, Judasmo, Matosinhos, 2002, p. 11. 7 A dispero do povo judeu no mundo antigo, no hebraico tefutzah, Eciclopdia Brasileira, Histria Geral, [on-line] disponvel em:>.
5
romanas devastaram Jerusalm, destruindo completamente o grande Templo onde, durante
os sculos, era guardada a Arca Sagrada com Dez Mandamentos, o smbolo da aliana com
Deus.
Os hebreus dispersaram-se pelo Mediterrneo e o Judasmo passou a ser basicamente
nas sinagogas8. Por razes religiosas, os judeus foram muitas vezes perseguidos. No
puderam ocupar muitas profisses e foram concentrados nos bairros especiais, impedindo-os
deslocar se da, apesar de aumento do nmero total dos judeus. Estes bairros so chamados
guetos. Os maiores existiam em Itlia, na Alemanha, em Espanha e nos Pases da Coroa
Checa. Os decretos reais expulsaram os judeus da Gr-Bretanha (em 1290), da Espanha
(em 1492) e de Portugal (em 1497). De um modo geral, a Idade Mdia foi uma poca cheia
de massacres e perseguies. No sculo XIX, os judeus dos vrios pases obtiveram, pouco
a pouco, as liberdades civis, ajudando-os a sair dos seus guetos e centros religiosos
e associar se a uma vida cultural da sociedade maioritria. Porm, muitos judeus assumiram
identidade das comunidades nacionais e, frequentemente, abandonaram a sua religio a qual
os seus ascendentes tinham sido fiis durante muitos sculos. Muitos destes judeus
assimilados ganharam respeito e sucesso em cincias, em poltica, em artes, em literatura ou
msica provocando, no entanto, as reaces anti-semitas9. O ambiente anti-semita espalhou-
se, rapidamente, por toda a Europa e entre os judeus resultou em criao do movimento
nacional judaico o Sionismo10. As perseguies dos judeus foram reforadas, sobretudo no
perodo entre as guerras e durante a Segunda Guerra Mundial, e culminaram no extermnio
dos judeus nos campos de morte. A histria chama a esta soluo final o Holocausto ou
Shoah11. Durante a Segunda Guerra Mundial foram mortos quase seis milhes dos judeus. Em
1948, foi declarado o Estado de Israel, mas a maioria dos judeus continuava a viver em
Dispora e o nmero total de judeus, actualmente, atinge treze milhes, com origem tnica
diferente.
8 Quidnovi, Guerras e Religies, Judasmo, Matosinhos, p. 16. 9 O Anti-semitismo o nome que se d hostilidade contra os judeus e sua cultura. 10 O sionismo um movimento poltico que defende o direito autodeterminao dos judeus e existncia do Estado judaico. 11 O termo utilizado pelos judeus.
6
IV. OS PRIMEIROS JUDEUS EM PORTUGAL
IV.I. ASQUENAZITAS E SEFARDITAS
J neste captulo importante explicar uma diviso entre os judeus que se encontraram
na Europa, tendo a origem no Mdio Oriente. Durante a Idade Mdia formaram-se as duas
faces dos judeus na Europa: asquenazitas (ashkenazim) e sefarditas (sefaradim).
Os primeiros radicaram-se nomeadamente em Frana e na Alemanha donde se expandiram
para a Europa Central e a Rssia12. Nestas zonas fala-se o idiche (uma das formas dialectais
de alemo). Sefarditas o termo usado para aqueles judeus que tm origem no Mediterrneo,
sobretudo na Espanha e em Portugal mas tambm em Itlia, Grcia, Turquia entre os outros13.
A lngua utilizada pelos sefarditas, aps da Expulso, o dialecto chamado o ladino, cujo
contedo formado pelas palavras arcaicas de vrias lnguas como: espanhol, portugus,
hebraico, rabe etc.14. Os dois grupos so divergem no que diz respeito a, principalmente, da
pronncia da lngua religiosa e teolgica, das particularidades dentro dos servios religiosos e
da prpria lngua falada. Nos stios, onde estes dois grupos so obrigados a viver juntos,
renem-se separadamente, nas prprias sinagogas, e tentam manter a sua individualidade. Dos
asquenazitas surgiram duas correntes msticas: a cabala (provavelmente de origem hispnica),
relacionada com o esoterismo ocidental, e o hassidismo com o esoterismo ocidental de crena
mais espontnea, mais liberta dos estudos e rituais15. Este trabalho vai tratar, especialmente,
do grupo sefardita da Pennsula Ibrica, de Portugal e da Espanha.
IV.II. OS PRIMEIROS JUDEUS EM PORTUGAL
A minoria judaica tinha existido no territrio que se tornou depois Portugal j a partir
do tempo do imprio romano. Antes disso, os judeus conseguiram chegar Pennsula Ibrica
como comerciantes ou como fugitivos na poca das perseguies contra eles ( provvel que
j na poca do rei Salomo os judeus imigrantes tinham se encontrado na pennsula). Pertence
ao sculo III da nossa era, o mais antigo documento escrito relativo aos judeus na Pennsula
12 Arnulf H. Baumann, Co by ml kad vdt o idovstv, Kalich, Praha, 2000, p. 42. 13 Colectivo de autores, O Judasmo na Cultura Ocidental, Lisboa, 1993, pp. 21 23. 14 Tom Pkn, Historie id v echch a na Morav, Sefer, Praha, 2001, p. 201. 15 Quidnovi, Guerras e Religies, Judasmo, Matosinhos, p. 32.
7
Ibrica, e do sculo VI, o mais antigo vestgio que nos fala deles16. Nos tempos do reino
visigodo, a situao dos judeus foi instvel consoante a necessidade do seu dinheiro para
respectivo rei. Havia os reis que protegeram os judeus ou aqueles que os perseguiram mas
sem qualquer inteno religiosa. Isto mudou com a converso do rei Recaredo
ao Cristianismo, e outro, posterior a este, em que se ponderou um maior rigor em relao
convivncia entre cristos e judeus17. Com a invaso dos rabes na Pennsula, a situao foi
mais favorvel, acompanhando com o crescimento da cultura judaica posto que a atmosfera
anti-judaca implantada j no resto da Europa por causa do Cristianismo no apareceu
no reinado muulmano. Os judeus foram protegidos pelos califas peninsulares e at exerceram
funes importantes na administrao, nas finanas e na cultura. Porm, este facto dividiu
a comunidade hebraica durante a Reconquista porque alguns judeus tomaram o partido dos
cristos e ficaram na luta contra aqueles que eram bem implantados no sistema e defenderam
os mouros. Durante a formao de nacionalidade portuguesa, em 1143, a minoria judaica j
foi espalhada nos importantes stios do Estado como em Coimbra, Lisboa ou em Santarm,
onde se encontra a mais antiga sinagoga do pas18. O nmero dos judeus aumentava devido
s necessidades dos primeiros reis portugueses (D.Afonso Henriques, D.Sancho I.) para cobrir
as reas conquistadas dos Mauros. Em todos os stios, onde o nmero total de judeus
ultrapassa dez pessoas, criada a comuna ou aljama19. O seu centro organizador uma
sinagoga que no serve s para servios religiosos mas tambm para dar informaes do rei
ou as decises do rabbi-mor e representa papel idntico ao da Igreja na vida do conselho
cristo. A sinagoga serviu como a sede do governo da comunidade judaica.
IV.III. COMUNA E JUDIARIA
Ao falar sobre a populao judaica, temos que mencionar dois termos importantes
de organizao dos judeus. Estes so comuna e judiaria. Apesar de a segunda ser mais
conhecida hoje em dia, no podemos confundi-las, porque a primeira mais abrangente
do que a segunda. Assim, judiaria era o espao, a rua ou ruas do concelho, onde habitavam
os judeus inicialmente misturados com os cristos20. Estes espaos encontraram-se, em geral,
nas zonas mais importantes da cidade, onde o comrcio e a produo dos produtos foram mais 16 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editores, Lisboa, 2000, p. 11. 17 Ibid., p. 12. 18 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Portuguesa, Lisboa 2006, pp. 3739. 19 O nome para as comunidades judaicas da Espanha antes de terem sido expulsos. A palavra tem origem rabe e significa um grupo ou uma reunio. 20 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus na poca dos descobrimentos, Edio ELO, p. 13.
8
intensivos. Sempre foram colocadas perto das portas da cidade, onde maioria dos mercadores
tinha que passar. Depende da posio dentro da prria cidade se este espao fosse englobado
no espao amuralhado. Limitada por portas que se abriam ao nascer do sol e se encerravam
ao pr do sol, a rua ou o bairro dos judeus continuou a ser frequentado por homens e mulheres
crists que a se iam abastecer de produtos e artigos21. De acordo com Maria Jos Ferro
Tavares podemos sistematizar a localizao das judarias:
- proximidade com as vias de longo curso ou a fixao junto das ruas direitas, as ruas
principais dos concelhos onde reside normalmente o ncleo mais importante da vida
econmica e social
- vizinhana de templos cristos a que no ser estranha a ideia de converso da populao
judaica 22
A maioria das casas dos judeus pertence ao rei, e estes pagam-lhe os impostos, tanto
em dinheiro, como em mercadoria. O resto era a propriedade da comuna ou dos cristos. Estas
comunidades tm os seus prprios oficiais, eleitos pelos membros da comunidade, reunidos
na Sinagoga, e como autoridade mxima, dirige-as o rabi-mor, judeu da confiana do rei.
A pessoa que exereceu este cargo era duma camada bastante elevada da sociedade judaica,
ou seja, era uma pessoa rica e educada. O rabi-mor era eleito pelos centros mais importantes
do pas: Porto (regio de Entre Douro e Minho), Torre de Moncorvo (Trs-Os-Montes), Viseu
(Beira), Covilh (Beira/Serra de Estrela), Santarm (Estremadura), vora (Alentejo) e Faro
(Algarve). Estes centros lograram a judicatura sobre todas as comunidades do pas.
Pelo contrrio, a comuna era uma unidade administrativa, religiosa, judicial fiscal e cultural,
com uma autonomia da sociedade crist. Havia casos em que poderamos identificar
a comuna com judiaria, caso a comuna tivesse s uma judiaria, como por exemplo, na Guarda,
Santarm, Trancoso, Faro ou Coimbra. As outras, como em Lisboa ou no Porto, foram
constitudas por duas ou trs judiarias, conforme a sua importncia e a sua densidade
populacional.
O centro de poder, a sinagoga, no servia s como casa de orao, mas tambm como
tribunal ou escola. Na maioria das comunas, a sinagoga era o centro da vida comunitria, no
tendo outro edifcio pblico. Por isso existem srias dvidas sobre a existncia de comunas
em todos os locais. A documentao portuguesa nos menciona a existncia de judeus ou
de judaria, dado o nmero reduzido daqueles para justificar a abertura de uma sinagoga,
21 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus na poca dos descobrimentos, Edio ELO, p. 14. 22 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, Lisboa, 2000, p. 28.
9
quanto mais capaz de manter o organismo administrativo ou judicial que era comuna23.
Assim, algumas das judiarias serviram s como satlites das comunas mais importantes como
no caso de Lisboa, do Porto ou de Belmonte. At agora foram mencionados os centros
urbanos mas verdade que os judeus se instalaram tambm nas reas rurais, em pequenos
concelhos, nomeadamente agrcolas. A criao da comuna foi possvel, depois da autorizao
do rei, atravs de uma carta de privilgios como, por exemplo, a possibilidade de construir
os seus templos ou de praticar livremente a sua religio. Algumas comunas foram dispersas
de servio militar.
No sculo XIII, o rei Afonso II legisla as Ordenaes Afonsinas24, tentando criar as
leis para protegerem a minoria judaica porque a maioria crist comeava a causar-lhe os
primeiros problemas. Isto quer dizer o seguinte: os judeus no podiam ter um criado que fosse
o cristo sob pena de perda dos bens, qualquer judeu convertido ao cristianismo que voltasse
ao judasmo podia ser condenado morte, os judeus no podiam ocupar os lugares pblicos
da maneira que qualquer cristo ficasse prejudicado com esta deciso. Logo depois, estas leis
perderam a sua eficcia e com o reinado do seu filho, D. Sancho II25 podiam voltar aos cargos
pblicos em prejuzo dos cristos. Certamente, esta deciso deixou os cristos vexados
e estes, via Bispo de Lisboa, fizeram as queixas ao Papa, Gregrio IX. Este enviou, depois
do IV conclio de Latro, de 1215, aos Bispos de Astorga e Lugo a bula Ex Speciali, a fim
de estes advertirem o soberano portugus de que no pode dar a judeus, cargos com
autoridade sobre os cristos.26 O reinado do rei Afonso III defende os interesses, ao mesmo
tempo, tanto dos judeus como cristos. Afonso III publica as leis inspiradas pelos reis Jaime I
de Arago e Afonso X de Castela, restringindo o usurrio dos judeus. Assim, probe que
os juros ultrapassem a importncia do capital emprestado. Simultaneamente, protege tambm
os judeus como no caso da comuna em Santarm onde estavam em questo os cristos que
vendiam ou alugavam os bens que esto hipoteticados aos judeus e estes perdiam dinheiro
ou mesmo as propriedades. Afonso III manda que aquele que comprou os bens hipoteticados
tinha que compensar a diferena ao prestamista. Este rei, pela primeira vez, regulou
as posies dos judeus e cristos em litgio27. Deste modo:
- os litigantes so considerados com igualdade de direitos
23 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus na poca dos descobrimentos, Edio ELO, p. 15. 24 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Editora, Lisboa 2006, p. 256. 25 Ibid., pp. 244245. 26 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, Lisboa, 2000, p. 15. 27 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Editora, Lisboa 2006, pp. 247250.
10
- o cristo prova contra o judeu com testemunhas crists e judaicas
- o judeu prova contra o cristo com as mesmas testemunhas
- em litgio entre os cristos, o judeu no pode servir como testemunha
- o judeu jura, antes de testemunhar, na sinagoga, na Tora, com a presena de rabi e oficial
da comuna
Mais uma vez, o clero queixou-se ao Papa que o monarca coloca os judeus nos cargos
administrativos mas tambm que no os compele a trazer sinais nas roupas, tal como ordena
o IV conclio de Latro e Inocncio III, nem a pagar o dzimo Igreja28.
Desta poca ainda no existem notcias sobre distrbios ou represlias dos cristos aos
judeus ou seja, durante os primeiros reinados, estes viveram, em paz e proteco dos reis. S
s vezes aconteceu que cristos abusaram os judeus nos assaltos s igrejas, sobre o que fala
uma lei que condena qualquer judeu pena de morte e cristo que o tenha instigado a pena
igual se fosse da classe normal, ou expulso se fosse fidalgo. Porm, estes casos no
aparecem frequentemente. certo que a convivncia da minoria judaica com os cristos no
era fcil mas, nestes tempos, era relativamente tranquila. S s vezes era necessria uma
maior aco repressiva sobre certas actividades judaicas, precisamente econmicas e aquelas
que eram ligadas ao convvio com cristos. A situao dos judeus em Portugal foi similar aos
outros que viveram na Europa crist. Existe um outro facto extremamente importante em
relao aos judeus. Os judeus foram obrigados pagar numerosos impostos e com isto mais
agravada do que a maioria crist. A possibilidade de conviver religiosamente, de manter os
seus direitos, usos e costumes paga por uma srie de tributos ao rei que vo da capitao
ao rendimento e mantimento dirio, entrega da dzima Igreja a e a toda uma
comparticipao nos impostos e despesas dos concelhos e das comunas29.
J durante o reinado do D. Dinis os judeus ficam espalhados por todo o reino. A
populao judaica situa-se em comunas que s podem ser construdas atravs da autorizao
do rei. Esta autorizao em forma da carta rgia com os outros privilgios e mercs e
publicada pelos respectivos reis. Nem todas so, hoje em dia, conhecidas, mas h informaes
sobre numerosas confirmaes s comunas feitas pelos D. Afonso IV, D. Pedro I e
D. Fernando (considerado o rei). Nesta poca j existem as comunas como de Lisboa,
Santarm, Beja, Guarda, Coimbra, Bragana, Estremoz, Tavira, Leiria, Faro e os outros. Aqui
vemos que cada regio do reino j tem a sua populao hebraica.
28 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, Lisboa, 2000, p. 17. 29 Ibid., p. 18.
11
Para a comuna a escola e a educao uma das coisas mais importantes dentro da
comunidade. certo que nem todos os judeus sabiam ler ou escrever, mas o facto que os
judeus eram geralmente bilingues (alguns mdicos sabiam tambm o latim) mostra que eram
bastante cultos. Na escola elementar, as crianas aprendem a ler e escrever e assim adquirem
os seus primeiros conhecimentos religiosos e histricos da sua histria rica.
Enquanto a escola a parte situada dentro da comuna, os cemitrios so sempre
construdos fora, mas tm grande importncia para a vida da sociedade judaica. Infelizmente
no existem conservados os grandes monumentos da poca pois estes foram destrudos pelos
cristos que a tentaram descobrir os bens judaicos ou o motivo deste comportamento foi a
intolerncia religiosa. Em termos econmicos, a vida tem a sua base no comrcio e artesanato
mas h, certamente, os judeus que se dedicam agricultura ou criao do gado.
As comunidades judaicas so um corpo vivo, administrativa e religiosamente
independente, directamente ligado ao rei, teoricamente desligado do conselho onde reside,
mas, na prtica, intimamente a ele associado30.
30 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, Lisboa, 2000, p. 49.
12
VI. OS JUDEUS NA SOCIEDADE PORTUGUESA NOS SCULOS XIV E XV
Os judeus formam, com os mouros, uma das grandes minorias tnico-religiosa na
sociedade portuguesa. Podemos encontr-los em todas as camadas sociais e comerciais, tanto
entre os membros do poder executivo real, como entre a gente simples e ocupando vrias
profisses. Os judeus, na maioria, pertencem classe mdia. Os judeus, ao longo do sculo
XIV, viveram numa situao estvel e pacfica com a minoria crist e contriburam para
desenvolvimento socioeconmico, desempenhando o papel activo no povoamento do
territrio portugus. Esta situao tambm mantm-se durante o sculo seguinte quando os
judeus portugueses so capazes de aumentar a sua fortuna e de atingir o topo da sua
prosperidade no s econmica mas tambm culturalmente. E preciso, mais uma vez,
acentuar, que no resto da Europa a situao no foi to favorvel. Nomeadamente os judeus
dos reinos cristos mais prximos, quer dizer, de Castela, Navarra e Arago, sofrem duma
situao instvel. Porm, em Portugal, a situao comeou a piorar durante o sculo XV,
influenciada pelo comportamento diferente da Coroa e da Igreja. A conjuntura econmica fica
equilibrada e o crescimento sociocultural culmina nos anos 50-80, sendo esta subida bastante
influenciada pelos judeus castelhanos, vindos da Espanha, com os quais chegaram os seus
intelectuais e as fontes culturais e as bibliotecas31.
VI.I. PRIVILGIOS, SERVIOS E OBRIGAES DOS JUDEUS
Os judeus so protegidos pelos membros da nobreza e, geralmente, pelo prprio rei
que, ao longo de tempo, toma a defesa dos judeus. obvio que esta actividade real tem como
o intento as grandes fontes da sua receita que os judeus apresentam e apesar de terem direitos
e liberdades definidos, estes mudavam de acordo com a poltica aplicada por respectivos
monarcas ao longo dos tempos32. Esta proteco real lhes dada pela coroa, em troca de
dinheiro. Contudo, esta proteco , na maioria dos casos, delimitada para os seus favoritos,
atravs de concesses de privilgios e doaes de bens. Deste modo, podemos dividir os
31 Oceanos, Dispora e Expanso, Os Judeus e os Descobrimentos Portugueses, Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobrimentos Portugueses, nmero 29 Janeiro/Maro 1997, pp. 1112. 32 Angelo Adriano Faria de Assis, O Medievo Portugus em tempos de livre crena: relaes entre judeus e cristos em Portugal antes do monoplio catlico iniciado em 1497, [on-line] disponvel em: .
13
judeus entre os privilegiados e no privilegiados. Os privilgios nunca podem ser hereditrios,
quer dizer, tm validade temporria, durante o reinado de respectivo monarca. De acordo com
Maria Ferro Tavares33, podemos dividir estes privilgios em:
- privilgios de isenes fiscais (libertao do pagamento dos direitos reais, dos
tributos extraordinrios e dos impostos)
- privilgios de inebilidade para os cargos comunais (para muitos judeus, sobretudo
para mdicos ou servidores do rei, cargo pblico dentro da comunidade judaica no
recompensa a despesas e responsabilidades que levam)
- privilgios de qualificao social ( concesso de privilgios de distino social)
Estes privilgios, naturalmente, dividiram a comunidade judaica. Os judeus
privilegiados pertenceram ao nvel superior tanto dentro a prpria sociedade, como dentro da
sociedade crist. A sua posio social pode ser comparada com a nobreza crist. Estes judeus,
muitas vezes, e [] receberam carta de vassalos do rei e privilgio de fidalgosoutros
recebem o ttulo de servidores do rei e de cortesos. Judeus mesteirais obtm carta de
moradores da casa real34. A posio prxima do monarca foi importante, criando certa
segurana perante a maioria crist mas para os judeus comuns no trazia muitas vantagens
visto que os privilgios fiscais para certos judeus ainda pioram a situao financeira dos mais
pobres.
Os judeus pertencem ao rei, so a sua propriedade, mas tambm so dependentes dos
proprietrios das terras onde moram e trabalham e so obrigados a pagar alguns impostos a
eles. H casos quando o membro da nobreza intermedirio a favor de certos judeus durante
os julgamentos reais mesmo que o sujeito seja culpado. Estes judeus protegidos tm,
efectivamente, o contributo para o desenvolvimento econmico da terra onde esto
implantados ou para a prpria comuna. A vida da comuna no pode ser separada da vida do
conselho. Nalgumas cidades os judeus tm o direito da vizinhana e tm os mesmos direitos
como a maioria crist. At em Lisboa os judeus no pagam alguns impostos ao rei como
portagens ou dzimas.
A populao hebraica paga uma srie avultada de tributos, [...] geralmente elevados,
como o servio, a capitao e o impostos sobre bens imveis e mveis, alm da dzima e de
33 Maria Jos Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XV, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1982, pp. 216218. 34 Ibid., pp. 220221.
14
renovo sobre o que a terra produzir, entre outros35. Outro dos servios que a populao
hebraica deve Coroa, tal como a crist, o imposto para apresamento das gals reais, nos
estaleiros. Igualmente os judeus so obrigados prestao do servio militar. Os que tiverem
bastante dinheiro com cavalos e armas, os restantes fazem este servio a p36. Esta obrigao
idntica para os cristos. Na verdade, a obrigao do servio militar mostra como so
os judeus a parte integrante da sociedade portuguesa medieval, participando nas guerras com
o seu rei a seno todos os judeus, maioria deles cumpre esta prestao. Os que no querem
cumprir este servio fazem queixas por parte de algumas comunas contra os municpios que
os obrigam. Cada dos concelhos tem obrigao a prestar a aposentadoria famlia real,
aos oficiais reais ou aos membros da nobreza. Esta obrigao comungada com a comuna
e esta tem de fornecer o concelho com roupas ou alimentao, casas e camas tm que ser
sempre a disposio. Muitas vezes os judeus queixaram-se, causando-lhes grande prejuzo,
pois o problema mais econmica do que social. No problema dar pousada a cristos at
porque esta gratuita, nomeadamente durante vrias festas, ou seja, na poca quando ganham
a mais.
Pelo contrrio, s vezes o monarca que obriga os cristos a estarem disposio aos
judeus, quase sempre aos judeus em servio real. Entre os privilgios especiais para os judeus
existe tambm o privilgio de iseno de aposentadoria37.
V.II. OS JUDEUS DENTRO DA SOCIEDADE PORTUGUESA- CRIST
No incio da monarquia portuguesa, os soberanos no fazem separao entre os judeus
e cristos, usando-os no povoamento dos novos territrios mas os resultados do conclio
de Latro (em 1215) mudaram este facto, ordenando que os judeus devem usar qualquer sinal
na roupa para se diferenciar e viver nos prprios bairros. Mas nem todos os reis portugueses
pem estas regras em prtica e dispensam alguns judeus. Esta realidade cria as queixas
do lado do povo e do clero portugus. O primeiro soberano que ps em prtica este
mandamento foi D. Afonso IV38. No sculo seguinte j existe, para muitos judeus,
35 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora Lisboa, 2000, p. 56. 36 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus na poca dos descobrimentos, Edio ELO, p. 19. 37 Reuven Faingold, Judeus nas Cortes Portuguesas, [on-line] disponvel em: . 38 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Portuguesa, Lisboa, 2006, p. 275.
15
a possibilidade da dispensa do uso de sinal. Muitos judeus comearam vestir-se da mesma
forma que a maioria crist para se confundirem com ela. Pretende-se que desta poca comea
distino entre vesturio dos os Sefarditas e os Asquenazis39. No devemos esquecer que no
apenas os judeus e os cristos vivem em vizinhana mas estes so tambm misturados com
os mouros40.
E mesmo aps 1215 quando se comea a sentir maior presso para separar estes dois
grupos religiosos cristos e judeus, apesar de as comunas, mais ou menos separadas, j
existirem. S agora ordenado que comunidade judaica que conta com mais do que dez
membros deve viver no prprio bairro.
A este respeito, Maria Jos Ferro Tavares diz: Embora, teoreticamente, os judeus devam
morar nos seus bairros, a realidade apresenta-se muito diferente. De facto, as suas casas e as
suas propriedades so vizinhas, quer nas cidades quer nas vilas e aldeias, onde se encontrem.
Por isso, cremos ser impossvel afirmar-se essa separao, entre as gentes dos dois credos,
baseando-nos, somente, nas leis, sem olharmos para a outra documentao existente, donde
se pode deduzir precisamente o inverso41. Os judeus vivem fora das judiarias e os cristos
arrendam casas dentro delas. As relaes, tanto pessoais como econmicas, so bastante
complicadas. Estas relaes so reguladas pelas leis cannicas e reais.
Qualquer relao pessoal entre judeu e crist ou entre judia e cristo so proibidas sob
a pena de morte com excepo do caso do indivduo judeu convertido. Mas deve-se dizer que
estas ordenaes tm mais a ver com a rivalidade socioprofissional do que religiosa. Tambm
as relaes econmicas sofrem de certas restries. H concelhos que ordenam que o judeu
no contrate trabalhadores cristos para certos trabalhos devendo utilizar outros judeus.
Apesar disso, h os judeus e os cristos ligados entre si, pelo prprio trabalho, umas
vezes como patres, outras como empregados. Os judeus ocupam profisses como rendeiro,
mordomo, almoxarife, procurador etc. Trabalham para o rei e a sua famlia, para a nobreza
mas tambm para os membros do clero. Contudo, existem os rendeiros hebraicos que podem
ter ao seu servio oficias e magistrados cristos.
Todos estes contactos econmicos significam que entre judeus e cristos realizam-se
contractos de compra e venda, de arrendamento, de emprstimos, etc. Alguns monarcas
39 Maria Jos Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XV, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1982, p. 222. 40 H poucas informaes sobre convivncia entre judeus e mouros. Os judeus mais ricos tm, provavelmente, os mouros como servos. Os mouros tambm desempenham o papel dos banqueiros nos contratos judaicos. 41 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, Lisboa, 2000, p. 77.
16
tentam regular estes contactos: D. Dinis ordena por duas leis, em 1314, que nenhum judeu
faa qualquer espcie de contrato com cristo, sem ser na presena de dois alvazis, alcaides
ou juzes, consoante os locais, do tabelio e de testemunhas42 e por outra carta manda que
[] enquanto um dos alcaides, ou alvazis, ou juzes, se encontrar fora da localidade, que o
outro permanea nela, para poder realizar qualquer contrato entre judeus e cristos43. No
certo que esta condio seja cumprida mas, pelo menos, todos os contratos comerciais
devem ser feitos perante o tabelio do lugar ou perante o juiz e o tabelio.
V.III. DEFINIO DE JUDEU DENTRO DE SOCIEDADE CRIST
At agora estudei a descrio da minoria judaica e a sua convivncia com a maioria
crist, ora pacfica, ora no. Contudo, quais so os motivos principais que levam os cristos a
rejeitarem os judeus? Qual a definio de judeu? E como se v a minoria judaica, a si
prpria? provvel que a opinio crist tenha sido formada pela ideologia, ao longo do
tempo, pelo direito cannico e pelo direito civil. A partir desta influncia foram criados certos
estigmas inconscientes sobre os judeus.
O primeiro, criado logo depois da morte de Cristo, o deicdio morte que os judeus
deram a Cristo44 e que lhes foi conferido. Esta acusao religiosa , frequentemente, presente
nos livros apolgicos antijudaicos dos vrios telogos cristos e no s na poca medieval,
como descreve Bruno Feitler: [...] nos sculos XVI e XVII difundiu-se em Portugal uma
grande quantidade de obras de polmica antijudaica quando oficialmente j no existiam
judeus no pas com o objectivo de converter os cristos novos, ainda identificados como
judeus45.
A rejeio do Messias e do dogma da Trindade tambm define a viso que os cristos
tm dos judeus. Cria-se uma viso ou uma ideia que o judeu personifica Satans ou mal
absoluto46. A igreja, apesar de reconhecer a religio judaica, tenta definir certa limitao
nos contactos e no convvio entre dois grupos religiosos porque estes podem ser prejudiciais
para os cristos. Por causa disso so proibidos os casamentos e as relaes ntimas entre
as pessoas de crena diferente, a no ser que o indivduo judaico renuncie formalmente
os erros religiosos em acto pblico e assim converta ao cristianismo. A segregao religiosa
42 Maria Jos Ferro Tavares, Os Judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, p. 82. 43 Ibid., p. 84. 44 Diccionrio Lngua portuguesa, Universal, Texto Editores, Lda. 1995. 45 Bruno Feitler, O Catolismo como ideal, [on-line] disponvel em: . 46 podemos encontrar a reflexo desta ideia na literatura portuguesa como na obra de Gil Vicente
17
no se limita s a vida religiosa ou profissional, mas existe, evidentemente, no quotidiano.
O judeu v-se como uma pessoa impura, com a qual tudo fica sujo, depreciando os alimentos.
Os cristos recusam-se a comer algo que j foi tocado por um judeu por suspeitar que
a comida seja envenenada. Este medo aumenta ainda mais no tempo da peste.
Da tradio oral vm outras formas do comportamento antijudaico como assassnio
ritual, vrias formas de conspirao e, sobretudo, profanao de hstia (tambm chamada
Eucaristia). Todas estas acusaes pioraram a atmosfera de convivncia pacfica e, ao mesmo
tempo, criaram novas ameaas e restries (em relao liberdade religiosa, vida social,
cultural e econmica ou direitos civis e residncia criao dos guetos). Neste sentido
podemos citar Fritz B.Voll: O povo cristo ataca ora indivduos, ora comunas inteiras,
levando consigo vandalismo, pilhagens ou mesmo massacres47.
H mais consequncias que tm origem nesta atitude antijudaica que ultrapassa o
carcter individual e torna-se colectiva e inconsciente. O judeu definido como inferior na
sociedade crist (isto muda, por exemplo, a validade do testemunho contra o cristo), existem
as restries da casa real, do clero e da nobreza em relao aos judeus e seus cargos pblicos.
Porm, estas restries variam muito, dependendo de atmosfera actual e de atitude tomada
pelo respectivo soberano. Por fim, o judeu tambm definido pela falta de qualidades
positivas do homem medieval. Cristo sinnimo de coragem, judeu, ao contrrio, o da
cobardia, facto que transparece na iseno de servio militar de alguns judeus. Porm, por
parte dos judeus, esta isenco tem motivos religiosos e econmicos. Os cristos no se sentem
seguros com os judeus, potencialmente, armados a seu lado. Neste contexto vemos esta
recriminao como tendenciosa48.
J chamei ateno para o facto que esta animosidade no s popular mas evidente
nas relaes comerciais. A manipulao financeira e a prtica de usura causam averses seja
entre os lavradores (em Portugal medieval predomina a agricultura), seja entre a burguesia
mercantil. E como o factor negativo predominante em relao atmosfera antijudaica vemos,
precisamente, a concorrncia profissional. Recorde-se que a distino entre crdito e usura, na
Idade Media, regulada pela Igreja nas doutrinas eclesisticas, especialmente na doutrina
usurria cujo ncleo forma princpios includos no Antigo e no Novo Testamento. III Conclio
47 Fritz B.Voll, Cristos e Judeus, Um Breve Retrospecto duma Triste Histria, [on-line] disponvel em: . 48 Maria Jos Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XV, Universidade Nova de Lisboa, 1984, pp. 25-26.
18
de Latro49 excluiu usureiros da ideia de comunidade crist e o Conclio de Viena50
proclamou como hertico qualquer um que derrogava esta doutrina usurria. Esta doutrina que
contm ainda explicao escolstica mas, na verdade, nunca se tornou numa norma judicial.
importante que estes princpios escolstico-cannicos no se apliquem aos judeus, que
foram, cada vez mais, impelidos do comrcio tradicional e, portanto, o comrcio financeiro
tornou-se a actividade principal. Com o desenvolvimento do negcio financeiro, em toda
a Europa medieval, os especialistas judaicos so quase indispensveis. Sem apoio dos
banqueiros judaicos no seria possvel realizar muitas actividades medievais, nomeadamente
na rea de construo e na rea militar (cruzadas p.e.). medida que o tempo passa, surge
certa libertao, em relao doutrina usurria. No fim do sculo XV e sobretudo no sculo
seguinte, ocorrem mudanas socio-econmicas e, portanto, as autoridades religiosas crists
so obrigadas a mudar a sua atitude que impediu aos cristos contribuir para esta parte
do negcio financeiro. Os judeus, consequentemente, perderam a sua posio dominante nesta
rea51.
Este clima antijudaico e opressivo tem de influenciar a minoria judaica e
a autodefinico dela perante a sociedade maioritria, incorporando nela inferioridade, medo
inconsciente, simplicidade e impotncia52. No entanto, referindo-se ao anti-semitismo, a
existncia do anticristianismo de judeus no surpreende. Os judeus denominam-se como
sendo o povo escolhido por Deus, recusando os pilares bsicos do cristianismo: a Trindade,
Messias e a Ressurreio. Esta atitude anticrist no , publicamente, revelada mas no h
dvidas que ficou enraizada na religio judaica.
Afinal, todos os contactos e relaes, tanto profissionais como civis, entre os judeus
e os cristos, implicam certa sensao de medo e dio inconscientes aos dois lados,
acompanhados com intolerncia religiosa mas, na verdade, a maioria crist nunca conseguiu
afastar a minoria judaica da sua vida social com todos seus aspectos. Esta denominao
do judeu faz parte de todo o mundo cristo ocidental, na poca medieval, ao mesmo tempo
que a situao em Portugal no tenha sido to grave como no resto da Europa. Apesar
de existirem as dificuldades mencionadas em cima, podemos dizer que no so frequentes
49 O Terceiro Conclio de Latro, o dcimo primeiro ecumnico, realizado em 1179, convocado pelo Papa Alexandre III. 50 O conclio realizado na Catedral de Viena, na Frana, entre 16 de Outubro de 1311 e de 6 de Maio de 1312. Foi convocado pelo Papa Clemente V. 51 Tom Pkn, Historie id v echch a na Morav; Sefer, Praha 2001; pp. 288-289. 52 Maria Jos Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XV, Universidade Nova de Lisboa, 1984, p. 34.
19
ou constantes, nos sculos XIV e XV, o clima mantm-se ainda aceitvel, em comparao
com o sculo seguinte.
V.IV. OS JUDEUS DENTRO DA PRPRIA SOCIEDADE
At este momento referi somente sobre as relaes entre judeus e cristos,
marginalmente mencionei a convivncia com os mouros. Sobre as relaes entre os prprios
judeus na poca do sculo XIV e XV no h muita documentao. Os judeus, como o povo
bastante ligado a sua f, tm as regras rigorosas que graduam a vidas deles. Na vida familiar
h muitas coisas que diferenciam esta minoria perante maioria crist. A famlia patriarcal, o
ncleo da famlia o casal com o seus filhos mas, no sentido mais amplo, a famlia
constituda por todos de mesmos laos de sangue a parentesco, ou seja, pais, avs, irmos,
tios e primos53. Os casamentos entre os membros da famlia so permitidos, nos graus
referidos pelo Levtico54 porque famlia judaica cresce pelo casamento. Por causa dos
interesses econmicos, a esposa escolhida numa outra famlia ou na prpria. Por mais que a
lei judaica permita poligamia, os rabinos preferem os casamentos mongamos, se calhar para
se adaptarem sociedade maioritria.
A puridade do sangue importante e por causa disso no aceite o casamento com
os indivduos da crena diferente. Tambm nos divrcios, judeus diferiam-se de cristos
porque tm possibilidade de repudiar a sua mulher com assim chamada carta de repdio. Isto
significa que a mulher pode casar de novo mas o homen nunca mais pode voltar a casar com
ela. Na maioria dos casos, o motivo de repdio esterilidade do casal.
O pior que pode acontecer a judeu o Hrem, que significa a excomunho. Este
processo dirigido pelos oficiais da comunidade e pelo rabi e por causa dos motivos graves.
Este judeu expulso da comunidade com a sua famlia. O Hrem, certamente, acontece
a judeu que se tornar o cristo, por qualquer motivo, com possibilidade de pena de morte
e este nunca mais pode ser o membro da comunidade hebraica. Justia, dentro da comunidade,
administrada segundo a lei mosaica. H, certamente, os crimes entre judeus, como
em qualquer outra comunidade dos seres humanos e estes crimes so julgados dentro
da comunidade, na sinagoga, pelo rabi-menor. No julgamento pode solicitar o cristo como
testemunha com igual validade (caso contrrio, no lictio entre os cristos s, o judeu no
53 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XV, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1982, p. 227. 54 Levtico terceiro livro da Bblia, faz parte de Pentateuco, os cincos primeiros livros bblicos.
20
pode testemunhar). Naturalmente, os judeus so solidrios entre si nos julgamentos perante
os cristos e o soberano mas, decididamente, esta coeso no ocorre entre eles, sobretudo em
questo de dinheiro. Para concluirmos a realidade jurdica dos judeus, podemos constatar que:
Apesar de se reger por um direito prprio, um facto que a minoria judaica acaba por se
sujeitar s ordenaes gerais do reino e [] as ordenaes do reino determinam que, entre
judeu e judeu, se cumpra inteiramente o direito mosaico []55.
As pocas com tolerncia religiosa relativamente estvel so alternadas com as fases
da intolerncia e o dio que espalharam o medo e a morte entre a comunidade judaica. O
facto que os mercadores vem nos judeus os seus rivais com a basto poder, sobretudo, no
comrcio a distncia um dos responsveis por esta situao,. Nesta situao e com
a Inquisio nos sculos seguintes pode ser surpreendente que a Igreja de Roma, no sculo
XIV, seja tolerante com o povo judaico, a nvel oficial e coloque os judeus sob a sua defesa e
proteco especfica impedindo todas as atitudes de fanatismo religioso por parte da minoria
crist. As maiores autoridades da Igreja tentam defender os judeus quando o Papa probe
aos cristos sob pena de excomunho, que os apedrejem ou maltratem, que lhes destruam os
templos e cemitrios, ou que os forcem ao baptismo56. Apesar de ser frequentes as queixas
sobre as humilhaes sofridas pelos cristos por parte dos judeus, no h informaes de
perseguies aos judeus, nem o clero as estimula. Pelo contrrio, tolera-os e aceita-os na
administrao dos bens clrigos. Para concluirmos este assunto, podemos dizer que a
tolerncia religiosa dos judeus predomina nesta poca.
O facto que as igrejas crists so muitas vezes construdas perto dos templos judaicos
tem como o objectivo a converso dos judeus, nesta poca ainda pelo exemplo e palavra.
bastante comum que, ainda numa atmosfera pacfica, os rabis e os sacerdotes discutem sobre
as suas fs.
Para concluir a situao do povo hebraico em Portugal no sculo XIV e XV fao
destacar o seguinte:
- os judeus tm a posio importante na sociedade portuguesa e marcam o contributo
para ela
- ocupam vrios cargos econmicos e sociais que os ajudam a criar, aprofundar
e manter as relaes favorveis com a maioria crist
55 Maria Jos Pimenta Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XV, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 1982; pp. 243-244. 56 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, p. 61.
21
- averso religiosa bastante incomum, s o dinheiro o que pode causar os ataques
da maioria crist contra aos judeus e suas casas, seus bens ou at seus cemitrios
- dois credos to diferentes conseguem viver sem grande dio e fanatismo num pas,
a realidade que no existe no resto da Pennsula Ibrica e na Europa
- so os judeus que aproveitam a sua cincia, o seu dinheiro e toda a sua capacidade
para obter prestgio a para ancorar a sua posio social que leva consigo dio tambm.
22
VI. A INFLUNCIA DOS JUDEUS NA CINCIA E NA CULTURA PORTUGUESAS
VI.I. CULTURA (LITERATURA PORTUGUESA, PRESENA JUDAICA NA LNGUA PORTUGUESA)
Desde sempre, os judeus foram considerados pessoas cultas, com grandes capacidades
intelectuais e cientficas e com grande efeito para a cultura portuguesa e consequentemente
europeia. Chegando Pennsula Ibrica, no trouxeram s a sua cultura de nvel elevado mas
tambm a cultura rabe que os influenciou durante sculos e as obras por eles produzidas
criaram o contacto entre a cultura oriental e a ocidental. Ao falar de literatura medieval
portuguesa, no conhecemos, infelizmente, muitos autores nem obras, contudo, alguns nomes
ficam conhecidos at hoje. Em Portugal, podemos dividir a produo literria medieval
em obras produzidas pelos judeus e as produzidas pelos cristos. Em seguida mencionaremos
tambm alguns autores do sculo XVI por causa da sua importncia em relao aos judeus.
As obras literrias produzidas pelos autores judeus em Portugal
1) As obras principais dos autores judaicos so, naturalmente, os textos religiosos
e os seus comentrios ou, por exemplo, glosas rabnicas da escola rabnica em Lisboa.
Pela influncia e pela simples necessidade, os judeus dominaram, frequentemente,
o rabe, o latim, o portugus ou o castelhano, alm do hebraico, portanto, muitos
judeus foram tradutores, introduzindo, desta maneira, os novos conhecimentos para
a cultura e a cincia. No tempo de D. Joo I, o portugus tornou-se obrigatrio, quer
dizer, que os judeus em maioria aprendiam portugus e comeavam a produzir nesta
lngua, aumentando a sua produo cultural nos sculos seguintes57.
2) Muitas obras de origem judaica, propriamente ditas no originais, foram influenciadas
por famosos intelectuais espanhis. Estas obras copiadas foram populares
nomeadamente no sculo XV. Destacaram-se, sobretudo, os judeus espanhis como
Maimnides com a Mishna Tor (rabi Moshe ben Majmon Ramban, nascido
57 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Editora, Lisboa 2006, pp. 45-46.
23
em Cordoba, filsofo e mdico, uma das pessoas mais conhecidas de filosofia
medieval judaica e europeia58), Nahamnides com Comentrio sobre o Pentateuco
ou Gabirol (Solomon Ben Judah, poeta e filsofo, nascido em Mlaga59). Na produo
dos textos religiosos e outros para serem divulgados, foram indispensveis copistas
e escolas ou oficinas de manuscritos. Os judeus sobressaem neste campo tambm.
Entre os sculos XIII e XV, muitos manuscritos de Pentateuco foram produzidos,
precisamente, em Portugal. No sculo XV existia uma escola excelsa de manuscritos
hebraicos em Lisboa60.
3) Como foi dito, no h muitos nomes conhecidos at ao presente mas existem alguns
autores sobre os quais temos de fazer referncia. J da baixa Idade Mdia conhecemos
os judeus trovadores como Samuel de Leiria ou Vidal, o Judeu dElvas, cujos dois
cantares encontramos no Cancioneiro da Vaticana61. O historiador Gomes Eanes de
Zurara menciona na sua Crnica de Tomada de Ceuta por el rei D. Joo I. o grande
trovador Yuda Negro62. Do sculo XV conhecemos Isaac Abranavel (nascido em
Lisboa em 1437, membro das mais poderosas famlias de mercadores e banqueiros de
Portugal no sculo XV) que esteve presente na corte de D. Afonso V, onde escrevia
textos filosfico-religiosos. O seu filho Iehudad Abranavel, mais conhecido como
Leo Hebreu escreveu o famoso tratado Os Dilogos de Amor. Nesta obra filosfica,
alm do amor, desenvolve outros temas como a esttica, cosmologia ou metafsica63.
Neste sentido, podemos consider-lo como um dos primeiros judeus portugueses
renascentistas. O ltimo autor importante judaico de passagem dos sculos XV e XVI
em Portugal Abrao Zacuto com a obra Livro de Genealogias, a crnica que inclui
58 Comunidade Judaica Masorti de Lisboa, [on-line] disponvel em: . 59 Classic Encyclopedia, [on-line] disponvel em: >. 60 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Editora, Lisboa 2006, p. 49. 61 Mrio Martins, A Stira na Literatura medieval Portuguesa (Sculos XIII e XIV), Biblioteca Breve, Instituto de Cultura Portuguesa, Amadora 1977, pp. 88-89. 62 Carolyn P. Collete, The legend of Good Women, [on-line] disponvel em: . 63 Pedro Calafate, Abrao Zacuto, [on-line] disponvel em: .
24
dados autobigrficos64. Porm, a importncia de Abrao Zacuto nomeadamente na
rea cientfica.
4) Por ltimo, excepo da produo literria e a influncia intelectual e religiosa,
os judeus concorreram, na poca medieval, para a divulgao de imprensa inventada
pelo alemo Johannes Gutenberg, aproveitando os carcteres mveis. A primeira
oficina de prelos teve origem em Faro, em 1487, e pertenceu ao judeu Samuel
Gacon65. A edio do primeiro incunbulo e a impresso do Pentateuco em portugus
provm daqui66.
A reflexo sobre os Judeus nas obras de autores portugueses os cristos
Pouco sabemos sobre a literatura judaica medieval mas temos ainda menos
informaes sobre as obras de autores portugueses que teriam o judeu como tema principal.
Os judeus estiveram presentes na corte de muitos reis portugueses, por isso influenciaram as
obras literrias produzidas a. A reflexo dos judeus nas obras da poca variavac onsoante a
atmosfera, seja positiva, seja negativa, que predominava na corte. H poucas referncias
sobre os judeus nos cancioneiros medievais mas at a encontramos certas excepes. Existe,
por exemplo, uma lrica religiosa nas Cantigas de Santa Maria, da produo de Afonso X,
que faz referncia sobre um judeu convertido67. No Livro da Corte Imperial, de fins do sculo
XIV, a igreja militante procura demonstrar, contra pagos, mouros e judeus, por razes
evidentes e necessrias, os principais pontos da doutrina catlica romana. O autor foi
o telogo Raimundo Llio68.
A histria rica do povo hebraico e o seu registo perfeito deu, junto da tradio latina,
visigoda e rabe, o fundamento historiografia ibrica medieval. Sem dvida, muitos dos
historiadores, quer portugueses, quer europeus, tomaram como base as fontes histricas dos
judeus.
64 Cincia em Portugal: Abrao Zacuto, [on-line] disponvel em: . 65 David Franco Mendes, J.Mendes dos Remdios, Os Judeus Portugueses em Amesterdo, Edies Tvola Redonda, Lisboa, 1990, pp. 1112. 66Antnio Jos Ramos de Oliveira, Gutenberg e Gacon na origem da Imprensa, [on-line] disponvel em: . 67 Susani Silveira Lemos Frana, O choque das semelhanas; : [on-line] disponvel em. 68 Antnio Jos Saraiva; Iniciao na Literatura Portuguesa, Coleco Saber, Publicaes Europa-Amrica, 2a tiragem, 1984, p. 35.
25
Influncia judaica na lngua portuguesa
A influncia judaica no se sente apenas na rea socio-econmica e cultural mas
tambm a encontramos na lngua portuguesa. A sua base vem de dialectos e idiomas judaicos
(mais conhecidas so o idiche e sobretudo o ladino) e destes integraram-se palavras e
expresses judaicas na lngua portuguesa. Neste sentido consideramos no s os judeus mas
tambm os cristos-novos, cripto-judeus ou marranos69 porque muitas palavras e expresses
surgiram depois da sua expulso de Portugal em 1497.
Antes de dar exemplos da influncia judaica na lngua portuguesa, devemos destacar o
facto de que muitas palavras e expresses judaicas j foram incorporadas na lngua portuguesa
h muito tempo. H palavras, cuja origem pode ser confundida com a origem rabe ou com o
grego, como acontece por exemplo com a palavra azeite.
Podemos dividir as palavras de influncia judaica nos seguintes grupos:
- nomes prprios com origem no Antigo Testamento como: Ado, Joo, Joaquim, Jos,
Miguel, Marta, Sara ou Simo
- sobrenomes muitos cristos-novos tiveram de adoptar o novo nome depois
das converses foradas, muitas vezes nomes de animais, plantas etc. Exemplos so
sobrenomes como Carvalho, Lima, Paiva, Rocha e dezenas de outros70
- palavras da linguagem religiosa, ligadas aos textos bblicos e prtica litrgica71, desta
rea surgem palavras como: aleluia, blsamo, jubileu, messias, pscoa, sbado, men
etc.
- atmosfera antijudaica fez com que, provavelmente, algumas palavras de origem
judaica adquirissem um sentido depreciativo como: zote, desmazelo, malsim etc. e at
as derivaes da palavra judeu tm um significado negativo como, por exemplo,
o verbo judiar com o sentido de escarnecer, zombar
69Cristo-novo designao dada ao judeu recm-convertido a f crist ou a descendente seu Cripto-judeu (marrano) o cristo-novo que manteve secretamente o seu judaismo; Diccionrio Eletrnico, disponvel em: [on-line].>. 70 Antnio Carlos Carvalho, Os Judeus do Desterro de Portugal, Quetzal Editores, Lisboa, 1999, pp. 15-17. 71 Encontro do Portugus com as lnguas no europeias: textos interlingusticos ; [on-line] disponvel em: >.
26
- encontramos muitas palavras em outras reas como: cincia (iode72), finanas (cacife)
ou magia (abrakadabra)
Alm destas palavras, existem ainda expresses e dizeres populares na lngua portuguesa
de origem judaica ou crist-nova. So frequentes tanto em Portugal como no Brasil para onde
imigraram imensos cristos-novos depois de 1497 e onde influenciaram fortemente a cultura
nacional brasileira. Exemplos:
- deus te crie aps o espirro de algum uma herana judaica da frase Hayim
Tovim, que significa tenha uma boa vida;
- passar mel na boca aquando da circunciso, o rabino passa mel na boca
da criana para evitar o choro;
- passar a mo na cabea com o sentido de perdoar erro cometido por algum
protegido, memria da maneira judaica de abenoar de cristos-novos, passando
a mo pela cabea e descendo pela face, enquanto pronunciava a beno73 .
VI.II. CINIA (MATEMTICA, ASTRONOMIA, CINIA, MEDICINA, FARMCIA)
Como j referimos acima neste captulo, o nvel elevado da educao dos judeus
e os conhecimentos adquiridos durante a convivncia com culturas diferentes causaram que
um impacto na minoria judaica no se sentia apenas no campo da cultura mas tambm na rea
cientfica. Os ramos da cincia nos quais encontramos grandes personalidades de origem
judaica so nomeadamente a Matemtica, Astronomia, Medicina, Farmcia e Cincia nutica.
Muitos destes sabedores abrangeram, na sua obra cientfica, mais do que um ramo,
verificando o facto da ligao interdisciplinar. Para tornarmos esta viso mais simples,
mencionamos somente os nomes com maior destaque, mesmo que se situem aquando
na transio dos sculos XV e XVI. Temos de acentuar tambm que muitos destes judeus
suplantaram os cientistas cristos da poca e, deste modo, contriburam para o grande
desenvolvimento da sociedade medieval, ora portuguesa, ora europeia.
72 Portal da Lngua Portugusa, [on-line] disponvel em: >. 73 Jane Bichmacher de Glasman, Presena judaica na lngua portuguesa; [on-line] disponvel em: .
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1) Matemtica a implantao oficial da Matemtica em Portugal deve-se a D. Afonso
Henriques74. A Matemtica medieval pode ser caracterizada como uma fuso
da matemtica grega com a rabe. Os rabes, verdadeiros mestres, ocuparam a posio
principal na rea at que foram obrigados afastarem-se da Pennsula Ibrica.
A convivncia estreita dos mouros e dos judeus causou que os ltimos assumiam estes
conhecimentos e ainda os desenvolviam. O mais notvel , no campo de matemtica,
Pedro Nunes. Alm da matemtica, dedicou-se geometria, medicina ou cosmologia.
Ao par das tradues e comentrios, Pedro Nunes criou uma vasta obra original.
Dos livros matemticos podemos citar Libro de Algebra en Aritmetica y Geometria75.
A sua obra levanta Portugal ao ponto mais alto em matemtica na Pennsula Ibrica76.
2) Astronomia e cincia nutica nesta parte abordamos a rea cientfica,
verdadeiramente, interdisciplinar. Cincia nutica no aproveita s a astronomia mas
tambm a astrologia, matemtica, geografia e muitas outras disciplinas. Podemos dizer
que o progresso enorme nesta disciplina ajudou Portugal a ser bem sucedido nas suas
rotas martimas e, consequentemente, nos descobrimentos. Existem muitos cientistas
judaicos deste ramo, mas vamos apresentar aqueles cujo contributo e importncia
passaram alm da Pennsula Ibrica. Destacamos, novamente, o nome de Pedro Nunes.
Alm da implantao dos seus conhecimentos de matemtica e astrologia, aperfeioou
o nnio, criou uma nova graduao de astrolbio e inventou um anel graduado
em graus (tambm conhecido como anel astronmico ou nutico que serve
para mediao da altura do sol). Este instrumento descrito na obra De arte atque
ratione navigandi libri duo publicada em Coimbra. Outra obra de Pedro Nunes que
ganhou fama na sociedade europeia medieval De crepusculis e que trata variao
da durao em zonas terrestriais diferentes. Por fim, fazemos outra vez referncia
sobre a obra de Abrao Zacuto, da origem espanhola, que elaborou em Portugal
as primeiras tbuas quadrienais do sol para a navegao, conhecidas como Almanach
Perpetuum (em hebraico Hajidur Hagadol). A obra astronmica deste autor chama-se
Tratado de influncia do cu. A importncia de Abrao Zacuto verifica-se no facto
de que se tornou Astrnomo e Historiador Real na corte de D. Joo II. O monarca
74 Teresa Monteiro, Uma curta viagem pela histria da matemtica, [on-line] disponvel em: . 75 Pedro Calafate, Pedro Nunes, [on-line] disponvel em: >. 76 Teresa Monteiro, Uma curta viagem pela histria da matemtica, [on-line] disponvel em: .
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D. Manuel at consultou com ele sobre a possibilidade da viagem de Vasco de Gama
a frica 77.
3) Farmcia e medicina
Na Idade Mdia baixa no podemos falar ainda sobre a profisso farmacutica.
Primeiro tinham existido os especieros que foram substitudos pelos boticrios.
Os primeiros utilizaram as especiarias para fins teraputicos, misturando-lhes vrios
medicamentos e funcionavam como vendedores ambulantes. Daqui provm
a diferena entre os especieiros e os boticrios, quer dizer, os boticrios tm stios
fixos para venderem os medicamentos. Entre os boticrios destacam-se os judeus
como narra, por exemplo, Ferno Lopes na sua Crnica de D. Pedro.
Se temos mnimas menes sobre os judeus na farmcia, na medicina verificamos
o contrrio. Pretendemos a existncia de mdicos judaicos (ou fsicos judaicos) desde
a implantao da minoria judaica na Pennsula Ibrica. Cedo encontramos os seus
membros na prtica da medicina, seja na prpria comunidade, seja dentro da maioria
crist. Os servios dos mdicos judaicos so aproveitados desde a famlia real
s gentes do povo, apesar das proibies da Igreja78. Esta infraco lei cannica
ou mesmo das cartas rgias pode ter dois motivos. Primeiro, a percia e a qualidade
dos servios prestados pelos mdicos judaicos e segundo, a quantidade total
dos mdicos judaicos ultrapassando o nmero dos mdicos cristos. Alguns
dos mdicos reais da origem judaica so: mestre Vivas, mdico do infante D. Joo;
mestre Jos, mdico da rainha D. Leonor ou Dinsio Rodrigues, mdico do rei
D. Manuel79. Infelizmente, muitos dos mestres judaicos foram obrigados, no fim
do sculo XV e no sculo seguinte, a emigrar da Pennsula Ibrica depois da Expulso
da Espanha em 1492, respectivamente, de Portugal em 1497. Este foi o caso de Garcia
dOrta e Amato Lusitano, os mestres famosos da medicina portuguesa que
se tornaram, depois da emigrao, os mais apreciveis mdicos da Europa. Garcia
dOrta, mdico do rei Joo III, refugiou-se para o Oriente. A sua obra dedicada
ao estudo da botnica e farmacologia no Oriente e na ndia, criando a medicina
77 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa; Universidade Catlica Editora, Lisboa, 2006, p. 49. 78 Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV; Guimares Editores, Lisboa, 2000; p. 99. 79 Jaime Moacyr Scliar, Da Bblia psicanlise: sade, doena e medicina na cultura judaica. [doutorado] Fundao Oswaldo Cruz, Escola Nacinal de Sade Pblica, 1999, [on-line] disponvel em: .
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tropical. A obra de mais relevo de Garcia dOrta chama-se Colquio dos simples
e drogas e coisas medicinais da ndia. O mdico Amato Lusitano, durante a sua
carreira profissional, permaneceu em Anturpia, na Itlia (na Universidade de Ferrara
foi nomeado professor de medicina) para se estabelecer, finalmente, em Salnica. Foi
convidado para tratar do Papa Jlio III por ser um dos mais famosos mdicos
da poca. Escreveu o tratado Index Dioscorides ou Curationium Centuriae Septem,
uma descrio impecvel dos seus 700 casos clnicos80.
80 Joaquim de Assuno Ferreira, Estatuto Jurdico dos Judeus e Mouros na Idade Mdia Portuguesa, Universidade Catlica Editora, Lisboa, 2006, pp. 46-47.
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VII. CONCLUSO
Os judeus, o povo escolhido por Deus, a nao que nasceu h 6000 anos. O povo que,
desde tempos imemoriais, influenciou a histria mundial. O povo que tem a histria marcada
pelos momentos gloriosos e pelos momentos trgicos. Os judeus foram expulsados
da sua terra prometida e desde aquele tempo comeou dispora deles. Tiveram de aprender a
viver nos pases e nas culturas que, frequentemente, no eram favorveis para eles, quer
por motivos religiosos, quer por outros. Os vestgios dos judeus encontram-se em todos
os pases da civilizao ocidental e portanto no surpreende que um dos regies onde se logo
estabeleceram era a Pennsula Ibrica e Portugal, respectivamente.
A presena judaica na Pennsula Ibrica verificvel a partir da Antiguidade. Os
judeus, com os mouros, godos e romanos, foram os primeiros habitantes desta regio. Durante
a formao de Portugal, os judeus viviam entre os cristos, dividindo o mesmo espao. Os
primeiros monarcas ainda no se preocuparam com qualquer separao entre estes dois
credos. As tentativas desta separao surgiram s nos sculos seguintes, na maioria dos casos,
por causa da influncia da Igreja catlica. Entretanto, os judeus aproveitaram o seu trabalho e
as suas qualidades intelectuais para obterem a posio estvel dentro da sociedade portuguesa
medieval. Os judeus destacam-se tanto no negcio como na cultura ou cincia, so
mercadores, mdicos, banqueiros, etc. Resultados excelentes do seu esforo registam-se
nomeadamente na rea do negcio financeiro e na cincia nutica. Podemos dizer que o
Estado portugus medieval no poderia funcionar sem judeus. Estes tiveram os cargos
importantes nas cortes reais, muitos dos reis portugueses aproveitaram os emprstimos
judaicos para financiarem guerras, cruzadas ou, simplesmente, funcionamento do Estado. Na
poca dos Descobrimentos, os judeus desempenham o papel importante, apoiando o
financiamento e o desenvolvimento da cincia nutica.
Os judeus, em troca de convivncia pacfica com a maioria crist, foram obrigados a
pagar vrios tributos e impostos bastante elevados. Os reis portugueses obrigaram-nos a
prestar vrios servios, seja corte, seja nobreza. O quotidiano dos judeus, de mesmo modo
como a convivncia com os cristos, foram regulados por decretos rgios, que, porm, nem
sempre foram cumpridos. Os judeus mais importantes, frequentemente, tm os privilgios
especiais.
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Em concluso, a situao dos judeus, dentro da sociedade portuguesa dos sculos XIV
e XV, favorvel e estvel. Os judeus tm um papel significante na sociedade portuguesa
medieval. A sua posio no tem s importncia econmica mas social tambm. No existe,
realmente, separatismo efectivo entre a minoria judaica e a maioria crist. No h provas das
grandes perseguies brutas, tpicas para o resto da Pennsula Ibrica e da Europa. Se existe
alguma animosidade entre estes dois grupos religiosos, raramente do tipo religioso. o
dinheiro e a situao econmica dos judeus que motivam os ataques dos cristos, quer aos
judeus, quer aos seus bens. A convivncia pacfica, ou seja, certa indiferena entre os judeus e
os cristos, distingue Portugal do resto da Europa, onde predomina o dio e o fanatismo
religioso.
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VIII. BIBLIOGRAFIA, FONTES
VIII.I. BIBLIOGRAFIA
Quidnovi, Guerras e Religies, Judasmo, Matosinhos, 2002.
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Portuguesa, Universidade Catlica Portuguesa, Lisboa 2006.
Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus na poca dos descobrimentos, Edio ELO.
Maria Jos Ferro Tavares, Os judeus em Portugal no sculo XIV, Guimares Editora, Lisboa,
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Antnio Jos Saraiva; Iniciao na Literatura Portuguesa, Coleco Saber, Publicaes
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VIII.II. FONTES ELECTRNICOS DA INTERNET
Jaime Moacyr Scliar, Da Bblia psicanlise: sade, doena e medicina na cultura judaica.
[doutorado] Fundao Oswaldo Cruz, Escola Nacinal de Sade Pblica, 1999, disponvel em:
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Pedro Calafate, Pedro Nunes, disponvel em: [on-line] .
Teresa Monteiro, Uma curta viagem pela histria da matemtica, disponvel em: [on-line]
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Yuda+Negro%22&source=bl&ots=sImVuLjMZJ&sig=sDG4GaLcYdge8Cwk426GTzDxISU
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